Iceburns escrita por The Siren


Capítulo 4
Hans Of The Southern Isles


Notas iniciais do capítulo

CAPÍTULO NOVOOOO! X'D Ficou mais longo do que eu esperava! Pensei que no máximo teria umas 2.000 palavras. Uma boa notícia é que o próximo capítulo vai ser bastante focado na Elsa.

A música do título do capítulo e do trecho no início é essa: https://www.youtube.com/watch?v=DCIuNPArM6Y&t=0s&index=5&list=PLj6vOw5eDR3qmU6qesF54he2U4g2-wl_Y

A cena em itálico no início do capítulo é no passado, claro. Antes de Hans se encontrar com Anna, ele planejava se casar com Elsa.

Boa leitura! ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/758839/chapter/4

Eu sou alguém muito mais constrangedor para ser
Eu sou apenas o décimo terceiro filho de um rei
De um reino muito pequeno
De ilhas muito pequenas para o sul
E ninguém canta sobre esse rosto humilde
Ou minha falta de graça
Ou cita o que sai da minha boca;

Com uma linhagem de maus irmãos mais velhos
Que continua por milhas
Um homem que você não verá em uma estátua de bronze
Apenas Hans das Ilhas do Sul
— Hans Of The Southern Isles

 

Era possível observar os navios partindo ao longe, até além das fronteiras do castelo negro de Chevron. As águas salgadas dos mares revoltos atacavam por suas fracas ondas, enquanto algumas poucas pessoas observavam, dentre elas estava o orgulhoso Lars, o precursor de todo o plano. O grande plano, que consistia em casar seu irmão, Hans, com a princesa Elsa, que agora estava prestes a se tornar rainha. Era o plano perfeito, Hans finalmente teria um final feliz e sairia das Ilhas, se tornaria rei e teria uma companheira para governar consigo. Mesmo sem realmente conhecendo-a, porém isso estaria a cargo dos anos! Nem sempre o amor verdadeiro era necessário, mas podia usar desse artifício para ter a vantagem mesmo sem sentir nada pela princesa, e enquanto pensava no assunto, a ganância de pouco a pouco consumia o príncipe mais novo. O que deveria fazer era conquistá-la e pedi-la em casamento, apenas isso. Era simples, deveria ser.

Hans igualmente observava Lars, na beirada do deck do navio, o sorriso desenhado em seu rosto era verdadeiro, pois finalmente teria uma chance de tornar-se útil... Ao menos para um novo alguém e para um novo reino. Treinou anos para isso, treinara suas habilidades políticas, seu carisma, até mesmo esgrima e tentou aprender o máximo possível sobre a princesa Elsa. Era um bom, senão o melhor pretendente possível.

Apesar de tudo, as informações sobre a princesa eram escassas. Ela era um mistério e tal fato o inquietava. Ela tinha segredos e não sabê-los o deixava desconfiado, no entanto, nunca pensou que fosse algo tão fantástico quanto seu toque de gelo, literalmente. Tudo o que sabia sobre Elsa era algo que Lars lhe contou há um longo tempo: “Ela nunca saiu do castelo de Arendelle.” Por qual motivo? Mais um mistério. Contudo, o príncipe mais novo queria ter uma chance de ser feliz, mesmo que nem sequer existisse pintura alguma de Elsa, ele nem sabia como era sua aparência. Como sentiria algo por alguém que era uma completa charada? Tentava afastar aquelas dúvidas, por conseguinte, não seria feliz por causa da princesa, seria feliz porque provaria ser um líder capaz. Seria o rei. Quem precisa do amor, quando se tem o poder?

Por raras vezes questionou-se se aquela talvez pudesse ser a chance de encontrar seu amor verdadeiro, "mas é claro que não", era tal mantra tóxico que sempre seus anseios lhe respondiam. Seu possível casamento não passava de uma aliança política, e só. Seu plano apenas seria um acordo e uma barganha, mesmo que manipulasse a todos para conseguir vencer. Ainda que fizesse Elsa acreditar que seu amor era verdadeiro, quando tudo o que faria seria mentir. Ao menos todos estariam felizes com aquela mentira estratégica.

Com todo esse plano secreto em curso, tudo o que realmente queria era a aprovação do rei Klaus, o pai que sempre o negligenciara. Queria provar ser capaz de governar, mostrar a todos o quanto estavam errados sobre si, revelar quem verdadeiramente era. No fim das contas, provar-se ser capaz, depois de anos de abusos e humilhações. Afinal, quem ri por último ri melhor.

