À Espreita escrita por EsterNW, Entusiasta


Capítulo 8
Semblante monocromático e confusão de cores


Notas iniciais do capítulo

Ester:
Hello hello, meu povo! Como vão vocês? Preciso dizer que amei ler umas teorias de vocês nos comentários do capítulo passado xD Maass, por enquanto vamos dar uma pausa nessas mil e uma teorias e vamos pra um momento mais calmo e com certos toques de poesia.
Boa leitura ;)
Entusiasta:
Teorias fazem a cabeça doer, então vamos relaxar nesse capítulo.
Há um tempo atrás, Ester começou a procurar imagens de pessoas para "interpretarem" nossos personagens, o famoso dreamcast. Além desse capítulo, os próximos dois terão imagens. Essa é Camila.



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— Rocha ou Mercedes disse algo sobre Camila ter saído? — perguntei para nenhum dos seguranças em específico, cruzando os braços enquanto olhava para a porta de madeira carunchada. Céus, que lugar era esse em que Camila vivia?

— Nenhum dos dois nos informou de nada, patrão — disse Garcia, observando a mim, enquanto Hernandes ficava atento aos arredores.

Olhei para o lado, vendo que uma senhora nos examinava com os olhos, estando apoiada no batente da janela da casa vizinha à de Camila. Ela estava ali desde que chegamos. Parecia que todos estavam sempre me seguindo, como se sempre houvesse um par de olhos a me…

Um rangido seco e a porta foi aberta, nos revelando a figura de Camila, com os cabelos pretos presos em um coque, uma camisa cinza — ou talvez fosse outra cor, tendo desbotado através do tempo — junto de legging preta e um chinelo de dedo. Seus olhos eram adornados por olheiras fracas. Será que ela estava tendo problemas para dormir?

Seus olhos escuros se arregalaram e ela piscou por alguns segundos, talvez se acostumando com a claridade da luz do sol.

— Heitor? O que você está fazendo aqui? — Ela começou a olhar pros lados, os olhos varrendo todo o cenário. — Os vizinhos…

— Não é a primeira vez que eles me veem pelo bairro…

— Eu sei! — ela sibilou baixo, quase se assemelhando a um chiado. — Mas ninguém sabia que a gente… — ela deixou as palavras no ar e eu franzi as sobrancelhas. — Você sabe, eu…

— Eu sei, querida. — Aproximei-me dela e Camila se apoiou na porta que segurava, tirando um pouco a minha visão de dentro da casa. — Vim lhe devolver isso. — Estendi a mão e abri-a, mostrando a joia delicada em minha palma.

Camila pegou o anel em um ímpeto, colocando logo de volta no dedo.

— Onde você encontrou? — respondi sua pergunta, enquanto ela admirava a joia no dedo anelar. — Obrigada, querido. — Camila deu-me um beijo breve, permanecendo próxima a mim após isso. — Estava começando a sentir falta do meu anel.

— Não sabia que você o tirava do dedo — disse, sem pensar, uma dúvida de minha mente, observando seus olhos escuros, que adquiriram um tom de espanto em poucos segundos.

— Eu costumo tirar para pintar, não quero sujar uma joia cara dessas — respondeu minha pergunta, porém, isso não explicava o porquê dela tê-lo tirado naquele dia. Mas isso não era de importância para mim.

— Você está ocupada hoje? — perguntei, pensando em convidar-lhe para algo, sendo sábado, dia em que ela não vendia seus quadros.

— Estou adiantando algumas pinturas pra semana que vem. Tive um surto de criatividade hoje. — Ela olhou para trás de mim, talvez finalmente vendo os seguranças. — Os vizinhos estão prestando ainda mais atenção com esses dois atrás de você. — Apontou para os homens de preto e voltou a segurar a porta de sua casa.

Segundos de silêncio e ela parecia prestes a se despedir de mim e voltar lentamente para dentro de seu pequeno refúgio artístico.

— Posso observar você pintar? — As sobrancelhas de Camila quase se uniram ao pedido, parecendo confusa. — Apenas desejava passar algum tempo com você. — As sobrancelhas dela, além de quase unidas, se ergueram até o máximo que conseguiam. — Nós estamos tão estressados com toda essa situação — soltei em um desabafo, ainda sufocado pela pressão diária. De fato, o problema não era aquela gravata.

Camila pareceu ponderar por alguns instantes demorados, enquanto tamborilava as unhas com esmalte preto sobre a madeira carcomida da porta.

— Entre. — Abriu um espaço maior, para que eu passasse. — Eu só vou terminar o meu quadro e me arrumar. Depois a gente vai pra algum lugar.

Avancei e os homens comigo também deram um passo à frente.

— Creio que não precise disso, rapazes. Apenas vigiem os arredores — orientei-os, passando com o olhar a mensagem principal: fiquem de olho caso ele apareça.

Entrei com Camila parecendo impaciente e ela finalmente fechou a porta.

Parei, observando sua casa. Móveis simples, parecendo de segunda mão, compunham o ambiente. As paredes brancas eram adornadas por quadros aqui e ali, entretanto, sem uma fotografia sequer. A decoração era mínima, com apenas dois vasos de flores, uma TV de tubo e um sofá bege de três lugares, fechando assim a imagem daquela sala.

— Pode ficar à vontade, querido. — Ela pegou o controle remoto do sofá e ligou a TV, colocando em um programa qualquer.

— Você colocou na concorrência. — Camila devolveu-me um olhar estranho como resposta. Minhas piadas eram horríveis, realmente.

