O vermelho de Copenhague escrita por Letícia Matias


Capítulo 32
Trinta e dois


Notas iniciais do capítulo

Bom dia/boa tarde/boa noite (dependendo da hora em que vc estiver lendo haha). Tudo bom com vocês???
Espero que sim!!!
Aaaaah tô trazendo mais um capítulo pra vocês!!!! Espero que gostem ♡♡♡♡



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De: mamaejoannacooke@gmail.com
Para: wendyc@outlook.com

Querida Wendy, nós recebemos o seu e-mail e sentimos muitíssimo em saber de tal coisa. Estamos boquiabertos!
Nem conseguimos imaginar o quanto está sendo difícil para todos aí. E para você, inclusive. Por favor, tente ficar bem!

Sei que é um momento muito delicado, mas precisa saber como vai fazer com o intercâmbio, certo? Será que a faculdade vai te colocar em outro lugar? Tente ficar atenta a tudo isso. Estamos mandando nossas condolências para toda a família Zarch e para você, meu amor. Estamos muito preocupados com você.
Acho que não há como desejar um "tenha um bom funeral", certo? Mas é o que estamos lhe desejando. Fique bem e nos mande notícias logo.
Com amor, mamãe e papai.
Fergus também.

Essas foram as palavras que li enquanto Valerie estacionava em frente ao campus da faculdade naquela noite de domingo. O céu estava de um azul escuro, os postes de luzes amarelas já encontravam-se acesos e tudo estava muito silencioso. O vidro da janela ao meu lado tinha uma pequena brecha aberta, mas eu podia sentir o cheiro forte de terra molhada por causa da chuva que havia caído.

– Obrigada por me trazer até aqui, Valerie. - suspiro pesadamente.

– Sem problemas, querida. Quero que descanse o máximo que puder para que amanhã esteja um pouco melhor para o enterro. Sua cara está péssima.

Provavelmente ela estava dizendo a verdade sobre minha cara. Eu assenti.

– Precisa de ajuda com a mala?

– Não, está tudo bem. Eu... - parei de falar por um instante. Precisei pensar e escolher minhas próximas palavras. - Pode dizer a Jullian que eu sinto muito e que... se ele precisar de algo ainda hoje, ele pode me procurar?

Seus olhos azuis, como os do filho, me analisaram minuciosamente. Isso fez com que eu corasse.

– Claro. - foi sua curta resposta. Igual ao filho.

Fiz um maneio com a cabeça e abri a porta do carro. O cheiro de terra molhada e o vento me atingiu como um soco. Mas foi uma surra bem-vinda. Eu inspirei fundo, preenchendo cada partezinha do meu pulmão, senti que ainda estava viva e então caminhei até o porta-malas. Os faróis vermelhos traseiros me encaravam de volta. Tirei de lá minha mala quebrada e abaixei a porta. Valerie buzinou, não muito alto, e se afastou com o carro. Eu fiquei olhando a Range Hover se afastar e, em algum momento, dei um tchau. Mas acho que ela não podia me ver mais.

Permaneci parada por algum tempo na calçada do ponto de ônibus encarando a estrutura à minha frente.  O prédio parecia maior do que eu me lembrava e eu nem tinha passado tanto tempo fora assim. Era como se ele estivesse inclinando-se à minha direção aos pouquinhos e estivesse preparando-se para me engolir.

Vi um guarda-chuva laranja berrante do outro lado da calçada e uma senhorinha debaixo dele, andando em passinhos curtos. Provavelmente estava indo para a casa. Era a sra. Irin. Ela não me viu e fiquei grata por isso, pois sentei-me no banco do ponto de ônibus e comecei a chorar. Foram lágrimas silenciosas, uma chuva delas escorrendo pelo meu rosto e molhando o tecido jeans do meu vestido. Só consegui reunir forças para entrar no campus, quando as gotas que começaram a molhar meu vestido foram as de chuva, de volta com toda intensidade.

Levantei-me, peguei a mala do melhor jeito que pude, um jeito desengonçado, e entrei no campus.

***

No corredor, parei em frente à porta do meu dormitório e peguei a chave dentro da mala para destrancá-lo. Enquanto o fazia, ouvi alguém dizer:

– E aí ruiva, quanto tempo não te vejo! Como você está?

Fechei os olhos sentindo uma fúria repugnante. Não era disso que eu precisava agora.

– Oi Louis. - me coloquei de pé sem olhá-lo.

