Vengeful escrita por Castella


Capítulo 1
Retorno.




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Uma vez uma amiga me disse que deveríamos ter uma vingança para cada pessoa que conhecemos, seja ela amada ou odiada por nos. Eu bobo do jeito que era naquela época não entendi o que aquela menina louca quis dizer com aquilo, e ainda disse a seguinte frase “Nunca iremos saber quando alguém irá nós decepcionar, ou até nos ferir”, eu dei de ombros aquele dia, mas hoje aquilo tudo faz sentido para mim.

Grow and Learn high school, escola do crescer e aprender, aprender oque? A ser um ser humano ruim e com uma péssima energia!? Isso realmente só pode ser uma brincadeira com minha cara.

Eu estou para a uns 5 minutos na frente da escola apenas olhando aquele nome que sempre achei de um mal gosto, um gosto terrível, ridículo até. Uma escola tão grande e bela poderia ter de verdade um nome bem melhor que esse.

O tempo aqui fora estava agradável, típico de um dia de Primavera, aquilo me fazia querer ficar ali por horas, sol brilhando, uma brisa fresca que balançava as folhas verdes das árvores e fazia com que meus cabelos loiros se agitassem da esquerda para a direita, mas eu não dava muita importância, se estava bagunçando meus cabelos, eu adorava aquilo! A sensação de ter um cabelo longo, já que antes eu não podia usá-lo assim. Não podia usá-lo assim? É isso mesmo, eu ouvia brincadeiras de mal gosto e sofria agressões por esse motivo, afinal um menino com cabelos longos chama muita atenção dos meninos da escola, na verdade eu nunca me senti assim, um menino! Desde mais novo sempre achei que tivessem errado na hora de me fabricar e só precisou de um pouquinho de dinheiro e ajuda da ciência para me tornar aquilo que eu sempre fui, uma mulher! De cabelos pretos até o queixo para loiros na altura dos seios, rosto e nariz mais finos e lábios preenchidos. Um corpo aparentemente bonito, na verdade eu estava de mais!! Graças aos hormônios que meu medico me aconselhou a tomar. Eu havia me tornado aquelas protagonistas de filmes românticos que os rapazes se apaixonam e também naquelas “gostosas” que são as primeiras a morrer em filmes de terror, não tem como não sorrir pensando nisso, a propósito estou de aparelho nos dentes, já que eles eram motivos para piadas sobre mim, “E ai favela do dente?”. Era assim que me chamavam, e eu lá tinha culpa de ter dentes tortos?

Provavelmente depois dessa breve conversa o sinal já tenha tocado e eu nem escutara, continuei parada na frente da escola, onde passei a pior fase da minha vida.

Forcei minhas pernas para irem para frente, dando os primeiros passos, subindo as escadas até a porta principal daquele inferno fantasiado de escola. Havia um vidro na porta que refletia minha imagem e acho que escolhi bem as roupas para um retorno triunfal, mesmo que nenhuma daquelas pessoas se lembrariam de mim.

Desci o olhar até minhas botas pretas, bem discretas, subindo para meias 7/8 que caiam bem em minhas pernas, pus também um macacão com saia um pouco mais curto do que deveria, afinal é sempre bom chamar atenção no seu primeiro dia, uma blusa branca por dentro que fica colada com o corpo, mostrando perfeitamente os desenhos dele e uma boina vermelha sobre a cabeça. Eu estou parecendo com as meninas que via em Paris.

Lembro de uma vez que uma estudante de intercâmbio de Paris veio para essa escola, e todos os meninos ficaram “babando” por ela, então nada mais justo que uma menina de Paris.

A propósito meu nome é Elizabeth, era Jonathan até a operação, e sim, eu sou uma mulher trans! Mas por que Elizabeth? De todos os apelidos que me colocavam o que eu mais odiava era “Princesa”. Eles gritavam “ A princesa esta no corredor” e todos faziam reverencia e riam da minha cara logo em seguida, aquilo me deixava muito mal, todos apontavam e riam de mim. Já que queriam uma princesa, eu me fiz uma rainha, e queridos... A rainha esta de volta ao jogo!

Tirei um gloss da bolsa e depositei o liquido em meus lábios e pronto. Fazendo um barulho estranho uma porta a minha frente se abriu com um aluno saindo, provavelmente um aluno suspenso. Entrei logo em seguida. Ver aquele corredor central quase me fez chorar, como uma pessoa pode sofrer tanto calado? Queria saber a resposta para isso, como já estava atrasada para as aulas mesmo, não liguei de ir devagar pelo corredor, até avistar meu antigo armário, meu coração acelerou na hora, levei a mão até o peito sobre o jeans preto do macacão, e dava para sentir-lo, batia tão rápido que parecia uma bateria de show de rock, e era isso mesmo que ao meninos faziam com meu armário, quando estava pegando algo colocavam minha cabeça para dentro e ficavam batendo a porta na minha cara na sintonia de uma musica de rock, bem rápido as vezes, aparentemente todos adoravam, bichos de zoológico, era isso que pareciam, na verdade nem animais são assim. Ajeitei uma mecha do cabelo que saia do lugar e me virei para continuar a segui pelo corredor.

