História A Falha no Plano - ShikaTema escrita por biapurceno


Capítulo 2
Shikamaru


Notas iniciais do capítulo

{Naruto não me pertence e minha história é sem fins lucrativos, é só pra entreter. Quem dera tivesse pensado no universo antes, hoje estaria rica!}

Boa Leitura!



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O sol estava a pino, e sentia seu rosto começar a arder, provavelmente mais tarde ficaria vermelho. Ir à Suna era isso, uma viagem longa e desgastante, de dias muito quentes e noites muito frias, de florestas densas e logo depois, um deserto que parecia não ter fim. Se dependesse dele, pararia para descansar a cada meia hora, mas isso faria com que a viagem de três dias virasse seis. Não se importaria em circunstâncias normais, mas tinha sido enviado para resolver um assunto urgente, até então desconhecido, então não poderia se dar ao luxo de demorar. A única informação que tinha era que seu casamento teria que ser realizado mais cedo que o previsto, o que não fazia o menor sentido, já que tiveram uma enorme dificuldade para encontrar uma data que agradasse a todos, e que o motivo para tal coisa era bem séria, e, pelas insinuações, ele era um dos culpados.

Há três dias, o Rokudaime recebeu uma ligação do Kazekage falando da tal urgência. Shikamaru estava na sala enquanto se falavam. Kakashi mantinha um tom sério, que variava entre preocupação e surpresa, e por duas vezes notou que o Hokage segurou uma risada. Talvez se fosse outra pessoa não teria notado esse detalhe, mas Shikamaru não deixou passar. Assim que encerraram o contato, esperou paciente para que lhe fosse passado o assunto. Como conselheiro ele precisava saber de todos os problemas, e mesmo Kakashi sendo tão inteligente quanto ele próprio, quando pensavam juntos o resultado era quatro vezes mais eficaz; e já que esse assunto era diretamente ligado à ele, ao que parecia, possivelmente teria que resolver sozinho. O antigo sensei não era um cara preguiçoso, mas sabia delegar serviços. O que podia fazer para não ter mais responsabilidades em cima de si, ele fazia.

O Hokage passou um tempo calado, mirando Shikamaru com curiosidade, um olhar que beirava diversão; talvez por baixo da máscara estivesse, inclusive, sorrindo.

— Tem algo que eu precise saber, Hokage Sama?

— Tem sim, mas primeiramente não me chama assim. Estamos sozinhos, já disse que nunca serei 'Sama”, não gosto dessas formalidades — protestou — Bem, o Kazekage acabou de entrar em contato e parece que houve algo inesperado com relação a data do seu casamento e terá que ser revista, provavelmente adiantada.

— Que problemático! Esses detalhes já tinham sido acertados. Qual a desculpa dessa vez?

— Aparentemente algumas pessoas envolvidas não conseguiram esperar as coisas seguirem seus cursos naturais e acabaram apressando as coisas.

Shikamaru franziu o cenho. Kakashi não costumava usar suas frases enigmáticas com ele, afinal, precisava entender perfeitamente qualquer problema que tivesse acontecendo; e mesmo quando usava, não surtia efeito pois ele compreendia na hora. Mas dessa vez além de usar essas frases Shikamaru não entendeu o significado. Algo estava estranho.

— De qualquer modo você precisa ir à Suna o quanto antes para resolver esse assunto. — continuou.

O garoto estalou a língua. A ideia de ir até a outra vila não era ruim, pois iria ver Temari e céus, estava morrendo de saudades daquela mulher problemática. Mas eles não tinham tempo a perder. Diversas coisas precisavam ser resolvidas, e em uma semana receberiam líderes de duas vilas para fechar alguns acordos, e ele estava à frente das negociações.

— Eu não chegaria a tempo das reuniões com aqueles dois líderes chatos. — o moreno advertiu — não quero que todas as negociações que encabecei sejam em vão.

— Eu também estou a par de tudo. — o Rokudaime relembrou — Vou pedir ao Naruto que participe dessas reuniões comigo no seu lugar. Tenho que começar a treina-lo o quanto antes de qualquer jeito. Ele é meio devagar, vai precisar de tempo pra aprender as coisas até assumir como Hokage.

