O Funcionário do Fast-Food escrita por Ellaria M Lamora


Capítulo 9
IX — Bem-Vindo, Gaara


Notas iniciais do capítulo

já sabem: capítulo grande = MERDA
PFVR, NÃO DESISTAM DA HISTÓRIA
PROMETO QUE VAI FICAR TUDO BEM
ou nao.........
boa leitura, rs



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IX

BEM VINDO, GAARA

Naquela fria noite de quarta-feira, os dois jovens encontravam-se escorados na sacada do apartamento de Nara Shikamaru, que fumava vagarosamente, observando a fumaça preenchendo o ar e esvaindo-se com as rajadas dolorosas de um cortante vento gelado. Ao seu lado, Uzumaki Naruto permanecia calado, de punhos cerrados e olhar perdido nas luzes de uma caótica Tóquio.

— Quando você soube? — A loiro perguntou, desnorteado.

— A Temari me contou hoje.

— Ele chega amanhã?

Shikamaru acenou tristemente.

— Irei buscá-lo no aeroporto com ela. Se quiser ir junto...

— Vou estar trabalhando. — Lamentou suspirando e puxando o cigarro das mãos do amigo. Shikamaru lhe direcionou um olhar de repreensão, mas o Uzumaki ignorou, ocupando-se encaixar aquela droga em seus lábios e sugando a bomba de narcóticos para dentro de seus pulmões — É difícil acreditar nisso. — Revelou ao fechar os olhos e permitindo que se afogasse na fumaça forte das toxinas, desejando que elas acabassem com toda a ansiedade que percorria seu sangue naquele momento.

— Você fuma como um viciado de 40 anos. — O Nara observou, roubando o cigarro para si e o Uzumaki riu sarcástico.

— O Sai dizia que eu tinha pulmões de um velho.

— E ainda acha que ele está errado? Nunca vi alguém fumar tanto quanto você e o Gaara quando estavam juntos. — Grunhiu e Naruto percebeu que ele escondia o maço no bolso traseiro da calça jeans, como se temesse que o Uzumaki fosse começar a fumar incessantemente — Minha cabeça chega a doer só de imaginar o quão problemático vai ser quando vocês dois chegarem aos 45.

— Provavelmente vão parar no Guinness Book, por serem as pessoas com mais problemas de saúde do mundo. — Uma voz feminina manifestou-se e os rapazes viraram para trás, encontrando uma loira os fitando sem nenhum tipo de humor — Espero que suma com isso o mais rápido possível, Nara Shikamaru. — Com a cabeça, indicou o cigarro que ele segurava preguiçosamente e o rapaz na mesma hora apagou o fumo.

— Como se eu fosse chegar lá. — Naruto sussurrou, voltando a se apoiar na sacada e suspirando tristemente.

Distraindo-se na tensão do momento, os amigos não conseguiram ouvir o deprimente desabafo do Uzumaki, que agradeceu internamente por isso.

Na verdade, o que se sobrepôs naquela fria e dolorosa noite foi o olhar angustiante de Temari. Naruto sentiu como se levasse um soco no estômago quando reconheceu a vermelhidão e cansaço que os olhos claros dela tentavam esconder: era o desespero de uma irmã que não sabia mais o que fazer, era o medo de perder mais uma vez o irmão para um caminho sombrio, era a dor de precisar enfrentar mais uma vez tudo o que eles sabiam que estava por vir e também a melancolia de quem passara as últimas horas chorando.

Ele sentia que estava sendo jogado em seu passado, naqueles anos tenebrosos de sua adolescência em que o a adrenalina não abandonava seu sistema nervoso. Reconhecia os sinais de decepção em cada detalhe da expressão de Temari. Podia visualizar o medo que ela carregava e a exaustão mental de quem precisaria lidar com uma bomba-relógio. Por um momento, a semelhança com Iruka o assustou e congelou seus movimentos e pensamentos.

