O Cão escrita por Sabri Roma


Capítulo 3
Terceira fase: Gatilho


Notas iniciais do capítulo

críticas, sejam positivas ou negativas, são sempre bem-vindas :D



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            Fiquei pronta o mais rápido que pude, peguei minha bolsa e parti. Constância me esperava numa mesa do Garrafada; ela e mais umas sete pessoas das quais eu só havia visto algumas.

            “Para os que não conhecem, essa é Melina, minha grande amiga” ela riu da própria piada, pois eu tinha menos de um metro e sessenta, e a risada fez parecer que dissera a coisa mais engraçada do mundo. Já se encontrava ela um tanto alta, é claro, tal como o restante de seus amigos. Escolhi uma cadeira qualquer e cinco minutos depois já estava desejosa de ir embora e encontrar Bruno, que seguramente queria me encontrar logo também.

            -- Aceita cerveja? - Perguntou a garota sentada entre mim e Constância. Até então não tinha reparado nela com atenção.

            --Não, obrigada. Não estou bebendo.

            Pensei que fosse perguntar o porquê daquilo, como faziam todos, mas ela apenas assentiu e voltou a se concentrar em sua conversa com outro rapaz na mesa. Mas não havia encerrado seu assunto comigo. Minutos depois voltou a se dirigir a mim, e foi quando algo de estranho aconteceu. Uma sensação como aquela de quase três anos atrás me perturbou, de quando conversava com a desconhecida; a sensação de que numa simples conversa havia uma abertura encantadora e também tentadora. Eu não saberia explicar o que era aquilo. Certamente era ilusão de minha mente, pois nunca a vira antes em minha vida.

            -- Você não parece estar se divertindo.

            --É mesmo? Desculpe, não queria causar essa impressão.

            Ela riu.

            -- Por que está me pedindo desculpas?

            Tinha os cabelos profundamente escuros e lisos a contrastar com sua pele sem cor. Uma tatuagem de flores adornava seu ombro, exposto pela blusa regata que usava.

            Meu celular vibrou no bolso. Era uma mensagem de Bruno dizendo que preferia cancelar nosso encontro hoje. Algo que jamais esperei acontecer naquele dia. A moça notou minha expressão confusa e decepcionada, mas não fez comentários.

            “Que houve, Mel?” perguntou Constância, e senti seu forte hálito de vodka. “Nada, nada, só o Bruno que não vai mais poder me encontrar hoje...”

            “Ah” falou, e passou a se dirigir à mulher dos cabelos pretos. “O namorado dela é um fofo. Perfeito. Queria um assim pra mim.”

            “É verdade” exclamou uma colega de trabalho de Constância com que eu já conversara algumas vezes, se intrometendo na conversa. “ Ele me faz ter fé nos homens!”

            “O mesmo pra mim! E acho que pra todas nesta mesa” riu Constância, mas olhou para sua amiga da tatuagem de flores... Como se tivesse acabado de lembrar que ela estava ali também, e enrubesceu além da conta do álcool “Quer dizer, menos pra Clarice. Ela não precisa pensar muito nisso.”

            Alguém da mesa abafou uma risadinha de desdém. Clarice, como eu acabara de saber que se chamava a bela moça, assumiu um olhar firme e zangado. Mas o disfarce durou pouco; alguns riram em voz alta logo em seguida.

            -- Bem, acho que eu já vou- falou ela, fuzilando com os olhos cada um que se atrevera a rir. - Vejo vocês no trabalho.- e muito elegantemente colocou seu casaco, tão negro quanto seus cabelos, pagou a própria conta e saiu. Foi difícil não reparar como até mesmo sua forma de caminhar era uma mescla de elegância e imponência.

            Uma atmosfera de desconforto pairou entre os que permaneceram até que fôssemos todos para nossas casas.

            “O que é que foi aquilo?” Eu perguntaria mais tarde à Constância.

            “Ah, não te falei? A Clarice é daquelas mulheres que preferem mulheres”

            Não esbocei reação. Ao invés disso, sem me dar conta, meus pensamentos se voltaram para a noite em que conheci Bruno e nela fiquei imersa. Antes de perceber, me afogava em minha própria mente.


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