À Espreita escrita por EsterNW, Entusiasta


Capítulo 14
O homem analítico


Notas iniciais do capítulo

Ester:
Hallo hallo, meu povo! Prontos pra mais um momento de aflição com menino Heitor? -q Veremos agora o que ele irá fazer xD
Boa leitura ;)
Ps: Temos mais aesthetic, sim, senhores e senhoritas! Hoje um aesthetic todinho pro Edgar.



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Peguei o meu celular de cima da mesa e entrei na parte dos contatos, pronto para ligar para os seguranças, quando lembrei que isso não era sensato. Aliás, o que seria mais sensato naquele momento?

Envolver a polícia, afinal, eu sabia de tudo e eles bem poderiam invadir a casa de Camila a qualquer momento. Mas e ela? O que aconteceria com ela? E se ela se entregasse por livre e espontânea vontade? E se…

Saí dos meus contatos, voltando para a tela inicial do meu celular e jogando o aparelho de volta em cima da mesa. Apoiei as mãos sobre a madeira e encarei aquela pasta parda como se nela estivessem as respostas para todas as minhas dúvidas. Mas, na verdade, elas apenas complicavam tudo, fazendo com que eu perdesse-me em uma espiral de pensamentos.

Abaixei o rosto em direção à mesa, soltando uma respiração longa e demorada. Não é bom falar com Cami… Natalie ou qualquer que seja o nome dela. Não agora.

Naquele momento, alguém deveria ao menos saber que eu havia tomado uma decisão.

Peguei o celular novamente e chamei um táxi. Enquanto o carro não chegava, analisei mais uma vez todas aquelas evidências que Tárcio me entregara e repassava tudo com minúcia.

Fiquei completamente absorto em tirar conjecturas e hipóteses, esquecendo do horário combinado com o táxi. Manoel interfonou e juntei os documentos com pressa, trancando a porta em seguida, certificando-me de ter feito isso, e tomando o elevador com pressa.

Na portaria, apenas dei um boa noite breve a Manoel, evitando conversas. Entrei no táxi e disse o bairro para onde desejava ir.

— Você por acaso conhece o endereço de uma pensão por lá? — questionei o taxista, já que não sabia a rua correta para informá-lo.

— Ih, amigo… Conheço uma meia dúzia de pensões por lá — informou e paramos em um semáforo.

Soltei um suspiro longo.

— Podemos passar por todas as que você conhece? Eu não me lembro o nome da rua ou da pensão.

Repreendi-me mentalmente por não ter tomado nota de nenhuma das informações enquanto estava no bairro de Edgar. Contudo, eu não imaginava que retornaria para lá. Eu sequer imaginava que tudo que ele dizia era verdade…

— Você quem manda — o taxista respondeu junto de um dar de ombros, concentrando-se na direção, com o sinal ficando verde. — Você ficou sabendo que…

Suspirei, querendo cortar o papo com o taxista o mais rápido possível.

Após passarmos por quatro pensões e nenhuma delas ser a que eu procurava — o que era surpreendente para um bairro pequeno —, chegamos na penúltima das seis pensões.

— É essa — afirmei, vendo a fachada de tijolos, enegrecida em certos pontos, aparentando a idade do edifício. — Fico por aqui. — Paguei o dinheiro que apontava o taxímetro. — Será que você poderia me esperar? Aviso que não sei quanto tempo irei demorar.

O taxista deu de ombros e pegou um livro de bolso do porta luvas, usando a luz do poste como iluminação. Bati a porta do carro e entrei no prédio, certificando-me de que trazia a pasta comigo.

Na recepção, um rapaz dormia com a cabeça encostada na mão, junto de um televisor de catorze polegadas ligado em um programa qualquer.

— Ei, jovem. — Bati fortemente na madeira do balcão e o homem acordou em um sobressalto, parecendo atordoado. — Eu procuro por alguém chamado Edgar… — Parei ao perceber que sequer sabia seu sobrenome.

— Quarto 309 — respondeu e afundou a cabeça sobre o balcão, talvez voltando a dormir.

Observei-o por alguns instantes, estranhando que ele desse a informação para qualquer um que aparecesse. E mais ainda que soubesse de cabeça.

