Quando O Amor Chegar escrita por kcaldas


Capítulo 1
O baile


Notas iniciais do capítulo

Pretendo aqui apenas reescrever o capítulo 24 da novela Orgulho e Paixão, mais especificamente o encontro de Julieta Bittencourt e Aurélio Cavalcante.



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Jorge leva Aurélio à casa de Julieta Bittencourt à procura de Ema. Ao chegar são barrados na entrada, com a exigência de vestirem máscaras para entrarem na festa. Jorge entrega uma máscara ao amigo e Aurélio reclama:

— Jorge, estamos aqui para procurar Ema e não festejar! Sabe muito bem que não tenho nada para comemorar, ainda mais na casa dessa mulher!

— Sim, mas sem as máscaras não podemos entrar no baile! Vista a máscara e vá procurar Ema. É melhor nos separarmos para encontra-la.

— Está bem, mas assim que encontrarmos Ema vamos embora logo daqui.

Aurélio, mesmo contrariado, veste a máscara.

O advogado entra no salão principal da casa, enquanto o filho do Barão procura por Ema no Jardim.

Com mais sorte do que seu amigo, Jorge encontra Ema sozinha apreciando os casais que dançavam no salão principal. Ao avistar a garota ao longe não consegue disfarçar o seu sorriso e logo vai timidamente cumprimenta-la. Com o tempo de dizer apenas boa noite, a música muda e Jorge convida Ema para dançar.

Do lado de fora da residência dos Bittencourt, Aurélio continua sua procura, entretanto, ao invés da filha, avista Julieta, que mesmo de máscara é reconhecida pelo filho do Barão. Pega duas taças de vinho e toma coragem para se aproximar.

— Boa noite Senhora Julieta.

— O senhor me reconheceu? – diz Julieta retirando a máscara e aceitando a taça de vinho.

— Eu reconheceria o seu andar imponente a quilômetros de distância. – diz Aurélio também retirando a máscara.

Julieta por alguns segundos refletiu se aquelas palavras lhe soavam como uma afronta, daquelas que estava acostumada a receber dos homens com quem tinha que lidar para provar sua competência ou se acreditava ser aquele um elogio. Claro que era uma afronta concluiu ela, jamais tinha recebido um elogio de um homem.

— O que o senhor está fazendo em minha casa? Imagino que se está aqui é para me dar uma resposta a oferta que fiz ao senhor e ao seu pai. E então?

— Lamento desaponta-la, mas eu não vim falar com a senhora, estou aqui para buscar a minha filha. Apenas lhe cumprimentei para ser educado, afinal a senhora é a dona da casa, mas não se preocupe, assim que encontrar Ema irei me retirar.

— Que pena! O prazo que lhe dei está se esgotando e até agora o senhor não me respondeu se aceita minha oferta. Pense bem, não acho que é uma solução inteligente esperar o barco afundar para sair dele, a oferta que lhe fiz é generosa...

— Já que estou aqui – interrompeu Aurélio – Podemos conversar em outro lugar? É possível que sem a presença de meu pai encontremos uma solução mais plausível para esse problema que a senhora se tornou para a minha família.

Julieta, mesmo contrariada e visivelmente perturbada com a presença daquele homem, se cala e encaminha Aurélio para seu escritório. Servindo um cálice de licor, Julieta recomeça a conversa:

— E então Aurélio, seja ponderado, o prazo que eu dei a seu pai está se esgotando, aceite minha proposta, que convenhamos, é uma proposta bem razoável pela sua propriedade.

— O que a Senhora ainda não percebeu é que sua proposta, para a minha família, não se trata apenas de valores materiais. Meu pai construiu aquilo tudo, Ema cresceu naquela casa, não posso simplesmente entregar para a senhora e destruir os sonhos de meu pai e de minha filha.

— Sonhos? Do que o senhor está falando? Eu estou falando de uma propriedade falida que eu quero comprar...

— Sim, suponho que estamos falando de coisas diferentes – Aurélio interrompe Julieta novamente – A senhora vê como uma grande oportunidade de negócios, eu vejo como um sonho de minha família que a senhora quer destruir.

— Ora senhor Aurélio, eu não tenho tempo, e muito menos paciência para esse romantismo que o senhor criou – Julieta se levanta irritada. – Eu estou falando de negócios, simples e prático. Sua propriedade está falida eu quero compra-la, apenas isso.

— O que a senhora espera que eu faça? – Aurélio também se levanta – Entregue de mão beijada para a senhora tudo aquilo que meu pai levou anos para construir, uma vida de sacrifícios e conquistas, não posso concordar com isso. Se a senhora...

— Se eu o quê? – Julieta interrompe Aurélio.

— Se a senhora puder cumprir o acordo verbal que fizemos com a torrefação Alencar, teremos tempo para honrar o compromisso, ou então... – Aurélio hesita

— Ou então?

— Ou então aguardar até que meu pai não esteja mais aqui para ver seu sonho ser destruído...

— Sonhos, o senhor insiste em falar de sonhos e agora quer apelar por piedade...

