A viagem do tigre - Pov dos tigres escrita por Anaruaa


Capítulo 13
O fim do relacionamento - Ren




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Antes que os outros percebessem o que estava acontecendo, eu nadei em direção à Kelsey e mergulhei rapidamente, segurei sua perna e a puxei. Depois eu a segurei em meus braços, nadei até à superfície e entrei com ela no iate. Kadam deu a partida enquanto eu a deitava no chão para prestar os primeiros socorros.

Kishan se aproximou querendo ajudar, mas eu mandei que ele se afastasse. Inclinei-me em direção ao corpo inconsciente de Kelsey e tombei para trás. Minhas vistas se escureceram e minha cabeça doía. Kishan se dobrou sobre o corpo de Kelsey e eu o empurrei com raiva, mandando que se afastasse. Wes nos olhou, sem entender, e disse:

— Kelsey precisa ser socorrida. Parem de brigar e façam o que tem que ser feito.

Neste momento, eu me afastei. 

Eu estava arrasado. O que eu estava fazendo? Em que eu estava pensando? Eu não podia tocar em Kelsey, eu não conseguia salvar a vida dela, e por ciúme, estava impedindo que outra pessoa o fizesse? Que tipo de homem eu estava me tornando?

Kishan começou a aplicar as técnicas de primeiro socorros enquanto a lancha se aproximava do iate. Entramos na garagem e Kishan carregou Kelsey e a deitou no chão. Wes e Kadam se aproximaram enquanto eu me encostei na parede mais afastada para observar de longe.

Kelsey abriu os olhos mas ainda não conseguia respirar. Kishan a rolou para o lado e ela vomitou grande quantidade de água, depois começou a respirar com dificuldade.

—O que... aconteceu?— ela perguntou tossindo.

Kishan respondeu:

—Shh. Relaxe e respire fundo.

 Ela olhou ao redor e tossiu novamente:

—Onde está Ren?

—Estou aqui.

—Você consegue se sentar, Kells?— Perguntou Kishan.

—Consigo. Acho que sim.

Kelsey se sentou e Kishan se colocou atrás dela, para apoiar seu corpo. Virei o rosto, sentindo-me um inútil ciumento. Ouvi Wes fazendo perguntas para Kelsey, como sua idade e onde ela nasceu, para avaliar seu estado de alerta. Kelsey respondeu a todas as perguntas, para o meu alívio.

— Você nos deu um susto danado. O que aconteceu lá embaixo?—Perguntou Wes.

—Uma enguia tocou em mim, e eu entrei em pânico. Não olhei para onde estava indo e bati a cabeça numa pedra. Obrigada por me tirar da água, Wes. Você é um bom parceiro.

—Não fui eu. Foi Ren.

Ela me olhou com ternura e sorriu:

—Parece que você salvou a minha vida. Já foram quantas vezes?

Eu olhei para ela, sentindo-me culpado por quase tê-la deixado morrer.

—Eu só tirei você da água. Kishan prestou os primeiros socorros.

Neste momento, saí da garagem de volta para o iate. Eu não conseguia encarar nenhuma daquelas pessoas naquele momento. Estava me sentindo culpado, constrangido. Eu tinha que tomar uma decisão e não seria fácil.

Eu já estava pensando sobre isso havia alguns dias e o acidente de Kelsey reforçou minha ideia. Eu a amava e sabia que ela também me amava e gostava de estar comigo. Ela parecia estar feliz quando estávamos juntos.

Mas a verdade é que, eu não sabia o quanto isto duraria. Nós tínhamos um relacionamento incompleto, limitado e Kelsey era muito intensa em seu sentimentos. Eu ficava me lembrando do que eu li em seu diário e pensava em como ela devia se sentir frustrada com o que tínhamos agora. Eu mesmo me sentia frustrado por não lembrar de coisas que vivemos e que ela descrevia com tanto carinho em seus textos.

Ao mesmo tempo, eu sabia que Kishan a amava e seria capaz de lhe oferecer um amor muito mais pleno do que o meu. O amor de que ela precisava e tanto ansiava.

Era este o motivo do meu ciúme. Foi por isto que eu quase a matei quando impedi que Kishan se aproximasse dela. Fiquei com raiva por não conseguir tocá-la, e com ciúmes porque Kishan conseguia, porque ele podia salvá-la e eu não. Ela precisava dele e não de mim. Então eu me decidi. Precisava me afastar.

Kadam veio até mim mais tarde e eu lhe disse que preferia não conversar naquele momento e pedi para que não me procurassem, pois quando eu estivesse pronto, eu os procuraria.

