Eldarya escrita por Ju Assis


Capítulo 6
Capítulo 5 - Aberração.


Notas iniciais do capítulo

Olá amorecos, vocês ainda estão vivos? Espero que sim. Eu havia perdido a senha da conta e por isso parei de postar aqui, mil perdões! No entanto, a história continuou a ser publicada normalmente na plataforma cujo nome começa com Watt... Enfim! Espero que gostem dos capítulos seguintes e não me matem por ter sumido!



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Kalina

Não parei de vomitar até que o gosto de bile atingisse o céu da minha boca.

— Oh, santo Cristo! — eu disse, limpando a bochecha e afastando minha mão soada da parede fria. Eu nem tinha notado que Ewelein estava segurando meu cabelo. Ela me olhava com ternura e um brilho nos olhos que até me espantou. Me surpreendi por ela não estar me xingando. Provavelmente era o que Ezarel faria, além de ressaltar que eu não passava de uma humana inútil. Mas com Ewelin... Eu me sentia acolhida. Pisquei algumas vezes, saindo do torpor. — Me desculpe, eu...

— Não tem com o que se preocupar. Agora venha comigo, rápido. — a jovem pegou meu braço de forma gentil e fez menção de seguir adiante. Olhei relutante para o piso sujo de vômito.

— Mas... não é melhor limpar aquilo? — ergui as sobrancelhas para ela.

— Você pensa demais. — Ewelein segurou um riso. — Não se preocupe com isso. — em seguida, ela assobiou para uma das pessoas ali e apontou para a sujeira. Não foi preciso uma palavra, a mulher apenas assentiu e sumiu em direção à dispensa.

Nós subimos a mesma escada que dava acesso à biblioteca e viramos à direita. Quando chegamos na enfermaria, não pude evitar a surpresa. Parecia... etérico! O piso era de mármore assim como grande parte da construção do QG. As paredes rosa-peroladas, assim como as do grande salão central, pareciam ter a cor alterada conforme a oscilação da luz.

Havia uma espécie de córrego passando dentro do local e uma ponte separava o lugar em duas seções. Na primeira, havia um balcão grande e branco, uma estante cheia de itens para primeiros socorros e cinco camas de solteiro grandes, forradas por um lençol verde-água. A segunda seção era composta por leitos simples. Como os hospitais humanos, esses leitos eram separados por uma cortina para dar privacidade aos doentes. O lugar era muito cheiroso, mas cheiroso do tipo bom. Não um cheiroso do tipo hospitais humanos. Dava vontade de ficar ali para sempre, como se fosse um SPA.

— Tome. — Ewelein estendeu um frasco com um líquido azul claro. Eu nem tinha prestado atenção dos movimentos dela enquanto admirava o lugar místico. — É um tônico para ajudar com o mal estar.

Fiz o que Ewelein me pediu. Depois, a segui até a primeira seção e nós conversamos por alguns minutos enquanto ela me examinava em uma das camas grandes que havia ali, que eu agora acreditava ser algum tipo de cama-scanner. Quando eu deitei, uma espécie de feixe de luz passou por todo o meu corpo. Fiquei intrigada com a tecnologia da enfermaria. Como eles poderiam contar com recursos tão avançados quando sequer tinham celulares ou tablets para se comunicar uns com os outros? Muito estranho!

Ewelein também recolheu amostras do meu sangue e um pouco da minha saliva. Quando terminamos os procedimentos, era hora do almoço. A enfermeira do QG pediu para que eu voltasse na manhã seguinte para discutirmos sobre os resultados e logo depois me presenteou com alguns tônicos extras. Eu passei em meu quarto para guarda-los antes de seguir para o refeitório.

O quartel estava tranquilo e eu acabei encontrando um ou outro faeliano no corredor. O peso de dezenas de olhares me atingiram quando cheguei perto da entrada do refeitório e não me surpreendi como todos fizeram silencio quando eu pisei no primeiro degrau. Eles começaram a cochichar e nem precisei ter uma boa audição para saber que eu tinha me tornado o assunto da vez. Quando me aproximei da fila para pegar a refeição, uma criança se agarrou nas saias da mãe. Eram os últimos da fila.

