À Espreita escrita por EsterNW, Entusiasta


Capítulo 15
Tempestade iminente


Notas iniciais do capítulo

Ester:
Hallo hallo, peps! Preparados pra aquele que é o maior cap até agora? Então... 1,2,3, ACTION!

Entusiasta:
E aí gente, como estão? Aguardaram ansiosamente a semana toda por mais um capítulo cheirosinho de À Espreita? Sua espera vai ser recompensada. Este não é apenas o maior capítulo, como também é meu favorito! Sei que você vai gostar, então não perca tempo e comece a leitura.



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Os pingos começaram a bater com força no vidro do carro, engrossando em questão de segundos e avançando para uma tempestade exatamente no começo da tarde.

Hernandes parou o carro no semáforo vermelho e ligou os para-brisas. Ele e Garcia conversavam distraidamente sobre a partida do Campeonato Brasileiro do dia anterior.

As ruas do meu bairro eram parcialmente visíveis em meio à tempestade. Soltei um suspiro com o rosto escorado à janela e tirei o celular do bolso. Abri as mensagens de texto e procurei pelo contato de Camila. Um trovão cortou a conversa dos seguranças, enquanto eu começava a digitar no celular.

“Preciso conversar com você. É importante. O mais rápido possível.”

Apertei para enviar e um novo trovão cortou o som.

— Pelo visto a tempestade hoje vai ser feia — Garcia comentou, enquanto os para-brisas não cessavam de funcionar.

Dei-me conta de que talvez Camila tivesse indo embora da praça quando o céu começou a escurecer.

— Tudo bem, patrão? — Hernandes questionou-me algo e pedi-lhe para que repetisse, estando eu distraído. — Tudo bem você pegar um pouco de chuva na entrada?

O carro parou em frente ao meu prédio, mal sendo visível pelo vidro embaçado do carro.

— Não se preocupem, rapazes. São só alguns passos até a entrada. — Abri a porta do carro, sendo recepcionado por uma ventania violenta e pingos de chuva começaram a molhar a mim e o assoalho. — Vejo vocês outra hora.

Despedi-me dos dois e não parei para vê-los irem embora, entrando correndo no edifício e me molhando um pouco com a tempestade. Manoel cumprimentou-me e senti a diferença de temperatura com o lado de fora e os ventos tempestuosos. Meu celular vibrou enquanto acionava o elevador.

“Hoje?”

Digitei uma mensagem em resposta enquanto entrava no elevador e apertava o botão do meu andar.

“De preferência.”

Olhei para meu reflexo cansado no espelho, vendo algumas olheiras aparentes abaixo dos meus olhos escuros. Eu estava dormindo extremamente mal nos últimos dias. Piorando ainda mais nesses dois últimos, após a conversa com Edgar.

Pensava em uma forma de confrontar Camila e ao mesmo tempo me preocupava com o homem, temeroso de que tentasse ir atrás dela. Mesmo que ele tivesse prometido que não seria impulsivo. No fim, teria eu mesmo que enfrentar meu problema. Cara a cara.

“Estou indo embora do trabalho. Vou pedir pra Mercedes e Rocha me deixarem no seu prédio”

Finalizou a mensagem com um emoticon e tirei os olhos do celular ao sentir o baque do elevador parando no meu andar. Fui até meu apartamento e abri a porta, jogando minha chave e o celular em qualquer lugar. Não havia mais mensagens dela. Camila estava vindo até aqui. E Natalie junto.

Seria a personalidade de Natalie diferente de Camila? Ou ela ainda era a mesma e apenas usava outro nome? Confesso que era uma das minhas curiosidades em meio a tantas dúvidas e lacunas em toda aquela história.

Caminhei até a cozinha e chequei a cafeteira, vendo que ainda havia café forte. Coloquei em uma xícara e tomei preto mesmo, sem açúcar nem leite. Aquele café forte e amargo estava sendo meu melhor companheiro naquelas últimas noites de insônia, junto do fantasma de uma mulher que eu acreditava amar.

O tempo não passava e eu contava os minutos de acordo com os trovões que ouvia. Havia um novo a cada intervalo de oitenta e oito segundos e aumentando cada vez mais. Até que o mundo parecia ter ficado em silêncio, a exceção da chuva que ainda caía, enquanto as nuvens derramavam lágrimas ininterruptas. Lembrei-me que não estava sozinho com as nuvens, quando o interfone tocou. Manoel anunciou a chegada de Camila. Autorizei sua subida junto de um arrepio ao ter certeza que eu finalmente a reveria desde que tive certeza de toda a verdade. Estava apreensivo por encará-la frente a frente ciente de quem ela realmente era.