Assim, eu me escondi no iate por três dias, evitando encontrar Kelsey. Então na noite do terceiro dia, pedi a Kishan que me encontrasse, depois que todos estivesse dormindo.

— O que você precisa conversar comigo?

— Obrigado por vir Kishan, preciso te pedir que faça algo por mim. Quero que você troque de quarto e se instale naquele ao lado de Kelsey. Eu pretendo me mudar para um dos quartos de hóspedes mais afastados, mas não quero que Kelsey fique sozinha. Ela precisa de um tigre por perto. Ela precisa de você.

— Porque isso agora Ren? Você brigou tanto para ficar naquele quarto e agora quer abrir mão dele? O que está acontecendo com você?

— Ficar naquele quarto era algo que fazia sentido naquela ocasião, mas agora não faz mais. Kelsey era minha namorada e eu acreditava que ficaríamos bem, mas isto não aconteceu. Minha tolerância a ela está diminuindo e não faz sentido continuarmos juntos. Eu não suporto mais.

— Você diz isto porque está se sentindo culpado, porque não conseguiu ajudá-la naquele dia do mergulho.

— Kishan, eu quase a matei! E porque? Por ciúmes! Porque eu percebi que eu não sou o homem de quem ela precisa. Você é este homem! E perceber isto doeu, mais do que qualquer coisa. Por isso eu agora decidi me afastar.

— O que você quer dizer com isso?

— Que eu não a mereço. Você sim.

Meu irmão me olhou de uma forma estranha. Ele não parecia surpreso e eu vi esperança em seus olhos.

— Mas é a você que ela quer. Ela te ama.

— Sim, mas ela também gosta de você. Eu vejo como vocês são próximos. Tenho certeza que se eu ficar longe e você se mantiver por perto, ela vai me esquecer e se apaixonar por você.

—Não acho que ela vá fazer o que você está esperando.

—Ela já está a meio caminho. Longe dos olhos, longe do coração.

—Você subestima os sentimentos dela.

—Não faz diferença. Tomei a minha decisão.

—Você não é o único envolvido.

—Sei disso. Mas é para o bem maior. É claro que você vê isso.

Kishan fez uma pausa.

—O que eu vejo, penso ou quero não importa.

—É assim que tem que ser, Kishan. Não vou permitir que aquilo aconteça de novo.

—Não foi culpa sua.

—Foi sim. Eu fiz isso. Preciso aceitar as consequências.

 —Ela vai ficar magoada.

—Você vai estar lá para ajudar.

—Não vai fazer diferença.

—Vai, sim—Coloquei a mão no ombro de Kishan.—Com o tempo... vai, sim.

Kishan me olhou nos olhos:

—Você precisa falar com ela. Se vai terminar com Kelsey, ela merece ouvir da sua boca.

De repente, Kelsey apareceu pisando forte e veio com tudo para cima de nós dois. Ela berrava apontando o dedo para mim:

—De que diabos vocês acham que estão falando? Digam que eu não ouvi esta conversa!

Olhei para ela e endureci o semblante, para não transparecer o que eu estava sentindo de verdade: Dor e imensa tristeza. Kelsey cutucou o meu peito.

—Por onde você andou nos últimos dias? Está me devendo satisfações! E você? Ela se virou para Kishan— Como é que vocês dois ousam conspirar e fazer planos a meu respeito sem ouvir a minha opinião? Sabem que isso não se faz!

Kishan fez uma careta.

—Sinto muito, Kells. Você e Ren precisam conversar. Falo com você mais tarde e então poderá gritar um pouco mais comigo.

—Ótimo.

Kishan saiu e eu me virei, para não olhar para Kelsey.

—E aí? Vai se explicar ou preciso dar um choque em você?

—Você já escutou o que eu pretendia dizer. Quero terminar com você.

Ela pareceu surpresa:

—Você quer o quê?

—A gente não pode ficar junto.

Ela ficou em silencio por alguns segundos, depois perguntou:

—Por quê?

—Não posso... não vou... a gente não deve... olhe, tenho meus motivos, está bem?

—Não, não está. Apenas dizer que você tem os seus motivos não basta.

Eu me enchi de coragem e então, mesmo com grande pesar, falei, com determinação:

—Eu não te amo mais.

—Eu não acredito. Vai ter que se sair com algo melhor. Eu li os seus desejos no Festival das Estrelas, está lembrado?

Eu sorri ao me lembrar daquilo. Havia tanta esperança naqueles desejos. Mas eles não se realizaram...

—Eu tinha me esquecido... Mas devia acreditar em mim. Vai ser mais fácil para nós dois assim. Kishan gosta de você, e será melhor se ficar com ele.