— Mamãe, ela é uma Aberração? — a criança sussurrou.

Franzi a sobrancelha para aquilo. A mãe apenas riu e afagou os ombros do menino. Ele tinha cabelos ruivos, e um rabo de raposa.

— Não, meu filho. Ela é apenas uma humana muito linda. — a mãe sussurrou de volta. Observei um par de orelhas despontar da saia, depois olhos curiosos piscaram para mim. Eu sorri para o menino.

— Mas ela vai virar uma Aberração, não vai? — a criança se encolheu.

— Shhh! Pare com isso, Elijah. — a mãe repreendeu o garotinho bem na hora que a fila andou.

Sorri minimamente para Karuto que colocou uma porção bem menor que a do café da manhã para mim. Suspirei fundo enquanto andava pelo salão em busca de um lugar vazio. Notei que os chefes da guarda estavam reunidos numa mesa ao fundo do salão.

Ao me aproximar da mesa deles, escutei um assobio e vi que Ezarel estendia a taça dele para mim. Fiz um gesto vulgar para o elfo e continuei andando. Sorri  satisfeita ao ver Nevra e Valkyon explodirem numa gargalhada. Quando finalmente passei por eles, estavam cochichando entre si e me lançando olhares peculiares, nada sutis.

Sentei numa mesa perto da parede, de costas para todo mundo. Seria mais fácil ignorá-los. Deixei minha mente vagar por um momento. Tinha informações demais para digerir e não sabia sequer por onde começar.

Encarei o prato. Era uma espécie de sopa com legumes que eu nem sabia se podia mesmo chamar de legumes. Cutucando o caldo com a colher, reconheci uma batata. Inclinei a cabeça para o lado.

Desde que o nosso mundo foi dividido...” Kero dissera, certa vez.

Será que as batatas da Terra vieram de Eldarya? Ou será que os faelianos buscavam alimentos lá, através dos tais portais? Aí está mais uma informação para procurar depois. Pisquei e chacoalhei a cabeça, focando no objetivo que era comer.

A comida, de novo, não era boa. A comi mesmo assim, pois estava faminta. A cada colherada, pedia silenciosamente para não colocar tudo para fora de novo. Passei a refeição sozinha mais uma vez: ninguém tinha coragem de sentar perto de mim. Era compreensível, até. Certamente, se eu estivesse na Terra, não gostaria de me sentar a um lado de um extraterrestre recém-chegado.

Por cima dos ombros, arrisquei observar os eldaryanos. Faelianos... Fadas, o que quer que seja. Tão diferentes dos humanos! A maioria tem orelhas pontudas: algumas grandes demais, outras nem tanto. Mas sempre pontudas! Isso quando não têm uma orelha na altura dos olhos e sim na cabeça, como orelhas de animais: de coelho igual a da Ykhar... Ou de raposa, igual a da Miiko. Alguns deles possuem cabelos coloridos, e aposto que sequer são tingidos. Como é possível alguém nascer com um cabelo roxo? Azul? Verde? Os olhos também eram diversos em formatos e em cores. Os sorrisos várias vezes possuíam caninos afiados e...

As peles? Meus olhos captavam tons de peles que eu mal conseguia nominar!­ Jurei ter visto alguém com a pele que parecia ser escama de peixe. Mas em geral, eram peles semelhante às dos humanos – com exceção à algumas que eram bicolores ou manchadas. Algumas mais brilhantes, outras mais opacas. Certamente um autor de romance ou aventura enlouqueceria tentando descrever a aparência de um eldaryano.