A campainha tocou, soando como um alarme para meus sentidos completamente despertos. Abri a porta sentindo a mão pesar na maçaneta e logo vi seus olhos escuros com a mesma inexpressividade que normalmente portavam, mesmo que seus lábios mostrassem um sorriso discreto. Até mesmo suas expressões enganavam.

— Olá, querido — Camila/Natalie me cumprimentou com sua voz gentil. Junto de sua saudação, veio um beijo suave em meus lábios. Não correspondi, não conseguindo esconder meu próprio desconforto. — O que há com você? Novamente com insônia?

— Entre. Vou pegar uma toalha para você — evitei sua pergunta ao ver que ela se encontrava um pouco molhada devido à tempestade que diminuía.

Camila entrou e fechei a porta com um suave clique, enquanto ela se dirigia ao sofá e deixava sua bolsa sobre o móvel. Sai do seu campo de visão e entrei no banheiro, sendo recepcionado pela minha aparência exausta, ao ver brevemente meu próprio reflexo no espelho. Até mesmo os cabelos e o colarinho da camisa estavam em desalinho. Ajeitei o colarinho em um hábito e peguei uma toalha, retornando para a sala e para minha temida conversa. E para aquela estranha que estava sentada em meu sofá.

Vi-a encarando a tela da TV, que estava desligada no momento, parecendo sussurrar alguma canção. Aquele canal de clipes era quase um vício para ela.

— Obrigada — Camila agradeceu assim que pegou a toalha.

Sentei no mesmo sofá que ela, permanecendo o tempo todo em silêncio enquanto ela se secava. Seu perfume doce parecia embaralhar-me os sentidos naquela ocasião. Afastei-me um pouco, atento a todo mínimo movimento da mulher em minha sala.

— Heitor, está tudo bem com você? Você parece não dormir bem há dias — Camila afirmou, deixando a toalha alva sobre o colo.

Permaneci em silêncio, saboreando como seria sentir aquela afirmação que eu preparava sair dos meus lábios.

O som da chuva era tudo o que se ouvia naquele apartamento, junto de uma tensão que parecia pressionar os ouvidos. Ao menos para mim.

— Eu descobri toda a verdade.

Aquela tensão pareceu condensar-se cada vez mais, como se fosse uma terceira pessoa naquela sala.  Camila encarou-me confusa, sequer se dando conta do assunto que eu trazia à tona.

— Do que você está falando, Heitor? — mostrou a confusão com sua voz gentil e seus lábios crispados. — O que você descobriu?

— Eu descobri quem você é, Natalie — sussurrei-lhe, medindo suas reações ante a situação.

A expressão dela passou para espanto em questão de segundos. Para medo. Então era verdade. Se é que ainda havia qualquer dúvida.

— D-do que você tá falando, Heitor? Quem é N-natalie? — A voz de Camila/Natalie tornou-se incerta, um pouco trêmula. Não tão trêmula quanto suas mãos que apertavam a toalha em seu colo.

Olhei em seus olhos, tentando desvendar tudo o que estava por trás deles. Ela estava com medo, genuinamente assustada. E isso fez com que eu reduzisse um pouco o meu tom. Ela poderia ter um ataque bem ali, por culpa minha.

— Eu descobri a verdade, Camila — usei seu nome falso, tentando amenizar o desconforto que ser chamada de Natalie lhe causara. Talvez fosse tarde demais. — Não precisa mais mentir para mim. Eu vou te ajudar. Eu vou ajudar vocês.

Segurei sua mão em uma tentativa de acalmar-lhe. Senti ela retirar seus dedos trêmulos do contato com os meus, tão rápido quanto seus olhos começaram a ficarem cheios de lágrimas.

— E-ele colocou tudo isso na sua cabeça, n-n-não foi? — soltou em desespero, perdendo totalmente o controle de sua voz tão gentil instantes antes. E o controle de suas lágrimas também. — Ele é perigoso, Heitor, você não devia confiar nele. Você não devia se meter com ele — Camila dizia entre suas lágrimas e tremores descontrolados.

Aproximei-me dela, preocupado pelo que eu havia causado. Foi uma má ideia o confronto direto. Mas era uma pior ideia deixar que Edgar chegasse até ela primeiro.