Depois de todo trabalho que teve, saber que vai ficar de fora e ainda ser substituído pelo cabeça oca do Naruto embrulhava seu estômago. Em outro momento iria estar feliz por ir a Suna seja qual fosse o motivo; lá teria sua recompensa. Mas só dessa vez preferia ficar.

— Esse não é um bom momento para colocar o Naruto em uma reunião como essa. A cabeça dele só pensa no tanto de fralda que está trocando.

O Rokudaime riu. Naruto havia se tornado pai a menos de um mês, e seu humor variava entre mostrar a todos fotos do bebê, orgulhoso, e reclamar que não dormia desde que o pequeno Boruto nasceu.

— Sabe que eu posso resolver essas coisas do casamento daqui, não é? — tentou argumentar uma última vez.

— Acho que dessa vez não... Depois do que fizeram melhor ir lá resolver pessoalmente — ele falou baixo, mas Shikamaru ouviu

— Como assim? Quem foi que fez alguma coisa? Você está me deixando confuso.

— Acho que não posso falar sobre isso. Gaara prefere que você vá até lá, e eu concordei. Melhor se apressar, aproveita que ainda é cedo.

O tom era de ordem, então o conselheiro deu-se por vencido. Bom, então se tinha que ir, iria. Há males que vêm para o bem. Ia poder matar a saudade dos beijos de sua noiva. Com sorte, de outras coisas mais.

— Ah! Chame um ou dois shinobis para ir com você. O caminho até lá é hostil, não é seguro ir sozinho. Além do mais, se acontecer alguma coisa com você em Suna preciso de testemunhas.

Shikamaru levantou uma sobrancelha. Por que aconteceria algo com ele? Era noivo da irmã do Kazekage, além do mais, estaria em território amigo... Ou não?

— Devo me preocupar com alguma coisa, Hokudaime? — desconfiou.

— Muitas coisas, mais do que imagina. Querer se casar com uma mulher que tem dois irmãos... — falou, tentando conter uma risada — Melhor se apressar, quanto mais cedo for, mais cedo volta.

Kakashi estava estranho, enigmático num ponto que nem ele entendia. O que tem Temari ter irmãos? Eles nunca se intrometeram no relacionamento deles. Gaara só tinha que estar a par do casamento por ser o Kazekage. Resolveu não tentar entender por hora. Era o Hokage, sabia o que estava fazendo e não colocaria sua vida em risco sem um bom motivo, isso podia garantir.

Agora que estava chegando não conseguia mais ignorar as perguntas em sua cabeça. Que problemas seu casamento estava trazendo que teria que mudar a data? Passaram os últimos meses acertando esse detalhe, que parecia simples, mas que no fim se tornou um problema. Hora Suna não aceitava que o casamento fosse em Konoha, argumentando que o laço da noiva com o Kazekage era mais próximo, e que isso daria mais direitos. Coisa que foi negada, já que ela passaria a ser de Konoha, e ele era o líder do clã da qual era faria parte. Hora Konoha não queria que o casamento acontecesse nos próximos meses, pois já estavam com diversos compromissos agendados, e para esse casamento em específico tinham que estar presentes todos os grandes líderes. Adiaram até o limite para entrarem em um acordo, que problema grave aconteceu para que quisessem mudar tudo?

Chouji e Ino aparentavam cansaço, mas não estavam reclamando. Os dois foram as primeiras pessoas que considerou levar nessa viagem, e não negaram quando ele pediu. Por mais que o Hokage não tenha parecido realmente preocupado com a sua ida, mencionar que poderia correr risco de vida o fez ficar em alerta, e se tivesse que se defender, melhor ter ao seu lado pessoas que passou a vida lutando junto. Além do mais, Ino estava chateada por Sai ter saído em uma missão longa quinze dias depois de terem se casado, e assim ocuparia seu tempo. Já Chouji pensou duas vezes antes de aceitar. Karui tinha descoberto a gravidez recentemente, e ele não poderia estar mais feliz. Por isso relutou um pouco em deixá-la sozinha, mas por fim aceitou.