— Não consigo acreditar que o Gaara voltou a usar drogas — Descarregou e Shikamaru a puxou para si, envolvendo seu corpo com seus braços fortes — Era para ele estar são! Livre! Caralho, ele tinha acabado de completar quatro anos sem nenhuma droga dentro dele... O Kankuro tinha me garantido que estava tudo bem, porra!

— Algo deve ter acontecido, Tema. — O namorado tentou acalmá-la.

— Algo vai acontecer quando eu encher ele de porrada, isso sim! Não consigo entender o que leva um ser humano a se autodestruir desse jeito. Caralho, como ele pode ter tido uma recaída depois de tanto tempo? — E virou-se, revoltada, para o rapaz de cabelos dourados — Por que vocês se drogavam, Naruto?  — Disparou, desesperada.

Pelo canto dos olhos, o Uzumaki viu o amigo proferir um pedido de desculpas silencioso. Acenou timidamente com a cabeça, sabendo que não podia culpar Temari por estar sendo tão rude. Ela tinha suas razões.

— É difícil explicar, mas eu prometo que vou conversar e cuidar dele — Sussurrou, apertando a mão dela delicadamente —, afinal aquele idiota é um dos meus melhores amigos.

Com essas palavras, a expressão fechada da agressiva irmã suavizou-se e deu espaço para espasmos e soluços, que se transformaram em um sofrido choro. Ela agarrou-se ao namorado e começou a chorar baixinho. Shikamaru afagou os fios claros e a abraçou com carinho e afeição e Naruto soube que estava na hora de deixá-los sozinhos.

Despediu-se rapidamente, aflito pelo passado que começava a persegui-lo. Sozinho, caminhou pelas ruas escuras do bairro agitado, sabendo que naquela noite não conseguiria dormir. As lembranças começavam a borbulhar em sua mente e ele soube que a insônia o acompanharia nas próximas semanas, atormentando seus pensamentos com as memórias de uma época em que ele não tinha noção do que fazia.

Lembrava-se perfeitamente daquele tempo. Para ele, tudo o que importava era saciar suas vontades momentâneas. “Só mais uma vez e então eu paro”, repetia sem parar. E então a necessidade de mais prazer crescia. A urgência em ter a droga se tornava mais intensa. Ele queria mais. Não importava o que era, o loiro só buscava algo que lhe trouxesse qualquer sensação de prazer. Não ligava para as alucinações, para o que as toxinas causavam em seu corpo ou a dependência que este criava. Sua mente tinha se curvado às drogas e ele queria mais. Ele precisava de mais.

Sua vida se transformara em borrões cinzentos, turvos e sem nenhuma lógica. Sabia que brigava demais com Iruka e qualquer um que se metesse em seu caminho. Compreendia que quando não estava dormindo, estava com Gaara, largado pelos becos e ruas suspeitas. A única preocupação era não ser pego pela polícia e como conseguiria a próxima dose, do que quer que fosse.

Ele e Gaara tinham se entregado ao vício e destruíam-se, acabando com suas vidas e com aqueles que os cercavam. A depressão da abstinência sempre parecia que ia matá-lo e isso criava uma tortuosa ansiedade, ao ponto de perder a noção do tempo, quando embarcava em uma crise. As paranoias e alucinações por muitas vezes quase o enlouqueceram. Sentia-se perseguido. Sentia-se triste. Constantemente via-se dominado por uma fúria que não tinha explicação. Em vários dias o vazio completo o fazia traçar planos para sua própria morte.

Sim, sabia que mesmo que estivesse limpo, nunca estaria a salvo. Se abaixasse a guarda, poderia ter uma recaída. Caso não prestasse atenção, toda aquela confusão poderia voltar. E Naruto se esforçava, entregando-se totalmente ao trabalho ou algo que o distraísse até que não restasse mais forças para pensar em qualquer coisa. Ele lutava exaustivamente contra a ameaçadora sombra que o perseguia, lembrando-o do quão medíocre já tinha sido.

