O vermelho de Copenhague escrita por Letícia Matias


Capítulo 24
Vinte e quatro


Notas iniciais do capítulo

Oi oi pessoal! Tudo bem com vocês? Eu espero que sim!!!
Então, estou aqui trazendo pra vocês mais um capítulo!! Espero muito que gostem e que estejam sobrevivendo à essa greve viu. Porque tá difícil demais



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Tive um sono agitado naquela noite. O som incessante do mar pareceu me perturbar ainda mais. Sonhei o mesmo sonho durante toda a noite. Pelo menos foi o que deduzi, já que o sonho pareceu incrivelmente longo, como um filme do Tarantino.

No sonho, eu estava com a camisola que estava usando para dormir e, surpreendentemente, por alguma razão desconhecida, comecei a ter consciência do meu sonho quando me vi no meio de uma floresta. Parecia mais a ilha de Lost. Estava rodeada de verde e acima de mim um sol brilhante reluzia num céu pincelado de nuvens brancas em constraste com um céu azul claro nítido.

Comecei a andar pela mata desconhecida. Ouvia o som do mar. O que podia me dar uma pista de que eu estava em uma espécie de ilha ou perto de uma praia. O cheiro era de algo ácido e almiscarado. Caminhei sozinha e calma - o que era estranho julgando o fato de eu ter medo de estar sozinha dentro de uma mata. Eu não era muito fã de mato desde que papai e Fergus começaram a assistir à Largados e Pelados.

Após caminhar pelo o que me pareceu alguns minutos, avistei à minha frente o branco da areia da praia. Eu caminhava em passos lentos até lá e quando cheguei onde meus olhos tinham visto antes, meus pés - descalços - tocaram um chão arenoso, morno e fofo. À minha frente, um mar azul cristalino me encarava de volta. Era vasto e de tirar o fôlego. Senti-me feliz e sorri.

Por alguma razão desconhecida, olhei para o meu lado esquerdo e vi um homem caminhando até mim. Ele era alto, tinha a pele dourada bronzeada pelo sol, usava uma bermuda jeans clara, uma camisa de botões com mangas três por quatro com vários botões abertos. Seus cabelos eram loiros - quase dourados naquele sol intenso. Ele vinha em minha direção e sorria. Era um sorriso magnífico, com a capacidade de hipnotizar alguém.

Quando meu subconsciente se deu conta de quem era no meu sonho, despertei assustada e com o coração martelando. Eu tinha uma camada fina de suor pelo corpo. Estava com calor. Me sentei e olhei em volta.

Era insano perceber que no carpete de madeira velho, havia um grande quadrado refletido pela luz solar que entrava pela janela. Eu podia ver os folículos de poeira flutuando pela luz solar que ia até o chão. Minha boca estava seca. Aquela foi a primeira vez que sonhara com Jullian Zarch. Para todos os efeitos, a primeira experiência fora irrevogavelmente assustadora. Permaneci sentada no meio da cama, o pobre coração tentando se acalmar depois de um sonho deveras perturbador.

Quando tive forças para levantar-me da cama confortável, fui até a janela para observar a paisagem lá fora. O dia estava lindo, ao contrário do anterior. Aquilo fez meu coração pular desenfreado com expectativas. Não sabia muito bem quais eram elas.

Ainda um pouco perturbada, peguei uma muda de roupa e fui para o banheiro. Tranquei-me no ambiente pequeno para tomar uma ducha morna. Decidi lavar o cabelo apesar de tê-lo feito no dia anterior.

***

Quando adentrei na cozinha, quatro pares de olhos se puseram em cima de mim. Nigel exclamou um "feliz aniversário" todo sorridente e me envolveu em um abraço de urso. Não pude deixar de sorrir.

– Obrigada Nigel.

Todos sorriam, menos Jullian. Ele não estava com a habitual cara amarrada, apenas impassível da situação. Nossos olhares se encontraram enquanto ele levava a caneca de café até sua boca. Desviei o olhar sentindo meu coração querendo rasgar o peito. Betty Berry veio me abraçar com seus bracinhos magros e eu retribuí sorrindo e agradecendo suas felicitações.