— Olá! – Falou um rapaz enquanto eu esbarrava em seu corpo. - Precisa de ajuda?

Ao subir o olhar me deparo com um sorriso incrivelmente branco, capaz de cegar alguém, cabelos arrepiados castanhos, sobrancelhas grossas e aquele casaco de futebol americano que nunca saia de seu corpo.

Mas olha era Mason, um dos protagonistas desta historia, responsável pelo mais odiado apelido “Princesa”. Dei dois passos para trás fingindo um susto, e ele rapidamente me segurou pela mão provavelmente achando que eu iria cair, pude ver que o casaco parecia estava intacto, parecia novo, ele sabia cuidar muito bem de suas coisas, as cores da escola verde e marrom reluziam bastante.

— Tudo bem? – Disse ele com um sorriso maior que o de antes. Era impressionante como seu sorriso era bonito e seu hálito cheirava a menta.

Se parar pra pensar Mason era bastante bonito, sexy... mais sexy que bonito, se não fosse seu histórico como pessoa e o fato dele ser uma babaca seria um caso a se pensar.

Olhei dentro de seus olhos com meus olhos verdes, esboçando um sorriso forçado enquanto ele ainda segurava minha mão, a mão dele era quente e o suor que emitia fazia com que eu me incomodasse.

— Eu estou bem, obrigada! – Puxei minha mão deslizando a mesma pela dele. – Só estou meio perdida! – Serio, perdida? Conheço essa escola como a palma da minha mão.

— Pôs bem senhorita, seus problemas acabaram. – Só pude pensar “Há é mesmo Gênio?”. – Mason Onel, em que posso ajudá-la?

— Eu preciso levar minha transferência para o diretor.

— Então vamos, deixo você lá. – Ele apontou para uma direção e fez um sinal para que para que eu fosse na frente.

— Mas você não esta perdendo a sua aula? – Joguei a pergunta enquanto começava a andar na direção indicada.

— Minha mãe sempre diz que devemos ajudar uma bela dama.

Só as belas ne? Porque me lembro de você chamando eu e uma amiga de perdedores. Mais só dei mais um sorriso forçado para ele.

No caminho ele achou que eu estava interessada em sua vida e em como era tão legal fazer parte do time de futebol. Não demorou muito ate que chegássemos a diretoria, onde Mason fez um sinal com a cabeça e falou que nos veríamos mais tarde, claro que nós veríamos!!

Fiquei olhando ele ir embora pelo corredor com aquele gingado de adolescente descolado até desaparecer em uma porta. Que vontade de arranhar aquela cara semi-perfeita toda, numa próxima oportunidade quem sabe.

Bati na porta da diretoria, onde uma voz fina falou para que eu pudesse entrar, abri a porta devagar e só coloquei a cabeça para dentro sentindo o vento gelado do ar-condicionado que fazia minha franja balançar.

— Com licença. – Falei enquanto abria o restante da porta. – Estou aqui para ver o Diretor.

— Há sim, a Aluna transferida certo?

Fiz um gesto com a cabeça dizendo que sim. A secretaria não mudou nada, continua peituda, usando blusa apertada, e seus óculos fundo de garrafa, se ela se arrumasse pouco seria a mulher muito atraente.

Entrei entregando minha transferência, a secretaria pediu que eu aguardasse um pouco enquanto conferia. A sala era super silênciosa, exeto por um relógio que fazia seu “tick tack”. Sentei em uma poltrona marrom cruzando aa penas, estava frio, mas ela não parecia se incomodar com aquilo, estava de cabeça baixa atenta a leitura da transferência, pude notar que minhas unhas estavam lindas esse dia, e seria uma pena se eu realmente arranhasse a cara de Mason aquela hora. Ela levantou a cabeça me olhando, parecia feliz por eu estar ali, me transferindo para aquela escola que eu havia escolhido para me formar.

— Esta tudo certo com sua transferência senhorita Mcquinn.

— Ótimo.

Levantei ajeitando meu macacão para que pudesse pegar a transferência, a secretaria me entregou e falou que o diretor iria me ver agora, que na saída passasse nela para que eu pegasse minha grade escolar.