— Camila, fique calma. Eu te chamei porque queria falar com você sobre ele. Eu também não confio no Edgar.

Seu choro pareceu ainda pior ao ouvir o nome dele ser mencionado. Repreendi-me por deixá-la em tal estado.

— Eu vou te trazer um dos meus calmantes.

Levantei-me do sofá rapidamente, indo em direção à cozinha. Estava a consumir esse tipo de remédio com certa frequência, então não havia lugar melhor para guardá-los. Por causa da pressa, acabei batendo o copo com certa força na pia, fazendo um som alto. Meu plano impulsivo acabou tendo um péssimo resultado. Sendo quem fosse a mulher que estava em minha sala, eu acabei lhe trazendo más sensações. Foi pensando na reação que Edgar teria se soubesse do ocorrido que fiz com passos rápidos o caminho de volta à sala, com a água e o comprimido em mãos. Surpreendentemente, fui recebido por um cômodo vazio.

— Camila?

Ninguém na sala.

Deixei o copo em cima do rack e comecei a procurá-la pelos cômodos do apartamento, escolhendo o banheiro para iniciar minha pequena busca. A porta não estava trancada, então a abri lentamente e entrei logo em seguida. Não havia ninguém. Segui então para o meu quarto, olhando em qualquer lugar no qual ela pudesse se esconder, mas o cômodo estava vazio, bem como o banheiro dentro dele.

Excluindo a cozinha e a copa por onde eu passara com o copo, não sobrava outro cômodo se não o quarto que intitulei como de hóspedes. Com o som da chuva como companheira, abri a última porta que faltava. A luz de um relâmpago iluminou o ambiente por uma fração de segundos, me arrancando um sorriso minúsculo por fazer parecer que eu estava num filme de suspense ou terror. A vida imita a arte.

Não existiam muitos lugares que poderiam se tornar um esconderijo naquele quarto, então logo concluí que ele também estava vazio.

Voltei para a sala, intrigado. Se ela não estava em meu apartamento, só poderia ter saído.

Preocupei-me imediatamente, pensando no que poderia lhe acontecer por estar na rua no estado em que se encontrava. Se tivessem muitas pessoas, era provável que Camila ficasse ainda pior. Com pressa, ainda poderia encontrá-la por perto, então corri em direção à porta e estranhei por ela não abrir.

— Vamos, você nunca emperrou — conversei com a porta como se ela pudesse me entender e atender ao meu pedido. Forcei ainda mais a maçaneta, mas não obtive sucesso. Foi olhando mais atentamente a fechadura que descobri qual era o problema: estava trancada.

Estava certo de não tê-la fechado à chave quando Camila, ou Natalie, chegou. Mas por que então ela estava trancada?

Sem uma forma de abrir a porta, de repente veio a mim a resposta, e não era nada boa. Eu não queria acreditar que ela tinha me enganado outra vez, mas foi exatamente isso o que aconteceu. Como sairia daquela situação? Tentei o interfone, já que Manoel poderia ter uma cópia das chaves, mas não fui atendido. Na realidade, eu não precisava apenas sair do apartamento. Então, peguei o celular e liguei para o meu mais novo contato.

— Edgar, mudança de planos: vamos atrás da Natalie agora mesmo.

Isso é o que eu gosto de ouvir. Estou te esperando.

— Na realidade, eu preciso que você venha até meu apartamento. Natalie me trancou e fugiu, preciso que você abra a porta para mim.

O quê?! — Ele parecia irritado do outro lado da linha. Eu já esperava por tal reação. O ouvi suspirar. — Vamos, me passe seu endereço. No caminho a gente conversa.

Depois de finalizar a ligação, não sobrava muito a fazer além de esperar. Sentei-me em frente à televisão, encarando a tela desligada, da mesma maneira que Natalie fizera mais cedo, sem prestar realmente atenção àquilo. O ar frio do ambiente me abraçava enquanto os sons da tempestade soavam como música para mim. Não estava com a menor vontade de ver aquele canal de clipes.

Onde você está agora?

Se eu pudesse imaginar…”

Desviei o olhar para o lado, vendo em cima do rack o copo com água e o comprimido.

Acreditando que não voltaria rápido para casa depois que saísse, levei ambos até a cozinha, tomando a água e guardando o calmante em seguida.

Já começava a ficar impaciente com a situação. Liguei novamente para a portaria, sendo atendido dessa vez. Pedi que Manoel que permitisse a subida do homem de cabelos longos que entraria no prédio, e que o entregasse a chave do meu apartamento a ele quando ela fosse encontrada.