Aurélio, num impulso desesperado para que a Rainha do Café entendesse sobre o que ele queria falar se aproxima e pega a mão de Julieta. Surpreendida ela ameaça sair, mas Aurélio não solta sua mão, então, ela olha pra aquele homem segurando a sua mão e seus olhos não são os mesmos do início daquela conversa, seu coração acelera um pouco, um turbilhão de sentimentos e pensamentos a invadem de uma forma tão devastadora que é impossível controlar, mas esforçava-se para prestar atenção naquilo que Aurélio insistia em dizer...

— Eu não quero acreditar que uma mulher tão admirável é dura demais para não se compadecer de um pedido desesperado de um homem pela sua família...

Julieta fraqueja com o olhar, mas logo se impõe soltando sua mão da dele...

— Pare de romancear essa história homem, na sua frente está uma empresária que propõe a compra de suas terras em troca de não executar a dívida de sua família.

Aurélio percebeu que de alguma forma conseguiu mexer com ela assim como ela também mexia com ele, sentia como se estivesse no meio de um furacão chamado Julieta Bittencourt que mesmo com sua frieza de olhar e dureza nas palavras arrebatara seu solitário coração. Jamais sentira algo semelhante. Sem dúvida tinha amado a mãe de Ema, mas um amor calmo e com a tranquilidade de quem queria formar uma família. Muito diferente do que estava sentindo agora, Julieta transtornava seus pensamentos e invadia o seu coração de modo que seu corpo agia sem ser comandado racionalmente por ele. Inundado por esse sentimento, segurou novamente Julieta, mas agora mais próximo dela, tão próximo que conseguia faze-la sentir seu coração pulsando mais forte e podia sentir o dela também...

— Não me faça acreditar que a senhora não entende do que estou falando. Eu estou falando de sonhos interrompidos, onde estão os seus? Não é possível que não os tenha. É dona de um império, tem filho criado, mas bem se vê que é jovem ainda, linda, com uma vida inteira pra sonhar... – os rostos se aproximam, Julieta não tem forças mais pra evitar o seu desejo, Aurélio não tem mais palavras pra continuar, os olhos se fecham e a fala de Aurélio é interrompida por um beijo.

O beijo dura tempo suficiente para selar aquele sentimento arrebatador que invadia aqueles corações, porém não impedindo o constrangimento daqueles dois. Julieta pensava como podia se deixar levar por aquelas palavras adocicadas e um belo par de olhos azuis? Sim, jamais iria admitir isso, mas não podia negar que Aurélio era muito bonito e parecia encantador com suas palavras doces apelando para sua sensibilidade. O filho do Barão foi muito além do que ela poderia imaginar para conseguir sua clemência.

Ao se dar conta disso Julieta parecia acordar de um sonho, na verdade, não sabia bem se aquilo tudo era o sonho que seu inimigo falava ou se era um verdadeiro pesadelo. Queria aquele beijo, isso era fato, mas agora não sabia o que fazer... só ela sabia tudo que teve que enfrentar pra ser quem ela era, pra chegar onde chegou. Não era agora que iria fraquejar. Quanto ao amor, jamais vivera, tudo que sentiu pelos homens até hoje era nojo e repugnância. O pai de Camilo a deixou viúva cedo, mas com tempo suficiente para escurecer seu coração e traumatiza-la para sempre.

Um segundo após o beijo Julieta, ainda nos braços de Aurélio, os dois ofegantes e com olhares fixos, ela empurra rapidamente o filho do Barão:

— Como o senhor se atreveu?

— Me desculpe, eu não tive a intenção... Ora, mas o que eu estou dizendo? Eu não beijei a senhora sozinho, eu fui correspondido.

— Saia já daqui antes que eu chame alguém para levar o senhor embora.

— Julieta... – ela olha feio pra ele – ainda transtornada – quero dizer... Calma... vamos resolver isso como dois adultos que somos, me desculpe, eu jamais a forçaria a qualquer coisa. Apenas senti que a senhora também queria tanto quanto eu esse beijo, mas vejo que me enganei.

— Sim, o senhor se enganou e quis se aproveitar de um momento frágil em que clamava por minha piedade para seguir com seus impulsos...

— A senhora se engana. Não foi algo calculado. Não me aproveitei de um momento de fragilidade, apenas obedeci ao que meu coração mandou. Jamais tive a intenção de afronta-la e me desculpe se estava errado quanto ao seu coração corresponder ao meu quando nos aproximamos. Eu reconheço que fui impulsivo e peço perdão por isso.

— Saia logo daqui, o senhor já disse tudo que tinha pra dizer, agora vá se embora e leve seu sentimentalismo junto com o senhor. Esse assunto termina aqui.

Aurélio, completamente decepcionado, vai saindo quando Julieta ainda o adverte:

— Acho que já fui clara o suficiente e não preciso nem dizer que esse episódio fatídico não deve sair desta sala. Lembre-se que o seu tempo está se esgotando e eu não usarei de romantismo para cobrar o que vocês me devem, portanto, sonhe menos e aja logo!

Aurélio sai deixando Julieta totalmente transtornada com o que viveu. Agora, sozinha poderia parar de fingir que aquele beijo não significou nada. Aurélio foi embora, mas levou com ele a sua tranquilidade.


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