Infelizmente, com Gaara cedendo aos impulsos, restava ao Uzumaki o desespero. Não queria ver mais a expressão de Temari no rosto de Iruka. Não queria magoar aqueles que o cercavam com tanto amor e carinho. Ele queria lutar, sem fraquejar contra os fantasmas que não o abandonavam. Não queria se curvar para as cicatrizes. Não queria que o medo de não saber onde estava, se estava vivo ou não, voltasse. Não queria que os pensamentos de inutilidade retornassem e convivessem com ele. Ele queria fugir daquele sentimento de saudade e luto que quase o mataram.

— Presta atenção, vagabundo! — Uma voz berrou, quando o rapaz trombou em um homem rechonchudo.

Naruto sussurrou um pedido de desculpas e afastou-se correndo. Quando já estava longe, percebeu que tremia. Os calafrios percorriam todo seu corpo, que estava congelado pelo medo dos próprios pensamentos. Ele suava e estava assustado, como uma criancinha que não consegue dormir pelo temor do escuro.

Estava começando a surtar, quando seu celular tocou. Sem nem pensar, o Uzumaki o atendeu em um movimento rápido, com medo de Iruka estar ligando, avisando que algo terrível tinha acontecido. Naquela agonia, ele começava a vislumbrar um futuro em que voltava a andar pelas vielas perigosas, procurando por alguém que tivesse qualquer coisa que destruísse a angústia de seu peito. No entanto, uma voz carregada por uma boa dicção o surpreendeu, soando suavemente do outro lado da linha:

— Boa noite, Naruto. Aqui é o Itachi, o irmão do Uchiha Sasuke.

A surpresa o deixou mudo.

— Liguei em um mal momento? Desculpe, posso retornar depois.

— Não! Oi, desculpa! Como vai Itachi? Quanto tempo, hein? O teme está bem? Não me diga que aquele cretino aprontou algo! — Disparou, grato pelo Uchiha mais velho o afastá-lo daquele perigoso caminho que seus pensamentos tomavam.

— Está tudo bem, Naruto. — Pelo som de sua voz, o Uzumaki soube que ele tinha nos lábios o costumeiro sorriso de canto de Sasuke — Felizmente meu irmão anda ocupado demais com a faculdade para aprontar alguma coisa, mas não é sobre isso que eu queria falar.

— Não?

— Não.

Naruto engoliu em seco, imaginando sobre o que Itachi gostaria de tratar com ele. Temeu que tivesse quebrado alguma coisa na casa dos Uchihas e tivesse de pagar. Estava para comentar isso, quando uma voz — que não pertencia à Itachi — começou a falar do outro lado da linha, afundada em uma alegria contagiante:

— Oi, Naruto!

— Sakura?

— Viu, eu falei que ele reconheceria minha voz. Chupa, Itachi! — A menina riu, voltando a prestar atenção na ligação — Você está bem, Naru? Já faz alguns dias que não nos falamos depois do surto daquele estressado ranzinza.

— Estou sim, só um pouco corrido.

— Tem dormido direito? Juro pelos deuses que se precisar, vou no inferno para te aplicar um calmante!

Um riso sincero despontou de sua garganta e o jovem agradeceu a preocupação excessiva da futura médica. Às vezes era bom ter algum se preocupando consigo.

— Então, como dizer... eu meio que arranquei do Sasuke a informação de que você gostava de mangás e tal... — Revelou hesitante e ele franziu as sobrancelhas, imaginando o que o Uchiha mais novo poderia ter falado — Digamos que isso misteriosamente chegou ao conhecimento dos meninos da Akatsuki e, de alguma forma, eles arrumaram um ingresso do próximo evento de anime para você.

Na rua deserta e congelante, o Uzumaki travou.

— Como é?

— Não se preocupe, já está tudo acertado e nós todos estaremos lá! O que acha de me ajudar a convencer os irmãos Uchihas de irem fantasiados de Mario e Luigi?

— Eu seria o Mario. Primeira opção. O que brilha. — A voz de Itachi pôde ser ouvida e ficou óbvio que ele se divertia com aquilo tudo.