Finalmente a silhueta de duas pessoas apareceu no horizonte. O Kazekage sempre mandava alguns shinobis até uma parte do deserto para guiar os visitantes à vila. Quanto mais perto, mais difícil o caminho ficava. O trio alcançou os homens de Suna, entre eles estava Kankuro. Ali as coisas começaram a ficar mais estranhas ainda. Desde que começou a ver Temari com certa regularidade, ele e os cunhados acabaram por ter um bom relacionamento. Não eram amigos, mas se tratavam com um pouco mais do que cordialidade. Porém hoje não. Quando finalmente chegou até eles, o mestre das marionetes lançou um olhar que ia de raiva a desprezo, e sem ao menos dizer oi, saiu andando à frente, guiando-os pelo deserto.

O caminho até a vila foi silencioso, mas de longe ruim; estava tão cansado que só de pensar em manter uma conversa ficava com preguiça. Tentaria descobrir a causa do mau humor de Kankuro depois, ou não, pensando bem não queria saber. Tudo que queria era se reportar ao Kazekage de uma vez e descansar um pouco, dormir o restante da tarde para repor as energias que gastou indo até lá. A noite procuraria por Temari, de repente iria jantar com ela, Chouji e Ino. Kakashi o liberou por oito dias, então ficaria apenas dois dias em Suna. Resolveria a situação da data do casamento no dia seguinte e com sorte teria um dia inteiro para aproveitar e ficar com sua noiva antes de partir.

Mas pelo jeito não seria tão simples.

Ao entrar na vila notou a movimentação. Geralmente era um lugar agitado, mas estava além do normal. Jovens claramente estrangeiros passeavam pela vila guiados por alguém de Suna em diversos grupos. Nunca havia visto tal coisa por ali.

— O que está acontecendo? — Shikamaru perguntou, curioso.

— Assunto de Suna, não diz respeito a vocês de Konoha. — Kankuro respondeu, mal criado, sem sequer olhar para trás.

Preferiu não tocar mais no assunto, quando encontrasse Temari questionaria. Andaram por mais uns minutos e pararam na frente de um Hotel.

— As reservas de vocês foram feitas aqui — o mestre das marionetes falou —, vou deixá-los aqui pois o Kazekage está ocupado com outras coisas e vai levar a tarde inteira e parte da noite. Por volta das oito compareçam ao escritório dele, já vai estar esperando.

Não conseguiu esconder a surpresa já que há tempos não ficava hospedado em hotéis quando ia a Suna. Tinha um quarto quase reservado na mansão do Kazekage, no terceiro andar, na janela logo acima do quarto de Temari. Lugar muito estratégico, pois assim que todos se recolhiam, ele descia ao quarto dela e passava a noite lá. Kankuro olhou para Shikamaru como se o desafiasse a perguntar o porquê de estar ali, e exatamente por isso não perguntou, mas resolveu perguntar outra coisa.

— Onde está Temari?

Ele virou-se para o Nara com o rosto contorcido.

— Não te interessa. — bradou, e saiu pisando grosso, deixando o trio de Konoha para trás.

— Que cara estúpido. — Ino comentou quando ele se afastou o suficiente — Nunca gostei dele.

Estranho, muito estranho. Não lembrava de ter feito nada que o ofendesse da última vez que esteve lá. Pelo contrário, beberam juntos durante o casamento e riram bastante de coisas aleatórias. Ele, no auge da embriaguez, ainda pediu para que falasse com Sakura sobre seus sentimentos, e foi difícil convencê-lo que ela já estava namorando, que ele não teria chance. O que mudou de lá para cá? Será que tinha a ver com o tal problema do casamento.

Não tinha chegado a nenhuma conclusão do que poderia estar acontecendo, e estava tão cansado que talvez fosse esse o motivo de não conseguir pensar em nada. Combinou com Ino e Chouji de se encontrarem uma hora antes do horário que Kankuro falou, assim teriam tempo de comer alguma coisa antes de ir.