Sentia-se muito animado para conter-se, a maior batalha de sua vida tivera início. Entretanto, devia manter a calma e os pés no chão. O navio zarpava, afastando-se de vez do reino, Hans não saíra do deck por minuto sequer, estava perdido nos próprios pensamentos, fantasiando o quão incrível seria o que aconteceria depois que ele se tornasse o rei de Arendelle, e que deveria fazer tudo certo para conseguir tal título da nobreza.

"Muito bem, tudo o que tenho que fazer é encontrar a Elsa, fazer ela se apaixonar por mim e pedi-la em casamento... Em apenas um dia..." Pensou de repente, notando que aquela ideia parecia uma tarefa impossível, mas o desespero e medo de voltar para casa podem ser um grande incentivo. "Não importa o quanto isso pareça impossível, eu vou conseguir! Eu serei o governante de Arendelle."

Afinal, ninguém tinha conhecimento de quem era o verdadeiro Hans das Ilhas do Sul, não em um reino tão distante como o da futura rainha Elsa.

❅ ❅ ❅ ❅ ❅

 

— Você nunca irá me derrotar, sou a melhor guerreira das Ilhas do Sul! — Gritou a pequena Sigrid, empunhando uma espada de madeira, pronta para atacar seu irmão gêmeo Ivar.

— A melhor guerreira das Ilhas do Sul? Há! Por favor, eu sou Ivar, O Invencível! — Ivar defendeu-se do golpe de sua irmã, agora os dois duelavam arduamente, ou ao menos era épico em suas mentes.

— Crianças, não vão se machucar. — Pediu Helga, a qual estava sentada em frente de uma mesa da varanda, segurava um livro aberto, mas mal o pôde ler, pois tinha medo de que Ivar ou Sigrid acabassem se machucando naquela brincadeira de espadas de madeira. Todavia, era a brincadeira favorita de ambos e Helga não queria ser uma mãe tão incompreensiva ao proibi-la. Sem contar o fato de que espadas não eram apropriadas para uma menina, não no tempo em que viviam, mas como Sigrid era uma criança, Helga não quis destruir seus doces sonhos. Deveria crescer feliz em um mundo de fantasias, somente para preocupar-se quando fosse maior e mais responsável.

— Conheçam minha família! — Lars exclamou, apesar de ainda manter as expressões sérias. Ele por si só era um homem bastante sério, porém gentil e compreensivo ao mesmo tempo, como se a seriedade fosse apenas uma máscara que escondia sua verdadeira natureza. Abriu as portas que davam até uma das belas varandas, cheia de flores coloridas e uma grande mesa para chás. Aproximou-se de sua esposa, Helga, a qual exibiu um belo sorriso, levantando-se de uma das cadeiras negras e deixando o livro acima da mesa, então abraçando Lars carinhosamente. Em seguida, o príncipe acariciou os cabelos avermelhados de ambos os filhos, que logo voltaram a duelar depois do breve cumprimento do pai.

— É uma honra. — Helga curvou-se em frente de Elsa e Anna, sorrindo gentilmente. Algo nela era extremamente agradável e lhe dava um certo quê de delicadeza e bondade, ou talvez ela quis causar uma primeira impressão daquela forma. As irmãs de Arendelle curvaram-se depois de tal gesto. — Rainha Elsa e princesa Anna de Arendelle...

— E você é Helga Westergaard! — Anna completou animada e gesticulando com um dos braços, o que causou um breve riso na bela esposa de Lars.

— Exatamente, alteza. Ultimamente, todos no castelo têm comentado sobre a visita de vocês ao reino. Estive bastante empolgada, — No entanto, ela falava com tanta calmaria. — ainda mais depois de saber dos dons incríveis de vossa majestade.

— Dons? — Elsa perguntou sorrindo, parecia surpresa, apesar de lisonjeada. — Bem, não há problema algum em mostrar, não mais... — A rainha tirou as luvas, em seguida fazendo um gesto gracioso com sua mão direita, criando poucos flocos de neve brilhantes e belos que caíam lentamente pela varanda. Parecia desafiar a lógica, mas era tão real quanto o amanhecer.