— Engraçadinho. — Sakura grunhiu irônica e pelo som que se seguiu do mais velho reclamando, provavelmente ela tinha jogado uma almofada nele.

— Não sei, Sakura...

— Vamos, Naaaru! — Choramingou, pidona — Por favor, seu ingresso já está comprado, não fura assim com a gente! Eu posso até fazer uma fantasia para o porquinho-da-índia do seu tio! Ele vai ficar parecendo o Hamtaro e vai ser o centro das atenções, já estou até vendo!

— Os meninos fizeram a inscrição do concurso de cosplayers depois de perderem uma aposta com o pessoal da faculdade e vão ter que dançar algo da Hatsune Miku.  —Itachi contou, roubando o celular da amiga — Sinceramente, se eu fosse você, não perderia isso por nada. Até o Sasuke está empolgado para esse extraordinário momento.

— Imagina eles desengonçados e tentando dançar aquelas músicas fofinhas! Vai ser hilário! Você precisa ir Naruto, por favor! Nem que seja só para tirar com a cara deles!

— Está bem, vocês me convenceram. — Anunciou e a Haruno vibrou, agradecendo e prometendo que a comida ficaria por conta dela.

— Irei te mandar mensagens passando todas as informações necessárias então — O universitário combinou e eles encerram a ligação.

Finalizando a chamada, Naruto ficou alguns minutos parado naquela rua, fitando o celular com os lábios esticados em um tenro sorriso. Esquecendo todos seus problemas por um curto período de tempo, ele saboreou aquele sentimento tão puro e genuíno que a dupla trouxera. Era bom saber que eles apreciavam sua companhia e exigiam mais dela, mesmo que o Uzumaki fosse tão desajeitado e trouxesse tantos problemas ao grupo.

Diferente de seu passado, ele não estava mais sozinho.

A leveza que a emoção o trouxe foi muito bem recebida e quando voltou a andar, a tensão não o acompanhava mais, pois ele sentia-se em paz, mesmo que a preocupação com Gaara o circundasse, espreitando todos seus passos.

Infelizmente, ela a atacaria antes do esperado.

[...]

Calçando botas degastadas pelo tempo, ele corria em um ritmo acelerado pela podridão daquela parte da cidade e em um bairro que havia sido esquecido por boa parte da sociedade, Uzumaki Naruto tentava não vomitar com o estado decadente daquelas ruas, desviando de amontoados de lixos e tampando o nariz com as mãos, buscando não passar mal com a mistura de incontáveis toxinas ilícitas que o vento trazia. 

Escondendo bem o celular, percebeu que vários pares de olhos vermelhos acompanhavam sua corrida e perguntou-se quantos estariam são o suficiente para compreender que ele era de carne e osso, não parte de uma alucinação medonha. Chegou à conclusão de que seriam muito poucos e a constatação o deixou triste, lembrando-o que há poucos anos ele também faria parte dos que abdicariam a sanidade pelo conforto que as drogas sempre traziam.

Empurrava pessoas e chutava sacos de lixo, ignorando o som de músicas eletrônicas e desconhecidas. A fumaça dos cigarros alheios nublava sua visão, deixando-o zonzo e perdido. A mochila em seus ombros pesava, o corpo doía e ele sentia que logo mais entraria em algum tipo de crise de pânico.

Cerrando os olhos inundados por um medo transparente, Uzumaki Naruto tentou deixar aquelas reflexões para depois, concentrando-se em localizar o carmim tão conhecido dos cabelos de Gaara. No entanto, o que encontrou foi a expressão de um Shikamaru exprimindo preocupação ao se aproximar.

— Obrigado por ter vindo. — O Nara falou alto, tentando driblar a música alta e o recebendo com um abraço apertado, expondo sua gratidão.

— Nenhum sinal dele?

Shikamaru negou com a cabeça e o outro reagiu com um muxoxo.

— O que aconteceu? — Naruto perguntou, caminhando ao lado do amigo e desviando de algumas pessoas largadas no chão.

