O vermelho de Copenhague escrita por Letícia Matias


Capítulo 3
TRÊS


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal!! Tudo bem? Espero que todos bem.
Aqui está o terceiro capítulo dessa história - que só está começando.
Nesse capítulo eu acredito que vocês vão rir um pouquinho ♡
Espero que gostem.



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No lado de fora dos dormitórios e do campus da faculdade, enquanto Louis e eu caminhávamos lado a lado em silêncio, sem ainda ter começado a correr, observei o céu que tinha uma coloração azul acinzentada. Logo o mesmo estaria preto e repleto de nuvens. A rua estava silenciosa e no momento em que chegamos na calçada, um ônibus azul - o transporte público - passou na rua, sendo o único barulho por um instante. Eu acompanhei o veículo com o olhar por alguns segundos até que Louis perguntou se eu podia segurar a garrafa de água dele por um instante. Olhei-o e peguei a garrafa estendida à mim.

– Obrigado. - disse no mesmo momento em que começou a alongar os braços acima da cabeça.

Fiquei o olhando. Seus braços eram grandes e fortes. Ele devia se esforçar muito em alguma academia para ter ficado daquele jeito.

– É importante se alongar, certo? Posso segurar a garrafa para você fazer os alongamentos.

Como eu podia recusar àquilo sem ser rude? O fato era que eu não me alongava antes de correr, apenas... saia correndo! Como diria isso a ele? Limitei-me apenas a sorrir com os lábios juntos numa linha fina. Ele mudou de alongamento, agora alongando algum lugar da perna. Estava segurando um dos joelhos com as mãos. Louis olhou para meu rosto e perguntou:

– Você é ruiva mesmo?

– Sim. - disse.

Ele assentiu parecendo impressionado, os lábios retraídos para baixo.

– Minha irmã adoraria ser ruiva. Ela diz que, se o filho dela não nascer ruivo, ela vai dar para adoção.

Uni um pouco as sobrancelhas, mas ri achando graça realmente naquilo.

– E é estranho, pois na nossa família não há ninguém ruivo. - ele explicou.

– Bem, não é totalmente impossível. Nem meus pais nem meu irmão é. Apenas eu. Segundo minha  mãe, o tataravô dela era um pouco ruivo, eu acho. Ela disse que meu pai a acusou de tê-lo traído quando me viu no berçário. - ri e Louis fez o mesmo. - Minha avó meio que teve de... caçar uma foto do tataravô para tentar prová-lo que era possível. Mas no fim das contas, as fotos eram tiradas em preto e branco naquela época.

– É... as circunstâncias não favoreceram sua mãe.

– Não mesmo. - concordei rindo.

– Pronto, pode deixar que seguro as garrafas para você se alongar.

Estendi sua garrafa de água e disse que não precisava se incomodar.

– Qual é! Eu seguro a sua.

Sorri meio desconfortável.

– É que... eu não me alongo antes de correr.

– O quê?! - ele perguntou sorrindo. - Mas você deve fazer isso. É perigoso distender um músculo ou tendão. Vamos, eu ajudo você.

Louis ultrapassou uma barreira ao pegar a minha garrafa gentilmente da minha mão e pousar ela e a dele no chão ao nosso lado. Observei-o curiosa e com o coração martelando um pouco mais forte. O que ele ia fazer? Quando ficou em uma posição reta novamente disse:

– Primeiro as pernas. Levanta a perna esquerda e se segura no meu ombro. Eu seguro sua perna no alto, o mais alto que você puder levantar, para alongar.

Meio desconfiada, segurei com a mão esquerda em seu ombro e levantei a perna direita de modo que ela não subiu muito e os joelhos continuaram dobrados.

– É o máximo que consigo. - confessei fazendo um esforço.

Eu sinceramente não poderia fazer mais nenhum esforço ou gases não muito cheirosos acabariam saindo do lugar onde não deveria.

Louis riu e com as duas  mãos ajudou minha perna a ficar reta por alguns instantes. Senti meu pé ficar dormente e minha panturrilha formigando.

– Tá ok, chega. - falei fazendo uma careta de dor.

Ele soltou minha perna e eu, sentindo-me um pouco mais mole, fui até seu lado direito para segurar-me novamente no seu ombro, assim ele poderia segurar minha perna esquerda.

– Você se exercita com frequência? - perguntou enquanto alongava minha outra perna.

– Não. Eu gosto muito de correr. Pelo menos umas duas vezes por dia por uns vinte minutos. Mas não curto muito me exercitar tipo... academia.

– Entendi.

Quando Louis soltou minha perna esquerda, estendi meus braços acima da cabeça e os alonguei como ele havia feito pouco tempo atrás. Ele me analisou de cima a baixo e depois se curvou para pegar ambas as garrafas na calçada. Mexi meu pescoço algumas vezez, provocando pequenos estralos e depois peguei minha garrafa.

– Obrigada.

– Claro. Vamos?

Assenti e começamos a correr em um ritmo lento; mais como passos pulados.

– Então, há quanto tempo está aqui?

– Cheguei essa semana. E você?

– Ah já faz um pouco mais de um mês. A comida daqui é ótima, não é?

– Acho que sim. - não soei muito convincente. - Comi uma espécie de pão e era muito gostoso.

Louis riu olhando à frente.

– Smørrebrød. É mesmo ótimo.

