A viagem do tigre - Pov dos tigres escrita por Anaruaa


Capítulo 27
Cavaleiros x Dragão - Kishan




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Quando me vi de frente a uma entrada, não tive dúvidas de que aquele seria o caminho até Kelsey. Entrei por ele imediatamente e me deparei com um labirinto. E ele estava cheio de desafios, que eu teria que vencer para chegar ao final.

Logo no início, tive que lutar com um javali, e recebi o fruto sagrado como prêmio por tê-lo matado. Assim, pude comer durante o meu trajeto. Mais tarde, recuperei o arco e as flechas em uma disputa de tiro ao alvo.

Apesar de estar cansado, resolvi não parar, e continuei seguindo pelo labirinto durante a primeira noite. Encontrei uma mantícora e lhe dei a resposta errada para um enigma, sendo mandado de volta para o início do caminho. Fiquei frustrado mas continuei seguindo, até estar cansado demais e resolver ir dormir.

Pela manhã, fui por um caminho diferente. Enfrentei uma cobra e um urubu gigantes, um crocodilo em um riacho fervente que eu precisei atravessar pulando em pedras, e finalmente a mantícora. Desta vez acertei a resposta ao enigma e avancei no labirinto, como prêmio. Consegui recuperar a gada e o tridente, além do Kamandal.

Na segunda noite, eu estava cansado demais para continuar e fui dormir, acordando cedo na manhã seguinte. Não demorou para que eu encontrasse a saída do labirinto.

Já do lado de fora, encontrei um cavalo negro e montei nele, seguindo rapidamente até o castelo do dragão. Deparei-me com um muro muito alto. Peguei o tridente e disparei várias lanças ao longo da muralha. As lanças se prenderam fundo nas pedras e eu subi por elas. Alcancei o outro lado do muro e corri pela ameia até encontrar uma ponte. Corri pela ponte de pedra e penetrei na fortaleza.

Quando entrei, as roupas que eu usava transformaram-se em uma armadura negra. Também havia um escudo dourado com um tigre negro entalhado e eu segurava uma lança comprida. Continuei avançado rapidamente até o interior do castelo.

Cheguei a uma sala vazia, mas logo Lùsèlóng entrou no recito. Ele estava na sua forma de dragão e parecia estar se divertindo. Ele deu uma risada e em seguida, Ren apareceu acorrentado a seu lado. Tentei ir em sua direção, para soltá-lo, mas o dragão me impediu, dizendo que Ren logo se juntaria à batalha. Então, eu me virei e com um grito de batalha, ataquei o dragão com a lança. Mas fui derrubado por um golpe de seu rabo. 

Isso é o melhor que você pode fazer?

Pensei rapidamente em outra estratégia, então pedi ao fruto que cobrisse a sala com óleo. O dragão escorregou e bateu a cabeça, fazendo com que a torre balançasse. Eu joguei a lança, acertando-o de raspão. O dragão revidou lançando fogo contra mim. Eu me defendi usando o escudo, que começou a derreter. As chamas se ergueram do óleo que formava poças e a torre pegou fogo. Ren passou correndo por mim e se jogou por cima do dragão.

O dragão se agitava e dava coices, tentando desalojar Ren, mas ele estava agarrado com firmeza, distraindo Lùsèlóng tempo suficiente para que eu pudesse pegar a lança e enfiá-la no corpo do dragão. Ao mesmo tempo, Ren ergueu a espada acima da cabeça e a cravou em suas costas.

Lùsèlóng berrou e nos jogou contra o parapeito. Um pedaço da muralha desabou perto de mim e eu cai, me segurando na beirada com as pontas dos dedos. Ren se inclinou e pegou a minha mão. Eu senti que estava sendo puxado com muita força e velocidade. O dragão havia agarrado Ren com a boca e ergueu a nós dois no ar. Lùsèlóng sacudiu Ren e esmagou a armadura dele com sua mandíbula fortíssima. Ren gemeu de dor e me soltou. Por sorte, eu caí em um lugar macio.

Ren não teve a mesma sorte. Vi quando o dragão o lançou na cobertura de pedra do edifício ao lado. Ren caiu com um estrondo e ficou imóvel. Eu parti com tudo para cima do dragão, atacando-o com todas as armas que eu tinha. Mas Lùsèlóng revidava com garras, cauda, dentes e chamas, deixando-me ferido e exausto.

Eu tirei o capacete e senti sangue e suor descendo pelo meu rosto. Limpei a boca com as costas da mão e me curvei para frente arfando. O dragão sorriu.

