Enquanto Seus Lábios Ainda Estão Vermelhos escrita por Moonkiss


Capítulo 5
A Flor De Cerejeira


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus anjos! Então, antes de tudo peço desculpas pela demora em atualizar a história, meu vestibular ainda não chegou ao fim. Espero que compreendam minha situação. >< Mas enfim, o capítulo, apesar de bem curtinho (porque serve principalmente para vocês entenderem melhor a doença da Sakura), foi escrito com carinho. E quero agradecer a todos que estão acompanhando a fanfic!
Boa leitura!



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Capítulo V — A Flor De Cerejeira

Escrito por @Moonkiss

• • •

Ino

 

Ei, por que está chorando? perguntei a uma menina, me agachando um pouco para ficarmos na mesma altura.

Não obtive respostas. Ela apenas continuava chorando, e não pude reconhecer seu rosto devido ao fato de suas mãos o esconderem. Embora eu não a conhecesse, sentia-me mal por vê-la tão triste, principalmente em um dia tão bonito quanto aquele. Sentindo o Sol queimar minhas costas, mesmo que o parque fosse cercado por árvores de diversas espécies, suspirei e me sentei ao lado dela no banco. Tocando em seu ombro, implorei mais uma vez com o tom mais paciente possível:

Por favor, me fale por que está chorando... ninguém merece ficar triste num dia tão lindo!

N-Não... finalmente respondera entre um soluço e outro.

Ino! Tenten de súbito puxava meu braço em direção a um carvalho Vamos brincar de pique-esconde!

Espera só um minutinho! me desvencilhei e fiz um sinal de espera Continuem que eu vou brincar com vocês depois!

Tenten assentiu e em seguida foi à procura de algum lugar a fim de se esconder de Hinata, que dizia em voz alta uma lenta contagem progressiva e tampava a própria visão. Outra vez observei a garota ao meu lado, e ainda prosseguia com o choro. Subitamente lembrei que ela fazia parte da minha classe na escola, a reconheci através da exótica cabeleira rósea. Nunca tinha conversado com aquela menina antes, então não sabia qual era o seu nome. Já aborrecida com a situação, levantei-me e ergui seu queixo, revelando um par de olhos verdes e marejados. Ela, abismada, piscou três vezes seguidas e comprimiu seus pequenos lábios. Sequei algumas de suas lágrimas com o polegar direito.

Vamos lá, me diga por que está triste.

Porque sou feia. ela declarou, desviando o olhar. Arqueei uma sobrancelha.

Como assim? Quem te disse isso?

Alguns meninos e algumas meninas...

E por que disseram isso?

Eles dizem que minha testa é muito grande. E também me chamaram de esquisita. balbuciou, permitindo ser conduzida ao pranto novamente. 

Cruzei os braços. Como ela pôde escutar aqueles comentários maldosos, principalmente levando em conta que todos nós possuímos uma beleza própria? Minha mãe contou uma vez que algumas pessoas são inseguras; não têm capacidade de aceitarem a si mesmas e às vezes expressam essa frustração de uma forma hostil, que é sempre buscando defeitos e oprimindo quem estiver ao seu redor. Retruquei com o cenho franzido:

Primeiro: você não é esquisita. Segundo: sua testa não é tão grande assim. Mas se você se sente mal com isso posso te ajudar!

P-Pode me ajudar?! indagou. Os olhos brilharam no mesmo instante em que pronunciei aquelas palavras. Ela enxugou um pouco das lágrimas usando o ombro.

Vem comigo! peguei delicadamente em sua mão trêmula, e fomos em direção à saída do parque.

Na esquina mais próxima dali havia uma loja de bijuterias, que era o nosso destino. Percorremos o curto caminho em silêncio e vez ou outra eu lançava uma olhadela para ela no intuito de verificar se estava chorando. Ao chegarmos nós cumprimentamos as vendedoras e busquei a estante de lenços para cabelo. Quando avistei o que queria, ofereci à menina a oportunidade de escolher a cor, e por fim optou por um vermelho desbotado. Paguei pelo pano e saímos de lá.

Ainda não entendi o que você pretende fazer com isso... com a voz tímida, ela me fitou enquanto voltávamos.

Espere só pra ver!

Sentamos no mesmo banco que estávamos há alguns minutos e levantei seus cabelos, passando o lenço por debaixo deles e amarrando um laço no topo da cabeça. Enfim ajeitei, sorridente, em seguida repartindo um pouco para frente de sua testa as madeixas mais curtas. Novamente puxei a mão da menina a fim de guiá-la até o pequeno lago a poucos metros de distância.