— Pegamos o Gaara no aeroporto e levamos para casa. Ele ouviu um monte da Temari, sem abrir a boca. Juro que tentei conversar racionalmente e entender o que tinha acontecido, mas ele não me contou nada. No final da tarde, fomos ao mercado comprar algo para a janta e quando fui mostrar a sessão de carnes para a Temari, ele sumiu. Voltamos para casa e procuramos por ele, mas não o achamos.

— Merda.

— Quando te liguei, estava marcando no Maps todos os lugares que ele costumava ir. Pedi para alguns amigos irem dar uma olhada neles, mas com você é diferente, Naruto. Vocês andavam juntos, então tem a probabilidade de conseguir localizá-lo com exatidão.

O Uzumaki assentiu, sabendo que o amigo não falava aquilo com grosseria.

— Fez bem em me chamar. — Declarou, puxando Shikamaru para uma parte mais afastada da baderna — Eu sei onde ele está.

Os dois rapazes caminharam lado a lado por uma viela pútrida e de caminho estreito. O Nara fez uma expressão de horror quando ratos deslizaram pela escuridão, passando por cima dos sapatos dele e o sofrimento foi acolhido pelos olhos azulados do rapaz louro.

— Desculpe por ter te chamado assim — A voz cansada de Shikamaru cortou o silêncio mórbido — Sei que deve estar exausto pelo Iruka e o quanto esse lugar deve te trazer memórias ruins.

— Não se preocupe com isso. — Soprou, vendo sua respiração levantar fumacinhas no frio da noite — Depois que enchermos o Gaara de porrada, ele vai nos pagar um lámen e vai ficar tudo bem.

Os dois riram sem nenhum humor e suas faces ficaram sérias quando Naruto apontou um boteco surrado pela ação do tempo. A pintura estava completamente gasta, a maioria das luzes não funcionavam mais e a clientela era de aparência maltratada. A música ali era mais baixa, mas trazia uma poesia cruel e pesada, enfatizando as drogas e a prostituição. O cheiro de álcool esbofeteou o Uzumaki, que abaixou a cabeça quando sentiu os olhos de Shikamaru em si e visualizou o passado correndo em sua mente.

Esgueirando-se pelos bebuns, o rapaz puxou a touca do capuz para cobrir seus fios tão claros, tomando a súbita consciência do quão fodido estaria, caso fosse reconhecido por aqueles que haviam convivido consigo na época mais escura de sua vida. Ele sabia que as rixas permaneciam intactas e mesmo a ação do tempo não as apaziguaria.

Infelizmente comprovou isso quando seus olhos se arregalaram ao contemplarem Gaara largado no chão, cercado por uma disforme dupla, cuja desferia ao ruivo golpes e ofensas nada gentis. A adrenalina correu pelo sangue do Uzumaki, que saiu correndo na frente um Shikamaru que tentava processar a cena.

Ele viu o mundo ficar lento, quando o som de seus passos se tornaram ocos aos seus ouvidos. Suas mãos empurraram os bêbados que encontrou pela frente, projetando seus corpos para longe de seu caminho. Copos foram ao chão em sua pressa de chegar ao amigo e Uzumaki Naruto mergulhou no passado, lembrando de como ele e Gaara triunfavam por todas as brigas que se metiam e ganhavam.

Mas dessa vez não havia esse prazer. Pelo contrário, o medo quase arrancou de si o ar, quando viu um dos rapazes retirar um afiado canivete de um sujo casaco. O Uzumaki pulou em cima dele, gritando para Gaara tomar cuidado e chamando o arruaceiro de covarde. Por essa ação, encontrou a fúria do agressor, que o socou com força no rosto e tentou golpeá-lo com a arma. Cego e vendo estrelas, Naruto conseguiu desviar dele usando o instinto do encrenqueiro que já havia sido.