O vizinho ao lado ouvia música num volume muito alto naquela hora. Ivete Sangalo. Fui até a janela da sala para olhar como estava o clima e a tempestade havia passado. Raios de sol passavam tímidos por entre as nuvens escuras, que começavam a se afastar.

“Quando a chuva passar

Quando o tempo abrir

Abra a janela e veja, eu sou o Sol.”

O vizinho fez uma escolha muito boa da música, pontual, mas meus pensamentos musicais foram interrompidos pela porta do apartamento, que tinha acabado de ser aberta.

— Sério? Você deixou que ela te trancasse na sua própria casa?! — Edgar falou como se eu fosse um energúmeno. — Você tentou arrombar a porta, pelo menos?

— Ela me enganou, Edgar. Começou a tremer e a chorar, parecia estar cheia de medo e tudo por culpa minha, como eu podia ignorar? Fui buscar um calmante na minha cozinha, remédio esse que tenho tomado por sua causa, e quando voltei já estava trancado. — Ele tentou falar, mas não permiti. — E arrombar a porta? Eu sou uma figura pública, amanhã isso seria destaque em todos os programas e colunas de fofoca dos jornais.

Eu queria ajudar, iria fazer isso, mas se eu dissesse que aquele homem não me estressava, com certeza seria mentira.

Depois de minhas declarações, e contrariando minhas suposições, ele andou tranquilamente em minha direção, pousando suas duas mãos em meus ombros.

— Você tem razão, a culpa disso é toda sua — ele disse com uma voz calma, olhando em meus olhos. — Você pode pensar que a conhece, mas as coisas não são assim. Lembre-se: a Camila não existe. Quem estava com você era Natalie e ela eu conheço bem. Agora vamos, não temos tempo a perder.

Edgar começou a se retirar do meu apartamento e eu o segui. Fomos até o estacionamento do prédio, onde estava meu carro. Depois de um bom tempo, estava sentado atrás do volante outra vez e indo até a casa da minha namorada, uma pena não ser por um bom motivo. Minha namorada, Camila, que na realidade não existia. Nunca existiu.

— Você tem razão, Edgar — comecei a dizer enquanto dirigia pelas ruas molhadas. —

Camila nunca existiu e eu fui bobo por acreditar nela mais cedo, mas tente encontrar dentro de você ao menos um pouco de empatia. Sei que essa situação não é fácil para você, mas também não é agradável saber que tenho vivido uma mentira há meses. Que a pessoa que eu amo nem sequer existe. E que aquela que interpretava esse papel é na verdade… sua esposa. Eu entenderia bem o recado mesmo se você não tivesse cutucado a ferida, não faça as coisas serem piores do que já são.

O silêncio tomou conta do carro nos instantes seguintes ao meu desabafo. Eu dirigia com cuidado devido às ruas molhadas e perigosas após a tempestade. Edgar suspirou.

— Desculpe por te nocautear no outro dia. Você não queria me soltar.

Que tipo de resposta é essa?

— É, eu dei trabalho mesmo. — Não podia esperar arrancar muito de Edgar, mas isso já era um começo. Apesar de ele ter uma personalidade difícil, pensei que talvez, só talvez, pudéssemos nos dar bem. Ao menos não tão mal.


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Notas finais do capítulo

Ester:
Acho que o Heitor precisa aprender mais com o próprio programa, porque ficar trancado dentro da própria casa é o fim da picada xD E que tal essa nova dupla do momento: Heitor e Edgar. Não é dupla sertanejo, mas pega fogoooo cabaré -q
E, again com mais um desafio: mais uma vez esse cap foi escrito por nós duas. Suposições de onde começa uma e a outra termina? Dessa vez não temos divisões no capítulo xD
Por hoje é só, povo! Até mais o/

Entusiasta:
É ou não é um capítulo incrível? Aaaai como eu amo ele! Confesso que eu não gostava de Edgar até esse capítulo, comecei a simpatizar com ele. O que escrever com o personagem não faz? Ah, falando nisso, nós duas escrevemos esse capítulo, então o joguinho de descobrir onde termina a parte de uma e começa a da outra está valendo nesse aqui. O nível dessa vez é extremo! Eu estava lendo esse capítulo desatenta e nem reparei onde tinha sido essa tal parte, só depois prestei atenção kkkkk
As músicas nesse capítulo são de Calypso e Ivete Sangalo.