—Você não pode me dizer quem eu devo amar ou não.

—Você já ama Kishan.

—Eu amo você, seu grande idiota.

—Então, pare de amar.

—Não posso simplesmente ligar e desligar meus sentimentos como se fossem um interruptor.

—É por isso que não ficarei mais por perto. Vou evitar me aproximar de você. Você nunca vai me ver.

—Ah, entendi. Você acha que só o fato de não ver você vai resolver tudo?

—Provavelmente, não. Mas vai ajudar.

Ela cruzou os braços e ficou me encarando, incrédula:

—Não acredito que está me dizendo para ficar com o seu irmão. Não combina com você. Por favor, me diga o que eu fiz para causar isso.

—Você não fez nada.

Eu a estava magoando e sabia disso. Estava desconfortável e triste, mas não queria que ela percebesse. Eu precisava fazê-la se afastar. Me encostei na amurada e fiquei pensando no que dizer. Ela também se apoiou na amurada, perto de mim. Finalmente eu consegui dizer baixinho:

—Eu não pude salvar você.

—Como assim?

—Eu não consegui. Tentei prestar os primeiros socorros, mas passei muito mal. Não pude salvar você. Kishan teve que intervir e, por causa do meu ciúme e da minha frustração, eu o empurrei para longe. Quase a deixei morrer porque não queria que ele a tocasse. Foi aí que percebi que precisava abrir mão de você.

—Mas, Ren...— Eu me afastei do seu braço estendido. —Tenho certeza de que está exagerando.

—Não, não estou.

Eu me virei para sair.

—Alagan Dhiren Rajaram, fique aqui e ouça o que eu tenho a dizer!

Eu me virei irritado.

—Não, Kelsey. Não! Eu não posso ficar com você! Não posso tocar em você! E não posso salvá-la.—Eu agarrei a amurada com força —Você precisa de um homem que possa fazer essas coisas. Esse homem não sou eu. Já se passaram meses, Kelsey, e eu não encontrei o ativador. Provavelmente nunca vou encontrar, e você vai desperdiçar a sua vida inteira esperando por mim! Kishan precisa de você. Ele a quer. Fique com ele.

—Eu não quero. Escolhi você, e não me importo com essas outras coisas. Tenho certeza de que vamos achar uma solução. Por favor, não se afaste de mim por causa disso.

—É melhor assim, Kelsey. Nós sabemos o que é melhor para você.

—Não, não sabem! Você é o melhor para mim.

—Não sou. E não vou mais discutir isso com você. Já decidi.

—Ah! Já decidiu? Bom, talvez fique chocado com esta informação, mas você não toma decisões por mim! Vocês dois podem planejar e tramar quanto quiserem, mas não podem manipular meus sentimentos em relação a você!

—Você não será manipulada. Os seus sentimentos por ele vão vir de maneira natural e, ao mesmo tempo, os seus sentimentos por mim vão diminuir.

Era isso o que eu imaginava. Era esta certeza que vinha me consumindo há semanas. Era por isto que eu tinha tanto ciúme de Kishan.

—Porcaria nenhuma!

Kelsey estava em pânico. Lágrimas escorriam em suas faces, dilacerando meu coração. Eu queria abraçá-la e pedir perdão por a estar machucando. Eu queria dizer a ela que ficaríamos bem. Mas nós não ficaríamos bem. Permaneci sério. Eu não podia recuar.

—Não consigo acreditar que você está disposto a abrir mão de mim.

—Não seja teimosa, Kelsey.

Ela deu uma risada sarcástica.

—Não acho que eu seja a teimosa aqui.

Eu suspirei.

—Precisamos encarar o fato de que nosso relacionamento é problemático demais. Por que fazer com que nós dois passemos por esta dor se não é necessário? Você pode ser feliz com Kishan e... eu tenho certeza de que também posso encontrar outra pessoa.

Dizer aquilo foi difícil, mas eu esperava que fosse verdade. Kelsey chorava muito e seu corpo tremia.

—Mas não tem nenhuma outra pessoa que eu queira. Não posso terminar com você.

Eu ri com desdém.

—Eu sabia que você não seria racional— Suspirei.—Certo. Então vamos fazer isso da maneira mais difícil. — Eu me prepararei para dizer palavras duras, que eu sabia que iriam magoá-la. — As pessoas se separam o tempo todo, Kelsey. Apenas aceite. A questão é que... foi legal por um tempo, mas está na hora de eu seguir em frente. Nenhuma lembrança esquecida poderia fazer valer a pena toda esta... dor. Todo este drama.

