— Ora, até parece. Eu sei nadar muito bem. Se não quer falar o que estava fazendo lá sozinha tudo bem, Mione. Mas tome cuidado e não ouse me empurrar novamente no Lago Negro.

Os dois amigos discutiam voltando para o castelo numa noite de lua minguante, o céu estava sem nuvens e isso facilitava olharem as estrelas. Harry pensou em Sirius enquanto olhava para cima, mas outra pessoa que amava parecia precisar dele. Desde que voltaram depois da guerra para concluir os estudos em Hogwarts, Hermione estava diferente. É claro que o que houve afetaria todos ali, ainda mais o Trio de Ouro que estava tão envolvido. Mas Hermione parecia presa em um pesadelo, ele não tinha dúvidas. Estava mais calada, distraída, retraída e costumava recorrer a violência com mais facilidade. De início pensou ser algo relacionado a Ron, já que a garota já sofreu pelo amigo de ambos por mais tempo do que Harry gostaria de lembrar, e não estavam mais juntos. Felizmente eles decidiram continuar amigos depois do término, se gostavam muito para ser diferente. Tomado por uma coragem que pensou não ter, Harry pigarreou e perguntou finalmente.

— Hey, você está bem? É alguma coisa com Ron?

Nesse momento Hermione o olhou confusa, estava com os pensamentos em outra época. Quando finalmente entendeu a pergunta, suavizou a expressão e respondeu.

— Oh, claro! Na verdade estou bem em relação a isso, Harry. Ron e eu somos amigos, não há nada para lamentar. Muito pelo contrário. Em meio a tantas perdas eu fico feliz em ter meu amigo comilão por perto - disse e sorriu.

— Certo. Mas o que te incomoda, Mione? Entenda, não quero invadir seu espaço, mas está tão óbvio que algo ruim está acontecendo. Eu simplesmente não posso não te ajudar, você é a família que escolhi.

— A verdade é que nem eu sei direito. Estive tão ocupada em nos manter seguros por todos esses anos que aparentemente esqueci o que fazer com tempo livre. Também te escolhi há muito tempo. É claro que tive meus próprios problemas, mas os seus me davam a oportunidade de esquecê-los. É egoísta, mas é a verdade. Agora coisas que eu tentei enterrar por muito tempo estão vindo a tona, medos que eu não me permiti sentir não por ser da Grifinória, mas para estar forte por você. Não se culpe, como eu disse foi egoísmo da minha parte. E agora parece que sete anos dos mais variados sentimentos vem acertar as contas comigo. Eu só tenho um monte de sentimentos, é isso.

— Assim como disse Ted Evelyn Mosby em um casamento, "I just have a lot of feelings".

O garoto tentou suavizar a situação. Hermione finalmente parecia relaxada depois disso, e respondeu.

— Por Godric, Harry. Você realmente decidiu se aprofundar na cultura trouxa. Mal acreditei que leu Romeu e Julieta de livre e espontânea vontade e agora isso. Estou tão orgulhosa! - superou a barreira entre os corpos e abraçou o garoto de lado, apoiando a cabeça em seu ombro.

Entraram no castelo o mais sorrateiros possível, já que Filch poderia pegá-los devido ao horário. Nem o fato de serem heróis de guerra os salvaria de uma detenção, e eles eram gratos por esse tratamento comum. Quando estavam no meio de um corredor cheio de salas de aula, a sorte pareceu mudar. Madame Nora apareceu no fim do corredor e o resto da história seria óbvio se a garota não agisse rápido. Murmurou próximo ao amigo "O confunda" enquanto pegava rapidamente sua própria varinha. Aconteceu muito rápido, Hermione falou baixinho "Alohomora", Filch apareceu no final do corredor, Harry disse "Confundus" e os dois entraram na sala. O zelador olhava de um lado para o outro, depois de alguns segundos desistiu de ficar ali parado e continuou a ronda. Já na sala de aula a situação não era muito diferente.

Como Hermione foi a primeira a entrar na sala, se virou para puxar o amigo e nem reparou o que tinha no ambiente. Depois da adrenalina, ela só se afastou dele suspirando, ainda andando de costas. Quando se virou seu coração se afundou com o que viu. Nada mais nada menos que Draco Malfoy no chão, completamente ensanguentado. Parecia que ele havia acabado de ser atingido pelo feitiço Sectumsempra e que não haveria muito mais o que fazer ali. A garota já chorava, mas pelo choque não conseguia se mexer. Foi Harry quem notou a caixa perto do corpo e entendeu o que estava acontecendo, pelo menos em parte. Passou muito por uma situação parecida quando treinava o feitiço do Patrono, além de ver sem querer uma senhora Weasley chorando, assim como Hermione fazia, por causa da família ruiva morta, integrante por integrante. Se concentrou numa doninha alva e disse de forma clara "Riddikulus". Com um aceno de varinha, então, colocou o Bicho-Papão na caixa e o prendeu.

A questão agora era a seguinte: por que o maior medo de Hermione Granger era o corpo quase morto de Draco Malfoy, dentre todas as pessoas?