O silêncio baixou entre nós naquele instante e ela se afastou, indo para outro canto da casa.

— Posso te observar pintar?

— Eu prefiro trabalhar sozinha, Heitor — Camila respondeu-me quase no automático. Encaramo-nos por mais alguns segundos. — Venha. Eu só preciso de silêncio e prefiro que não me observe o tempo todo.

Assenti e segui-a em silêncio. Entramos na última porta do pequeno corredor, sendo aquela a única porta aberta.

Parei, observando aquele cômodo abarrotado de cores e tintas.

Camila, por fora, aparentava ser monocromática, com suas roupas sempre variando na cartela de preto e branco, a maquiagem pesada e o cabelo escuro ocultando o rosto. Ali, eu vi que ela também era cores, entretanto, apenas escondia isso, mostrando para o mundo somente um lado de si. Ali, rodeado por quadros e mais quadros de todas as cores, vi que Camila era além disso. Simples, com seu visual relaxado como eu nunca havia visto antes. Desprovida de qualquer maquiagem, sendo aquela a primeira vez que eu via seu rosto limpo de qualquer pintura. Em contraponto, ela pintava ferozmente a tela em sua frente. Para mim, formava uma imagem sem sentido. Apenas ela talvez soubesse o que aquilo queria dizer. Ela se entendia e parecia em casa ali, e isso era o que bastava.

Camila se afastou do quadro, observando sua obra. Aproximei-me dela, sendo o mais silencioso possível.

— É lindo, meu amor — sussurrei para ele e Camila sobressaltou-se, talvez tendo esquecido da minha presença ali.

— Acho que está bom. Esperava mais dele.

— Para mim está ótimo. Você é talentosíssima. — Dei um beijo no topo de sua cabeça e ela se afastou de mim.

— Cuidado para não se sujar com o meu pincel — advertiu e mergulhou o pincel em um copo com água. — Vou me arrumar para podermos sair. Me espera na sala?

Assenti com a cabeça e ela me deu um de seus raros sorrisos abertos.

Voltei para o corredor, observando as portas fechadas dos outros quartos.

Sentei-me no sofá, observando a TV que permanecia ligada. A temida música do plantão de notícias saiu do aparelho.

— Governador do Distrito Federal se entrega à polícia… — a jornalista anunciou, junto de um semblante sério e uma voz firme.

— Quer algo para comer, querido? — A voz de Camila perguntou-me da cozinha.

— Apenas uma água está bem — afirmei para ela, voltando os olhos para a tela, que mostrava imagens do homem sendo preso.

Camila apareceu, carregando um copo na mão. Ofereceu-me e comecei a bebê-lo.

— Isso de polícia me lembra uma coisa. — Terminei com a água e entreguei o copo a ela. — Nós não fomos à delegacia para você fazer o retrato falado, desde aquele dia… — Deixei a frase morrer, pois ambos sabíamos do que eu falava.

Camila tomou o copo de minha mão, apertando o vidro, ao ponto de quase machucar a própria mão com aquilo.

— Eu disse que não vou fazer isso, Heitor. — Lançou-me um olhar firme, causando-me certo temor com aqueles olhos escuros. — E-eu não me sinto bem em delegacias. — O copo começou a estremecer em sua mão. — P-por favor, não insista, eu não quero.

— Tudo bem, tudo bem. — Segurei sua mão com a minha, fazendo com que o copo parasse de tremer. — Sugeri isso porque é o melhor a se fazer. Mas tudo bem se você não se sentir à vontade. — Envolvi a lateral de seu rosto com minha mão livre. — Apenas desejo que você fique segura. Não quero que ele volte…

— Eu estou bem, Heitor. Eu não o vi mais depois daquele dia. — Sua voz voltou ao tom habitual, porém sua mão permanecia trêmula. — Está tudo bem, tudo bem. — Pareceu afirmar mais para si mesma, enquanto desviava os olhos dos meus.

— Por que não vai se arrumar enquanto lavo esse copo para você? Irá nos fazer bem uma saída para distrair. — Ela assentiu e trocamos um breve beijo.

Camila sumiu em uma das portas e eu levei o copo, voltando em seguida para o sofá, vendo que uma reprise de alguma novela tinha tomado o lugar do plantão.

Saímos da casa e Camila trancou a porta. Fiz sinal para os seguranças, que estavam sentados a alguns metros longe da residência, e eles se dirigiram ao carro.

— Para onde vamos? — Camila perguntou e nos aproximamos do veículo. Abri a porta para ela.

— Vamos ver um pouco mais de arte.

Camila entrou e sorriu. Fechei a porta e permiti-me observar os arredores brevemente. Nada suspeito, apenas vizinhos curiosos.

A vizinha de Camila continuava na janela. Lançou-me um olhar de gelar a espinha e finalmente entrei no carro, saindo daqueles olhares invasivos e permitindo-me finalmente relaxar.


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Notas finais do capítulo

Ester:
Então, o que acharam dessa interação de Heitor e Camila? Confesso que amo essa cena dela entre as pinturas :3
Povinho lindo que acompanha essa história! Gostaria de fazer um pequeno momento merchan aqui. Caso vocês gostem de romance com alguns toques de poesia, estou postando uma short fic, participante do desafio do Dia dos Namorados do grupo do face do Nyah. Se alguém quiser conferir: https://fanfiction.com.br/historia/761961/Fruhling_in_Paris/
Por hoje é só, povo! Até segunda que vem o/



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