Eldarya escrita por Ju Assis


Capítulo 7
Capítulo 6 - Tem como Piorar?


Notas iniciais do capítulo

Vejam pelo lado positivo: tem conteúdo de sobra para vocês lerem!
Aproveitem.
Com carinho,
autora.



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Meia hora depois de gastar calorias zanzando pelo QG, eu estava frustrada. Nevra e Valkyon estavam treinando. Leiftan parecia ter sumido do nada. Pensei na minha última alternativa: Ezarel, o elfo arrogante. Não foi difícil encontrá-lo, ele estava na sala de alquimia debruçado sobre alguns livros. O chefe da Guarda Absinto soltava um grande e preguiçoso bocejo quando eu entrei.

— Ei, Ezarel! — eu o chamei.

— Sinto muito, não posso falar agora. — o elfo me recebeu com um grande sorriso sarcástico. — Eu estou ocupado... Respirando.

Revirei os olhos, ignorando sua fala.

— Eu preciso de ajuda. — engoli em seco. — Um garoto do refúgio perdeu o mascote e eu me ofereci para ajudar a procurar. É um Lapysa, mas não sei exatamente como encontrá-lo.

Ezarel sorriu debochadamente enquanto se ajeitava em sua cadeira.

— Engraçado... até parece que você sabe do que está falando.

— Mas eu sei! —  juntei as sobrancelhas, indignada.

— Ah, é? Pode me dizer o que é de fato um Lapysa, por favor? — o elfo perguntou com um interesse repentino. Comecei a me questionar se o sorriso repuxado no canto da boca era parte do visual dele.

Suspirei alto.

— Um Lapysa é... Hum... — eu olhei para o alto, tentando encontrar as palavras certas. — É tipo um cachorro que voa.

Ezaral ficou em silêncio, a cara séria, somente para alguns segundos depois explodir numa gargalhada.

— Boa busca! —  ele se levantou e foi em direção à saída. Eu fui mais rápida e segurei em sua veste. —  NÃO ME TOQUE.

— Caramba... —  meu coração saltou pela boca. Eu tinha esquecido dessa pequena fobia aleatória do meu chefe. —  M-me desculpa... Eu... Eu só queria ajuda.

— Não é me arrastando por ai que vai consegui-la. —  Ezarel ajeitou suas vestes, fazendo uma cara de indiferença para mim.

— Mas que droga! — grunhi, sem acreditar que minha busca de trinta minutos seria em vão. Permiti que os sentimentos de frustação, raiva e ódio assumissem o controle da minha mente. Estreitei os olhos, me contento para não soltar um grito pior que o choro do Mery ali mesmo. — Você acha que eu estou aqui porque gosto da sua companhia??? Eu escutei o que você disse sobre mim hoje cedo e aquilo me magoou muito, então pode apostar que você é a última pessoa que eu gostaria de ver na face desse mundo!

Eu respirei fundo para controlar o meu tom de voz que subia a cada palavra.

— Sei que não gosta de mim. — silabei, me limitando a fazer uma expressão de nojo. — E eu muito menos de você. — avancei um passo para frente, fechando as mãos em punho. — Acontece que eu acabei de chegar aqui e quis fazer algo útil para não me sentir uma completa idiota. Só que eu não sei nada sobre esse seu mundinho mágico e estúpido e colorido, então Kero me falou para procurar por alguém para não me perder lá fora. Mas adivinha só? — eu ri sarcasticamente — Todos os outros rapazes estão ocupados! Só me resta você.

Ele não respondeu. Me questionei se ele sequer tinha prestado atenção.

 — Acredite, — eu continuei, dando mais um passo para frente e forçando-o a olhar em meus olhos. — se eu estou aqui, é porque realmente preciso da sua ajuda.

Ezarel finalmente pareceu olhar pra mim como se eu fosse alguém.

— Tudo bem, vamos encontrar esse mascote. — ele desviou o olhar. Eu pisquei, em choque. — Foi o Mery quem o perdeu, não é?

— Sim. — respondi tentando controlar minha respiração, ainda agitada pela raiva súbita. — Como você sabe?

— Ele sempre perde os mascotes. Já é a terceira vez que ele perde o pequeno Lapysa esse mês. —  o elfo suspirou. —  Muito bem, você tem a ração?

— Sim, eu tenho a ração. — respondi e mostrei a ele a caixa que um Purreau havia me dado.

