Laços de Amor escrita por Lelly Everllark


Capítulo 4
IV. Família.


Notas iniciais do capítulo

Vooooltei!!
Desculpem a demora, mas como eu já tinha explicado esses capítulos saem de forma esporádica e quando der. Hoje deu (finalmente!) u.u
E é isso, BOA LEITURA!! :3



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  Tédio.

  Essa única palavra resume bem o meu dia. Noah havia pegado um resfriado e resolvi tirar um folga para ficar com ele. Mas passar a manhã toda com um bebê de sete meses em plena quarta-feira é um tédio. A parte boa disso tudo era que meu pequeno havia se recuperado bem e agora estava muito empenhado em engatinhar por toda a sala tentando me deixar louca.

  - Você não estava doente até ontem a noite, espertinho? – pergunto ao bebezinho fofo que se enfiou debaixo da mesa de centro com um carrinho na mão.

  A maioria das mães podiam achar que deixá-lo assim pelo chão era errado ou sei lá. Mas eu fazia mais o estilo “o que não mata engorda”, Tony sempre ria quando eu dizia isso, mas não reclamava, deixar os pequenos livres para explorarem, se sujarem e descobrirem as coisas por si só parecia muito mais estimulante e com certeza mais divertido. Eu havia pegado Noah com um batom meu semana passada, ele comeu um pedaço, passou um pouco no rosto e resolveu pintar o forro da cama com o resto. Quando vi a cena não sabia se ria, chorava ou o levava ao médico, por fim tirei uma foto e resolvi perguntar a tia Cassy se eu precisava me preocupar.

  Ainda estava rindo das lembranças e tentando tirar o bebê de debaixo da mesa quando meu celular tocou.

  - Um minutinho, Noah, não saia daí, mamãe já volta – pedi ao bebê e fui buscar o celular. – Alô? – atendi voltando a sala só para não encontrar o pequeno onde o deixei.

  - Sra. Whitmore? — alguém perguntou do outro lado da linha e eu praguejei.

  - Cassete!

  - Senhora? — quem quer que seja perguntou surpreso, era a voz de uma mulher.

  - Desculpe, não é com você. Sou eu sim, Elisa Whitmore, quem gostaria? – pergunto sorrindo. Eu adorava ser a “Sra. Whitmore”, mas agora eu não podia curtir isso, meu filho ainda estava desaparecido.

  - Eu sou Elisangela, a secretária da diretora Karina. Preciso falar com a senhora sobre...

  - Mas que merda! Cadê você seu espertinho? – murmurei começando a entrar em pânico, eu havia perdido o meu filho no meio da sala de estar da minha casa. Mas precisava de uma sala tão grande? É tudo culpa do bonitão!

  - Senhora? — a tal secretaria me chamou e eu suspirei. Será que ele tinha ido parar na cozinha?

  - Você é secretária de quem mesmo, Rosangela?

  - Elisangela. Sou secretaria da diretora da escola dos seus filhos. A senhora está pelo menos me ouvindo?

  - Estou, não estou? Se quisesse já tinha desligado na sua cara. Eu consegui perder o meu filho dentro de casa, você tem alguma coisa importante para me falar além do seu nome ou posso desligar? – pergunto irônica. Não estou com tempo pra conversa fiada.

  - Seus filhos se meteram em uma confusão com um colega durante o recreio hoje — Elisangela começa e eu suspiro, era realmente só o que faltava. Vou até a cozinha e respiro aliviada ao encontrar o bebezinho fujão debaixo de uma das cadeiras da mesa. Vou até ele e o pego no colo.

  – Graças a Deus – murmuro beijando sua cabeça.

  - Sra. Whitmore?

  - Não foi com você, lembra do tal filho desaparecido? Então, achei. E que história é esse que aqueles meus anjinhos se meteram em confusão?

  - A diretora quer conversar com a senhora. Poderia vir buscar seus filhos agora?

  - Estou indo – aviso a ela que se despede e desliga logo em seguida. Olho para Noah que está tentando comer o pingente do meu colar e suspiro. – O que será que seus irmãos aprontaram?

  Não está faltando muito para o horário de saída dos gêmeos por isso só preciso pedir a Marco para pegar o carro. Troco Noah, o prendo na cadeirinha para garantir que não terei mais sustos como o de agora a pouco e só então resolvo me trocar também e arrumar o cabelo, mas sempre com um olho no espelho e outro no bebê preso na cadeirinha em cima da cama.