— Isso... é uma das coisas mais lindas que já vi! — Helga deixou escapar um suspiro impressionado. Lars, no entanto, observava tudo um pouco mais afastado, o rosto petrificado em admiração. Sua filha Sigrid sorria, animada com aquilo, abrindo as mãos para que os flocos caíssem nelas.

— Como isso é possível, mamãe? É magia? — Perguntou o pequenino Ivar, aproximando-se de Elsa. Sua irmã foi atrás dele, ao que ambos começaram a se empurrar, Helga lhes dirigiu um olhar típico de mãe ordenando para que parassem de brigar.

— São os dons da rainha Elsa, não é maravilhoso, Ivar? — Percebendo que não os havia apresentado, então logo começou: — Perdão, majestades. Este é Ivar, e esta é Sigrid, são meus filhos.

— É um prazer conhecê-los. — Disse Anna, aproximando-se das crianças com certa empolgação, afinal, os gêmeos lembravam-lhe remotamente dos momentos bons de sua infância, os quais não passara sozinha em frente de uma porta trancada.

— Querem ver mais? Podemos fazer um boneco de neve! — Sugeriu Elsa sorrindo para os gêmeos, os quais acenaram positivamente, animados para verem as magias de gelo e neve ocorrerem. Depois do Inverno Interminável, era comum que a rainha atraísse a atenção de várias crianças encantadas por seus poderes, as quais sempre pediam para criarem um boneco de neve com ela. Depois de certo tempo, Elsa pegou o jeito de lidar com crianças.

— Receio que teremos de deixar para outra hora. — Lars começou, sua voz estava mais séria que o usual. Seus filhos protestaram, incomodados pela decisão repentina do pai.

— Por que, querido? Algo aconteceu? — Helga perguntou preocupada, pousando a mão no ombro do marido.

— Nada com que você precise se preocupar, meu amor. — Lars segurara as mãos da esposa nas dele, transmitindo confiança apesar de estar mentindo. Aproximou-se de Elsa, a tensão intensificava-se aos poucos no ar. — Podemos conversar na biblioteca, majestade? É algo importante.

— Tudo bem... — Elsa respondeu hesitantemente enquanto vestia suas luvas novamente. Viu no rosto de Lars que algo estava errado, havia alguma coisa o atormentando, e não era daquele momento, era de bem antes.

— Eu vou junto! — Anna logo exclamou autoritária, porém sorrindo.

— Eu receio que será melhor somente a companhia da rainha Elsa, alteza. — Lars respondeu, ao que Anna demonstrou confusão, dirigindo um olhar de questionamento para Elsa. — É uma questão política de risco.

A rainha da neve, talvez por pura curiosidade, queria saber o que o homem tinha a dizer, Elsa tinha um forte pressentimento de que tal informação poderia mudar os cursos do destino para sempre. “Uma questão política de risco”, estaria ela andando em direção de mais uma armadilha? Parecia ser algo importante e bastante sério. Somente pelo tom o qual Lars usou suas palavras, ela sabia que ele estava preocupado. Então deveria ir sozinha, se era assim o pedido do príncipe.

— Eu voltarei logo, Anna. — Elsa despediu-se, saindo da varanda e adentrando os corredores do castelo, sendo acompanhada por Lars.

Anna não deveria preocupar-se tanto com isso... Algumas vezes é necessário se separar de quem se ama. Mas não era essa a questão, era o modo de como Elsa parecia não se preocupar tanto com seus sentimentos ou escolhas. Entretanto, estava tudo bem, tudo sob o mais puro controle... Ao menos no momento! A princesa de Arendelle estava com Helga e seus adoráveis filhos, por ora não precisava se preocupar, todavia, quando Elsa decidiu sair sem ela, sentiu algo esfriar em sua relação com a irmã mais velha.

 

Entrando na Grande Biblioteca, os saltos dos sapatos azuis de Elsa emitiam ecos, apenas deixando com que a solidão do local transparecesse por completo. Naquele momento não havia mais ninguém na biblioteca além dos dois. Este era o lugar preferido de Lars no castelo, passava horas ali, apenas lendo livros, por vezes conferindo mapas. Era sua função, o saber era sua espada e sua glória.

— Por que me trouxe aqui? Há algo que eu deva saber? — Perguntou Elsa, sentindo a inquietação do momento invadir-lhe por completo. Lars fechou as portas da biblioteca e guiou-os para um local afastado, quase secreto, um canto empoeirado e abandonado no tempo. Ela não protestou ou perguntou mais nada, afinal, tudo estava muito estranho e misterioso, deveria descobrir qual seria este mistério, não seria uma escolha sábia irritar o príncipe com mais perguntas.