Dirigi-me em direção ao elevador, que continuava quebrado, e voltei-me para as escadas, junto de um suspiro e levando uma pequena camada de poeira ao encostar os dedos no corrimão.

Subi três lances de escada até chegar ao andar de Edgar. Reconheci aquele papel de parede parcialmente presente, contudo todos os corredores daquele edifício pareciam ter a mesma aparência. Encontrei a porta com o número 309 em um dourado apagado e quase se tornando de outra cor.

Bati na porta com força, olhando em meu relógio em seguida e vendo que passava poucos minutos das dez. Bati outras duas vezes e consegui ouvir passos do lado de dentro do apartamento. O silêncio era tanto que os passos de Edgar, ou até mesmo de ratos, eram audíveis.

Breves instantes de silêncio, até um barulho de trincos sendo abertos cortarem o momento. Edgar abriu uma fresta da porta, o suficiente apenas para que visse seu rosto com a barba cheia e os olhos cansados.

— O que você quer? — perguntou com a voz cansada e observando o corredor como um caçador.

— Preciso conversar com você. — Fui respondido com um erguer de sobrancelhas. — Prometo que é apenas isso. Não trouxe mais ninguém comigo. — Ergui a pasta que trazia e os olhos escuros e exaustos de Edgar se voltaram para ela e em seguida para meu rosto, analisando-me por completo.

A porta foi aberta em um rompante, causando-me um susto, e Edgar fez um gesto para que eu entrasse. O fiz rapidamente e ele fechou a porta, dessa vez sem passar os trincos.

— Sinta-se em casa. — Fez um gesto de boas vindas para o apartamento miserável, junto de um certo tom irônico. — O que te traz até aqui tão tarde? Ainda mais sozinho…

Ergui as sobrancelhas ante a afirmação do outro e Edgar fez um gesto para que eu sentasse no sofá velho e furado. Fez o mesmo com uma cadeira, virando-a e sentando-se com os braços apoiados sobre o encosto.

— Se você veio para discutir assuntos práticos, é óbvio que não trouxe seus guarda-roupas de terno com você — comentou com seriedade, apesar de ainda manter o tom irônico. — O que você deseja? — Foi direto ao ponto.

Edgar parecia um homem bem perspicaz e prático, sem espaço para meias palavras ou enrolações. Sentia-me um pouco intimidado, já que ele encarava-me como um detetive astuto. Era estranho encontrar-me como figura central de um caso policial, e não apenas um mero repórter.

— Isso.

Estendi-lhe a pasta e Edgar pegou-a com sua mão firme. O homem começava a folhear os papéis com atenção e permiti-me observar seu apartamento.

A sala era anexa à cozinha, onde havia objetos simples como geladeira, fogão e micro-ondas, além de uma pequena mesa redonda com duas cadeiras e nenhuma louça usada sobre a pia. A sala também era simplista, com apenas o sofá, a cadeira e uma televisão de catorze polegadas sobre um rack de madeira carcomida. Apesar de velho, o lugar parecia menos empoeirado do que o resto do prédio. Talvez fosse a organização dedicada de Edgar.

— Vejo que você descobriu toda a verdade — o outro tirou-me da minha observação dos arredores, enquanto arrumava os papéis de volta na pasta, estendo-me em seguida. — Confesso que você demorou um pouco mais do que eu pensava.

— Você faz ideia de como eu tenho estado nos últimos dias? Sequer tenho dormido direito com tudo isso na cabeça! — exclamei irritado com o pouco tato do outro. — Eu amava Camila, Natalie ou seja qual for o nome dela, compreende? Acha que é fácil descobrir que sua namorada é uma foragida da polícia?!

O apartamento ficou em silêncio após meu rompante de estresse. Edgar me encarava com um misto de curiosidade e tristeza nos olhos escuros. Ele continuava me estudando com minúcia. Talvez tivesse se habituado a desconfiar das pessoas.