Finalmente entrou em seu quarto. Tomou um longo e relaxante banho e se deitou, acertando o despertador para o horário que queria, caso perdesse a hora. Mas foi em vão, não conseguiu dormir. Estava exausto da viagem, mas sua mente não conseguia desligar. Tinha a sensação de que algo estava errado, de que faltava alguma informação importante. Não fazia sentido estar em Suna, no meio do que claramente parecia algum acordo entre vilas vizinhas, para acertar algo que estava organizando o tempo todo de sua própria vila. Apesar da importância de seu casamento para as duas nações, a organização não precisava de tanta formalidade. Se não fosse o próprio Kakashi que o tivesse enviado, não teria ido achando que fosse uma armadilha.

Tentava juntar os fatos: primeiro a reação estranha de Kakashi ao pedido de Gaara de que o enviasse para lá, as insinuações que sofreria algum atentado, ainda tinha o adiantamento da data da cerimônia... Será que alguém estava contra a união por conta da aliança política, então queriam adiantar para pegar seja lá quem for desprevenido? Não era impossível que alguém se incomodasse a esse ponto, mas se fosse esse o motivo, por que não contar a ele a verdade de uma vez?  Ainda tinha o deboche inusitado de Kakashi ao lhe dar a notícia e o mal humor de Kankuro. Nessa história não conseguia encaixar essas reações, até porque não conseguia ligar as duas pessoas em si, não tinham uma história em comum. Era problemático demais.

A última vez que esteve em Suna foi no casamento de Gaara. Chegou com um dia de antecedência com a desculpa de que queria ajudar em alguma coisa, mas era mentira, só queria mais tempo com Temari. Não ligava muito para cerimônias, em sua vida foi a poucas e as achava chatas e muito caras para tão pouco tempo. Mas não tinha como negar que ver Gaara entrar de braços dados com sua noiva, vestindo a roupa tradicional, toda maquiada e bem arrumada lhe deu um frio na barriga. Dali a pouco tempo seria ele e Temari, de braços dados, oficializando a união, entregando suas vidas um ao outro para sempre. Aliás, Temari estava estonteante no casamento do irmão. No geral era uma mulher simples, não muito vaidosa, lá uma vez ou outra a viu usar no máximo um batom nos lábios. Mas aquela noite ela estava demais. Usava um vestido longo de cor verde, do mesmo tom de seus olhos, que era justo no corpo e marcava todas as suas curvas. Seus cabelos deixaram o penteado habitual e estavam soltos, emoldurando o rosto discretamente maquiado. Era de longe a mulher mais linda da festa. Naquela noite, nem quis saber se sua casa estava muito mais cheia que o normal, invadiu seu quarto assim que a viu entrar, dizendo que aquela noite fazia questão de ficar com ela. Queria ele mesmo tirar seu vestido e borrar sua maquiagem, e mostrar o quanto a amava. Sorriu com essa lembrança e já ansiou por mais.

Balançou a cabeça, afastando o pensamento obsceno. Já não bastava sua mente incomodando de tão cheia, não precisava de outra parte do corpo incomodando também. Passou o restante da tarde deitado na cama, sem conseguir dormir, formando diversas teorias para toda aquela loucura que estava acontecendo, mas não conseguir chegar à conclusão nenhuma. Odiava não saber, e odiava mais ainda não conseguir descobrir.

Na hora marcada, encontrou Chouji e Ino já na porta do hotel, aguardando por ele. Foram a uma barraquinha que vendia uma comida típica deliciosa, era ponto certo de parada quando ia até lá. Chouji amou e repetiu três vezes antes de dar-se por satisfeito. Quando todos terminaram, Shikamaru partiu com os amigos para o escritório do Kazekage.

— Preciso falar com Temari. Não estará na época das flores que ela pediu pra ornamentar a cerimônia. Trouxe um catálogo com outras para escolher, espero que não fique brava.

Ino se ofereceu para organizar sua cerimônia de casamento. Ela era boa nisso, organizou a sua própria e ficou bem bonita. Estava empenhada a fazer uma festa marcante pois sabia que teriam vários líderes importantes.

— Veremos, Ino, ao que parece a data vai mudar de novo.

— Mas que casamento “problemático” o seu, viu? As flores tem época, não dá pra organizar as coisas assim.