Para combinar com os corpos tão variados, as roupas que eles vestem são exóticas e de todos os tipos. Algumas coloridas demais... Outras simples demais. Mas nos ambos estilos, sempre há pequenos detalhes. Enfeites pensados com atenção e minuciosidade. Quem costura as roupas desse mundo certamente é detalhista. Vários bordados enfeitam as barras das roupas, e o acabamento parece ser de qualidade. Estreitei os olhos. Nenhum tecido jeans a vista. Até os sapatos eram ousados, designs que um ser humano jamais ousaria pensar. Então olhei para mim, vestida de forma simples.

Ainda usava as calças jeans da Terra, uma blusinha preta básica e um tênis esportivo da adiddas. Eu não tinha rabo entre as pernas, nem chifre na cabeça. Sequer tinha orelhas pontudas! A única coisa que eu tinha de diferente era o meu par de olhos violetas. Mas não era o suficiente para me misturar. Eu nunca me passaria por um deles. Com meus cabelos castanhos claros, a pele branca, as roupas neutras e nada exageradas, estatura média e orelhas redondas... Eu não passava de uma criatura estranha e destoante.

— Talvez eu seja mesmo uma aberração. — sussurrei.

Suspirei alto e me levantei da mesa.

~*~

Assim que senti a refeição ''baixar'' um pouquinho, fui até a biblioteca, mas estava trancada. Então resolvi procurar pelos rapazes a fim de descobrir o que eu poderia fazer naquela tarde. Não sei se foi o almoço ou o tônico, mas eu estava me sentindo animada, bem mais disposta e com bastante energia para gastar. Por sorte, encontrei-os na despensa, mas infelizmente todos estavam ocupados e não tinham nenhuma missão para mim.

Mais cedo, Ewelein havia me recomendado ficar em repouso, mas eu estava agitada demais para isso. Além disso, já me achavam uma inútil. Não queria dar mais motivos para merecer esse título!

Minha cabeça não parava de relembrar os momentos agitados da reunião de mais cedo. E tudo o que aconteceu desde que vim parar aqui. Fui até o pátio e sentei no chão frio perto de algumas árvores, o ar era fresco e agradável ali. Encarei o grande teto em formato de Abóboda e comecei a teorizar como estavam as coisas na Terra, sem mim.

Para minha sorte, eu não precisei chegar na fase de ''agoniação'' porque um choro estridente chamou a minha atenção. Abaixei o olhar. Aos pés da escadaria, vi Kero tentando consolar um garotinho, em vão. Levantei com cuidado e me aproximei para escutar melhor.

— E-eu não sei onde ele está! Eu pensei que ele ia ficar feliz, mas ele fugiiiu! —  o garoto chorava copiosamente.

— Olá rapazes, o que está acontecendo? — eu sorri de forma amigável enquanto me aproximava devagar.

— Esse é o garoto que roubou o pão. — Kero respondeu. — Ele ia dar ao mascote dele, mas os bichanos não se alimentam como nós e acabou fugindo...

— Oh... Sinto muito. —  olhei com compaixão para o garoto.

Ele coçou os olhos, piscando algumas vezes antes de falar comigo. Observei-o melhor, já não me assustando quando observei os dois pequenos chifres de carneiro que cresciam em sua cabeça. Faelianos são parecidos com os humanos, até certo ponto. Será que são nossos ancestrais, de alguma forma? Inclinei a cabeça, pensativa. O garoto se aproximou, me fazendo voltar à realidade.

— Sniff... — ele coçou os olhos, limpando as lágrimas — Suas roupas são estranhas! Quem é você?

— Me chamo Kalina. — respondi num tom simpático, mesmo querendo dizer que minhas roupas não eram nada estranhas se comparadas com os chifres na cabeça dele. —  E você?

O garoto parou de chorar e Kero sorriu aliviado.

— Eu me chamo Mery. Moro na cidade com minha mãe e o meu... O meu... meu... —  o garoto começou a fazer birra de novo. — Eu quero o meu mascote!!!

Me ajoelhei para ficar em sua altura.

— Olha, Mery... Eu posso te ajudar a encontrá-lo, mas só você prometer parar de chorar, está bem? — afaguei seu ombro. Sorri de forma amigável. — O que acha?

