Walpurgisnacht escrita por Sonnenreigen


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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O vento suave e ameno arrastava para longe as flores rosáceas de Prímula que haviam se acumulado na soleira da porta de uma simples casinha de pedra, situada no meio de tantas outras, no centro de Asgard. Nela morava Hagen, um dos soldados da Guarda Real Asgardiana.

O sol nascente anunciava o dia que havia acabado de nascer e seus raios brilhavam timidamente transpassando a pesada cortina da janela do quarto e refletindo no rosto seu morador, que acordou instantaneamente.

Assim que Hagen abriu os olhos, a imagem de Freya, sua amada veio à sua mente: Os cabelos longos, loiros, cheios e encaracolados, os olhos que de tão verdes, lembravam a Hagen a copa dos pinheiros iluminados pelos raios solares do solstício de Verão. Ele então soltou um longo suspiro, sentando-se na cama e se espreguiçando lentamente.

Após o banho, o rapaz foi até a cozinha preparar seu desjejum. Comia lentamente quando mais uma vez a imagem de Freya veio à sua mente, dessa vez, foi a gargalhada da moça que invadiu os seus pensamentos. Com um sorriso nos lábios, o jovem guerreiro permitiu-se desfrutar de tal lembrança.

Hagen estava prestes a sair de casa quando ouviu batidas na porta e uma voz doce e familiar chamando pelo seu nome. Por alguns segundos pensou que fosse sua mente lhe pregando peças, mas após ouvir seu nome sendo dito pela terceira vez, Hagen constatou que Freya, de fato, estava ali.

— Hagen! Eu sei que você está ai!

— Desculpe a demora, senhorita Freya! — Hagen declarou, abrindo a porta apressadamente.

Assim que viu a expressão de vergonha no rosto do rapaz, Freya começou a rir.

— Não precisa se envergonhar por isso, Hagen.

 Freya correu o olhar pelo corpo do rapaz, que sentiu a vermelhidão do seu rosto aumentar.

— Vejo que você já está pronto. Pretende treinar hoje?

— Sim, senhorita Freya.

— No vulcão?

— Precisamente.

— Hoje?! — A princesa exclamou surpresa.

— Sim, senhorita.

 — Mas Hagen! Hoje é dia festivo... Você não deveria treinar!

 — Eu me preocupo com a segurança de Asgard, minha senhora.

— Mas não temos inimigos, Hagen! Por que não tira o dia de descanso? — Freya questionou-lhe olhando intensamente em seus olhos.

Com a mirada profunda da moça sobre seus olhos, Hagen sentiu seu coração acelerar os batimentos e suas mãos tremerem levemente. Receoso de que suas bochechas pudessem corar novamente, o jovem baixou o olhar e respondeu com a voz um pouco trêmula:

— Receio que não possa, senhorita. Minha missão é proteger a princesa Hilda, Asgard e... — Hagen hesitou por uns instantes, mas disse seguro. — Você, Freya.

— Pois eu declaro que hoje é sua folga. — Freya falou energicamente.

Com o cenho ligeiramente franzido, Hagen olhou para Freya, que ao sentir o olhar questionador do rapaz, ergueu os olhos e respondeu:

— Tá, eu sei que quem é a regente de Asgard é minha irmã e você deve responder somente as ordens dela, mas eu pensei que você pudesse tirar esse dia de folga...

Após um breve silêncio, Freya declarou.

— Eu queria que você me ajudasse com uma tarefa.

— Claro, princesa! — Hagen respondeu prontamente. — É uma honra servi-la.

Freya abriu um grande sorriso ao ouvir a resposta de Hagen e falou:

— Bem, estava pensando em fazer uma coroa de flores para que eu e Hilda possamos usar na celebração da noite de hoje. Mas gostaria de usar Blåveis, só que essa flor só tem após a colina e eu não queria ir sozinha. Você pode me acompanhar, Hagen?

— Sim, senhorita Freya.