Chegaram ao escritório cinco minutos antes do horário marcado. O prédio estava muito movimentado, o que comprovava sua teoria de que algo importante estava acontecendo. Isso o levou de volta ao assunto inicial: por que ele estava ali? Se tinha outra coisa acontecendo na Vila, e com certeza o Hokage também tinha sido informado de sua importância em Konoha, por que exigir sua presença logo naquele momento? Ainda bem que estava na porta de Gaara, finalmente saberia o motivo de todo aquele circo.

Adentrou a sala de seguido de seus amigos. Gaara aparentava cansaço, e estava quase escondido atrás de vários documentos que estavam em cima de sua mesa. Um Shinobi estava ao seu lado aparentemente passando alguma informação. Assim que o homem saiu, o trio de Konoha se aproximou.

— Kazekage Sama. — Shikamaru cumprimentou.

— Não precisa ser tão formal comigo. Somos quase da mesma família. — falou, simpático, embora continuasse com o habitual semblante sério — Sinto muito por não tê-los recebido assim que chegaram. Devem ter percebido que estamos tendo um evento aqui para as vilas vizinhas. Essa semana estaremos um pouco atarefados.

— Percebemos. — confirmou — E exatamente por isso me pergunto o porquê de ter sido chamado nesse momento. Não me entenda mal, não estou reclamando nem nada do tipo, mas vendo que estão tão ocupados, acredito que o assunto do casamento poderia esperar.

— Não poderia — Gaara afirmou — Temos mesmo que rever a data...

Nesse momento um outro Shinobi apareceu na sala, interrompendo a conversa. Ele se aproximou do Kage e falou algo que Shikamaru não pôde ouvir. Gaara lhe deu algumas instruções e o homem se foi.

— Perdoem-me novamente. Como eu dizia, teremos que adiantar a cerimônia. Tomei a liberdade de estudar uma data junto ao Hokage nesses dias e achamos uma ideal daqui há cerca de seis semanas. Já consultei Temari e ela concordou.

— Um mês e meio?! — Ino exclamou — Céus preciso voltar à Konoha. Tenho que começar a arrumar as coisas para ontem!

Essa situação estava começando a deixa-lo com raiva. Se já tinham decidido antes dele chegar, por que inferno ele tinha que estar ali? Respirou fundo, tentando não se exaltar.

— Por que tanta pressa? Aconteceu alguma coisa?

— Sim, Shikamaru, aconteceu.

Ele esperou, mas Gaara o olhava sem a menor intenção de lhe explicar. O moreno bufou, irritado.

— Por que não me conta, “Kazekage Sama”?

Se Gaara notou o tom de ironia, não demonstrou.

— Sinto muito, mas não tenho autorização.

Shikamaru levou as mãos à cabeça, rindo de nervoso, sentindo seu rosto esquentar. Estava à ponto de esquecer que o cara era o Kazekage e o atacando ali dentro. Não ia conseguir se aproximar e ainda ia preso, mas ia feliz.

— Só peço que tenha paciência. — Gaara continuou — Temari deve lhe contar o que aconteceu.

— E onde ela está afinal?

Antes que o ruivo respondesse, uma confusão de gritos começou a acontecer do lado de fora. Shikamaru virou-se para ver quem entrava, mas antes da porta abrir, ouviu a voz de Kankuro.

— Não adianta insistir, eu vou falar com ele sim!

— Para de se meter no meu trabalho, idiota! — Era a voz de Temari, e parecia irritada

— Já é o terceiro dia que você passa mal. Você não pode mais ficar o dia inteiro andando por aí sem descansar e comer direito, sabe disso.

Shikamaru franziu o cenho ao ouvir aquilo.

— Ué? Agora ‘tá preocupado?

— É claro que sim, apesar do que houve você ainda é minha irmã. Não quero que você passe mal por aí, não tem necessidade!

— É normal sentir tontura na minha condição, e isso não me impede de nada! Posso trabalhar, andar, correr e ainda te dar uma bela surra se não parar de se meter na minha vida!

— Quer saber? Não vou mais discutir.

A porta abriu em um estrondo, e ele entrou como um foguete, seguido por Temari. Os dois estacaram no meio da sala ao notar o trio de Konoha parado na frente de Gaara. Kankuro olhou para o relógio e percebeu que era o horário que ele mesmo mandou que fossem lá.