Ele começou a subir as escadas para sair do QG. Nós passamos pelo vilarejo e continuamos indo muito além. Ezarel explicava um pouco sobre a geografia do local e os lugares que eu encontraria fora dos muros. Aprendi que a área ao redor do Quartel General era cercada por muros quilométricos — com torres de observação e vigia em alguns pontos — responsáveis em proteger o QG e todo seu território,  que abrangia o Refúgio de Eel, o Centro Comercial ou Mercado, o Quiosque, o Parque do Chafariz e a Praça dos Arcos.

— Muito bem, o que eu ganho em troca com isso? —  Ezarel assoviou uma musiquinha aleatória enquanto atravessávamos uma enorme porta, que dava acesso ao exterior do QG. —  Uma faxina no meu quarto seria muito bem-vinda.

Eu sabia que tudo não passava de uma piada estúpida para tirar onda com a minha cara, mas não pude segurar minha língua.

— O quê??! Eu não sou sua empregada doméstica, não vou limpar seu quarto!

— Ora, se você começa criticando as ordens do seu chefe, não irá muito longe. Está sentindo falta da sua cela, é isso?

— Não! Falta alguma, chefinho. — provoquei. A julgar pelo sorriso, Ezarel pareceu achar graça. Até jurei ter escutado ele soltando arzinho pelo nariz. Minha respiração ficou irregular enquanto descíamos uma planície. Vendo que ele não iria responder, tomei fôlego para continuar: —  Eu tenho rinite. E, se ela atacar, vou fazer questão de limpar o catarro na sua cara.

Ezarel fez uma careta de nojo.

— Era brincadeira, desculpa. —  eu murmurei só para esclarecer.

— Você pode me dar suas porções de mel, caso não queira limpar o quarto. — Ezarel inclinou a cabeça. Eu comecei a me questionar se era realmente brincadeira ou se ele estava falando sério.

— Okay, tudo bem. — suspirei.

— Assim que se fala! —  o chefe da Absinto sorriu de orelha à orelha e deu um tapinha no meu ombro. Mal pude esconder minha surpresa. — O que foi? Por que essa cara?

— Por que você tem essa neura de não poder te tocar, sendo que acabou de tocar em mim tranquilamente? — indaguei, ainda descrente.

— Regra número um entre chefinhos e empregadas: sem perguntas pessoais.

— Eu já disse que não sou sua empregada!!! —  bufei —  E existem regras?

— Não, eu acabei de inventar. — ele limpou uma poeira invisível de seu casaco.

Respirei fundo, me controlando para não xingar o líder da minha guarda. Já havia feito um gesto vulgar mais cedo e, querendo ou não, ele realmente tem autoridade para me colocar de volta na cela caso queira.

— Onde nós estamos? —  eu já estava ofegante e sentia minhas pernas começarem a queimar. —  Por que tudo aqui parece ser tão longe? —  lastimei.

— Não se preocupe, ainda estamos dentro do limite de Eel. Chamamos esse território de ''planícies de Eel''. Se você continuar descendo e seguir pela esquerda, encontrará a floresta. — Ezarel gesticulou para me mostrar os caminhos — Se for pela direita, chegará nas planícies da praia. Aquela ali é a toca em que vamos procurar.

— Vocês têm uma praia aqui? —  meu rosto se iluminou.

— Sim, nós temos. — Ezarel confirmou e ficou quieto.

Finalmente paramos em frente a uma toca que parecia estreita demais para que um de nós pudéssemos passar por ela. Estreitei os olhos a fim de enxergar melhor, mas o seu interior era muito escuro.

— Bom, chegamos. É aqui que o novo mascote de Mery sempre se esconde quando foge. E também é aqui que a minha ajuda termina. Boa sorte. — Ezarel sorriu com desdém e fez menção de se virar.

— Ei! — descrente, eu coloquei as mãos na cintura e esse gesto foi o suficiente para o elfo parar seu movimento. Ele arqueou as sobrancelhas para mim, lançando um “o que foi agora, sua humana chata?” com os olhos. — Você não vai embora, vai?

— Não, só vou procurar um lugar onde eu possa observar melhor o seu fracasso. — Ezarel me deu um sorriso de canto e começou a caminhar em direção a uma árvore que crescia ali do lado.

Cretino.

— Não vou fracassar. — rosnei.

— Ah, mas eu estou contando com isso. — ele assobiou. — Tente não demorar muito, quero chegar no QG a tempo para o jantar.

Joguei a caixa com a ração no chão e observei os recursos que eu tinha a minha disposição. Só tinha mato e pedra a minha volta. Não foi preciso pensar muito para ter uma ideia.

