Do outro lado da cidade também havia uma pessoa decidida a seguir em frente. A morena de passado obscuro resolvera deixar tudo que a prendia a memórias dolorosas para trás e seguir em frente.

Subindo as escadas Elena encaminhou-se lentamente até o quarto de Jeremy, que tirando as limpezas que recebia mensalmente, estava intocado desde que ele morrera. O de seus pais também estava, Elena foi incapaz de deixar que alguém mexesse ali na época que tudo aconteceu, era a única coisa de sua família que estava ao alcance de seu controle, logo, resolveu mantê-lo para ter a falsa sensação de que aquela ainda era a casa de sua família.

A garota foi até a cozinha pegar alguns sacos de lixo para começar a se desfazer das coisas do irmão, não jogaria nada fora, Jeremy tinha tanto apego a suas coisas que seria difícil deixar que elas fossem simplesmente descartadas. Assim sendo, Elena embalou tudo e ligou para uma encarregada da igreja da cidade vir no dia seguinte pegar suas doações.

Cada blusa de Jeremy trouxe uma lembrança particular à Elena, entre lágrimas de saudade a garota dava adeus a todos aqueles velhos tempos que não voltariam mais. Seus livros iriam embora também, Elena não gostava de ler, ao contrário do irmão, então não havia sentido ficar com todas aquelas edições paradas, elas teriam maior utilidade na biblioteca municipal.

Por fim a morena esvaziou a cômoda de Jeremy, tirou dali todos os seus perfumes, géis e acessórios. Todos foram para o lixo.

No fim da tarde as prateleiras e armários estavam vazios, grandes sacos pretos lotados de pertences masculinos preenchiam o centro do quarto. A única coisa que restara era a cama de Jeremy, Elena daria um jeito nela depois. Por hora a garota contentou-se em sentar-se nela e encarar pela última vez o quarto do irmão.

Estava doendo, como sempre havia doido. Respirando fundo Elena confirmou para si mesma que já estava na hora de seguir em frente e parar de viver aquele pesadelo, guardá-lo em sua memória. O luto acabara.

Damon chegou alguns minutos atrasado do horário combinado com ela, eles iriam ao burger King, tinham combinado, mas Elena não estava pronta quando ele chegou, ainda estava sentada na cama de Jeremy olhando para os cantos vazios.

— O que está fazendo aqui? – Indagou ele preocupado assim que a achou.

Elena virou-se para ele deixando que seus olhos marejados cuspissem duas lágrimas solitárias disse:

— Seguindo em frente – Respirou – Preciso seguir em frente Damon.

Imediatamente o rapaz entendeu o que estava acontecendo e renovado pelo que havia acontecido minutos antes em sua casa aproximou-se de Elena e a tomou nos braços.

Isso não poderia ter trazido mais força a garota, seu corpo arrepiou-se inteiramente e naquele momento Elena soube que era capaz de tudo, ela amava demais as pessoas e sempre fizera disso seu ponto fraco, principalmente quando seus pais e irmão morreram, mas agora seria diferente, isso seria sua força.

Pensando em Caroline, Matt, Klaus, Damon e até mesmo tia Jenna, a morena sentiu uma força enorme crescer em suas entranhas, algo estava mudando e para a melhor. Levantando-se sem hesitar um minuto a garota andou até o quarto de seus pais a passos lentos, tremendo de emoção ao encarar todas aquelas lembranças e sentindo-se inteiramente grata por ter aproveitado intensamente a presença daqueles que ela um dia amou. Para falar a verdade, sempre amaria, como poderia esquecer pessoas tão maravilhosas?

Entretanto, não podia mais viver em função disso, a vida ia em frente e não esperava ninguém, Elena já estava atrasada demais.

— Me ajuda a embalar as coisas de meus pais? — Indagou ela virando–se para Damon.

— Claro — Assentiu ele compreensivamente.

— Vá tirando as coisas do armário e as colocando em cima da cama enquanto eu vou lá embaixo e pego alguns sacos para colocarmos tudo isso – Falou ela antes de sair do quarto.

Assim Damon fez e quando a morena voltou com vários sacos pretos os dois puseram-se a trabalhar juntos. O trabalho no quarto dos pais de Elena foi mais extenso, mas não menos doloroso que o do quarto de Jeremy, ao final da tarde Elena acumulava sacos de doações e bolsas d'água embaixo dos olhos.

— Você está fazendo o certo – Murmurou Damon a abraçando por trás quando a encontrou na sala olhando tudo que haviam juntado perto da escada — Está na hora de seguir em frente, viver sua vida sem culpa, você pagou muito caro por isso, merece ser feliz e livre agora. Completamente livre.

Elena sorriu radiantemente ao ouvir Damon pronunciar suas últimas palavras, ele com toda a certeza não tinha noção do bem que estava fazendo a ela nos últimos dias e isso fez com que a morena se derretesse em seus braços e chorasse por tudo.

Ela era grata por tanta coisa… Pelos amigos, que não a abandonaram em momento algum, pela vida que não deixou de habitar seu corpo, por toda a confusão com Stefan que trouxera Damon para perto dela e principalmente por Damon, que a ajudara em seu pior momento, quando tudo estava perdido e sua alma estava frágil. Ele a embalsou em seus braços no tão delicado momento e foi seu ponto de apoio. Não foi, claro, o motivo de toda essa mudança, mas incitara em Elena o principal fator dela: o amor próprio, o perdão para consigo mesma e acima de tudo, a confiança que agora ela depositava em si mesma.

— Liguei para tia Jenna enquanto esteve fora – Comentou ela segurando os braços de Damon que a rodeavam e encostando suas costas em seu peito — Pedi para que voltasse a morar em Mystic Falls, não tem mais sentido ela viver afastada só porque isso é mais fácil para mim. Até porque eu nem tenho mais certeza se as coisas foram fáceis até agora, resolver tudo sozinha não me parece mais uma boa solução para tudo, preciso das pessoas que amo ao meu redor, por mais que eu saiba que um dia vou perdê-las, não aproveitar a companhia delas enquanto estão aqui me parece idiota. São esses momentos que vão fazer tudo valer a pena.

Sentindo toda a paz de Elena, Damon encostou seu queixo no ombro da garota e sorriu para aquele momento maravilhoso.

— Vamos nos formar em breve, quem sabe um apartamento perto da faculdade para nós dois e até mesmo perto do burger king – Sorriu ouvindo Elena fungar – Eu não sei, vamos viver a vida agora, sem nada disso sob nossos ombros, vamos só… Viver. A partir de hoje tudo será completamente diferente.

— Sim — Sorriu Elena se virando para ele e soltando uma gargalhada — Estamos livres.

— Sim, amor, estamos livres para vivermos tudo! — Comemorou Damon com uma gargalhada — O que quer começar a viver agora mesmo? — Perguntou ele em uma voz alta e alterada de tanta emoção.

— Que tal um hambúrguer no Burger King? Me parece um bom começo —  Sorriu a morena enlaçando seu braço ao de Damon em direção a porta.

— Sim — Concordou Damon sorrindo —  Me parece mesmo um bom começo.