— Shi-Shikamaru... — Temari gaguejou — Ninguém me avisou  que você tinha chegado... — ela olhou feio para os irmãos.

Ela não parecia exatamente feliz de vê-lo. Estava assustada e visivelmente nervosa.

— O que está acontecendo aqui? — Perguntou de uma vez.

— Eu... Shikamaru, vamos conversar depois. Agora tenho coisas à terminar e essa conversa precisa ser com calma...

— Não, Chega! Quero conversar agora! — Explodiu. Já não aguentava mais. Se não tivesse respostas naquele momento perderia a cabeça. — Desde que saí de Konoha parece que estão me fazendo de bobo. Primeiro o Hokage faz insinuações estranhas, disse que alguém apressou sei lá o que e por isso a cerimônia de casamento teria que adiantar também. Fala que eu poderia sofrer algum atentado aqui e que era um mal negócio me casar com uma mulher que tem dois irmãos. Quando cheguei quase tive certeza disso, porque Kankuro mal me olhou e me tratou mal sem motivo algum, como se eu tivesse feito alguma coisa errada. Então o Kazekage me diz que não tem autorização para me dar respostas, quando ele é a autoridade máxima; depois Temari chega aqui, me olha como se tivesse com medo, dizendo que ‘tá passando mal e que é normal da sua condição e...

Shikamaru arregalou os olhos e sentiu seu coração descompassar. Ela estava sentindo tonturas e em sua condição é normal. E que outro motivo teriam para adiantar o casamento depois de todo o trabalho para arrumar a data? Passaram a noite juntos no casamento de Gaara e não se preveniram... Mas ela tomava pílulas, já haviam conversado sobre isso e era seguro... não cem por cento, mas era uma margem de erro tão pequena...

Sua respiração estava acelerada. Ele olhou para Gaara, que lhe devolveu um sorriso, afirmando com a cabeça. Olhou para Temari, que o olhava tão amedrontada que nem parecia a sua noiva, a que geralmente colocava medo nas pessoas.

Tinha entendido tudo. Sabe se lá como, tinha acontecido. Por isso só ela podia contar a ele, isso dizia respeito somente a eles dois.

— Você está grávida. — Ele afirmou, e sua voz saiu em um tom acima do normal.

Viu de relance Kankuro bufar, a boca de Chouji abrir em um “O” perfeito e Ino dar pulinhos de alegria.

— Bem... Sim. — ela respondeu, seus olhos estavam marejados — Sinto muito, Shika. Com tanta coisa acontecendo eu deixei de tomar meus remédios com regularidade e... No dia do casamento de Gaara a gente... Eu queria te contar pessoalmente, por isso pedi segredo. — ele viu uma lágrima cair. Nunca havia visto sua noiva chorar. — Sinto muito pela confusão, eu não devia ter sido negligente com algo tão sério.

Sua cabeça estava rodando e suas pernas bambas. Ele seria pai! Um filho, Temari ia ter um filho seu. Que surreal! Apesar de desinteressado na maioria das coisas, ele sempre gostou de crianças, e ter filhos sempre esteve em seus planos. Lembrou-se de seu próprio pai, que sempre foi seu maior exemplo de força e inteligência, sua maior inspiração. Lembrou-se também de seus momentos de brincadeira com Mirai, filha de seu falecido Sensei, do quanto aquela criança o fazia feliz, e seu coração se encheu de alegria. Teria seu próprio bebê para brincar, para ver crescer, para educar. Seu filho, fruto do amor que ele e Temari sentiam um pelo outro.

Shikamaru esqueceu que haviam outras pessoas na sala, entre elas seus dois cunhados, e correu de encontro à sua noiva, a abraçando apertado, e colando seus lábios nos dela em um beijo terno, tentando passar tudo que estava sentindo. Sentiu seus próprios olhos marejarem, e nem fez questão de conter as lágrimas.

— Eu achei que não podia ser mais feliz... — Ele falou com a voz embargada — Mas você sempre me surpreende e mostra que do seu lado a felicidade só vai aumentar.

— Então não está chateado comigo? — Ela perguntou, ansiosa.