  O trajeto até a escola é rápido e meu mini bonitão acaba dormindo no caminho. Quando saio do carro e Marco me entrega Noah com cadeirinha e tudo peço para ele voltar para casa. Não sei se vou demorar e não quero que ele fique aqui esperando à toa.

  - Me ligue assim que terminar – ele diz dando partida no carro.

  - Pode deixar – sorrio seguindo para os portões da escola onde fui abandonada no primeiro dia de aula.

  - Lisa!? – ouço a voz de Lena e paro me virando para trás. Minha amiga acaba de descer de um taxi usando jaleco e tudo ainda. – fazendo o quê aqui? – pergunta se aproximando.

  - Parece que Analu e Drew se meteram em confusão. E você?

  - Aparentemente o mesmo que você. Acabaram de ligar dizendo que Matt se meteu em confusão também – ela diz sorrindo e sorrio também.

  - Qual a probabilidade de ser a mesma confusão?

  - Cem por cento – garante minha amiga e nós terminamos de cruzar os portões. Não é difícil dizer ao porteiro por que viemos, nem encontrar a diretoria. Quando chegamos lá tem uma mulher morena de cara feia e ar irritado. Provavelmente a mãe do tal “colega” que também está metido na confusão.

  - Sra. Whitmore, Sra. White, que bom que chegaram! – uma mulher de uns vinte e pouco anos da qual reconheço a voz, a tal secretária Elisangela, nos sorri. – Sra. Carter – ela olha para a morena que está de cara feia. – A diretora Karina via recebê-las agora, as crianças já estão lá dentro, podem entrar.

  Elisangela nos apontou a sala e nós seguimos até lá, mal entramos e uma enxurrada de crianças começaram a falar ao mesmo tempo.

  - Foi o Caio que começou mamãe! – era a voz de Analu que se sobressaia facilmente acima das dos três garotos presentes ali. Será que milha filha era escandalosa?

  - Chega. Silêncio! – pediu a diretora e os pequenos se calaram assustados. Karina era uma senhora de meia idade com alguns fios brancos e rosto sério, mas era só ter dez minutos de conversa com ela que você descobria que ela era um amor de pessoa, só que obviamente ela não deixava as crianças saberem disso.

  - Diretora, meu filho foi agredido – a senhora Cara Feia reclamou e eu e Lena trocamos um olhar de “Sério mesmo?” antes de olharmos para o tal Caio, tinha mesmo que ser Caio, né? O garotinho parecia perfeitamente bem.

  - Sra. Carter, foi só um mal entendido, certo crianças? – Karina olhou para os pequenos que assentiram freneticamente mesmo que parecessem não concordar com ela.

  - O que aconteceu? – pergunto colocando a cadeirinha de Noah no chão por que meu bebê é muito fofo, mas já está começando a pesar. Vi encima da mesa de Karina um desenho com os familiares traços de Analu, minha princesinha era uma verdadeira artista de cinco anos. Parte da folha estava rasgada.

  A diretora olhou para as quatro crianças que se encolheram, os garotos todos desviaram os olhos, menos Analu que olhou para o desenho encima da mesa.

  - O tema da aula de hoje era família – Karina começa pegando o desenho que falta uma parte e o pedaço rasgado também. – As crianças tinham que desenhar suas famílias, eles iriam construir uma árvore genealógica não muito convencional. Em uma folha tinham que desenhar as pessoas que moravam com eles. Normalmente os pais e irmãos. Depois os tios e primos mais próximos e assim foram sem maiores problemas. Nossa confusão começou quando a professora pediu a eles que desenhassem os avós.

  - Como isso se tornou um problema? – é Lena quem pergunta, os pequenos estão olhando para todos os lugares, menos para a gente.

  - Aparentemente Anna Laura desenhou mais avós que o usual e isso gerou um pequeno conflito – Karina diz tranquilamente e eu, Lena e a Sra. Cara Feia olhamos para minha pequena. Ela sorri de forma tímida.

  - Mais avós, como assim, como meu filhou terminou agredido? – a mãe de Caio suspira impaciente.

  - Sra. Carter, peço por gentileza, que não use a palavra agressão, eles são crianças de cinco anos que tiveram um pequeno desentendimento – a diretora a olha feio e ela assente de má vontade. – Pelo que a professora me contou, sua filha, Sra. Whitmore, desenhou cinco avós na folha e Caio disse que não era possível ela ter tantos assim. O pequeno tentou puxar o desenho das mãos dela e acabou o rasgando – ela mostra os pedaços do papel em suas mãos. – Normalmente o que se espera é que a criança relate o ocorrido à professora, mas Anna Laura foi resolver o problema sozinha – Karina abre a gaveta de sua mesa e puxa de lá uma folha amassada e rasgada ao meio, não havia nada desenhado nela. - Caio tentou puxar os cabelos da pequena e foi nessa hora que a professora interveio na confusão.