— Sei que não é — respondeu seco e reconsiderei que para ele devia ter sido mil vezes pior, levando em consideração que a mulher havia fugido com o filho dele. — Acredite, eu sei exatamente como você está se sentindo. Eu sei exatamente como é se sentir perdido desse jeito e eu também sei que a ação é melhor do que mil considerações inúteis — soltou com certeza a aquela chama melancólica ainda mais presente em seu olhar. — Onde é o endereço dela?

— O quê?! — devolvi a pergunta de imediato, surpreso pela mudança de atitude.

Edgar apertou a mão contra o encosto da cadeira, quase ao ponto de machucá-la em alguma farpa daquela madeira velha, levantando-se enérgico em seguida.

— Se você agora tem certeza de quem ela é, deve saber que não podemos vacilar. 

Permaneci encarando-o descrente, enquanto Edgar apoiava as costas no encosto da cadeira e cruzava os braços, me fulminando com seu olhar cheio de raiva e tristeza. Naquele momento, ele não parecia tão analítico quanto antes.

— E eu também sei que ela é uma mulher com problemas. Edgar, nós não podemos simplesmente chegar e invadir, nós não somos a polícia!

O outro riu baixo em descrença. Suspirei irritado e apoiei as mãos nas coxas, devolvendo firmemente o olhar que Edgar me lançava.

— Edgar, eu não vou deixar que você faça algum mal a ela — disse entredentes e com uma firmeza na voz que era estranha até mesmo para mim. Mesmo Camila/Natalie sendo quem ela era, não era certo deixar que ele invadisse a casa dela. Ela poderia ter outra crise ao vê-lo ou… sabe-se lá o que.

— Você não sabe como ela é escorregadia, Heitor! Eu tenho estado atrás dela há meses! Meses! — Descruzou os braços e ergueu as mãos em exasperação. — Eu sei como é melhor acabar com isso o mais rápido possível.

Olhei para os meus pés sobre o piso velho e suspirei pesadamente. Peguei a pasta e levantei-me do sofá.

— Eu não deveria ter vindo até aqui. — Caminhava até a porta, enquanto ignorava Edgar e seus sentimentos misturados.

— Ouça, — Edgar foi mais rápido, correndo até a porta e escorando a mão nela, impedindo que eu a abrisse. — Você pode achar que essa não é a melhor sugestão, tudo bem — começou a dizer de forma apressada e, pela primeira vez, com certa incerteza. — Façamos do seu jeito, então. Só não a perca de vista. Não deixe que ela fuja mais uma vez — enfatizou cada palavra, com os olhos escuros fixos no meu. A raiva tinha sumido, deixando apenas tristeza e nada daquela postura analítica. — Ligue para esse número, caso precise de ajuda com ela. — Tirou uma caneta de um dos bolsos e pegou minha mão livre, escrevendo um número de telefone em minha palma. — É mais rápido e prático do que você vir aqui. E eu vou ir o mais rápido possível onde quer que você ou ela esteja.

Afirmou com certeza e eu encarei aquele número quase apagado na minha palma suada. Olhei para Edgar e apenas assenti. O homem então abriu a porta.

— Não faça nada precipitado — aconselhou-me, deixando apenas uma fresta da porta aberta enquanto eu entrava de volta naquele corredor mofado.

— Digo o mesmo para você.

Trocamos olhares de alerta e Edgar fechou a porta. Passou os trincos do lado de dentro e então silêncio de novo. Apenas os ratos me faziam companhia naquele corredor.

Olhei novamente para minha palma e decidi salvar o número no celular, enquanto descia pela escada rangedora e passava pelo corrimão empoeirado, levando apenas poeira, o número de telefone e temores junto de mim.


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Notas finais do capítulo

Ester:
Confesso que amo essa ironia do Edgar e ele é um dos meus personagens favoritos da história ♥ E agora? Será que um dos dois vão contradizer o conselho do outro e ser impulsivo? A cada cap uma nova dúvida na cabeça de vocês #adoron
E voltamos na próxima semana com mais de menino Heitor e RATS UOUUUUUU
Até mais o/
Entusiasta:
O que vocês acham do relacionamento desses dois? Eles podem se dar bem? Prometo que teremos mais cenas de Heitor e Edgar conversando.
Ah, venham o mais rápido possível na segunda ler o próximo capítulo.