Lars manteve-se em silêncio por alguns segundos, segundos esses que mais se assemelhavam à eternidade. Pensava em como iniciar aquele assunto tão delicado, mas era impossível. Parecia uma piada de mau gosto. A única pessoa que poderia salvar seu irmão mais novo era quem o mesmo tentou assassinar há um ano. Se houvesse algum destino ou algum deus os observando, estaria rindo sadicamente da situação.

— Se eu te contar, você vai achar que sou louco. Mas há pessoas que adoram loucura, não? — Comentou Lars, quebrando o silêncio, os dedos de suas mãos entrelaçados, começara a tremer um pouco, tentava conter esta estranha e repentina tremedeira. Nunca antes havia sentido tamanha ansiedade, talvez esse fosse o motivo de sua resposta corporal inesperada. Colocou os braços atrás das costas, disfarçando a angústia enquanto Elsa o observava em indagação. — Hans. É sobre Hans. No final de contas, tudo é sobre ele, certo? — Continuou, mais nervoso do que nunca antes. Não parecia o mesmo Lars que Elsa conhecera no porto.

— Eu... Não entendo. O que quer dizer com isso? — Estava começando a duvidar seriamente da sanidade mental do homem à sua frente. Mesmo que suas frases lhe parecessem desconexas, ele conseguiu a intrigar, afinal, o que teria Hans a ver com tudo aquilo? Seria tudo um plano do príncipe traidor? Aquelas perguntas lhe atormentavam e atingiam-na bem na parte mais profunda e escondida de sua alma, enfim, não seria à toa que sonhara que Hans finalmente a assassinava. Todavia, agora era uma nova e autoconfiante mulher, depois de anos perdendo a batalha para o medo e a insegurança, não deixaria mais que tais sentimentos vencessem seus esforços.

— Desculpe minha falta de modos, majestade. — Pigarreou. — Mas creio eu, que devo ir direto ao ponto, quando se trata de vida ou morte.

— Vida ou morte? Príncipe Lars, eu acho que você não está no seu melhor juízo...

— Caleb planeja executar Hans, bem aos olhos de todo o povo de Chevron. — Revelou rapidamente, já que Elsa não estava acreditando em suas palavras, muito menos, estava pensando que Lars estaria delirando. — “E por quê?”, você perguntaria... Por que o próprio irmão faria isso à ele? Nem eu sei o porquê de tanto ódio que sempre foi direcionado ao Hans, mas Caleb quer usar a morte dele como apenas um joguete de dominação.

— Dominação? O que ele quer dominar? — Perguntou tentando encaixar todas as peças do quebra-cabeça em sua mente, mas o que ecoava como resposta certamente era Arendelle.

— Arendelle. — Confirmou suas suspeitas. Agora deixara a rainha em dúvida, estaria ele delirando, mentindo ou realmente falando a verdade? — Este é o motivo de tudo, o motivo do baile, dos vestidos com brasões das Ilhas do Sul... Ele quer ganhar sua confiança, para então, quando menos esperar, dominar seu reino. Ele sabe o quanto você é poderosa, por isso não tentaria nada contra você, não enquanto ainda suspeita de todos nós das Ilhas. Hans é a chave, com sua execução, Caleb e o meu pai vão mostrar que as Ilhas do Sul se arrependem do que aconteceu no passado, e igualmente enterrar este passado. — Lars explicava, saindo de controle cada vez mais, suava frio, tremia, mexia em seus cabelos castanhos incessantemente, tudo para afastar aquela terrível angústia. Apesar de que todas suas tentativas igualmente falhavam. — Eu não posso deixar que meu irmão morra sob as ordens daquele assassino! Preciso de ajuda e não há tempo a perder!

— Hans também quase foi um assassino! Se minha irmã não tivesse chegado a tempo, ele teria tirado minha vida! — Elsa protestou, o ambiente o qual estavam já começava a esfriar porquanto pequenos flocos de neve caíam em volta de ambos.