Distraindo-se com o grito da outra parte da dupla, o loiro pôde visualizar Shikamaru o imobilizando sem grandes dificuldades. Essa pequena pausa quase custou um severo machucado no estômago, quando seu oponente se jogou nele, embriagado em uma fúria incompreensível. Naruto desviou no último segundo e quando tentava parar o próximo golpe, aquele desconhecido encontrou uma brecha o atacou, deixando que a faca o penetrasse o interior de seu antebraço.

O mundo perdeu a cor momentaneamente e um silêncio nervoso estourou em seus tímpanos. Por uma fração de tempo, o Uzumaki encarou fixamente o machucado, sem conseguir organizar seus pensamentos e compreender o que aquilo significava.

De repente, a dor cruzou aquela parte de seu corpo. O encrenqueiro puxou o canivete sem cerimônias, permitindo que a lâmina deslizasse e retalhasse mais ainda o membro do rapaz. Vaias cortaram a quietude do local e o sangue, tão purpuro e brilhante, escorreu pela pele do Uzumaki, sujando a ponta da lâmina tão afiada e suas roupas. Em choque, ele caiu no chão e curvou-se sobre si, imergindo em uma dor dilacerante.

Em seu sofrimento, não viu quando Gaara recuperou-se e caiu em cima de seu oponente, distribuindo pesados socos por todo o corpo dele. Resmungando pela dor, não prestou atenção quando o amigo ruivo começou a desfigurar o rosto do cretino que tinha feito aquilo com ele. Esforçando-se para não chorar, sequer viu quando Shikamaru tentou conter o cunhado com gritos e empurrões. Afundando em um choque tão grande, Naruto não reagiu quando os dois amigos o levantaram e o retiraram dali, cambaleando.

— Naruto!

Após alguns minutos consideráveis, conseguiu ouvir a voz do Nara chamando-o e seu olhar focalizou além dele, que o chacoalhava fortemente, parando no homem de cabelos carmim, que o fitava fixamente, em silêncio.

— Gaara. — Sussurrou, gemendo pela dor.

— Precisamos levar vocês ao médico. Tipo, agora. — Shikamaru anunciou, tentando manter uma postura calma. No entanto, o tremor de suas mãos denunciava o terror que habitava seu âmago — Aqui, coloca esse casaco em volta do seu braço para não perder muito sangue.

O Uzumaki permitiu que o felpudo casaco de Gaara envolvesse o braço.

— Caralho, isso foi insano. — Shikamaru desabafou, carregando o amigo para fora daquele bairro e chamando um taxi que, acostumado com aquela região, sequer esboçou reação para o estado do trio — Naruto?

— Eu estou bem. — Mentiu, sentindo os efeitos da adrenalina cessarem e percebendo que também começava a tremer e suar frio.

— Vou ligar para a Temari.  

O Uzumaki abaixou a cabeça, tentando pensar em algo feliz para distrair as pontadas fortes que estremeciam o antebraço. Imaginou a quentura do café do Ichiraku. Visualizou as flores que Sasuke tinham lhe dado de presente e decoravam seu quarto. Deixou que a mente se transportasse para o quarto do universitário e refez o momento que suas mãos se encontraram, trazendo a paz e a segurança que eles precisavam.

Ele realmente gostaria que as boas memórias o fizessem melhorar, mas a dor não parava de aumentar. Começou a sentir o tecido ficar molhado com o viscoso sangue e engoliu em seco, temendo o que poderia acontecer consigo. Procurou não entrar em desespero e reprimiu as lágrimas que teimavam em sair.

Chegando ao hospital, Shikamaru pagou a corrida e o grupo caminhou na direção de um prédio superfaturado e miserável. Acompanhados da iluminação precária da rua, o funcionário do Mcdonalds só queria ser anestesiado para que a dor parasse.

Sonhando com os comprimidos que tomaria para cessar a dor, Naruto foi surpreendido quando um homem encapuzado veio na direção deles. Envolvido no silêncio da já madrugada e na escuridão, o trio só conseguiu reparar nele quando a luz prateada de um revolver brilhou e o som de um disparo rompeu tudo o que eles sentiam.