É só uma questão de tempo, sabe? Já derrotei seu irmão e agora vou derrotar você. Não tem como me superar. Mal consegue ficar em pé.

—Só estou tomando fôlego. Podemos continuar?

Por que não admite logo a derrota? Eu poderia até permitir que vocês morem numa outra ilha. Iria caçá-los, é claro, mas pelo menos continuariam vivos.

—Não estou interessado em ser o seu tigre de estimação.

Muito bem.

O dragão respirou fundo e soltou fogo em cima da torre. Eu tentei correr, mas o fogo me alcançou. Subi no muro e saltei para um nível acima do dragão. Cai no chão e fiquei deitado. Retirei as luvas e procurei por uma arma, apenas para descobrir que todas elas tinham ficado lá embaixo.O dragão deu uma risada de desdém e se enrolou no torreão.

Tem alguma última palavra a dizer antes que eu o devore?

—Claro—dei a volta no torreão para ficar fora do alcance do dragão.—Espero que você engasgue.

O dragão tentou me abocanhar, mas eu fugi correndo e me desvencilhando dele. Pulei no telhado e rolei, mas bati a cabeça numa pedra quebrada. Lùsèlóng rugiu triunfante e veio em minha direção. Achei que aquele seria o meu fim. Mas o dragão tombou, atingido no coração por uma lança: Ren. Ele tirou o que sobrara da armadura, então se ajoelhou diante de mim. 

—Acabou—disse Ren.—O dragão está derrotado.

O corpo do dragão tremeluziu e desapareceu.

—Venha. Eu sei onde ela está.

Ren me ajudou a levantar e nós seguimos até uma escadaria, apoiados um no outro. Eu subi o primeiro degrau, então não consegui mais erguer os meus pés.Ouvi a voz do dragão.

Apenas o vencedor pode reclamar o prêmio.

Ren havia vencido a batalha. Ele receberia o prêmio. E o prêmio era Kelsey. Mas eu estava cansado demais para reclamar. Me encostei na parede e indiquei com a cabeça que Ren deveria ir. Ele se virou e subiu rapidamente as escadas.

Fiquei esperando, cansado, mas os dois não desciam. Comecei a me preocupar. Tentei subir as escadas, mas meu pés ainda estavam presos. Chamei por eles, mas não recebi resposta. Ouvi a risada do dragão em minha mente e me desesperei. Temi que ele pudesse ter nos enganados e Kelsey ainda corresse perigo.

Tentei novamente erguer o pé. Em vão. Eu insisti. Finalmente ergui um dos pés e com muita dificuldade, o coloquei no degrau acima. Depois ergui o outro pé e o coloquei no outro degrau. Então o peso se foi e eu consegui subir as escadas, correndo até chegar a um cômodo. 

A porta estava fechada. Eu toquei a maçaneta e abri a porta. Dentro do quarto estavam Ren e Kelsey. Eles estavam abraçados. Kelsey tinha os olhos fechados. Havia algo acontecendo entre os dois, e eu sentia isso. 

Meu coração estava ardendo de ciúmes. Eu queria arrancar Kelsey dos braços de Ren e tomá-la de volta. Mas eu não podia fazer isso. Ren tinha vencido. Kelsey era dele. Não por ele ter vencido o dragão. Se Kelsey o escolhera, eu não iria impedi-la. Mas não seria fácil. Estava doendo. Kelsey abriu os olhos, que encontraram os meus. Ela parecia confusa. Afastou-se de Ren e ficou entre nós dois.

 Ren se virou e olhou para ela confuso. Eu também a encarava. Ela se virou, ficando de costas para nós dois. Estávamos os três em silêncio. Eu esperava que Kelsey dissesse algo, mas ao invés disso, ouvi a voz de Lùsèlóng, que estava encostado num peitoril de janela em sua forma humana, vestido como príncipe.

—Vocês todos me proporcionaram um jogo dos mais divertidos, de que vou me lembrar com carinho durante muitos milênios. Têm certeza de que não querem ficar aqui mais um pouco?

—Não—respondeu Kelsey—Queremos voltar para o nosso navio.

Eu saí do meu devaneio e dei um passo firme à frente.

—Nós vencemos. Vamos pegar os prêmios e ir embora, dragão.

Lùsèlóng franziu a testa.

—Não me lembro de ter oferecido mais de um prêmio.

—Você disse que iria nos ajudar a encontrar o Colar de Durga se jogássemos. Foi você quem insistiu para incluir um prêmio extra no jogo—disse Ren.—Eu ganhei a garota, e Kishan ganha a sua ajuda.

Olhei com raiva para Ren, mas resolvi que não era hora para aquela discussão.