Pronto, problema resolvido! — exclamei, projetando-lhe uma breve olhada — Agora não podem mais falar mal de você. Venha aqui no lago para ver seu reflexo!

A água era bem clara e limpa, sempre havia dois ou três patinhos nadando por lá. Não muito longe avistei Hinata encontrando Tenten atrás de um arbusto florido. Mesmo que o dia estivesse ensolarado, poucas pessoas circulavam pelo local, e quase todas se tratavam de famílias. A menina agachou-se e contemplou seu reflexo. Um enorme sorriso apareceu nela.

Não é mesmo que funcionou?! Muito obrigada! me abraçou. Retribuí o gesto e alguns segundos depois nos separamos, então ela inclinou a cabeça para o lado como se me analisasse Ei, você estuda na Konoha Shougakkou*, não é? Eu me lembro de você... somos da mesma classe!

Sim! Venha, vamos brincar um pouco! convidei, animada. Caminhei rumo até onde as meninas estavam, e de repente senti sua mão tocar a minha.

Qual é o seu nome?

Ino Yamanaka. E o seu?

Sou Sakura Haruno.

Ao apresentar-se, Sakura estendeu a mão para mim em um modo de cumprimento formal. A partir daí passei a examiná-la com mais tenacidade; tinha um olhar carente, todavia tentava preservar uma postura confiante. Talvez não possua amigos, aliás, não me recordava de ter visto-a brincando com alguém na escola. Talvez eu seja a primeira criança que conversa com ela. Meus pais sempre alegavam que deveria ser solidária, fazer amizade especialmente com quem era isolado ou rejeitado pelos demais alunos, pois é ruim e prejudicial à saúde viver sem companheiros. Correspondendo ao gesto dela, sorri também.

Hmm... que lindo nome! Sakura, a flor de cerejeira!

Isso mesmo! Mas ainda não sei por que mamãe me deu esse nome... disse antes de olhar para o chão, e mais uma vez a melancolia tomou conta do semblante dela. Sem compreendê-la, questionei:

Por que diz isso?

Você não vê? — desviou os olhos para a cerejeira a nossa esquerda — Os botões de cerejeira são lindos e delicados, nunca vou poder ser comparada a eles. Sou feia e sem graça.

Não tinha argumento nenhum em mente. Queria contar à Sakura tudo que papai e mamãe ensinavam para mim, mas não tinha o dom de pronunciar belas palavras como os dois. Levantei a cabeça e fitei por uns segundos a árvore repleta de flores rosadas, algumas despencavam suavemente no gramado de acordo com a força do vento. Era a época de florescimento, uma boa razão para estar no auge de sua beleza. No instante em que a observava, percebi em meio a tantos frutos um botão ainda miúdo, quase invisível. Acabara de ter uma ideia.

Bom, repare que todas as flores desabrocharam. falei, e ela analisou novamente a cerejeira. Depois apontou para a pequenina flor.

Sim, menos aquela ali!

Sim! Você é como aquela pequena flor, Sakura. Não está amadurecida o suficiente. Cercada por um monte de botões, ela parece tão esquecida e triste, não é? Mas imagine que lindo vai ser quando aquela flor desabrochar assim que estiver pronta. Tenho certeza de que ela será a mais bonita de todas.

Formei um sorriso doce, aguardando alguma reação de Sakura. Ela, aparentemente um tanto surpreendida, repetiu a expressão e o sangue que vagava pelas veias de suas bochechas esquentou. Ri ao vê-la enrubescida. Andando em nossa direção, vinham Tenten e Hinata cantarolando algo que não consegui distinguir. Assim que se aproximaram mais olharam Sakura com um ar de curiosidade, e acenaram animadamente para ela.

Oi! Me chamo Hinata Hyuuga e essa é Tenten Mitsashi!

Oi, gente! Sou Sakura Haruno.

Vem com a gente então, Sakura! — chamou Tenten, gesticulando e correndo — Vamos brincar de pega-pega!

Nós a acompanhamos, gargalhando e decidindo com quem estaria o cargo de perseguir o restante do grupo. Fiquei feliz ao ver a alegria no rosto de Sakura. Não sabia se nosso encontro era apenas uma casualidade, no entanto, algo dentro de mim dizia misteriosamente que aquele seria o começo de uma grande amizade.

