Nós chegamos à parte colorida de Copenhague depois de uns vinte minutos de ônibus. O transporte demorou um pouco para nos levar para onde íamos. Louis e eu descemos  no ponto de uma rua boêmia, repleta de restaurantes e pubs. Era como uma vila de paralelepípedos com construções coloridas. A larga rua repleta de gente tinha luzes amarelas, laranjas e brancas penduradas em zigue-zague acima de nossas cabeças. Era um lugar bonito e eu estava encantada.

Entramos em um restaurante feito de pedras cinzas. Parecia uma taverna, na verdade.

– Aqui servem a melhor cerveja de Copenhague. É sério! - Louis disse olhando para mim.

Sorri em resposta e olhei em volta. A iluminação amarelada e o chão feito de madeira me lembrou da casa dos Zarch. Achei muito interessante que o local tinha um ar de restaurante e bar daqueles filmes de gângsters com aquela porta de madeira. Quando um garçom ou garçonete passava por ela, esta se balançava para frente e para trás diversas vezes, até parar sozinha.

Louis e eu nos sentamos em uma mesa no meio do restaurante. Não tinha muita gente ali. Ao me ver olhando em volta, ele disse:

– Ainda é um pouco cedo. O pessoal começará a chegar em breve.

Assenti. Uma garconete de cabelos lisos e pretos com uma franja cortada sem simetria alguma veio nos atender. Ela tinha olhos redondos, verdes e grandes e mascava um chiclete verde exageradamente. Nos entregou dois cardápios e nos deu licença para discutirmos o que iríamos pedir.

– Obrigada por me trazer aqui. - disse. - Eu estava um pouco desanimada hoje.

Louis levantou seus olhos do cardápio para me olhar nos olhos. Pareceu surpreso com meu agradecimento e sorriu radiante parecendo completamente satisfeito consigo mesmo.

– Ora, disponha ruiva!

Ri e balancei a cabeça. Passei os olhos pelo menu. Decidi que, o que quer que Louis pedisse para comer, estaria bom. Afinal, eu não conhecia muito da culinária da Dinamarca. Ia querer provar a cerveja, com certeza.

– Este prato com pão, batata-frita e carne de porco parece ótimo. - ele disse.

– Eu também acho. - concordei assentindo.

– Tudo bem. Pediremos esse então?

Aprovei e então Louis pediu para a garçonete de franja torta e expressão entediada nossos pratos e duas canecas de cerveja. Ela se afastou nos deixando a sós. Olhei em volta enquanto sentia Louis olhar para mim. Era estranho para mim estar em um encontro.

– E então ruiva, o que me conta?

Olho para seu rosto.

– Como foi seu sábado?

Respiro fundo.

– A manhã foi... esquisita. Fui conhecer a casa da família para quem vou trabalhar e a casa é linda! Estou boquiaberta com a arquitetura até agora. O sr. Zarch parece ser ótimo. Muito simpático. O filho, em contrapartida... -  faço careta. - Eu não sei.  Ele foi rude. Mas, talvez, só não estivesse em um dia bom. - dei de ombros.

Ele assentiu apreensivo. Os cotovelos estavam apoiados na mesa e seu queixo levemente pousado nas mãos que estavam quase entrelaçadas. O cabelo de Louis brilhava naquela luz. Ele tinha uma beleza exorbitante. Os olhos escuros me olhavam fixamente por debaixo dos longos e espessos cílios. Além disso, seu ombro largo era mais um atrativo debaixo daquela camisa branca de botões. Ele era mesmo lindo!

Acabei sorrindo e encarando a mesa enquanto o fazia.

– O que foi? - ele perguntou abrindo um sorriso largo, branco e alinhado..

– Nada. - balancei a cabeça em negativa. - Bem, me conte como foi o seu sábado.

Ele deu de ombros.

– Ah... normal. Eu levantei cedo para malhar. Depois fui almoçar com o pessoal. Foi a hora que te vi. Não fiz muitas coisas. - deu de ombros. - Meus amigos ficaram curiosos para saber quem era você.

Arqueei as sobrancelhas.

– Eu... não sei o que dizer. Por que ficariam curiosos?

– Eu disse que íamos sair hoje. Eles quiseram saber como consegui um encontro com a maior gata de Copenhague.