— Não vai adiantar nada! Você vai assustá-lo com essas suas roupas esquisitas. —  Mery mostrou a língua para mim e cruzou os braços, emburrado.

Tentei não revirar os olhos enquanto tirava a mão de seu ombro.

— Venha comigo, Mery. —  Kero me mandou um olhar de ''desculpa''. —   Eu vou te levar para casa enquanto pensamos em algo para fazer seu mascote voltar. Kalina, vejo você mais tarde!

Concordei com um aceno de cabeça enquanto me levantava e observei os dois deixarem o QG em silêncio.

— Roupas estranhas. Aham! — bufei e cruzei os braços, indignada. — As roupas de vocês que são estranhas!!!

Fiquei parada por alguns segundos. O choro de Mery por causa de seu mascote me fez lembrar algo, mas não sabia o quê.

— Mascote... Eu esqueci de alguma coisa relacionado à isso? Não sei, parece estranho. Eu deveria fazer algo? — cocei o queixo, olhando para cima. — O que eu estou esquecen... PUTA QUE PARIU! — arregalei os olhos e cobri minha boca com as mãos. — O meu mascote! Eu o esqueci... Eu deixei o ovo eclodindo com o Purreko e disse que iria voltar depois. Ai meu Deus do céu!

Comecei a correr em direção à escadaria e depois fui desesperada até o espaço do mercado, tentando me lembrar onde era o tal do petshop. A praça do mercado estava cheia, mas felizmente olhei na direção certa.

— Não, não, não... — choraminguei. — Eu não acredito que fiz isso!

Suspirei fundo, tomando fôlego antes de entrar na loja. Purreko me recepcionou com um grande sorriso e por um momento eu jurei para o Universo que não ficaria brava caso ele me recebesse com um grande taco de Baiseball pronto para me linchar. Ainda um pouco desesperada, pedi desculpas para ele e expliquei a situação toda.

— Oras, não se p-preocupe! Após a e-eclosão do o-ovo, nós c-cuidamos do mascote p-para você. Quer conhece-lo? — ele perguntou, simpático. E então notei que ele usava uma flor rosa nas orelhas e agora tinha um crachá escrito “Evelinn”.

É... O purreko é na verdade a purreko? Ele é.. ela? Uma fêmea? — Arregalei os olhos, então fingi uma tosse.

— Sim, claro! — arqueei as sobrancelhas, ansiosa.

Evelinn me levou para os fundos da loja e eu me questionei se Purreko seria então uma raça ao invés do nome daqueles que controlavam o tal do Banco. Quando chegamos no destino, através de um vidro eu vi o que parecia ser um filhotinho de pônei enrolado numa caminha. A purreko foi até ele e o pegou no colo, o enrolou num manto e me entregou. Fiquei surpresa pelo feito, já que Evelinn era uma espécie de gato que não é gato. Apesar da aparência felina, ela andava sob duas patas e vestia roupas comuns. Nós retornamos para o interior da loja em silêncio.

— Sabalis se alimentam de brotos de bambu. Quer levar alguns? — a gata que  não era gata perguntou.

— Eu... É... — equilibrando o filhote em um braço só, enfiei rapidamente a mão livre no bolso para pegar as moedas restantes. — O que dá para comprar com isso?

— Irei p-pegar, só um m-momento.

Assenti, achando fofo o jeito que ela falava. Evelinn tinha maios ou menos a altura de Mery. Estreitei os olhos, desejando perguntar se no tempo livre ela também andava de quatro patas iguais aos gatos comuns, mas o bom senso foi maior e resolvi manter a boca fechada.

— Aqui e-está! — Evelinn voltou com uma sacola com alguns brotos de bambu dentro e me entregou. — E então, q-qual vai ser o nome dele?

— Nome? — franzi a sobrancelha. Ela assentiu. — Ah! Ah, sim... Vai ser... — olhei para o filhote no meu colo. Então disse a primeira coisa que me veio à cabeça, meu personagem de desenho favorito quando era criança. — Bambi!

