Protegida escrita por Larissa Gomes


Capítulo 2
Capítulo I


Notas iniciais do capítulo

Cá está o primeiro capítulo.

Boa leitura, meus queridos! ♥



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“Não sei se considero-me uma péssima ou ótima dama de companhia... Talvez um pouco dos dois. No primeiro caso, por auxiliar Livie a entrar em casa de forma clandestina, isto às 05:30 hrs da manhã, após ter ajudado-a a passar a noite toda fora. E, no segundo caso, por saber que fiz isto pelo amor que sente e pela certeza que tem de ser correspondida. Sinto-me uma fada madrinha! Travessa, diga-se de passagem.”

 

Trecho retirado do diário da Srta. Catherine Scott, escrito dia 22 de Fevereiro de 1814.



Duas semanas depois.

 

— Tem que manter-se calma... – Catherine tinha os olhos marejados, mas ainda assim tentava melhorar a condição dos olhos de sua dama. – Olívia, por favor. – Ajoelhou-se aos pés da corpulenta cadeira disposta no salão rosa da mansão dos Taylor Moore. – Olhe para mim! – Exigiu, sabendo que em qualquer outro lugar não seria esta a forma de uma acompanhante tratar sua dama, mas consciente de que a relação que ela e Olivia compartilhavam era muito além desta, ao menos intimamente.

— Cathe, eu não posso! Eu não... – Um soluço misturado a forte náusea a fez tampar a boca com o dorso da mão direita, que ainda segurava o famigerado bilhete.

Famigerado... seria isto ainda um elogio? Talvez, maldito bilhete fosse mais cabível à situação, tendo em vista que o mesmo era redigido pela irmã americana de John (a única pessoa, fora Catherine, que sabia de todo romance), e comunicava o fatal naufrágio do navio onde estava o rapaz.

— Eu não consigo... – Livie forçou-se a terminar por dizer, quando os fortes espasmos se apossaram dela mais uma vez, resultado do forte choro que a alagava a face e a alma.

— Não é uma questão de conseguir ou não, Livie... – Catherine lhe agarrou as mãos, com as luvas de ambas tocando-se. – O Conde chegará aqui a qualquer momento e você precisa saber que não vão deixar-lhe abandonar a sala sem dizer a verdade se a encontrarem desta maneira... Nestas condições. Por favor, respire...

O coração de Catherine despedaçava-se completamente ao ver Olivia assim.

Haviam sido amigas desde o primeiro momento em que Catherine lembrava-se ser gente. Muito além disto, aliás. Sabiam serem irmãs, desde que tiveram idade para compreender certos diálogos, o que ocorreu por volta de quando possuía dez anos e Olivia, onze.

Lorde Moore, Barão de Okehampton, pai de Olivia – aliás, das duas moças- Envolvera-se em um caso amoroso com a camareira de sua primeira esposa, mãe de Olivia, anos atrás, tendo esta relação gerado uma filha ilegítima.

Por anos, Lady Suzan, sendo já a segunda baronesa – e madrasta de Olivia -, não desconfiara de nada, continuando a possuir sua camareira e a criança que esta havia tido (e que, segundo ela, era fruto de um furtivo encontro inconsequente) em alta estima. Tanto era, que não levantou objeções ao ouvir o barão dizer que a pequena Cathe deveria compartilhar os ensinamentos ofertados à primogênita fruto de seu primeiro casamento, Olívia.

Entretanto, quando Catherine havia completado dez anos, sua mãe sucumbiu a uma violenta gripe, morrendo em questão de semanas. O Barão, que possuía a mulher em alta consideração e mais ainda à menina, negou veementemente que sua esposa enviasse Cathe aos avós maternos, que residiam em um condado distante. E, ao notar a incomparável fúria do Barão em sua clara objeção, clareou-se na mente de Suzan o quão parecido eram os olhos do Lorde e de sua protegida, fazendo-o saber, através de gritos e memoráveis instantes de completo desespero, que o havia descoberto, e que nunca poderia perdoar tal traição.

A questão de maior interesse neste descobrimento protagonizado pela baronesa, é que abaixo da janela da biblioteca onde ocorria a discussão, estavam com os olhos esbugalhados a pequena Olivia, junto à sua amiga Cathe e, salvo que nunca diriam a ninguém, estavam naquele momento, saboreando de forma completamente grata, o presente adorável que o destino as havia concedido. Enfim eram irmãs, da forma como haviam desejado desde sempre.

E é por esta razão, por este sentimento completamente sincero e mútuo, que Olívia compartilhava com Catherine todos os segredos de sua vida, e lhe tinha mais intimidade do que com as duas irmãs mais novas em dois e três anos, respectivamente. E era também por esta razão que, agora, Cathe buscava acalmar o coração da moça de forma desesperada, sabendo que o menor passo em falso, arruinaria a jovem.