—Tudo bem. Vamos acabar logo com isso.

—Talvez possamos negociar. Se um dos tigres concordar em ficar, eu lhes dou a garota e os ajudo a encontrar o meu irmão, o dragão dourado.

—Não!—Gritou Kelsey.—Você trapaceou na caçada. É tarde demais para mudar as regras a fim de atender aos seus caprichos.

—Tudo bem!—O dragão bufou e chamas saíram de suas narinas humanas.—Você leva a garota—declarou a Ren. Virou-se para mim e disse:—E você fica com isto.

 Ele fez um gesto com a mão e uma bola de fogo disparou da palma, em minha direção, acertando os meus olhos. Eu senti uma dor intensa. Meus olhos ardiam e eu não conseguia abri-los. Por alguns segundos eu não consegui perceber nada o que acontecia ao meu redor. Então senti braços ao redor do meu corpo. Senti o cheiro doce de Kelsey perto de mim. 

—Não queríamos que você o ferisse—Kelsey gritou.

—Que diferença faz para você? Se alguém o feriu hoje, eu diria que você tem mais culpa no cartório do que eu. Agora, estou entediado com vocês. Está na hora de irem embora.

Tentei abrir os olhos, mas eles ardiam. Eu senti o cheiro do mar e a brisa na minha pele. Nós tínhamos sido transportados para outro lugar.

Kelsey me confortava enquanto Ren puxava a lancha. Eu segurei sua mão enquanto ela me guiava para o barco. No trajeto até o iate, nós três seguimos em silêncio. Kelsey segurava a minha mão e eu pensava naquilo o que tinha acontecido entre ela e Ren.

Toda a minha convicção de que Kelsey e eu ficaríamos juntos se enfraqueceu quando eu vi os dois abraçados. Eu sabia que existia algo forte entre eles. Mas as visões que eu tive de Kelsey com o bebê de olhos dourados, meu filho, eram tão reais. Além disso, Ren nos disse que foi Durga quem havia lhe tirado as memórias de Kelsey. E foi ela quem fez com que Ren passasse mal ao tocar em Kelsey, para impedi-los de ficarem junto. Foi a Deusa quem aconselhou Kelsey a seguir em frente. E eu sempre me sentia tão forte e seguro na presença de Durga, que parecia que eu era o escolhido da Deusa. Me parecia certo que Kelsey e eu deveríamos ficar juntos.

"Mas então, porque Ren sempre volta? Porque Kelsey não consegue esquecê-lo? Porque o coração dela não bate por mim da mesma forma que por ele?"

Quando chegamos ao iate, Kadam veio me examinar. Ele retirou a faixa que Kelsey tinha colocado sobre meus olhos e me pediu para abri-los. Eu os abri com dificuldades, pois eles ardiam e ouvi Kelsey soluçar. Me virei para ela preocupado:

—O que foi? O que foi, Kelsey? Não chore.

Ela caminhou em minha direção, abaixou-se e segurou minha mão.

—Não é nada. Apenas estresse. Você quer alguma coisa? Está com fome?

—Eu bem que podia comer alguma coisinha. Mas você vai poder ficar comigo?

—Claro que sim.

Ouvi a voz de Nilima:

—Vou pegar o Fruto.

—Está doendo?—indagou Kadam.

Eu sacudi a cabeça.

—Agora não. É estranho não conseguir enxergar nada, mas não tem dor alguma.

—Que bom. Vou pedir a Nilima que conduza o navio e farei pesquisas sobre isso. Talvez seja prudente todos vocês descansarem. Pode ficar com ele, Srta. Kelsey?

—Posso.

—Assegure-se de que ele coma, descanse e beba bastante líquido. Ele me parece um pouco quente. Bom, mais quente do que o normal.

—Vou cuidar bem dele.

—Tenho certeza disso. Avise-me imediatamente se o estado dele mudar.

Nilima voltou com o fruto, mas eu recusei, pois estava cansado demais para comer. Kelsey insistiu para que eu tomasse um suco, depois me ajudou a tirar a roupa para me deitar. Eu sabia que ela estava com pena, e talvez culpada, mas eu não me importava. A presença dela me fazia bem, eu gostava de seu carinho e de seus cuidados. Havia uma chance grande de que em breve, eu ficasse sem estas coisas, então eu iria aproveitar enquanto ainda podia.

Joguei as cobertas para o lado e procurei por sua mão. Kelsey se sentou na cama e eu me deitei em seu colo, sobre um travesseiro que ela tinha colocado ali. Ela acariciou meus cabelos e cantou uma canção de ninar. Eu relaxei feliz. E naquela noite sonhei com Durga.


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