— Quem você pensa que é para julgar? — Lars demonstrava estar visivelmente ofendido, porém agora retomava o controle de sua respiração, acalmando-se aos poucos. Ele pensou que poderia manter-se calmo ao contar sobre os planos de Caleb, mas em uma situação tão delicada e perigosa, não havia como. Muitas coisas estavam em jogo, tanto para si mesmo, quanto para Elsa. O príncipe era um homem calmo e pacífico, mas nunca antes lidara em uma situação de vida ou morte de um ente querido, aquilo levaria qualquer um à completa insanidade, principalmente quando é sua própria família que planeja executar seu irmão mais novo. A quem recorrer, senão outra pessoa que também está em perigo? — Hans me falou que se não fosse por causa dele, você teria assassinado dois homens no seu castelo de gelo! Você mesma criou um monstro de neve impiedoso!

Elsa calou-se. Mesmo com toda aquela raiva reprimida e mágoas do passado que nutria por Hans, deveria controlar-se. Afinal de contas, não queria mais um Inverno Interminável ocorrendo. Autocontrole era tudo o que precisava no momento. Uma discussão não ajudaria em nada, apenas desiquilibraria seus poderes. Todavia, não queria que alguém morresse por sua culpa, mesmo que esse alguém fosse Hans, por outro lado, não podia deixar com que seu reino fosse tomado por Caleb. Encontrava-se em uma situação sem saída, encurralada em um reino estranho e claramente inimigo.

“Encobrir, não sentir...” Repetiu seu mantra, tentando controlar-se, mas a situação não estava ao seu favor.

— Eu não posso deixar que Arendelle caia nas mãos de outro alguém, e alguém tão cruel ao ponto de matar seu próprio irmão como apenas um peão em seu jogo de xadrez doentio. Eu sou a governante por direito, e eu amo o meu povo. — Disse mais para si mesma, lembrando-se de quem realmente era e pelo quê deveria lutar.

— Então lute por ele. Assim como eu estou disposto a lutar por meu irmão. — Lars sugeriu, com as expressões em seu rosto visivelmente tristes, demonstrando que o príncipe encontrava-se em extremo conflito. — Eu planejo soltá-lo das masmorras para que ele fuja e viva feliz, mas não vou conseguir sozinho. Também sei os navios que podem embarcar para fugirem de Chevron. Podemos nos ajudar nessa.

— E como saber se tudo isso não é apenas um plano seu, para sabotar uma possível aliança entre Arendelle e Chevron? — Perguntou Elsa, desconfiada.

— Ora, não tem como saber, só é preciso ter fé. Por que eu mentiria?

— Eu não o conheço, e também não costumo confiar em estranhos. Hans também parecia não estar mentindo, quando a verdade foi bastante dolorosa para Anna.

— Você é realmente a rainha do gelo. — Lars comentou derrotado. — De qualquer forma, a verdade se revelará no momento certo e você deverá decidir quais serão seus próximos passos. Eu sinto muito pelo ocorrido aqui, mas como vê, não tenho ninguém a quem recorrer e sem sua ajuda Hans morrerá. — Lars massageou as têmporas, cansado de toda aquela situação devastadora. — Eu garanto que não estou mentindo, mesmo que minhas palavras não valham nada para você, eu teria muito a perder se estivesse mentindo! Estou fazendo tudo isso porque amo meu irmão e quero ele vivo. Você não faria o mesmo por sua irmã? — O príncipe caminhou até uma pequena escrivaninha consumida pelos anos, com alguns papéis empoeirados acima desta, uma pena e um tinteiro. — Caso mude de ideia, — pegou a pena, abrindo o tinteiro, molhando-a na tinta e escrevendo em um dos papéis. Entregou-o rapidamente à Elsa, a qual lia as coordenadas que Lars havia escrito. — encontre-me em meus aposentos.

— Eu devo ir agora, príncipe Lars. — Elsa guardou o papel, porém parecia neutra à situação. Anos encobrindo o que sentia, que agora tornara-se um pouco mais fácil. Quando na verdade havia uma tempestade dentro de si, uma confusão e inquietação fulminantes, mas era uma rainha e não podia demonstrar fraqueza. — Descansarei depois dessa longa viagem.

— Não quer companhia até encontrar-se com Anna? O castelo pode ser como um verdadeiro labirinto.

— Obrigada, mas eu prefiro estar sozinha. — Respondeu e então se retirou do local, deixando uma fina camada de gelo cristalino por onde caminhava, deixando inclusive, um Lars confuso e nervoso na Grande Biblioteca.