Na força do ódio, e me controlando para não proferir uma série de gestos vulgares para Ezarel que estava escorado na sombra, usei um graveto e um pedaço grande de grama — bem semelhante a um cipó — para montar uma espécie de vara de pesca. Usaria a ponta para prender a ração e atrair o mascote. Olhei ao redor e percebi que havia uma árvore com folhas de um cumprimento e grossura grandes o suficiente para substituir uma corda e pensei em fazer uma coleira improvisada com elas. As folhas não pareciam resistentes o suficiente, então tive a brilhante ideia de usar o cinto da minha calça para dar uma reforçada.

Ezarel me observava recostado na árvore mais próxima, com um braço cruzado e uma mão apoiada no queixo. Mostrei a língua para ele quando voltei da árvore com as folhas no braço. Ser artista tinha suas vantagens, afinal de contas. Sempre gostei de me envolver com arte, sem falar que ler livros de ficção desde a pré-adolescência contribuiu muito para o desenvolvimento da minha criatividade. Além disso, eu cresci com artesões. Sabia improvisar e criar ferramentas. Com a ração pendurada na ponta do graveto, reforçada duas vezes com grama, entrei na toca.

— Vamos ver quem é a humana inútil agora, seu cretino. — eu sussurrei entredentes.

Não dei muitos passos em direção ao fundo, pois era escuro e eu não estava tão disposta a correr riscos. Pisquei algumas vezes e meus olhos se adaptaram ao local, sendo capaz de enxergar detalhes que não tinha percebido antes. Vi dois pares de olhos brilhando no escuro, me encarando.

O Lapysa era uma criatura pequena, tão fofinha e bem diferente de um cachorro normal. Ele soltou uma espécie de grunhido quando dei mais meio passo para frente e escutei os focinhos começarem a farejar o ar.

Ele rosnou desconfiado, mas quando estendi a vara com a ração, soltou um latido alegre e colocou a língua para fora de forma que pendesse para o lado, deixando-o mais fofo ainda. Deixei com que ele comece a ração, coloquei um pouco na minha mão e me agachei ao seu lado. Estendi a mão com a ração para que ele se habituasse e entendesse que eu não iria machucá-lo.

— Calma, sou sua amiga, viu? — eu disse. O Lapysa latiu e passou a lamber a minha mão, abanando o rabinho. Sorri. — Agora vamos sair daqui, seu fominha! Tem mais disso lá fora.

Depois que ele comeu toda a ração, fiz carinho em seus pelos e deixei com que ele me cheirasse, para enfim prender a coleira improvisada nele. Felizmente as tais das asas ainda eram muito pequenas, então a hipótese de ser carregada por ele pelas alturas numa possível tentativa de fuga foi descartada com sucesso.

Capturei o bichinho sem nenhum problema. Ele nem tentou me morder. Saí da toca com o mascote debaixo de um braço e coloquei uma mão na cintura, erguendo as sobrancelhas para Ezarel. O elfo abriu um meio sorriso.

— Nada mal. — foi tudo o que ele disse. E se afastou da árvore. — Vamos.

Coloquei o mascote no chão e ele tentou correr de volta para a toca. Com a coleira, eu o dominei. O pequeno Lapysa resmungou e se pôs a caminhar em nossa frente, com o rabinho abanando e a língua para fora enquanto cheirava a grama.

— O que diabos é isso? — Ezarel franziu as sobrancelhas.

— Uma coleira. — respondi. — Meio... improvisada, mas ainda sim uma coleira. Nós usamos isso na Terra nos nossos animais de estimação, para eles não fugirem. — franzi as sobrancelhas. — Não usam coleiras aqui?

— Não. — foi a resposta dele. — Nossos mascotes ficam livres. Eles são obedientes e nos seguem quando bem entendem. Nos obedecem por simples e espontânea vontade. Não precisamos prendê-los, pois eles são fiéis aos donos. Alguns tem uma conexão tão forte que entendem as ordens sem o dono sequer dizer uma palavra.

— Oh. — foi tudo o que eu disse. — Mas... Por que o Lapysa do Mery sumiu, então?

 — Alguns habitantes são negligentes com seus mascotes. Quando o grau de afeto do mascote por seu dono fica muito baixo ou quando o mascote fica muito estressado e não consegue se adaptar, ele simplesmente foge. — Ezarel explicou. —  Alguns mascotes são mais independentes. Outros, precisam de mais atenção. Mas em geral, alimentar, tirar algum tempo para brincar e enviá-los para exploração é o básico. — o elfo ficou quieto. — Eu vi você carregando um ovo de Sabali pouco tempo atrás, — observou ele. — por isso estou te dizendo essas coisas.

