The last escrita por isabellaT


Capítulo 2
Silêncio


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem...



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O sol desponta nas cortinas, volto a cobrir minha cabeça na tentativa de amenizar a claridade, mas já despertará, penso na possibilidade de passar o dia na cama e ignorar as mazelas do mundo, mas sou tomada por recordações da noite anterior, posso sentir o cheiro de sangue, o som dos disparos, os olhares suplicantes... minha mente fraqueja por alguns segundos, me sinto exposta, retomo o controle, jamais me permitiria voltar a perder o controle. Lembro- me do treinamento, doloroso mas eficaz, meu professor repetia isso como mantra, até estar gravado em minha mente como um lembrete doloroso da realidade.


levanto da cama sem me importar em arrumá-la, vou em direção ao banheiro e me olho no grande espelho redondo pregado na parede, encaro meu reflexo, sinto como se ele zombasse de mim, vejo encaro meu reflexo por alguns segundos, tenho vontade de rir da ironia, meu reflexo me assusta. um lembrete constante de coisas que quero esquecer.


Ligo a banheira, olho a espuma se formando e tento ignorar meu reflexo. Acabou de tirar a lingerie e a jogo pelo chão sem me importar,a bagunça ao meu redor não me incomoda, é um reflexo do meu ser. entro na banheira e tento me lembrar de coisas relaxantes, mas me sinto frustrada e logo desisto. Saio da banheira rumo ao meu quarto, já estou atrasada para o trabalho, visto meu uniforme e tento caçar minha bolsa em meio a minha bagunça, após alguns minutos de aflição avisto caída ao lado do sofá, confirmo o religião uma última vez, agora estou mais que atrasada.

 

Saio pela porta do apartamento e desço as escadas rústicas de meu prédio, após 10 lances de escada avisto a rua a minha frente, carros buzinam uns para os outros em uma tentativa falha de apressar o trânsito, reviro os olhos perante tal burrice gerada pela massa, é me coloco a caminhar rumo ao restaurante no qual trabalho como garçonete oito horas por dia, olho para fachada tipicamente Americana do estabelecimento, o aroma adocicado invade minhas narinas antes mesmo de adentrar pela porta de vidro, após aberta alarma minha chegada por uma sininho no tipo da mesma.


— está atrasada! – grita Matt da cozinha, ele está vestindo seu uniforme de cozinheiro, seu rosto moreno sujo de farinha branca de uma provável receita.


— e você sujo!- falo passando o polegar em seu queixo retirando a mancha esbranquiçada, caminho o gancho no final do restaurante é ali depósito minha bolsa e casaco, em troca pego uma avental vermelho, minha caneta e bloco de anotações encontra-se em seu bolso, passo pelo balcão pegando alguns cardápios e começo atender os clientes. O trabalho é monótono e prático, após alguns minutos trabalho no modo automático, penso em minha vida e me sinto frustrada com a realidade. Quando pequena acreditava em príncipes encantados, Durante minha estadia no orfanato, passava meus dias lendo contos de fada, acreditava que minha vida iria melhorar, mas não foi o que ocorreu. Recordo-me do meu sonho estranho da noite anterior, do homem misterioso.


Em meio aos meus devaneios mal noto a presença de alguém no balcão, Poderia ate fingir irritação, mas não estou em um bom dia para encenação, então só lhe dou um cumprimento demorado com a cabeça, logo ela começa a falar, mas já estou com minha cabeça em outro lugar mais especificamente outro alguém. Perco-me entre meus pensamentos, quando noto seu suspiro triste ao perceber minha falta de atenção as suas palavras.


— você ao menos ouvi uma única palavra do que disse?- manejo a cabeça em um sinal de negação, Hill solta outro suspiro surpreendentemente paciente, o que me chama atenção, aquilo não é de seu feitio.- como sua amiga tenho que lhe falar: o que está fazendo de sua vida ? Nat você é a melhor dos melhores, como pode se contentar em viver naquele cubículo nojento e trabalhar como garçonete? Quando tudo aquilo aconteceu... Esperávamos que você tirasse um tempo para descansar para voltar a ser você, mas tudo o que fez foi o oposto disto.- sua frustração é notória e palpável, seu olhar de reprovação é tão forte como concreto.


Volto meus olhos para o salão onde os clientes apreciam sua refeição, Vejo quais tenho que repor café, porém não mecho um único músculo para isso, volto a encarar Hill que tem seus olhos presos a máquina de café ao meu lado.


— este lugar é um lixo, mas a comida é maravilhosa!- fala com repúdio ao ambiente em que se encontra, solto uma risada em resposta a sua afirmação.


— qual o real motivo da visita? Sei que não apareceu neste fim-de mundo sem um motivo realmente plausível, Você detesta este lugar.


— não detesto este lugar, e sim o que ele representa.- seu olhar crítico e firme, as palavras já se esgotaram a tempos, mas este também não gera efeito. Ela suspira em derrota.- tenho um trabalho para você!


— já tenho um trabalho, mas obrigada.


— servir e limpar mesas pode ser trabalho para outros, mas para você é desperdício.- sei onde suas palavras vão levar pois já tivemos aquele monólogo várias vezes.


— estou feliz assim.- tento convencer que não há nada que possa fazer para mudar minha decisão, fazia um ano da minha “aposentadoria” desde então estava trabalhando neste restaurante, -preciso do dinheiro para me sustentar, não consigo mais lidar com os ônus do serviço.


—pode voltar para a parte administrativa Não use isso como justificativa para isso.- olho para ela descrente que estava ouvindo isso.