— Está brincando? Eu não ‘tô cabendo em mim de felicidade! — Ele enxugou seu rosto — Você fala como se fosse a única responsável por estar grávida. Até onde sei eu tenho metade da culpa.

Temari riu em meio às lágrimas. Shikamaru levou a mão à barriga da noiva, acariciando de leve. Não tinha a menor alteração, mas ele sabia que ali dentro tinha a junção dos dois crescendo, e sentiu seu coração saltitar de tão feliz. Ela pôs a mão em cima da sua e eles se olharam, e ele teve certeza que não havia um momento melhor para esse bebê chegar.

No dia seguinte Temari acordou cedo dizendo ter muito trabalho por conta do evento, e que a noite o encontraria. Ainda tentou convencê-la a tirar o dia de folga, mas ela recusou, afirmando que naquele momento a sua vila precisava de seus esforços. O máximo que conseguiu foi uma promessa que iria terminar o mais rápido possível e alguns momentos bem quentes debaixo dos lençóis antes de sair. Por fim, acabou hospedado na casa do Kazekage. Quando ela descobriu que estava em um hotel armou um escândalo com Kankuro e trouxe tanto ele quanto Ino e Chouji para lá, e ainda fez questão de deixar claro para todos que dormiria com seu noivo em seu quarto. Shikamaru ficou profundamente constrangido, mas preferiu nem discutir, até porque estava louco para tê-la em seus braços.

Já que não teria a companhia de Temari durante o dia, aproveitou a oportunidade para passear com seus amigos. Eles haviam ido pouquíssimas vezes a Suna e não conheciam o quão bonito era aquele lugar, mesmo estando no meio de um deserto. Levou-os em vários pontos turísticos e provaram diversas comidas típicas. Já era quase noite quando voltavam para casa.

— E então, senhor apressadinho. — Ino provocou. Ela havia passado o dia inteiro pegando no seu pé por ter engravidado Temari antes de se casar — O que pretende fazer?

— Tenho algumas coisas em mente, mas ainda estou considerando alguns prós e contras...— Ele estava com uma ideia fixa desde cedo na cabeça, mas queria discutir isso mais tarde, com Temari. — Enfim, estou mesmo é aliviado do casamento ter sido adiantado. Não quero ficar muito tempo separado dela enquanto espera meu filho.

— Por falar nisso, se prepara, Shikamaru. Essas mulheres ficam loucas quando grávidas. Karui nunca foi o exemplo de calma, mas desde que ficou grávida tenho a sensação que ela vai me bater a qualquer momento. — Chouji tremeu com a lembrança — Mas confesso que estou morrendo de saudades da minha ruiva.

— Oh, que romântico! — Ino apertou as bochechas de Chouji, que resmungou — Já temos o “Shika-Cho” a caminho... Acho que vou mandar o Sai fazer logo um bebê em mim para completar a nova geração do trio! Tentar é a melhor parte mesmo. — ela falou, e eles reviraram os olhos.

Foi um dia divertido no fim das contas. Já fazia um tempo que a correria do dia a dia havia afastado os três. Colocaram as conversas em dia, ou melhor, Ino tagarelou e os outros dois ouviram. Mas nem se importou, gostava de ouvir a companheira falar empolgada da vida de casada, e dos comentários sobre sexo que sempre constrangia a ele e Chouji. Era uma sensação gostosa de nostalgia passar o dia ao lado de seus velhos amigos.

A noite todos se reuniram para jantar na casa do Kazekage, que pediu para servir pratos especiais para comemorar a vinda de seu sobrinho, embora não tenham contado a quase ninguém. Kankuro foi resmungando, mas percebeu que ele estava começando a amolecer. Tinha certeza que quando o bebê nascesse ele seria um tio babão.

Shikamaru teria que acordar cedo para partir no dia seguinte, mas o jantar se estendeu e já era tarde quando finalmente relaxou para dormir. Estava cansado do passeio que fez durante o dia, e deveria aproveitar as poucas horas que restavam para descansar, mas mesmo tendo sua loira repousada com a cabeça em seu peito, ressonando pacificamente não conseguia desligar sua mente. Não queria ir embora e deixá-los – ela e seu filho – em Suna, longe dele, por mais de um mês. Eram sua família agora, mesmo que não tivessem assinado nenhum papel tornando isso legal. Mais do que nunca a ideia que teve mais cedo parecia o mais correto a se fazer.