— É um nome muito b-bonito. — Evelinn sorriu. — Olhe, ele já está b-bem hidratado. Dê água para ele s-somente amanhã de manhã, está b-bem? Como ele ainda é um recém-nascido, p-passará muitas horas dormindo... Não se a-assuste com i-isso.

— Obrigada de novo, ér... Evelinn! E desculpe-me mais uma vez, eu realmente estava tão cansada... — suspirei. —  Eu me esqueci de verdade, não foi por mal. — fiz uma expressão de vergonha e ajeitei o filhote no meu colo.

— Sem p-problemas, minha querida! Volte quando p-precisar. — a purreko sorriu. — A-até logo!

Eu assenti e saí da loja. Voltei para o QG com Bambi dormindo tranquilamente em meus braços. Ele era bem pesadinho para um filhote! E tão fofo! Será que cresceria muito? Esse pensamento me perturbou. Decidi aproveitar o máximo dessa fase bebê dele.

Fui direto para meu quarto, revirando os olhos a cada vez que cruzava com algum faeliano pelo corredor. Já estava me cansando desse lugar e dessas criaturas! Eu precisava arrumar um jeito de voltar para casa. Assim que fechei a porta do quarto, o filhote grunhiu e começou a abrir os olhos. Não pude evitar e comecei a afagar sua testa imediatamente.

— Owwwn! Você é tão fofo! — eu disse com a voz de bebê, toda boba. Ele me lambeu algumas vezes e eu ri, feliz. Continuei conversando com ele enquanto fazia carinho, a fim do bichinho se acostumar comigo. Coloquei Bambi no chão e me surpreendi quando ele começou a andar firme pelo quarto, farejando tudo. Para um recém-nascido ele era bem forte!

Coloquei alguns pedaços de broto de bambu no chão e Bambi comeu tudo. Em seguida ele subiu na minha cama e se aninhou perto dos travesseiros para tirar um cochilo logo em seguida. Suspirei, querendo o dar uma bronca, mas a sua expressão de serenidade no rosto me comoveu. Me joguei ao seu lado, suspirando.

— Promete não odiar a sua dona por ter te esquecido no pet shop? — choraminguei, afagando sua cabecinha pouco peluda. Bambi grunhiu e virou a cabecinha para cima, colocando as patas na lateral do rosto a fim de cobri-lo. Um gesto que instantaneamente fez-me lembrar de minha gatinha, Amy. — Vou interpretar isso como um sim. — sorri ternamente para o animal, afagando suas costas.

Virei para ficar de barriga para cima na cama e pensei no que fazer em seguida. Eu ainda não havia tomado banho. Será que os banheiros estariam cheios nesse horário?

— Se eles me criticam de roupa, imagina sem. — fiz uma careta. — Será que... Sou muito diferente? Meu Deus! Será que eles...

Cobri a boca com as mãos. Depois as apoiei no queixo, curiosa. Nas mitologias, autores descrevem seres místicos... Os feéricos, as fadas, extraterrestres, como semelhantes aos seres humanos até certo ponto em sua fisiologia, podendo existir pequenas diferenças nos órgãos sexuais e no tamanho ou no formato do corpo.

— Ai, não acredito que estou pensando nisso. — ri comigo mesma. Então me sentei na cama e olhei para a estante que outrora estivera vazia. Meu coração até começou a bater mais rápido quando os avistei. Não estavam ali antes, estavam? — Livros!

Corri até o móvel e peguei o primeiro exemplar, somente para me desapontar e querer atirá-lo pela janela ao perceber que não era um idioma que eu conhecia. Todos eles. Escritos numa língua que eu jamais havia visto até mesmo na Terra.

Coloquei um pouco de broto de bambu para Bambi e avisei-o que sairia por algum momento, torcendo para que ele entendesse que eu não o abandonei caso acordasse e eu não estivesse por perto. Deixei o quarto, emburrada. Olhei para o teto na busca de alguma inspiração, então escutei crianças gargalhando. Foi aí que eu tive a brilhante ideia de ir procurar o Kero e oferecer a minha ajuda para recuperar o mascote do Mery. Eu tinha uma reputação a construir, afinal de contas.