  - Meio tarde, não é? – murmuro irônica. - E nesse contexto foi minha princesa a agre... Digo, quem sofreu maiores danos, afinal nem havia nada na folha do garotinho.

  A mãe de Caio fez menção em falar, mas a diretora não deixou.

  - A confusão não terminou aí, Sra. Whitmore – ela disse olhando sugestiva para Drew e Matt. Ah é, certo, eles deviam estar ali por algum motivo. – Depois que a professora controlou a situação, pediu às crianças que se desculpassem e fizessem as pazes. Mas foi no recreio agora a pouco que as coisas voltaram a fugir do controle. Caio voltou a dizer a Anna Laura que era impossível ela ter tantos avós assim, que era uma mentirosa e estava inventando tudo, a pequena disse que era verdade e antes que Caio pudesse fazer qualquer coisa com ela, Andrew e Matthew vieram defendê-la. Os três começaram uma pequena confusão, ninguém se feriu seriamente, Caio apenas machucou as palmas das mãos quando caiu. E foi isso, agora eu as chamei aqui por que a escola não tolera esse tipo de comportamento de nossos alunos. Peço que conversem com seus filhos.

  - Nós vamos – digo olhando para eles. Lena assente também.

  - Acho bom mesmo – a Sra. Cara Feia diz e Karina a olha negando com a cabeça.

  - Peço que converse com Caio também, Sra. Carter, sua falta de tolerância quanto aos tipos de famílias que podem via a existir não é normal para uma criança tão pequena.

  - Como? – ela parece surpresa. – Você está dizendo que meu filho é preconceituoso?

  - Conceituso não, tia. O Caio é triste por que não tem avô nenhum e eu tenho isso tudo – Analu se intromete na conversa como uma verdadeira adulta e mostra uma mão inteira e mais um dedo da outra a mulher que a olha surpresa. – São um, dois, três, quatro, cinco, seis vovôs e vovós – ela enumera. – Ele rasgou meu desenho por que o meu tinha um monte e o dele não tinha nada. Ai eu rasguei o dele por que ele tinha rasgado o meu. Desculpa.

  Karina sorri para minha princesinha. 

  - Anna Laura, você pode nos explicar quem são todos esses avós que desenhou? – ela pergunta estendendo desenho rasgado a minha pequena que o pega sorrindo.

  - , eu mostro. Ai ó – ela aponta a primeira forma que devia ser uma pessoa, há cinco delas enfileiradas. – Essa é a vovó Cassy ela é a mãe da mamãe e do tio Miguel que é papai do Matt. Esse do lado dela é o vovô Henry ele é... O que ele é seu mamãe? – ela me olha e sorrio negando com a cabeça.

  - Nada.

  - bom então, ele não é nada da mamãe, e a vovó Eva que também não é nada da mamãe nem do papai. E do lado dela a vovó Marta que é mamãe da tia Lena e o vovó Joe que é papai dela. Eles são avós só do Matt, mas o Matt emprestou eles pra mim e pro Drew. E eu ia colocar o vovô Louis, mas não sei ainda se ele vai casar com a vovó Cassy, o tio Matt diz que não, mas a mamãe diz que sim – ela finalmente para, para respirar e eu só consigo sorrir olhando para minha princesinha. – Ainda ficou faltando os vovôs que são a mamãe e o papai da mamãe e do papai, mas eles viraram estrelinha no céu então eu só ia desenhar eles no outro papel com as nuvens.

  Depois que ela termina de falar eu vou até Analu e pego no colo, não me importo se sua atitude ao rasgar o dever do colega foi errada, pelo menos não agora, agora só quero abraçá-la por ser essa garotinha encantadora que tanto amo.

  - Por quê? – ouço a voz tremula de Caio e quando nos viramos todos para encará-lo o garotinho tem os olhos marejados. – Por que a Analu tem um monte de gente na família dela e na nossa só têm nós dois, mamãe? – ele soluça e sua mãe o pega no colo também. A cena e suas palavras me cortam o coração, por que eu já fui como Caio, quando minha mãe morreu e ficamos só papai e eu. A dor e a sensação de solidão eu entendo muito bem.