— Isso é pelo Abiru, Sabaku no Gaara! — Exclamou, correndo antes que alguém pudesse tomar alguma iniciativa de atacá-lo.

O som que se seguiu foi o de Gaara indo ao chão, inerte.

[...]

O sol desbotou nas apáticas janelas daquele lugar, trazendo uma luz fria e sepulcral para o corredor desprovido de cores do hospital. Sem dormir há tantas horas, Naruto bocejou baixinho, olhando desolado para o braço enfaixado e sorriu sem humor quando lembrou da piadinha da gentil médica, garantindo-lhe que sobreviveria ao ferimento, desde que não forçasse muito aquela parte do corpo.

Ele daria tudo para uma boa xícara de café do Ichiraku.

Como “querer não é poder”, o que recebeu foi a percepção de alguém se aproximando. Levantou a cabeça lentamente e encontrou um jovem médico caminhando para o casal que estava sentado do outro lado do corredor. Ele sussurrou algumas palavras e a mulher de cabelos opacos grudou seu corpo no peito do namorado, emitindo um choro que parecia vir do fundo de sua alma.

Naruto encontrou-se levantando e pegando o homem de jaleco pelo colarinho de sua blusa social. Ignorou a dor, descobriu-se com dificuldades para pronunciar sua ira e questões que o afligiam, imerso em lágrimas grossas e quentes que escorriam pelas bochechas marcadas.

— Ele está bem. — O médico sussurrou, compadecido pelo estado fadigado do rapaz — A cirurgia foi difícil e por pouco o ferimento não destruiu seu estômago, mas seu amigo vai ficar bem. Vocês vão poder vê-lo daqui a pouco. Um por vez.

As mãos escorregaram da vestimenta do profissional e o loiro foi rodeado pelos abraços fortes de Shikamaru e Temari. Juntos, eles choraram pelo alívio depois de passarem a madrugadas acordados, esperando a pior notícia possível.

Temari foi a primeira a ser liberada para ver o irmão e Shikamaru permitiu que o Uzumaki fosse em seguida. Ele agradeceu a consideração e rompeu a sala desesperado, encontrando Gaara cochilando, com tubos e fios conectados em seu corpo, monitorando todos os seus órgãos vitais. O amigo estava mais pálido e sua face era coberta por hematomas em uma medonha mistura de cores. Naruto precisou se aproximar, entrelaçando seus dedos e sentindo o calor de seu corpo, para ter a certeza de que ele estava mesmo vivo.

Percebeu que suas pernas tremiam e sentou-se em uma cadeira, desabando perto da mão do rapaz de cabelos ruivos. As lágrimas apresentaram-se com força, em espasmos cruéis e nada gentis. A dor em seu braço continuava o atormentado, apesar de não estar mais forte e o medo de que Gaara continuasse a se lançar naquele tipo de vida consumiu os pensamentos do Uzumaki, que chorou desejando que aquele idiota encontrasse a salvação novamente.

— Naruto... — A voz fraca sussurrou e ele ergueu a cabeça, percebendo que o Sabaku sofria para abrir os olhos.

— Seu imbecil! — Rosnou, querendo bater nele como fazia no passado, quando discordavam de tudo.

— Eu... desculpe.

            Corroído pelas lágrimas, Naruto apertou sua mão com mais força.

— Não era para isso acontecer. — Lamentou, em um tom de voz debilitando e com olhos opacos encarando o teto.

— Seu grande imbecil! Por que você tinha que voltar para aquele lugar tão merda? Porra, eu ia te visitar, ia levar um lanche para a gente comer e conversar sobre a Austrália. Até ia comprar umas flores e levar um café do Ichiraku!

Um sorriso de dor cruzou a face do amigo.

— Desculpe, não vai rolar tão cedo.

— Olha, você está bem. O médico disse que vai sobreviver e o pai do Shikamaru está vendo um hospital particular para que você receba um tratamento decente. — O Uzumaki relatou, lembrando-se do pedido de Temari, que tinha ido (depois de muita insistência) com o namorado para casa, para tomar um banho e trocar de roupa — Então tenta não estragar tudo, ok?