—Ainda não acredito em você. Sei que gosta de mim.

—Como é que eu posso gostar de uma garota se minhas entranhas se contorcem de agonia toda vez que eu toco nela?

—Você nunca reclamou antes.

—Você é a única garota que eu beijei, e um beijo que só pode durar alguns segundos simplesmente não vale a pena.

—Sabe o que eu acho? Acho que você está se sentindo extremamente culpado por causa dos primeiros socorros e está tentando me proteger. Sempre foi superprotetor, então agora pensa que terminar comigo vai me salvar. Você tem algum tipo de complexo de Super-Homem hiperativo, e o seu passatempo preferido é sacrificar o nosso relacionamento pela minha segurança.

Eu resmunguei sobre o quanto ela era teimosa e passei a mão no cabelo, frustrado por ela ter razão.

—Parece que eu não estou sendo claro. Eu... não... quero... você. Não quero mais. Nem sei se estou a fim de ter uma namorada neste momento. Talvez eu passe um tempo só pulando de galho em galho, partindo alguns corações. Acho que vou experimentar uma ruiva ou uma loira da próxima vez.

—Só acredito vendo.

—É isso que vai ser necessário? Terá que me ver com outra mulher para acreditar que estou falando sério?

Kelsey cruzou os braços.

—Isso mesmo.

—Ótimo. Vou ficar feliz em atender seu desejo.

—Ah... não vai, não! Se namorar outra mulher, vou estrangular você, Tarzan!

—Não quero magoá-la, Kelsey, mas está me forçando a fazer isso. Eu estou falando sério. Nós não devemos ficar juntos e, até que você consiga aceitar isso, não vai mais me ver.

Eu me virei para sair.

—Seu covarde. Vai se esconder de uma garota que tem a metade do seu tamanho.

Eu me virei para lhe responder com firmeza:

—Não sou covarde, Kelsey. Você uma vez me largou, dizendo que nós não devíamos ficar juntos. Que nós não... combinávamos. Passei a acreditar que você tem razão. Você não é para mim. Vou encontrar outra pessoa. Alguém... — fiz uma pausa antes de dizer — mais bonita. E menos reclamona também seria bom.

Kelsey não falou nada. Ela apenas arfou baixinho. As lágrimas não paravam de brotar dos olhos dela. Ela estava sofrendo. Então eu continuei:

— Tenho certeza de que nós dois vamos seguir em frente rapidamente. Talvez antes de a semana terminar.

Ela virou o rosto para esconder o desapontamento:

— O bom para você é que já tem um ou dois pretendentes na fila. Parece que os homens correm para você como os ursos correm para o mel, então, não reclame da vida. — Falei irritado, pensando em Wes, que vinha despertando meu ciúme desde que chegou ao barco.

Kelsey apertou a barriga com as mãos e tomou fôlego. Ela estava trêmula e seu olhos estavam vermelhos e inchados. Ela perguntou baixinho:

—Então, acabou? Isto é uma despedida? Não vamos mais significar nada um para o outro? Não vai nem ser meu amigo?

—É isso mesmo. Vou ajudar nas tarefas para quebrar a maldição, mas, fora isso, não fique esperando me ver. E quando as tarefas de Durga estiverem completas, eu simplesmente vou desaparecer. Você nunca mais irá me ver.

Eu dei alguns passos para longe mas parei quando ela me chamou baixinho:

—Ren?

—O que foi?

Ela deu alguns passos em minha direção e virou-se para mim. Então me olhou nos olhos. Tive que fazer um esforço imenso para não tocá-la. Mantive o rosto rígido.

—Se você fizer isso... se me abandonar de novo... não haverá outra chance.

Uma lágrima desceu por seu rosto e eu a toquei. Ela me olhou com esperança. Eu rapidamente disfarcei, esfregando a lágrima entre meus dedos, para parecer insensível. Olhei para ela e falei friamente:

—Eu não vou precisar de outra chance. Não vou mais procurar você.

—É melhor que tenha certeza. Porque, se eu me comprometer com Kishan, não vou abandoná-lo por você. Não seria justo com ele.

Eu dei uma risada.

—Eu me considero avisado.

Eu me afastei rapidamente para não me entregar. Ouvi Kelsey sussurrando enquanto eu me afastava:

—Mas vou continuar amando você.

As lágrimas começaram a descer pelo meu rosto e eu não podia olhar para trás. Me afastei ao máximo e me vi sozinho. Meu peito queimava de dor e eu gritei de agonia. Será que um dia eu deixaria de amá-la? Será que eu amaria outra pessoa? Não importava. Eu fiz o que era necessário.


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