Coloquei a chave no miolo e girei algumas vezes para destrancar a porta.

–  Você está bem?

Olhei para seu rosto na mesma hora em que empurrei a mala para dentro com o pé. Ela deslizou no chão. Louis olhou para aquilo e depois para meu rosto. Seu cabelo estava cheio de gel, ele usava uma regata e uma bermuda - ambas pretas - e tinha uma garrafa de água na mão.

– Não e, por favor, não me procure mais. Me desculpa.

Entrei no quarto e fechei a porta com mais força do que pretendia. As lágrimas voltaram a cair. Eu me sentia exausta e tinha um gosto amargo na boca. Parecia que aquilo não passaria.

Me encaminhei até o banheiro. Antes que pudesse fugir do meu reflexo, pude ver meu rosto inchado no espelho. Os cabelos presos no rabo de cavalo estavam bagunçados, alguns fios soltos e rebeldes. Eu estava um horror. Me sentia horrível.

Felizmente, tive tempo de levantar a tampa do vaso sanitário e deixar que o amargo da minha boca saísse. Meu estômago se contraiu com força e eu botei tudo para fora. No caso, o tudo era nada, pois eu não tinha comido nada o dia inteiro. Eu só queria um banho. Precisava muito de um. Foi isso o que fiz.

Arrastando-me lentamente para a banheira onde tinha um chuveiro, me despi. Me certifiquei de que havia um roupão ali para mim e entrei no chuveiro.

Eu me sentei na banheira e, com os olhos fechados, inclinei a cabeça para trás. Senti a água cair sobre meu rosto, molhando meus cabelos e entrando um pouco dentro dos ouvidos. Eu sentia que podia ficar ali para sempre. Era estranho que o ser humano dependesse tanto da água do chuveiro para relaxar, para ajudar a pensar nos problemas. Era reconfortante. Era como um ombro amigo.

Permaneci lá, sentada por minutos. Meus dedos enrugaram-se; tanto os dos pés quanto os da mão e eu chorei. Chorei por sentir a perda do sr. Zarch, que fora um ser humano maravilhoso até onde eu pude conhecê-lo, chorei porque queria estar nos braços da minha mãe naquele momento, porque estava amarga com Louis e esperava não o vê-lo nunca mais e também por causa de Jullian.

Eu esperava saber do que Jullian estava falando antes de Nigel entrar no quarto e nos tirar da nossa bolha. Quais eram os sentimentos que tinham o assombrado? Do que diabos ele estava falando?

Senti-me com frio depois de um tempo debaixo da água. Mesmo que a temperatura estivesse quente. Tomei um banho rápido depois de passar tanto tempo esperando que a água levasse todo o sentimento torporoso. Ao mesmo tempo que me sentia exausta e triste, sentia-me também anestesiada.

Lavei meus cabelos com o meu shampoo favorito. Um shampoo com cheiro de frutas e tomei um rápido banho, esfregando a bucha por cada parte do meu corpo e tentando massagear meus ombros duros - sem sucesso.

Vesti o roupão branco de microfibra e fui até o espelho. Passei a palma da mão em sua superfície embaçada e penteei os fios vermelhos e molhados com uma escova. A cor verde daquelas paredes me enjoavam. Eram horríveis!

Saí do quarto com o estômago roncando e antes que pudesse me sentar na cama, ouvi alguém bater na porta.

Quem será, meu Deus? Será que não posso ter um pouco de paz? Se for Louis...

Eu já estava com todas as minhas defesas armadas, mas, eu não esperava ver a pessoa que estava à minha frente, do outro lado da porta, olhando para mim em um corredorzinho mal iluminado de uma fraternidade. Meu coração disparou e minhas mãos começaram a tremer.

– Eu posso entrar?

Seus olhos azuis estavam tão cansados e injetados como os meus e ele segurava em uma das mãos uma sacola com algo dentro. Cheirava a comida.

– Claro, Jullian. Entre.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que vocês estão ansiosos pro próximo hein.
Genteeee nem acredito que estamos tipo... Nos capítulos finais da história. Só mais cinco capítulos e tudo acaba.
Queria saber se vocês gostaram da história até aqui (leitores fantasminha, essa pergunta tbm é pra vcs kkkkk).
Quais são suas apostas para o final?
Espero muito que gostem de tudo ♡♡♡ r obrigada por acompanharem até aqui!
Até sexta!!!!
Beijos,
Lê.



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