O sr. Zarch apertou minha mão sem muita força e também me felicitou dizendo que estava muito feliz de estar comigo em um dia tão especial.

– Obrigada Frederick. - sorri segurando suas duas mãos. - Eu me sinto lisonjeada de estar aqui com vocês. Vocês são ótimos.

Betty Berry me serviu uma caneca fumegante do seu café maravilhoso e cheiroso. Só ela sabia fazer um expresso sem ter uma máquina em casa. Beberiquei alguns goles olhando para a mesa de madeira qual rodeavamos no instante. Ouvia de modo distante Nigel falando sobre algum restaurante da região. Por algum motivo, meus olhos foram para Jullian e ele também me encarou.

– Querida, o que acha de uma caminhada matinal na praia?

A voz de Frederick fez com que eu voltasse minha atenção para ele.

– Eu acho uma ótima ideia! Assim que o senhor quiser, podemos ir.

– Ótimo. - ele respirava um pouco ofegante, mas sorriu daquele mesmo jeito de sempre, o lábio repuxado para baixo. - Vai nos acompanhar, filho?

– Não, eu tenho que ligar para o trabalho e ver algumas coisas.

***

O sol estava digno de aplausos. O dia estava lindo, o céu de um azul intenso com nuvens perambulando lentamente. Eu empurrava a cadeira de rodas sobre a areia da praia. O sr. Zarch tinha insistido em andarmos na orla da praia, onde as rodas não poderiam ficar presas e onde a água chegaria ao seus pés. Eu aceitei, mas estava preocupada em vir uma onda mais forte. Eu com certeza não saberia agir se a onda levasse a cadeira com o sr. Zarch. Expus tal preocupação para ele, o que lhe causou um severo ataque de riso.

Eu ri também.

– Estou falando sério! Imagine só! Que diabos eu faria?

– Não se preocupe com isso, Wendy. Seria como os corpos que flutuam no rio Ganges. Purificador!

Aproveitando que ele não podia ver minha expressão de incredulidade, uni as sobrancelhas. O sr. Zarch realmente levava tudo aquilo à sério. A água salgada chegou aos nossos pés, lavando-os, purificando-os.

– Posso perguntar uma coisa, Frederick?

– É claro, minha querida.

Encarei o horizonte à minha frente. Bem de longe eu podia ver algumas pessoas brincando com um cachorro. A brisa leve agitou meus cabelos quase secos, a areia fofa e molhava enterrava meus pés a cada novo passo. Atrás de mim, vestígios de minhas pegadas ficavam para trás. As rodas da cadeira de rodas traçavam uma trilha na areia escura e empapada.

– O senhor tem medo da morte?

Ele respirou fundo e demorou alguns segundos para responder.

– Da morte, não. Tenho medo do que acontecerá à Jullian depois da minha partida. Ele sofre muito.

Engoli em seco.

– O senhor não tem medo do desconhecido?

– Não, querida. Eu tenho medo é de sofrer pelo resto da minha vida. Em morte não sofremos, sofremos enquanto vivemos.

Me calei. Aquilo eu não entendia. Acho que tinha medo demais de morrer subitamente. Tinha medo do que vinha depois. Apesar de frequentar a igreja todos os domingos por causa de mamãe, não era religiosa e tinha minhas dúvidas sobre o que acontecia depois de morríamos. Ás vezes achava que inventávamos coisas apenas para nos confortar. A verdade é que não sabíamos de nada ao certo.

– Você ficou muito calada. - o sr. Zarch deu uma risadinha.

– Desculpe. Estava só pensando. O senhor já esteve na Índia?

– Já. Magnífico! Você deveria ir, um dia.

– Se tiver a oportunidade... - dei de ombros.


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Notas finais do capítulo

E aí gente? Gostaram do capítulo. Se eu fosse a Wendy estaria realmente apavorada, porque quando sonhamos com os possíveis crushes, aí é que o negócio fica feio pro nosso lado. Help Wendy, seicomé!
Espero que estejam ansiosos para os próximos capítulos (eu tô e muito pra postar eles).
Um beijo grande e até sexta ❤



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