— Kero já havia me explicado isso. — assenti, um pouco surpresa pelo esboço de conversa civilizada que estávamos tendo. — Mas obrigada mesmo assim.

O chefe da Absinto assentiu, e só.

Nós chegamos no refúgio ao entardecer e Ezarel me deixou sozinha com o mascote, pedindo para o entregar ao garoto. Eu estava começando a ficar com sono e com fome, mas era melhor obedecer. Me sentei num dos bancos perto da escadaria que dava acesso ao QG e brinquei por um bom momento com o pequeno Lapsya, me perguntando como a minha rinite não tinha sequer atacado com aquele tanto de pelo. O pestinha já havia comido quase todas as porções de ração que eu havia comprado com o dinheiro de Kero.

As luzes, que eu ousava arriscar dizer que eram mágicas, se acenderam e estava começando a ficar escuro quando o rabinho peludo do Lapsya começou a abanar freneticamente. Ergui o olhar e observei três silhuetas apareceram em cima da escadaria. Estreitei os olhos e vi Mery descer as escadas. Leiftan estava junto com ele e ao seu lado uma mulher loura caminhava com as mãos escondidas dentro do bolso de seu casaco.

De longe, não consegui ver muito de seus traços, mas parecia ser bonita. Ela sorria timidamente enquanto trocava algumas palavras com Leiftan. Mery foi o primeiro a me notar ali. Os olhos do menino brilharam e ele se virou a puxar a barra do casaco que a mulher usava.

— Mamãe! Mamãe, olha! A humana esquisita encontrou meu bichinho!! — Mery praticamente gritou.

— Fala mais alto que tá pouco. — sussurrei e grunhi enquanto me afundava mais no banco, a fim de passar despercebida pelos outros moradores que circulavam pelo local.

A mulher sorriu e deixou o garoto correr em minha direção. Eu tirei o Lapsya da coleira e entreguei o mascote para Mery o mais rápido possível. Mery pegou o bichinho no colo e começou a rir e brincar com ele. Sorri satisfeita ao observar a cena.

Leiftan e a mulher loura se aproximaram do local onde estávamos. Ela era alta e magra, tinha algumas olheiras abaixo dos olhos bicolores e em sua cabeça estava um par de chifres de carneiro, só que bem maiores que os de seu filho.

— Desculpe pelos modos de meu menino. — a mulher sorriu timidamente. — E muito obrigada por recuperar o mascote, de verdade. Me chamo Twylda. E você deve ser...

— Kalina. — sorri com educação e me levantei do banco para a cumprimentar

— Obrigadooo! —  Mery disse para mim. Ele sorria de orelha a orelha.

— Por nada. — eu pisquei um olho para o garoto. Me agachei para ficar na sua altura. — Promete que vai cuidar bem dele agora? Nada de dar pão!

— Prometo! — Mery sorriu e soltou o mascote no chão, vindo me dar um grande abraço logo em seguida.

— Olha, sobraram algumas rações. Levem com vocês. — eu disse ao desfazer o abraço e entreguei a caixa para a mãe de Mery, que assentiu para mim.

— Obrigado, obrigado, obrigadoooo! — Mery cantarolou, pegando o bichano no colo novamente. — Até logo, Kalina!

— Até logo. — sorri e cruzei os braços, ainda agachada. Observei Mery e Twylda saírem, Leiftan parou do meu lado, fazendo o mesmo.

— Eles são uns amores. — comentou o jovem.

— São mesmo. — ainda sorrindo, me levantei. Então a paisagem pareceu rodar e eu perdi o equilíbrio.

— Kalina! — Leiftan deu um passo para frente e me segurou. — Está tudo bem?

— Tudo, eu só... Perdi o equilíbrio por um momento. — pisquei, atônita. Minha visão começou a ser invadida por pontos pretos. Leiftan falou algo, mas não consegui escutar direito. Franzi a sobrancelha. — Tá escutando isso?

— Isso o quê?

— Esse zunido infernal de novo. — eu grunhi.

— Acho melhor você ir ver a Ewelein. — a expressão dele estava séria.

— Eu... Eu tenho alguns tônicos para o mal estar no meu quarto. — cocei o pescoço. —  Não quero incomodar ela. Até mais — sorri e me virei para seguir até o quartel, mas as minhas pernas pareceram moles demais. Bobas demais. Não as senti ao dar o primeiro passo. Antes que eu me estatelasse no chão, Leiftan me pegou em seu colo. Eu entrelacei meus braços atrás de seu pescoço e encostei a cabeça em seu ombro, sentindo seu perfume.

