Yellow - Dramione escrita por LeslieBlack


Capítulo 2
Always




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Não. Era essa a palavra que repetia mentalmente e que gritaria se seu corpo a obedecesse. Não. Malfoy não poderia estar morto, definitivamente não era certo ele estar machucado. Se lhe perguntassem o por que disso ela não saberia o que informar, mas no fundo de sua alma tinha essa certeza. Sua alma gritava "por favor, ele não", enquanto seu corpo estava como que petrificado. Com exceção, é claro, do movimento que seu peito fazia por si só para garantir que ela respirasse e o das pálpebras que abriam caminho para suas grossas lágrimas correrem soltas.

A garota lentamente parecia sair do torpor em que se encontrava. Nos últimos tempos tentava em vão ocupar seus pensamentos das mais variadas formas possíveis, e nem mesmo os livros conseguiam a alienar da realidade. Desde o dia em que foi torturada na mansão Malfoy o seu peito acalentava uma esperança: o Malfoy mais novo. Ela se apaixonou ainda no primeiro ano assim que o viu, antes mesmo de chegar ao castelo. Como o garoto demonstrava desprezar tudo o que Hermione era e representava, seus tão fortes sentimentos se modificaram, sem nunca perder a intensidade. Passou por descrença, confusão, raiva, ódio, até parar no desprezo por muito tempo. Quem ele pensava que era, afinal? Não havia nada de errado em ter pais trouxas assim como não havia nada de errado em escrever com a mão esquerda. Ainda no Expresso de Hogwarts conversou com Ron e Harry, que seriam seus melhores amigos muito em breve, e desde cedo conseguiu a inimizade do sonserino. Eles se provocavam em qualquer oportunidade que tinham, e no segundo ano o Malfoy passou dos limites. A chamou de sangue-ruim quando a garota defendeu os amigos. Hermione pensava nisso e no olhar de decepção no rosto do loiro quando foi selecionada pra sua casa, quando notou que tinha companhia. Estava em uma sala de aula com um Harry chocado sem conseguir olhá-la. Quando finalmente seus olhares se encontraram ele lhe fez uma pergunta que carregava uma história inteira.

— Depois de todo esse tempo?

A garota não se importou em limpar as lágrimas e altiva, respondeu.

— Sempre.

— Isso não faz o menor sentido.

— Eu sei.

— Então é isso, vocês estão juntos? Você e... Droga, Hermione, por que justo ele?

— Nós não somos um casal, Harry. Você é a única pessoa que sabe disso além de mim. No sexto ano, quando você não desgrudava daquele livro, eu nunca imaginei o que fosse acontecer. Por ironia do destino, logo você descobriu o meu segredo.

— Eu te vi prestar seus N.O.M.s, seu Bicho-Papão era a professora Minerva falando que você havia falhado.

— Bom, isso mudou - disse fungando.

— Mione, acho que uma parte do meu cérebro parou devido ao choque. Me explique isso, por favor.

— Ok - disse se sentando. - Eu vi Draco antes de embarcar no Expresso no primeiro ano. Não sabia quem ele era, é claro. Estava nervosa pela expectativa de entrar em um mundo totalmente novo e por ficar longe dos meus pais. Enquanto eu observava a estação e via pessoas com malões, corujas e afins foi que reparei. Um garoto que parecia ter a minha idade tinha uma expressão diferente dos demais. Ele olhava pra tudo aquilo com orgulho, como se visse a felicidade em pessoa acenar para ele. Eu olhava para aquela cena com fascínio, e então ele me olhou. Havia a distância e todo um mundo em volta, mas o tempo parou ali. Aqueles olhos... - disse como se revivesse - Eram lindos, Harry. Senti um calor no peito e uma sensação de segurança. Olhar para ele era como sobreviver a uma tempestade. Foi uma das melhores sensações que eu já senti. Ficamos nos encarando com curiosidade por um momento, depois ele deu um sorriso doce e desviou o olhar. Ele deve ter esquecido no instante seguinte, eu levo isso comigo como uma imagem de inocência até hoje. Foi ali que me apaixonei por Draco Malfoy.

Parou seu relato e olhou para o amigo. Os olhos verdes levemente desfocados que miravam o chão combinavam com a boca crispada.

— Continue - disse simplesmente.

— Não o vi no trem, e sim um pouco antes da seleção das casas. Seu olhar passou de curiosidade para decepção assim que o Chapéu Seletor me colocou na Grifinória. Acho que o resto você já pode imaginar. Como se não bastasse eu ser uma grifinória nascida trouxa, ainda me tornei amiga do menino que sobreviveu, sendo que você recusou a amizade dele. Quando começaram as ofensas eu tentava ser superior e só ignorar, mas no segundo ano ele passou ao me chamar de sangue-ruim. Eu sentia muita raiva, cheguei a odiá-lo. Consegui reprimir qualquer sentimento positivo até o sexto ano, quando isso aconteceu - disse apontando para o lugar em que minutos atrás jazia o corpo do jovem, fazendo Harry lembrar de quando o deixou sangrando no banheiro masculino no ano em questão. - Eu não sabia do que sentia mais raiva: de você continuar com o livro do Snape, ser imprudente a ponto de usar um feitiço que não conhecia e correr o risco de ser expulso, Malfoy morto ou o fato de eu me preocupar absurdamente com ele nos dias seguintes. A preocupação foi mais forte, por vezes alguém me pegava olhando a mesa da Sonserina perdida em pensamentos. Eu o observava sempre que podia, e cheguei até mesmo a pegar sua capa. Vi alguém diferente das minhas idealizações e do dia-a-dia do castelo. Certo dia eu o olhava no meio dos sonserinos, com o olhar cansado. É como se a máscara tivesse caído, e eu percebi um desespero. Quando aqueles homens nos levaram até a mansão Malfoy pensei que seria nosso fim. Mas você lembra? Ele hesitou e afirmou não ter certeza  no momento de nos reconhecer. Apesar de ter ido longe demais, não parecia a mesma pessoa. A essa altura minha esperança era somente que ele fosse forte o bastante pra se tornar uma boa pessoa. Eu me acostumei a brigar com ele, era o único contato que tínhamos. Esse ano ele não diz nada, mas sempre que olho ele já está me encarando. Não me entenda mal, eu não quero brigar, só gostaria de saber o que houve. Por que tanta curiosidade, sabe? Como eu disse, Harry, mil sentimentos resolveram me assaltar ao mesmo tempo, todos fortes e confusos. Por isso estava no lago. Olhava a fria constelação do dragão e tentava não pensar em nada específico.