Caminharam despreocupadamente por entre as planícies até chegarem ao topo da colina onde havia várias flores da que Freya precisava para fazer sua coroa. A jovem sentou-se no gramado e começou a colher as flores, montando a coroa assim que pegou o número necessário de flores para tal. Um pouco distante, Hagen admirava a bela mulher que secretamente tanto amava.

Uma brisa suave atingiu o bordo sob o qual Freya estava sentada e fez com que suas flores esverdeadas voassem por cima da jovem, que sorriu ao ver o tanto de flores que haviam se prendido em seu cabelo.

Logo, Freya terminou seu trabalho com as flores, porém em vez de fazer apenas duas coroas, ela montou um longo colar e ao finalizá-lo, caminhou sorridente até Hagen. Diante do guerreiro, Freya pegou o colar, deu um sorriso e o colocou suavemente sobre os ombros do guerreiro.

Hagen olhou admirado e um pouco envergonhado para Freya, que ainda lhe olhava intensamente. Num rompante, a moça aproximou seu corpo do de Hagen e, na ponta dos pés, deixou um beijo no rosto do rapaz, para em seguida, sair correndo, com um largo sorriso no rosto.

Hagen sentiu o coração palpitando descompassado no seu peito, nem no seu sonho mais impossível pensaria que iria receber um beijo da sua amada, ainda que ele tivesse sido dado na sua bochecha!

Após ficar ali parado por mais alguns segundos pensando no que havia acabado de acontecer, Hagen decidiu ir atrás da sua amada, seguindo pelo menos caminho que ela havia tomado após beijar o seu rosto. Como não avistou a princesa, Hagen decidiu retornar a cidade e foi junto da mestre de cerimônias do castelo de Valhalla que ele viu Freya.

Hagen ainda fez menção de falar com Freya, caminhando em sua direção, mas a moça ao vê-lo, saiu imediatamente do local, escondendo seu sorriso no rosto.

O jovem guerreiro, parado no meio da praça, se questionava sobre as atitudes da princesa ao atraí-lo para um local ermo nas imediações do castelo para beijar seu rosto e depois sumir. Por mais que Hagen não tivesse entendido qual era a de Freya com aquilo, e por mais que ele fosse dado a ilusões, ele não pôde ignorar a esperança do seu sentimento ser correspondido pela princesa.

O loiro ainda trajava o colar de blaveis que Freya havia lhe dado e carregava um vasto sorriso no rosto ao relembrar do beijo que havia ganhado. Ao notar que alguns aldeões estavam lhe observando curiosamente, Hagen retirou o colar de flores e caminhou até sua casa. Após o breve almoço, foi até o vulcão e treinou por algumas horas, retornando próximo do início da celebração do Walpurgisnacht.

Hagen tomou um banho e vestiu sua túnica e calça, feitas especialmente para o festival. Antes de sair de casa, Hagen olhou para o colar de flores que Freya havia lhe dado e com um sorriso nos lábios lembrou-se do toque cálido dos lábios da moça sobre suas bochechas.

Assim que chegou à praça, Hagen viu que as jovens donzelas Asgardianas já estavam posicionadas ao redor do mastro, cujo topo havia diversas fitas coloridas. Ele observou também que um dos músicos estava atrasado, com isso, Mime, um dos homens que compunham o exército de Asgard, que além de guerreiro era um exímio músico, teve que substituí-lo. 

Próximo à fogueira havia um trono gigante de madeira e nele Hilda estava sentada. Ao seu lado, Freya estava sentada e parecia mais radiante que nunca. A moça trajava um vestido branco igual o da sua irmã e na sua cabeça havia a coroa de flores que ela havia confeccionado mais cedo.

Hagen não encontrou palavras para expressar o quão esplêndida Freya estava e iria ficar admirando-a por mais alguns minutos se não fosse pelo toque de Siegfried no seu ombro, pedindo que ele o acompanhasse até onde estavam os guardas resignados para a proteção das princesas para aquela noite.

— Como Mime teve que substituir um dos músicos, você se importaria de tomar o lugar dele na proteção das princesas? — Siegfried perguntou.