  Coloco Analu no chão, dou uma olhada em Noah que ainda ressoa baixinho em sua cadeirinha tranquilamente e vou até Caio e sua mãe. Karina me olha curiosa e a Sra. Cara Feia me olha desconfiada, sorrio e toco o braço do garotinho que ainda está no colo da mãe.

  - Caio – o chamo, mas como o esperado, ele não me olha. – Não precisa chorar. Você sabia que agora eu tenho essa família enorme, mas antes quando eu era pequena só tinha o meu pai? – minhas palavras despertam sua curiosidade e o pequeno me olha, os olhos vermelhos e o rosto manchado de lágrimas deviam ser proibidos para as crianças.

  - Verdade? – ele funga e faço que sim.

  - Verdade. Depois meu pai virou estrelinha e eu fiquei sozinha. Eu estava muito, muito triste e ai o Papai do Céu resolveu me dar uma nova mamãe e um irmão para eu não ficar mais triste. Depois eu ganhei uma amiga – digo olhando para Lena que sorri. – Então você não precisa chorar, nem ficar triste. Você ainda tem sua mamãe e talvez você ganhe um novo papai, avôs e avós. E se você não ganhar, faça como a Analu e pegue alguns emprestados, aposto que sua mãe não vai se importar.

  - Posso, mamãe? – o pequeno sorri para ela que tem os olhos marejados.

  - Pode, meu amor. Pode sim – ela beija seus cabelos e me olha, não preciso conhecê-la muito para saber que esse é o olhar de uma mãe agradecida. – Obrigada.

  - De nada – digo voltando para perto dos meus pequenos. Noah se remexe resmungando e abrindo seus olhos escuros tão iguais aos do pai, o pego no colo e lhe dou um beijo sentindo seu cheirinho de bebê.

  - Bem, parece que resolvemos essa pequena questão melhor que o esperado. Mas ainda espero que conversem com seus filhos e peça a eles para não fazerem outra vez. Nenhum deles – Karina diz séria e nos assentimos. Caio e sua mãe são os primeiros a sair. Eu vou depois com Noah no colo sendo seguida pelos três pequenos, Lena vem por último trazendo a cadeirinha do bebê.

  Nossa pequena procissão para na entrada da escola. Eu e Lena nos entreolhamos e depois olhamos para os pequenos cabisbaixos. Minha amiga coloca a cadeirinha de Noah no chão e se abaixa a frente deles.

  - A gente vai ficar de castigo, mamãe? – é Matt quem pergunta e Lena afaga os cabelos do filho.

  - Não. Estavam defendendo Analu, mas isso não quer dizer que o que fizeram foi certo. Não podem sair batendo em todos os colegas de quem não gostarem. Primeiro conversamos, depois tentamos encontrar uma solução. Eu ou a tia Lisa batemos em alguém? – ela pergunta e eles negam com a cabeça. – Os pais de vocês batem? – eles negam mais uma vez. – Então nada de se meterem nesse tipo de confusão, certo? Amanhã vocês vão pedir desculpas para Caio outra vez e chamá-lo para brincarem juntos, Ok?

  Analu faz que sim, minha garotinha nunca fez o estilo que guardava rancor por muito tempo, já os meninos que apenas tinham pegado as dores da pequena para si não pareceram muito confortáveis com a ideia de Lena. Minha princesinha teria problemas com esses homens ciumentos a sua volta, ou talvez não, afinal, ela os levava todos na palma da mão.

  - A gente vai brincar com ele sim, tia! – Analu respondeu animada e Drew e Matt não tiveram outra alternativa se não concordarem.

  - Fico feliz, agora vamos voltar? – ela pergunta suspirando e ajeitando o jaleco. – Afinal eu nem devia ter saído. Não antes das uma da tarde.

  - Deixa que eu levo Matt comigo, estou de folga hoje, cuido deles.

  - Sério?

  - Sim, mas vai ter que ir com Marco levá-lo. Não cabemos todos no carro – digo rindo e pegando o celular para ligar para meu motorista. – Segura Noah, por favor?

  - Claro – ela diz pegando o bebê dos meus braços. Olho em volta e sorrio, a crise foi evitada e a falação voltou, meus pequenos já se envolveram em uma conversa super empolgada com Matt sobre os brinquedos que trarão para a escola amanhã.

  Nossos momentos de alegria e tristeza ainda serão muitos e sinceramente não vejo a hora de viver todos eles, principalmente os de alegria. Ok, se puderem ser só de alegria eu agradeço. Como mãe, definitivamente prefiro que meus filhos tenham mais momentos felizes que tristes. Mais sorrisos que lágrimas, e muito mais amor que solidão.


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