— não posso!– ela parece descrente com minhas resposta.


—HEEEY GAROTA, ESTOU AQUI A MEIA HORA TE CHAMANDO! PODE ME DAR UMA DROGA DE CAFÉ? – Sinto meu rosto esquentar, mas Maria não deixou nisso .


— por que não vem se servir no balcão, ela ...- a interrompo antes que ela prossiga.


— é meu trabalho, tenho que servir.- sussurro para ela, e vou servir o salão.


Após servir alguns clientes, noto a ausência de minha amiga, permitindo que suas palavras me toquem, sinto o peso de seu julgamento. Volto aos meus devaneios solitários pelo resto do dia.


Por volta das 17:00 o restaurante está vazio, sento- me no balcão de frente para Matt que aproveitando o raro momento de descanso toma um café despreocupado.


— ela tem razão sabia?- sua feição é de preocupação dirigida exclusivamente a mim.- você é linda, talentosa, inteligente...


— está dando uma cantata ou um conselho?- falo dando risada de sua cara de surpresa.- eu sei , não queria estar aqui, mas não tenho opção tenho ?


— sempre há uma opção! - ele suspira cansado- você é muito cabeça dura.


Quando ia responder somos interrompidos por Sara a garota que fica no caixa, uma garota meiga e tímida, ela entra como um furacão com as maçãs do rosto vermelhas .
—te.t.tem uma mesa a.ali- sua timidez já era conhecida por todos os funcionários então não nos surpreendemos, sai da cozinha e fui para o salão principal, onde encontrei uma mesa com quatro homens, todos de social, porém seu dialogo era extrovertido e espontâneos. Demoraram a notar minha presença ao pé da mesa.


— gostariam de fazer o pedido ou vão esperar mais um pouco ? – falei encarando o bloco de anotações.


— pode nos trazer quatro cafés e panquecas com calda de caramelo- anotei o pedido e estava me retirando.- é quem sabe seu telefone?- parei de anotar e levantei a cabeça para olhar o rosto do homem que falou tal baboseira, um homem afro americano bonito e bem arrumado, mas não fazia meu tipo, meu olhar percorreu a mesa para os outros presentes que pareciam descrentes da atitude do amigo.


— comida o restaurante oferece, mas aula de educação não está no cardápio.- virei as Costas e sai dali. Após alguns minutos o pedido saiu, rapidamente levei para a mesa que permaneceu em silêncio até me retirar.


Não demorou para o relógio apontar meu horário de saída, suspiro aliviada é como tirar um peso de meus ombros, quando me dou conta já estou na calçada ao lado do restaurante, ando alguns metros e torno a olhar sobre o ombro o letreiro sobre o telhado ilumina a rua com suas cores vibrantes nos tons de laranja avermelhado dando um aspecto quase sobrenatural ao lugar, dou um sorriso tristonho e continuo a caminhar pela rua. Posso escutar meu salto batendo contra o piso seguindo o ritmo de meus passos, sinto a estranha sensação de estar sendo vigiada, olho para os lados e não há nada, não há ninguém. Penso em pegar um táxi até meu apartamento mas as gorjetas de hoje foram quase nulas e não posso me dar o luxo de pagar tal conforto. Ando o mais rápido possível até atingir um beco mal iluminado a minha frente.

Aquele beco mal iluminado e exalando aromas desagradáveis abriga um dos clubes mais conhecido e badalados de NY, conforme avanço entre as lixeiras posso sentir a vibração da música, posso ver a fila já formada enfrente a porta, composta predominantemente de jovens bem vestidos, com seu estilo desgrenhado-fashion, passo por entre eles até a avenida do outro lado do beco. Continuo a caminhada até minha casa, penso” somente mais algumas quadras.”, porém a sensação de perseguição continua estabelecida em meu ser.


Meu instinto se ativa em modo sobrevivência, o meu ser anda por entre as pessoas, sinto meus músculos trabalharem no automático após anos de treinamento, meu corpo reage com naturalidade perante o perigo eminente, minha mão vagueia no bolso a procura de uma arma, mas não há nada ali. Ando por mais alguns segundos meu cérebro trabalha em alternativas para sair dali, resolvo segui o caminho habitual fingir que não senti a perseguição. Ando mais três quarteirões até a esquina do meu prédio, dali avisto a janela do meu apartamento, a luz incandescente ilumina através da cortina, reviro os olhos perante tal insolência. Poderia ir para outro lugar, mas perante tal circunstância resolvo não ariscar.


Subo as escadas já gastas do prédio, até o quinto andar, ando com passos pesados até a porta de número 52 cravado sobre madeira envelhecida, mesmo sem ser aberta escuto sussurros que acredito vir da televisão, giro a maçaneta e adentro o apartamento minúsculo que chamo de meu. Ali está Clint jogado sobre meu sofá, seu arco e flecha está sobre a mesa da cozinha, caminho até ele me jogando sobre seu corpo enlaçando em um abraço sufocante.


—também estava com saudade, mas preciso respirar.- solto um pouco o aperto mas n desgrudou dele nem por um segundo. Após alguns minutos solto o abraço e sento ao seu lado encarando o programa que ele assistia antes de ser interrompido , permanecemos em silêncio por algum tempo, nos conhecemos tão bem que palavras são desnecessárias para nós comunicarmos, sabemos o que tem que ser dito, mas preferimos o silêncio pacífico que se instaura ao nosso redor.

 


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Notas finais do capítulo

Deixem muitos comentários...❤️