— De forma alguma! Vamos, Siegfried. — Hagen respondeu.

Logo a fogueira foi acesa e as jovens donzelas asgardianas começaram a circundar o mastro cobrindo-o com fitas coloridas nos diversos giros que elas davam ao seu redor. A alegria e o riso se faziam presentes em todos os asgardianos, que naquela noite celebravam o início da primavera e pediam proteção contra maus espíritos.

A festa estava no seu auge, quando Hilda de Polaris fez o seu pronunciamento, desejando a todos os melhores votos para aquele começo de primavera:

— Povo de Asgard, abençoada seja essa noite! Dias maravilhosos da festa da Florária e da noite de Walpurgis para todos aqueles que acolherem tais desejos... Que o amanhecer do verão possa trazer-nos bênçãos de primavera, solo macio e aveludado, ventos calorosos, o florecer das árvores...       Que nossa vida seja preenchida com diversas coisas bonitas, crescendo e explodindo em flor.

Assim que a representante de Odin terminou de falar, flores das mais variadas cores caíram sobre a enorme plateia, que olhava admirada para aquele espetáculo. Hilda pediu novamente a palavra, dispensando os soldados que estavam de serviço e pediu que eles se juntassem às comemorações.

Hagen foi até a mesa das bebidas e se serviu de uma boa taça de hidromel. Após comer um pouco do Pão de bordo, ele sentou-se com seus amigos e conversaram por alguns minutos. Quando todos estavam levemente ébrios, quase todos os guerreiros se levantaram para dançar junto com os civis de Asgard, ficando na mesa apenas Siegfried e Hagen.

Minutos depois, Siegfried pediu licença e sumiu das comemorações, se Hagen estivesse mais atento à festa iria perceber que o guerreiro saiu no momento em que Hilda se retirou das comemorações, porém ele estava mais interessado em localizar Freya, que havia desaparecido.

Ao ver que Hagen estava procurando algo, Freya deduziu de imediato que esse algo era ela. Com isso, a princesa caminhou até a mesa que o rapaz estava sentado, se certificando que ninguém estava vendo ela se aproximar do guerreiro. Assim que chegou à mesa, Freya levou as mãos até os olhos do guerreiro, que descobriu de imediato que era ela ao sentir o cheiro do seu perfume.

Hagen retirou as mãos de Freya delicadamente, virou o seu rosto e com um amplo sorriso nos seus lábios cumprimentou a princesa. Freya retribuiu o sorriso do guerreiro e pegando na sua mão levou-o até uma frondosa macieira. Antes que o rapaz pudesse constatar o que estava acontecendo, Freya ficou novamente na ponta dos pés e deu-lhe outro beijo, só que dessa vez em seus lábios.

O rapaz ficou surpreso ao ver que sua amada correspondia a seus sentimentos, com isso, sua surpresa inicial deu espaço a uma grande alegria. O jovem casal trocou diversos beijos e carícias leves, tão envolvidos um com o outro que, ocultados por aquela macieira, ficaram alheios ao restante do mundo até que a primeira luz da manhã se fizesse presente e eles se separassem, retornando cada um à sua moradia.

Dessa forma, os dois enamorados compreenderam que a magia da noite de Walpurgis não se limitava apenas ao retorno da vida e cor à natureza, mas também estava relacionada ao florescer do mais belo dos sentimentos no coração de duas pessoas: o amor.

FIM


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Notas finais do capítulo

Oie!

Faun tem uma música bem linda sobre o Walpurgisnacht: https://www.youtube.com/watch?v=U10ftE4XQvo

Blåveis, em norueguês e sem similares em português é uma flor azulada, cujo nome científico é Hepatica nobilis.

Bordos e prímulas são nomes de árvores, que florescem na Noruega na época da primavera. Pão de bordo é uma das comidas típicas na noite de Beltane.

Agradeço a todos que leram e desejo uma ótima noite de Walpurgis/Beltane. Que o fogo das fogueiras acesas nesse dia aqueça nosso coração! Blessed be!



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