Sim, seria uma boa ideia demonstrar interesse em participar das coisas aqui. Eu tinha acabado de chegar e precisava conquistar a confiança dessa espécie mágica arrogante. Caminhei decidida até o vilarejo, lembrando de cada afirmação dos rapazes sobre mim. “Não acho que ela seja útil”, “não parece muito habilidosa”, “pode servir como isca em missões”.

— Eu não sou uma inútil. — grunhi. — E vou provar isso!

Espero que Kero pense assim também. Ele era um fofo, literalmente. Ele e Leiftan e Ewelein. Nem os conhecia direito, mas colocaria a mão no fogo por eles, com toda certeza! Foram atenciosos comigo e não me negligenciaram só porque sou diferente deles. Também tinha o Nevra, mas ele era... Peculiar. No meio do caminho, comecei a me perguntar o que deveria fazer para conquistar a confiança deles. Então avistei Kero conversando com um dos feirantes e trotei em sua direção.

— Kero, ei!! — eu disse, um pouco ofegante, ao alçá-lo. Acenei para o feirante, que assentiu para mim e encerrou a conversa com Kero. Ele se virou para me escutar. — Eu posso te ajudar com o Mery, mas preciso saber exatamente o que fazer... Acabei de chegar aqui, não sei muito sobre como as coisas funcionam.

— Oh, olá, Kalina! Poderia mesmo fazer isso por mim? —  ele pareceu feliz.

— Sim! Eu... Bem, eu não tenho nada para fazer e — cocei o pescoço. — Não sei se você lembra da reunião mais cedo, mas acredito que Ezarel não me queira na guarda porque acredita que eu sou uma humana incrivelmente inútil. Eu queria convencê-lo do contrário, sabe?

Kero suspirou.

— Ah, o Ezarel... E-ele... Ele não tem um bom histórico com humanos. — o rapaz tossiu. — Bem, o mascote do Mery é um Lapysa e ainda é um filhote. Ele é um dos mascotes mais tranquilos e dóceis de Eel. Ah! E ele se alimenta de picolé de carne. Sua aparência quando adulto é de porte médio, pêlos longos e asas.

— Asas?? Ele é tipo um cachorro que voa? —  franzi as sobrancelhas.

Kero riu.

— Mais ou menos. Tome, eu tenho alguns trocados de purreuro. — o jovem me ofereceu moedas de prata e de bronze. — Você pode encontrar a ração facilmente na feira, ou na loja para mascotes. Te aconselho a chamar algum dos rapazes para te ajudar a pegá-lo. Nevra é muito bom para esse tipo de missão, ele conhece nossos territórios como ninguém.

— Certo. — sussurrei. — Você acha que... Eu sou de fato uma inútil?

— Sinceramente? — Kero coçou o queixo. — No pouco tempo que passamos juntos pude perceber que, além de ter um ótimo senso de humor, você é perspicaz e inteligente. Com um pouco de estudo e treinamento, poderia se virar bem sozinha aqui nas terras de Eldarya.

Meu coração ficou quentinho de alegria.

— Obrigada, Kero! — abri um sorriso verdadeiro para ele. Depois arqueei a sobrancelha, lembrando-me de comentar algo. — Oh, e por falar nisso... Eu fui até a biblioteca, mas estava fechada.

Kero ajustou o óculos em seu rosto e fez uma expressão de espanto.

— Ah! A Ykhar deve ter trancado. — ele suspirou. — É-é q-que no último ataque nós perdemos vários livros. Achamos melhor tomar essa medida de segurança. Poderíamos nos reunir mais tarde para discutir os horários para você estudar, o que acha?

— Oh. Entendo! Acho uma ótima ideia. — assenti. — Obrigada mais uma vez, Kero! Entro em contato assim que tiver notícias.


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