— É uma história e tanto, Mione. Eu não sei nem o que pensar. Quero dizer, é do Malfoy que falamos. Como isso é possível, afinal? Um momento não pode justificar uma vida inteira, não desse modo. É você, e isso não tem lógica.

— A garota inteligente também sente, amigo. Infelizmente não sinto a coisa certa.

— Por mais que isso pareça errado - o garoto apontou da amiga para um espaço no chão, completamente sem jeito - me parece pior ainda dizer que um sentimento é errado. Desculpe.

— Não se desculpe por isso, eu acho que você está reagindo bem até demais.

— O que quer dizer com isso? Escute, Mione, eu definitivamente não esperava terminar a noite assim, mas não vou te virar as costas sem nem antes saber o que está acontecendo.

— Oh, claro. - Hermione disse magoada pela possibilidade de perder o amigo. Amaldiçoou-se mentalmente sem saber ao certo o porquê. Ela não teve culpa de ser logo aquela sala que lhe oferecia a proteção de ser pega por Filch e ficar em detenção. Mas o que era seu histórico escolar manchado, ao menos em seu ver, comparado ao que estava sentindo agora? O medo de perder Harry, a culpa, a vergonha. Desde o primeiro ano ninguém jamais desconfiou do seu segredo, e agora isso não adiantaria de nada. Ela mesmo não fazia ideia de que se fosse posta em frente a um Bicho-Papão ele tomaria aquela forma, não depois de tudo o que passou. Mas olhando Harry naquele estado, Hermione se deu conta de que se tinha uma coisa infinitamente pior que amar alguém que sempre a odiou, era perder o melhor amigo por conta disso. Estava inconformada, pois isso era revoltante sob todos os pontos de vista possíveis. Mas ela tinha a consciência de que Harry era menos culpado ainda, e tentou controlar a mágoa na voz ao dizer: - Bom, é que se fosse Ron a saber disso nós já estaríamos gritando um com o outro ou algo assim. Não que isso não vá acontecer, mas é uma surpresa.

— Eu sou seu amigo, parece ter esquecido disso.

— Ron também é.

— Não nos compare. - Harry disse muito sério.

— Tanto faz. Você está chateado e isso é compreensível. Só quero que saiba uma coisa. Malfoy não tem culpa pelos meus sentimentos e não o responsabilizo. Até por que não há motivo pra nada disso, veja nosso tratamento ao longo dos anos. É difícil me expressar claramente quando nem eu sei o que houve, Harry. Mas eu gostaria que tivesse isso em mente: eu não tive o menor controle da situação. Não escolhi amar meu agressor assim como não pude deixar de me encantar antes sequer de trocarmos palavras. Nunca admiti gostar dele, não quero. Estou tentando parar, mas aparentemente não é assim que funciona. Eu renunciaria se pudesse, mas é como uma maldição impregnada em mim. Tudo bem se você ficar bravo, imagino que essa seja a reação mais natural. Olhe para mim, é a minha reação até hoje. Pode culpá-lo por ser o babaca preconceituoso que sabemos que ele era, mas não pelo meu amor. Eu também te conheço, Harry Potter, e você parece querer matá-lo. Não faça isso, o meu sofrimento é meu somente.

— Então ele não faz ideia e você quer que continue sem saber?

— Sim. Ele não tem a obrigação de gostar de mim e jamais irá, e na verdade eu acho que não aceitaria bem se gostasse. Repito, ele não tem culpa, não o responsabilize por isso. E guarde o meu segredo, Harry, eu não suportaria o olhar de Draco se ele soubesse.

— Eu nunca faria isso. E vai ser difícil de digerir isso completamente, mas eu juro que vou tentar.

— Aposto que está se perguntando sobre a minha sanidade nesse exato segundo.

— Errado, eu me perguntei isso quando começou a me contar essa história. Agora eu estava pensando em poções do amor e na possibilidade de Eros realmente existir.

— Claro, é mais fácil o equivalente grego do Cupido existir do que alguém ser tão idiota como eu.

— Eu não usaria a palavra idiota, Mione. Existem sinônimos mais sutis. - e deu um sorriso levemente debochado. Foi ali que Hermione soube que tudo ficaria bem. - Mas enfim, que tal irmos dormir? Já tive emoções demais hoje, quero guardar alguma coisa para amanhã.

— Certo, vamos embora.

Ao voltarem para o corredor, a garota pensou ter ouvido algo e chamou pelo amigo. Como o barulho não se repetiu, eles foram para a Torre da Grifinória. Dessa vez sem contratempos, felizmente.


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