Temari se mexeu, acordando devagarinho, mirando-o sonolenta com aqueles olhos verdes e grandes que o hipnotizavam cada vez que os encarava. Como amava aqueles olhos, foi a primeira coisa que reparou em Temari quando a conheceu; se impressionou com a forma que aquele olhar conseguia acolher e intimidar ao mesmo tempo. Se seu filho ou filha tiver esses olhos verdes e expressivos, estava roubado. Nunca seria capaz de dar uma bronca sequer no momento que os olhasse diretamente.

— Não vai dormir?

— Estou sem sono... — Falou, aconchegando-a ainda mais em seu peito.

— Melhor descansar, vai sair cedo amanhã.

Ele sorriu, e ela sorriu de volta, esticando o corpo e lhe dando um beijo casto. A olhou novamente nos olhos, e então se decidiu:

— Não vou não.

— Como não? — Ela questionou, confusa — Não pode sair tarde daqui senão vai pegar o deserto a noite...

— Não vou não. — Ele repetiu. — Não vou embora agora. — ele fez com que ela se sentasse na cama ao seu lado, e segurou suas mãos, enlaçando seus dedos — Vou direto ao assunto: Eu gostaria que você fosse para Konoha comigo.

Ela abriu a boca, espantada.

— M-morar com você em Konoha? Agora?

— Sei que você não vai querer sair daqui enquanto esse evento não acabar, então vou esperar essa semana. Mas quando terminar quero que você venha comigo. Sei que falta pouco para o casamento agora que foi remarcado, mas não quero você longe de mim por nem mais um dia. — Ele levou a mão à barriga da noiva — Não quero vocês longe de mim.

Os olhos dela marejaram.

— Tem tanta coisa pendente... — Temari murmurou — Mas sabe, acho que meus irmãos conseguem resolver sem mim.

Shikamaru não conseguiu conter o sorriso.

— Então você vai comigo?

— Eu... Ah! é uma mudança muito brusca, não esperava sair da minha vila natal tão cedo mas... — Ela pôs a mão por cima da dele, que ainda estava em sua barriga — Não queremos ficar longe de você.

Ele tinha certeza que ela negaria a princípio. Já tinha uma série de argumentos que tentaria usar para convencê-la, mas não precisou. Mais uma vez estavam em perfeita sincronia, e queriam a mesma coisa. A euforia por ouvir aquelas palavras foi tanta que em um único movimento a puxou para um beijo, empurrando-a de volta para deitar e se posicionando por cima dela.

— Se você soubesse o tamanho da minha felicidade...

— Acredite, eu sei... — Ela falou, e o puxou novamente para um beijo caloroso, beijo esse que ele sabia exatamente onde iria terminar.

Jamais iria imaginar que nessa viajem para Suna, que fez contrariado, acabaria recebendo a melhor notícia de sua vida. Amava Temari com todas as suas forças, e, embora não achasse que fosse possível, passou a amá-la em dobro. Hoje, mais do que nunca, gostaria que seu pai estivesse vivo. Queria dizer que ele tinha razão, as mulheres fortes de espírito realmente mostravam seus melhores lados aos homens que amam. Só completaria o pensamento, afirmando que não havia felicidade maior do que tê-las por perto, e que o amor que despertavam em caras preguiçosos como eles era imensurável. Ele amava sua problemática, e ela lhe daria um filho que multiplicaria esse amor. Sem sombra de dúvidas, ele era o homem mais feliz e completo do mundo.


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Notas finais do capítulo

Oie!!

Quando comecei a escrever esse capítulo pensei que não conseguiria, pois só tinha me programado para o primeiro. Mas aí eu consegui surpreender a mim mesma, pois eu adorei escrevê-lo, e me empolguei, pq ficou ainda maior que o outro. haha.

Espero que tenham curtido, o próximo é um epílogo para fechar a história. Obrigada por acompanhar!