Bati na porta três vezes, a porta era de uma madeira muito bem envernizada, ela fazia barulho oco que me lembrava muito barulhos de portas de filmes. Ouvi uma voz grossa daquele homem que parecia ter seus 44 anos, disse algo como “pode entrar”, e assim fiz. Ao entrar na sala notei a mesma coleção idiota de bonecos de cavaleiros medievais que sempre estavam naquela sala desde que comecei a vir toda semana para cá, engraçado pensar que sempre tive que parar na sala do diretor sempre que era agredida, mesmo sem ter culpa nenhuma, o senhor Bouem passava a mão na cabeça dos meninos do time pelo simples fato deles receberem um troféu idiota cada vez que ganhavam um jogo, e assim dar credibilidade para a escola, eles nem se quer levavam um sermão, e a culpa sempre caia para cia de mim! Até por que eram só brincadeiras de amigos da escola, e que eu deveria ser mais forte, másculo, porque homens não choram! Não é mesmo senhor Bouem?

— Senhorita Mcquinn, seja vem vinda a Grow and learn high school! Sente-se por favor! – Ele levantou a mão fazendo gesto para eu me sentar a sua frente.

Disse obrigado enquanto sentava em uma cadeira muito bem acolchoada. Ele começou a explicar as regras da escola e como as coisas funcionavam, era um saco! O que me chamou atenção foi ele dizer que não eram permitidas atitudes agressivas com outros alunos, eu quase o interrompi falando um “Você esta de brincadeira comigo ne, seu prego?”, mas mantive minha pose de boa menina enquanto ele continuava a falar.

Parecia que eu estava ali a uma eternidade, e ele mesmo assim não terminava, eu queria revirar os olhos para aquela baboseira toda e sair daquele lugar logo, eu sinceramente não me importava com aquilo.

— Alguma duvida? – Ele interrompeu meus pensamentos com sua voz suave.

— De inicio não, só estou perdida, a escola é maravilhosamente grande.

— Rapidamente você ira se adequar, me parece uma moça inteligente senhorita Mcquinn.

Fiquei ali parada recebendo elogios gratuitos daquele homem a quem eu pouco me importava até que então ele acabou de falar dizendo que eu poderia ir. Sai da sala rapidamente sendo interrompida pela voz dele.

— Lembre-se... nada de problemas senhorita Mcquinn.

Apenas dei um sorriso e fechei a porta mais forte que deveria. Aquilo chamou a atenção da secretaria que já havia imprimido minha grade de matérias e indicado a primeira aula. Confesso que fingi ler tudo mas parei na primeira aula, Química! Ela me indicou por onde ir mesmo que eu já soubesse, fingi estar atenta e feliz, afinal os anos escolares não são os melhores da vida?

Assim que sai da sala levei minha mão direita ate minha boina retirando-a da minha cabeça para poder guarda-la. O corredor ainda estava vazio por todos estarem em suas salas, comecei a andar pelo corredor e estava tão silencioso que minhas botas faziam eco quando encontravam o chão. Pude perceber examinando a grande agora que meu armário era próximo ao meu antigo. Voltei aquele caminho que eu havia feito com Mason até chegar ao armário novo e eu só conseguia rir, uma risada bem baixa, como eu era bobo naquela época, mas o que eu iria fazer? Não sou o tipo de adolescente que pinta o rosto, pega uma arma e sai matando os alunos da escola, mas lembrei que meu signo é conhecido por ser extremamente vingativo, a propósito sou de escorpião, eu adoro escorpiões e sua natureza assassina, um veneno mortal e aquela vida solitária.

Coloquei a senha do meu armário e joguei um caderno lá dentro, havia trago dois, fechei p armário e fiquei mais um tempo parada até retomar a consciência e seguir então para a aula.

Chegando na sala 115 onde eu teria a primeira aula de química, ajeitei mais uma vez meu macacão e meu cabelo, inspirei fundo e enfim bati na porta. Uma mulher grande, de porte atlético abriu a porta curiosa, eu sorri meio tímida e entrei na sala entregando minha transferência para ela.

— Qual seu nome meu amor? – Falou a professora enquanto andávamos para o centro do quadro.

— Elizabeth Mcquinn.

Ela olhou para a turma e falou meu nome em voz alta, nem precisava, já essa altura todos sabiam da menina nova e todos os olhares estavam em mim, todos os alunos sentados em suas mesas olhando para mim. Eu abaixei minha cabeça para que uma mexa de meus cabelos caísse em meu rosto e a ajeitei de volta no lugar, mas agora olhando para ao alunos. Parecia uma convenção de todas as pessoas que eu menos gostava no planeta Terra, todos os que me zoavam, batiam e torturavam, ali olhando para mim. Olhando eles eu só conseguia sentir raiva, então meus olhos encontraram os de Mason que me olhava sorrindo e eu só conseguia pensar em uma coisa “Eu vou acabar com todos vocês, seus fudidos!”.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem, deixem comentários, obrigado!



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