 

Ao acordar me espreguicei, e logo em seguida pus as mãos atrás da cabeça. Lancei uma olhada de esguelha para a cômoda ao lado da cama a fim de verificar as horas através do relógio digital. Marcava exatamente meia-noite, todavia não me importava de ter o sono interrompido.

O sonho que eu tive recompensava qualquer coisa; sonhei com o dia em que conheci minha melhor amiga. Apesar de a sensação nostálgica bater à porta, algo um tanto obscuro me atordoava. E subitamente estava com um mau pressentimento em relação à Sakura, sentia que ela encontrava-se em apuros. Um arrepio tenebroso subiu pela espinha dorsal. Como se tal gesto pudesse espantar meus medos, balancei a cabeça e tentei voltar a dormir. 

Perdi o sono, ainda aprofundada naqueles pensamentos, e em seguida abri as cortinas lilases da janela para sentar no parapeito. Observei um céu estrelado do lado de fora e uma Lua cheia quase sombria iluminar a cidade. Ainda que tentasse me distrair, resolvi rezar interiormente por ela, caso minha teoria estivesse correta.

Esteja bem, Sakura. Nós precisamos de você.

 

 • • •

Sakura

 

— C-Como assim?! Eu tenho câncer, é isso?! — balbuciei, já me debulhando em lágrimas. Tsunade franziu os lábios.

— Isso é tão difícil para mim quanto para vocês.

Naquele momento eu era uma criança aos choros por ter empenhado-se tanto em construir o próprio castelo de areia e de repente uma onda devastadora o arruinou completamente. Paralisada e trêmula, não conseguia ter reação alguma a não ser continuar encarando a doutora, que tinha um olhar tão entristecido quanto os dos meus pais. Como minha família irá reagir? Quase fiquei incrédula ao ouvir o diagnóstico. Eu tenho leucemia, como poderei dedicar-me aos estudos agora, já que estou no último ano do colégio? Como meus amigos irão reagir? Não faço a mínima ideia de que maneira seria capaz de descrever o que sentia. Estou apavorada. Minha frequência cardíaca parecia anormal, porque a sensação era de o coração atravessar o peito. Não imaginava que estivesse tão doente assim.

Mamãe chorava sem pronunciar uma palavra sequer enquanto meu pai tentava consolá-la através de um abraço e um afago em seus cabelos. Algo depreciativo cresceu em mim ao observar os dois, como se eu fosse um estorvo na vida deles. Não pretendo ser o motivo para despesas financeiras, pois suponho que o tratamento médico seja caro, e atualmente não estamos em boas condições. Alguns pacientes presentes nesta sala de emergência observavam a cena e vez ou outra trocavam cochichos, e aquela atitude me deixava desconcertada. Detesto ser o centro das atenções.

— Mas tentaremos te curar. — anunciou a senhorita Senju, despertando-me dos meus devaneios. Ergui as sobrancelhas e limpei as bochechas molhadas com o dorso da mão.

— Como seria o tratamento?

— Bom, existem quatro tipos de leucemia. Você sofre de leucemia mieloide aguda. As leucemias agudas são casos abruptos, que requerem tratamento imediato. No seu caso inicialmente se faz uma quimioterapia e depois se necessário indica-se o transplante de medula óssea.

— E como funciona esse transplante? — perguntou papai, enxugando uma lágrima da própria esposa com o polegar. A médica arregaçou as mangas do jaleco e cruzou os braços.

— O transplante de medula é feito em casos de prognóstico ruim ou nos casos em que a doença volta depois do primeiro tratamento. Esse procedimento é bastante seguro e tem ótimos resultados. Geralmente a primeira busca por doador se faz na família. No entanto, quando não se encontram doadores nessa condição, há duas alternativas: uma é buscar no registro de doadores. A outra opção são os bancos de cordão umbilical, uma vez que a célula do cordão também serve para transplante de medula óssea.

— Se eu soubesse que algum dia precisaria do seu cordão umbilical, Sakura... — murmurou mamãe com a voz embargada, por fim secando o rosto — Então significa que o jeito é procurar um doador?

— Exato. Existem mais de dez milhões de pessoas inscritas no mundo todo, mas...

— Qual é o problema? — indaguei, me recostando no travesseiro da maca. Tsunade fez uma expressão um pouco apreensiva.

— O doador e o receptor, que no caso é você, devem haver compatibilidade.

— Não terá dificuldades então, eu serei a doadora! — exclamou minha mãe, sorridente como se a situação não fosse tão complexa.