Dei uma risadinha. O olhar dele sobre mim era tão intenso que não sabia como não comecei a queimar em chamas como uma fênix. Graças a Deus a garçonete da franja torta chegou com nossas canecas de cerveja. De repente eu estava sentindo um calor terrível e o vestido começara a grudar em minha pele. Assim que a garçonete deixou nossas cervejas, peguei minha caneca e comecei a dar grandes goladas na bebida gelada. Aquila conversa exigia de mim algum teor de álcool.

***

Louis e eu comemos e conversamos por mais de uma hora. Descobri que ele tinha uma irmã mais velha - a que queria ter filhos ruivos - e que ela se chamava Donna. Estava noiva de um cara que era irlandês e tocava gaita de foles em eventos irlandeses fora da Irlanda.

– É muito irritante o barulho que aquela coisa faz e, o pior é que todo final de ano ele leva aquilo para a casa dos meus pais para fazer uma pequena apresentação. - Louis revirou os olhos e eu ri.

– Coitado!

– Não estou sendo maldoso. É sério! Eles namoram há dois anos e, no ano passado, quando ele nos disse que tinha esquecido a maldita gaita em casa, foi um alívio. Algo a ser realmente grato no dia de Ação de Graças.

Cobri a boca para que não cuspisse a cerveja. Gargalhei o que fez ele rir também.

– Ele parece ótimo, Louis. E eu gosto de gaita de foles. Tenho que defender seu cunhado.

Louis balançou a cabeça em negativa, mas estava sorrindo.

– Se um dia conhecê-lo, verá que não estou mentindo.

Reprimi um sorriso. O que fora aquilo? Se um dia conhecê-lo... Aquelas palavras pareciam ter um significado grande dependendo da interpretação.

– Está pronta para pedir a sobremesa? A torta de raspberry daqui é como o céu.

Ri.

– Claro!

E então, nós pedimos dois pedaços da torta e depois de uns dois minutos a garçonete voltou nos dizendo que só tinha um único pedaço. Louis olhou para mim e encolheu os ombros dizendo:

– Eu não me importo em dividir.

Eu balancei a cabeça em negativa rindo e disse que também não me importava. A garçonete deu de ombros e voltou par a cozinha para pegar o pedaço da torta.

Louis pegou seu smartphone quando este vibrou em seu bolso. Uniu as sobrancelhas enquanto lia alguma coisa. Eu me sentia irrevogavelmente atraída por ele. E não se tratava apenas da beleza física. Ele tinha algo a mais. Era simpático, exalava confiança e parecia saber o que queria. Me peguei admirando ele na maior cara de pau, com os olhos fixos em seu rosto como se eu fosse uma louca psicopata. Quando Louis tirou os olhos da tela do celular e voltou a olhar para mim, sorriu de lado e desconfiado.

– O que foi? Tem alguma coisa no meu dente?

Eu tinha o queixo apoiado em uma das mãos. Balancei a cabeça negando e com a sombra de um sorriso nos lábios.

– Não. Só... fico feliz de termos vindo para cá hoje. Estou me divertindo.

Louis pareceu extremamente satisfeito ao ouvir aquilo e neste momento a torta de raspberry chegou. A garçonete colocou um prato quadrado e branco no meio da mesa onde jazia o pedaço da torta. Em cima ela tinha uma espécie de gelatina bem avermelhada com pedaços de framboesa, depois uma camada de cream cheese e a massa amarelinha e crocante feita com bolacha.

Louis pegou uma colher e eu peguei a outra.

– Primeiro as damas, ruiva.

Ele falou aquilo olhando meu rosto  fixamente. Um dos cotovelos apoiados na mesa. Reprimi um sorriso e cortei com a colher um pedaço da torta. Levei até a boca e logo senti o misto de sabor e sensação maravilhosa. A fruta era azedinha, a bolacha derretia na boca e o cream cheese deixava tudo melhor. Fechei os olhos. Eu tinha acabado de ter um orgasmo culinário.

Louis riu e eu abri os olhos.

– Essa foi boa! -  apontou a colher para mim e cortou um pedaço da torta.

Me dei conta de que eu realmente tinha dito aquilo em voz alta. Wendy Cook sempre passando vergonha, senhoras e senhores!