O modo como ele pronunciou a palavra me impressionou. Parecia um dinamarquês falando. Disse isso a ele e ele riu novamente.

– Ah já estou aqui já faz um tempinho. Estou aprendendo bastante. É assustador no começo, mas você também vai aprender algumas coisas rapidinho.

– Espero que sim.

O nosso passo aumentou sem ao menos perceber. Perguntei o que ele fazia aqui na Dinamarca e ele respondeu:

– Estou no meu penúltimo ano de fisioterapia. Poderia ter escolhido fazer o intercâmbio ano que vem mas... - deu de ombros - preferi este ano.

Assenti. Então era por isso que ele havia insistido no negócio dos alongamentos.

– E você, ruiva? O que te trouxe à Dinarmarca?

Sorri com o "ruiva".

– Estou no último ano de enfermagem.  Ficarei aqui por alguns meses. Na verdade, vou me formar aqui.

Suas sobrancelhas se ergueram.

– Que legal, nossa! Uma ótima oportunidade. Acha que vai querer voltar para os Estados Unidos?

– Claro! Eu amo a terra do tio Sam.

De soslaio pude vê-lo me olhar. Olhei para seu rosto. Ele tinha um sorriso de divertimento e me olhava como se eu fosse um pouco louca.

– Por que está me olhando desse jeito? - perguntei ainda o olhando enquanto corria.

Ele deu de ombros e antes que eu pudesse ouvir sua resposta, tropecei em algo fora da minha visão e ameacei a cair. Louis tentou agarrar meu braço e impedir que aquilo acontecesse, mas eu consegui ralar ambos os joelhos no chão e uma das mãos.

– Merda! - xinguei baixinho.

– Você está bem? - ele perguntou me ajudando a ficar de pé novamente.

Enquanto minhas pernas voltavam a sustentar meu corpo, sentir ambos os joelhos doerem e a pele pareceu rasgar um pouco mais. Fiz uma careta enquanto ele olhava para meu rosto e depois para ambos os joelhos ralados.

– Cara, isso está muito feio. Tem uma farmácia aqui perto. Podemos ir até lá comprar algo pra limpar isso.

– Eu acho que não vou conseguir ir até lá.

Vi a farmácia pintada de azul e um letreiro amarelo neon acima do estabelecimento. Era do outro lado do quarteirão, mas meus joelhos doíam terrivelmente e estavam sangrando.

– Tudo bem. Fique aqui sentada que eu vou comprar algo.

Louis me ajudou a sentar na calçada e se afastou correndo até a farmácia. Fiquei o observando enquanto o fazia. Suas costas largas se destacavam com a regata branca. Ele era... interessante. E incrivelmente paciente com uma palerma que tinha conseguido ralar ambos os joelhos. Sinceramente, que vergonha! Queria que um buraco me engolisse.

Olhei em volta e coloquei o capuz na cabeça protegendo minhas orelhas do vento gelado. Minha respiração condessou no ar por um instante. Estávamos em um cruzamento. No quarteirão à minha frente havia uma espécie de reserva florestal, praça ou parque - cheio de árvores-  e do outro lado da rua, em minha diagonal, uma fileira de casas coloridas se encontravam com luzes acesas.

Era como o subúrbio. Muito calmo e surpreendente. Os postes de luz deixavam as ruas iluminadas. Ouvi passos apressados atrás de mim e olhei para cima quando ouvi Louis dizer um "voltei".

Ele se agachou ao meu lado e deu uma olhada no ferimento. Fiz o mesmo. Estava muito feio. Ele tirou de dentro de um pequeno saco de papelão pardo algo que parecia água oxigenada para limpar e algodão.

– É uma espécie de antisséptico. - ele disse enquanto despejava uma quantidade do líquido no algodão. - Pode ser que vá arder um pouco.

Olhou para o meu rosto apreensivo e eu assenti. Observei seus dedos segurarem o algodão e pressionarem a superfície molhada e macia contra minha pele rasgada. Senti um ardor espalhando-se e queimando. Com um reflexo retraí minha perna.

– Perdão, mas tá muito feio isso aí. É melhor limpar.

– É, eu sei. Você não precisa fazer isso. - digo pegando o algodão. - Já fez demais de comprar as coisas.

Ele revirou os olhos e sorriu.

– Não seja boba, ruiva. Você faria o mesmo.

Reprimi um sorriso e estreitei os olhos.

– Como pode estar tão convicto de que sou uma boa pessoa?

Ele deu um sorriso presunçoso e depois deu de ombros.

– É só uma intuição. Você é uma enfermeira. Se não gostar de cuidar de alguém, então está vivendo uma mentira.

Ri e terminei de limpar o sangue de um dos joelhos.

– Acho que você tem um ponto.

– Só um? Tenho que ter quantos pontos para poder te convidar para sair e levar um sim como resposta?

Olhei para seu rosto surpresa com aquilo. Ele sustentou meu olhar com fervor e eu senti minhas bochechas arderem. Seus olhos escuros estavam estreitos. Não consegui deixar de sorrir enquanto desviava meu olhar para meu joelho ralado.


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Notas finais do capítulo

Será que já temos um shipp aqui, produção? Kkkkkk
Bem, espero que estejam gostando. Adoraria saber o que vocês estão achando da história.
Um grande beijo e até o próximo capítulo ♡



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