— Livie... – Catherine ergueu-se nos joelhos, buscando alcançar com as mãos delicadas o topo da cabeça alva, acariciando-a. – Se o conde tiver o menor acesso ao que aconteceu para te deixar desta forma, irá desfazer imediatamente a sua intenção de casamento com o filho dele... E seu nome, sua casa, suas irmãs e tudo mais o que lhe é precioso, estará completamente perdido.

Não era exagero. Se o conde ao menos desconfiasse de algo semelhante á verdade, a reputação de Livie estaria seguramente arruinada, levando consigo sua madrasta e suas duas irmãs, completamente inocentes. Estaria mais do que perdida a oportunidade de Olivia dar-lhes um novo teto, tendo em vista que o falecimento de seu pai as deixara completamente à mercê de um desconhecido primo, herdeiro por direito do título e das terras que possuíam.

A sorte de todas, era que o referido primo encontrava-se fora do país, e demoraria algum tempo até ficar por dentro de seu recente golpe de sorte (ou sangue). Tempo este, mais do que suficiente para que a beleza e bom nome de Olivia garantissem-lhes um futuro digno e á altura do que estavam acostumadas.

— Não percebe, Catherine... – Livie respirou fundo, queria deixar claro o que se passava em seu interior. – A vida já me levou tudo quando levou o homem que possuía meu coração, minha alma e minha honra... – Os olhos dela estavam completamente foscos e Cathe percebeu, naquele momento, que o amor que ela nunca sentira por rapaz algum, talvez não fosse um bom sentimento para desejar.

— Não pode dizer isto... Pelo amor de Deus, não pode! – A moça de negros cabelos ergueu-se em um salto, erguendo também o queixo de sua dama para observa-lhe francamente. – Você tem uma família! Por todos os céus... Me parece mais do que injusto dizer que não possui nada, justo em minha presença... Por favor, Livie... Não pode abandoná-las!

Existia um sentimento único e mútuo, que unia Catherine à Olivia. Este sentimento, por mais estranho que parecesse não se espalhou por Margot e Sophie, as duas irmãs mais novas, quando Cathe finalmente soube do laço sanguíneo. Mas, de alguma forma, ela as queria muito bem. Elas eram suas irmãs também, ora! De forma ilegal, ela admitia, e jamais reconhecida por ninguém além dela (e talvez Olívia), mas ela assim as considerava, e não queria ter de acompanhar de forma triste o pouco sangue que a fazia companhia em um mundo tão grande, jogado à relva, passando pelas absurdas necessidades que previa-se à uma reputação jogada à lama.

“Você não pode abandoná-las.”

Estas últimas palavras de Cathe ressoaram na mente de Olivia.

Ela, de fato, não poderia. Não suas irmãs. É verdade que Olivia era dona de um coração generoso, mas há muito havia retirado a madrasta de suas preces, percebendo que não adiantava portar-se como a melhor das enteadas, pois nada a faria aprovar o fato de Lorde Moore tê-la amado primeiro, antes de suas filhas Margot e Sophie. E, como é possível prever, a proximidade e lealdade com a qual Olivia sempre tratou Cathe – a bastarda- não a tornava mais agradável aos olhos de Lady Suzan.

E foi pensando em suas irmãs, com uma força que desconhecia ter e um profundo respirar, que Livie buscou sorver todo o sofrimento para dentro de si, para dentro do canto mais secreto de seu coração. Enquanto seguia respirando tão fundo que era necessário fechar os olhos, Cathe lhe enxugava as lágrimas ainda úmidas e arrumava os fios de cabelo colados à sua testa e nuca já suadas pelo nervoso.

E então, quando o rosto de Olivia já demonstrava uma leve melhora, o mordomo, Wiffle, entrou no salão com sua rotineira e impecável postura.

— O Conde de Griffinwood está aqui para vê-la, juntamente à seu filho, Lorde Wood, Lady Moore. – A voz de Wiffle era grave, mas, contraditoriamente, suave.

Os olhos de Catherine abriram-se como arcos. Lorde Jaime nunca havia visitado Olivia pessoalmente. Apenas o pai dele costumava fazê-lo, uma vez que era o responsável pela sondagem do enlace matrimonial. Logo, a presença de Lorde Wood apenas servia para deixar claro que seria este o dia da formalização do pedido.

Observando de forma suplicante os olhos de Cathe, Olivia deixou-se responder o necessário.

— Permita-os entrar.


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Notas finais do capítulo

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