❅ ❅ ❅ ❅ ❅

 

O Sol estava se pondo para enfim findar a tarde. Lars tomava coragem para fazer o que deveria ser feito, para proteger sua família. De agora em diante, depois do que havia dito, tudo estaria em jogo. Poderia ser acusado de traição, poderia igualmente ser executado. Ele nunca deixaria sua esposa e filhos correrem tal risco por suas tentativas de salvar Hans. Eles não mereciam tal maldição.

— Eu preciso lhe pedir algo, Helga. — Começou o príncipe, a culpa já transparecia em seu olhar.

— Algum problema, Lars? — Helga aproximou-se, sentando ao seu lado na cama, queria entender o motivo de seu comportamento tão estranho naqueles últimos dias. Contudo, o homem não lhe contava nada.

— Nada grave, por enquanto... — Ele desviou o olhar, pegando na mão de sua amada esposa e acariciando-a. — Mas pode se tornar algo catastrófico, e por isso, eu preciso que você e as crianças partam para a Irmandade das Ilhas. É o único lugar em que estarão seguros.

— Mas o que está acontecendo?! — Ela levantou-se, mostrando sua irritação pelos segredos do marido. — Eu sou sua esposa, você pode me falar tudo, Lars, você sabe disso! Se não confia em mim, então nosso casamento é baseado em mentiras.

O príncipe suspirou, guiando seus olhos em direção dos dela, parecia uma criança perdida.

— Hans está em perigo. Eu preciso salvá-lo e provavelmente isso vai nos pôr em perigo. — Revelou. — Por isso preciso que partam, para não correrem o risco que eu já estou correndo. Não quero que se machuquem por minha causa... — Suas expressões tornaram-se mais sombrias. — Você não merece o homem que sou. — Helga abaixou-se, ficando à altura de Lars que estava sentado. Ela abriu um sorriso, porém seus olhos estavam cobertos por lágrimas que tendiam a escorrer.

— Eu casei com você porque te amo. — Sem aviso prévio, o beijou, um beijo apaixonado e romântico, não sabia se esse viria a ser o último. Havia amor, mas também havia dor e medo. Não queria perdê-lo, por isso Helga desejava que aquele beijo fosse eterno. — Eu faria o mesmo pela minha família, você está certo em proteger Hans, meu amor. Mas me prometa que vai tentar sair dessa situação com vida.

— Eu prometo. — Ele abraçou-a apertado, inalando o doce cheiro de seus cabelos ruivos encaracolados, tentando se tornar uno com ela, como se tivessem a mesma essência. — Eu te amo, Helga. Amo nossos filhos, nossa família é tudo o que há de mais valioso para mim. Mas você deve se apressar querida, as coisas vão gelar por aqui.

 

Lars observava de uma grande e alta janela em um dos imensos corredores, uma carruagem partindo dos portões do castelo negro e indo em direção dos caminhos da floresta. Tocou o vidro gelado, como se pudesse estar com a família novamente, família a qual estava partindo no exato momento para a Irmandade das Ilhas. Cerrou os punhos, frustrado com tudo o que estava acontecendo. Estaria longe deles, porém eles estariam seguros. A distância muitas vezes é necessária para a segurança das pessoas amadas.

De repente, Lars ouviu passos aproximando-se, porém, tranquilizou-se ao notar que era um de seus irmãos, Jens.

— O que faz aqui, Lars? Sua presença é solicitada por nosso pai.

— Tudo bem, já estou indo... — Respondeu, voltando à dura realidade.

— Eu te acompanho. — Jens declarou, caminhando junto do irmão. — Você viu Rudi por aí? Não consigo encontrá-lo, é como se o miserável tivesse sumido.

— Não. Estou mais preocupado com outros assuntos... — Lars deu de ombros, sem se importar muito com o sumiço repentino de Rudi, até porque agora iria se encontrar com o maior dos crápulas, seu próprio pai.

Torcia para que Elsa enxergasse a realidade e se juntasse ao seu plano, afinal, se não tivesse apoio algum, certamente morreria tentando salvar o irmão mais novo. Por outro lado, não poderia culpá-la, como Elsa poderia ter algum resquício de sentimentos bons pelo homem que tentou matá-la?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então, o que acharam do capítulo? Gostou, não gostou? Deixe sua opinião nos comentários!

Beijinhos de chocolate! ♥