— Vem, eu levarei você até a enfermaria. — ele disse, firmando seu aperto. Ele tinha um cheiro tão... bom. — Céus, você está quente!

— E-espera! Eu não preci... — protestei, contendo a minha vontade de descer a mão pelo seu peitoral para ver se era realmente tão forte quanto parecia. — Eu...

Não soube o que pensar ou falar enquanto era carregada até a enfermaria. Assim que nos viu, Ewelein ordenou que Leiftan me colocasse depressa numa das macas simples na segunda seção e ajudasse ela com compressas de água fria. Enquanto Leiftan desaparecia enfermaria abaixo, Ewelein analisava algumas seringas de forma rápida e eficiente na cômoda ao lado de meu leito, a procura de alguma em especifica.

— Calma, não é como se eu estivesse prestes a morrer. — eu ri, me ajeitando no leito. Ewelein ergueu os olhos em minha direção e contraiu os lábios. Engoli em seco. — Ou é?

— Você não está habituada com a atmosfera mágica de Eldarya. — a enfermeira disse, ajustando uma agulha afiada na ponta da seringa selecionada. — Seu corpo humano pode rejeitar o maana, a energia vital que dá a vida a tudo aqui.

Arregalei os olhos.

— O quê? — minha voz subiu uma oitava. Então fui atingida por um turbilhão de perguntas e nem respirei ao proferir todas elas. — Pelo amor de Deus... Meu corpo pode... Ele não vai rejeitar, certo? Se isso acontecer, eu m-morro? Quer dizer, qual é a probabilidade disso acontecer?

— Escute. — Ewelin deixou a seringa na bandeja e pegou as minhas mãos. — Você não é a primeira humana que recebemos aqui. Temos poções para estabilizar o nível de maana, não se preocupe.

— Você ainda não me respondeu. — estalei a língua, vendo ela encaixar a agulha num frasco e puxar um líquido cristalino de dentro. — O que acontece se meu corpo rejeitar o maana? — perguntei, estreitando os olhos em sua direção. — O que aconteceu com os humanos que não se adaptaram?

Ewelein encarou Leiftan, que se aproximava com uma vasilha e me olhava com uma expressão abatida. Eles pareceram trocar palavras silenciosas. Ewelein inclinou a cabeça e Leiftan assentiu, como se estivessem tomando uma decisão silenciosa entre si.

— Eles... — Leiftan suspirou, tirando uma toalha ensopada de água de dentro da bacia e a torcendo. —  Sim, a maioria morre. Alguns sobrevivem e prosperam por anos, vivem suas vidas normais como se estivessem na Terra. — ele pressionou a toalha no meu pescoço, depois nas bochechas e por fim a repousou na minha testa. — Mas...

Leiftan suspirou. Eu ergui uma sobrancelha para ele, de forma inquisidora.

— Alguns enlouquecem. — Leiftan continuou, voltando a mergulhar a toalha no recipiente. Olhei para Ewelein, que concordou com a cabeça. Ela estava misturando algo em um recipiente. — Têm seus corpos corrompidos pelo maana, magia. Os faelianos que já viram um humano corrompido, eles... Dizem que o corpo humano sofre alterações bizarras. Rostos distorcidos, pele necrosada, mudanças de tamanho, partes esquisitas crescendo... Por isso apelidaram esses humanos de “Aberrações”.

Lembrei do menino se escondendo na barra da saia da mãe mais cedo no almoço.

Mamãe, ela é uma Aberração?

O zunido pareceu voltar com mais força. Se eu estivesse de pé, poderia muito bem ter desmaiado ali mesmo.

— Ah, que ótimo! — revirei os olhos enquanto Leiftan posicionava a toalha em minha testa. — Eu estou presa num mundo que desconheço, tenho zero utilidade aqui, não posso voltar para casa, todos me detestam, aparentemente minha família faz parte de um clubinho secreto de Guardiões, posso ter sangue de fada e eu ainda tenho a possibilidade de morrer ou enlouquecer se ficar aqui? — cruzei os braços, sarcástica. — Será que tem como piorar?

Esfreguei meus olhos, tentando assimilar a nova informação. Ajustei a toalha em minha testa. Mal tinha afastado minhas mãos do rosto quando Kero escancarou as portas da enfermaria, os óculos estavam tortos no rosto e ele parecia ofegante.

— O QG está sendo a-ata, atacado. — ele disse em meio a tosses secas.

— Ah, fantástico! — eu bati em minha testa, desejando cavar um buraco e me enfiar lá dentro.


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Notas finais do capítulo

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