— Não é assim que funciona, Sra. Mebuki. É necessário que haja uma total compatibilidade entre doador e receptor, caso contrário a medula será rejeitada. Essa compatibilidade é determinada por um conjunto de genes localizados no cromossoma 6, que devem ser iguais entre doador e receptor. A análise de compatibilidade é realizada por meio de testes laboratoriais específicos, a partir de amostras de sangue do doador e receptor, chamados de exames de histocompatibilidade. — ela pausou a própria fala para nos entreolhar e em seguida reprimiu um suspiro pesaroso — Enfim, com base nas leis de genética, as chances de um indivíduo encontrar um doador ideal entre pai e mãe é de vinte e cinco por cento.

Boquiabertos, meus pais arregalaram os olhos em sua direção. Embora haja milhares de doadores ao redor do mundo, como eu poderia encontrar facilmente algum que possuísse os genes iguais aos meus? O caso era mais complicado do que tinha cogitado. Contudo, me senti incomodada com aquela antecedência desnecessária, visto que acabamos de tomar conhecimento da minha doença. Nem sequer sabíamos se eu precisaria realmente do transplante de medula. Ambos, após segundos de meditação, assentiram um ao outro e direcionaram-se à senhorita Senju. Papai decidiu falar em nome dos dois:

— Mesmo que as chances sejam pequenas, vamos fazer o teste!

— Muito bem, faremos a vontade dos senhores.

— Entendi, mas como a senhorita disse antes eu preciso primeiramente fazer uma quimioterapia, certo? — questionei sem rodeios, o que motivou meus pais a prestarem suas atenções novamente à doutora.

— Certo. Você sabe como funciona a quimioterapia, Sakura?

Sei como funciona o procedimento através das aulas de Biologia, no entanto, aquilo me assusta. Os quimioterápicos são drogas especializadas em destruir de modo eficaz as células que se desenvolvem rapidamente, por consequência estas conseguem eliminar uma parte das células cancerígenas e impedir que o tumor continue crescendo. O grande problema é que ao longo do tratamento também vêm os efeitos colaterais. E é isso que eu temo. Bufei, dando de ombros.

— Sim, eu sei.

— Você sabe, mas eu não! — refutou de súbito dona Mebuki, como se estivesse brigando comigo. Papai e eu a olhamos com reprovação.

— Eu vou explicar melhor, Sra. Haruno. — falou Tsunade, revirando os globos oculares e fazendo um gesto para que se acalmasse — As drogas quimioterápicas são feitas para destruir as células cancerígenas e evitar a evolução do tumor. Mas os efeitos colaterais são grandes.

— Que efeitos colaterais? — interrogou papai, arqueando uma sobrancelha.

— O medicamento também causa a perda de cabelo, a mudança da cor das unhas e da pele e feridas nas mucosas. Mas o efeito colateral mais grave acontece quando a droga age sobre a medula: como esse órgão é responsável pela produção de novas células sanguíneas, as plaquetas, os glóbulos vermelhos e brancos também acabam sendo afetados. Por isso ela pode ter anemias intensas, sangramentos e um déficit na imunidade. Essa imunossupressão pode fazer com que qualquer infecção se torne grave e até leve à morte.

Engoli seco ao escutá-la. Nada mais a minha volta era relevante, como se tivesse sido teletransportada a um universo paralelo. Obviamente há possibilidades de eu superar as dificuldades que virão pela frente, no entanto, uma estranha negatividade invadiu meus pensamentos mais profundos. Ainda estou confusa quanto as minhas emoções diante de tudo isto, mas algo me dizia que a qualquer momento meu corpo poderia não resistir. Apesar de soar uma ideia sombria, talvez eu esteja com os meus dias contados.


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Notas finais do capítulo

OBS.: *Konoha Shougakkou = Escola Primária de Konoha.

Pessoal, gostaria de dar um aviso: o Sasuke não foi esquecido, até porque o próximo capítulo será TOTALMENTE dedicado a ele! o/ Veremos então sua história e o motivo de ter retornado à cidade. Espero que tenham entendido com mais clareza a leucemia da nossa protagonista e, por favor, se puderem comentar gostaria de saber a opinião de vocês quanto a tudo que está ocorrendo na fanfic, assim posso deixar as coisas ao agrado de todos. :3
Muito obrigada novamente pela atenção, honeys, e até mais! Beijos sabor pimenta!



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