O silêncio acompanhou sua fala.

— Gaara...

— Sim?

            — Seja bem-vindo novamente. — Sussurrou, deixando que sua testa encostasse nos dedos longos e cor de alabastro — Senti sua falta, cabeça de fogo.

O rosto inexpressivo se contorceu em uma careta e Naruto percebeu que o amigo começava a chorar por trás dos inchados machucados que transfiguravam sua face.

— Desculpe, Naruto. Não era para nada disso acontecer. Eu só queria sair. Respirar. Esquecer por um momento que eu sou Gaara, o drogado. — Começou a se explicar o funcionário do fast-food acenou, instigando que ele continuasse seu desabafo — Mas encontrei o Kiba, lembra? Ele me chamou para dar uma volta e eu aceitei. Não queria ir para lá, mas ele disse que ia ser rápido.

— Aí a turma do Abiru te encontrou.

— Aqueles cretinos do caralho, porra. Mas eu juro, Naruto, eu não usei nada, não bebi nada. — Cuspiu e seus dedos fizeram pressão nas mãos do amigo, quando ele subitamente arregalou os olhos e encarou-o com medo — Afinal que caralho você foi fazer lá? E se eles te reconhecessem? Quem tomaria a porra do tiro seria você, seu maluco!

Naruto deu de ombros.

— Um amigo precisava de ajuda.

Gaara riu incrédulo e o Uzumaki sentiu um gigantesco alivio preencher o ambiente, notando o quanto sentia falta da presença daquele ruivo. Eles tinham uma longa história, construída em cima de uma impetuosa e torturante dor. No entanto, quando os olhos claros se encontravam e o sorriso introvertido de Gaara surgia, Naruto percebia que não o abandonaria por nada no mundo. Aquele imbecil era seu melhor amigo e o loiro jamais o abandonaria, mesmo que tivesse de levar centenas de facadas em seu corpo.

Continuariam a conversa se os efeitos dos fortes remédios não voltassem a fazer efeito, transportando Gaara para um mundo de sonhos em que as desgraças da vida não o atormentavam. Exausto, Naruto largou-se melhor na cadeira e velou o sono do antigo amigo momentaneamente, aproveitando a paz tão aconchegante.

Retirando o celular do bolso, viu que estava quase sem bateria e mandou algumas rápidas mensagens para Iruka, relatando que estava bem. Já tinha mandado mensagens antes, quando saíra do serviço e fora atrás de Gaara, dizendo que ele tinha saído com uns amigos e bebido demais. Agora completara a mentira avisando que o cabeça de fogo tinha passado mal, mas estava bem por ora.

Sabia que não era certo omitir a verdade, entretanto era assim que precisava lidar com Iruka, já que o homem não podia passar por emoções intensas e diferentes do usual. Sabendo que era para o próprio bem dele, Naruto acabara acostumando-se com aquela realidade, mesmo que às vezes sentisse falta de ser cem por cento sincero com aquele que tinha a figura paterna para o rapaz.

Era errado, mas algumas vezes sentia falta de ter alguém que brigasse consigo. Em algumas noites, quando estava estressado e somente caía na cama, desejando que o mundo explodisse, o Uzumaki secretamente desejava alguém que ouvisse seus gritos e reclamações da vida. Sentia falta dessa parte da socialização.

— Saindo daqui, irei para o serviço. — Desviou seus pensamentos, gravando um áudio para o homem — Eles deixaram eu chegar mais tarde, desde que saía mais tarde também. Então só vamos nos ver de noite, ok? Não esqueça de tomar seus remédios. Ah! Vou saber se tentar me enrolar, tio Iruka! O Kakashi vai aí mais tarde conferir se está tudo certo, então aproveita e manda ele fazer algum doce. — Forçou uma risada, que aos seus ouvidos soou bastante verdadeira — Se cuida, dattebayo!

Largando seu celular de lado, nem passou pela cabeça dele que nas últimas vinte e quatro horas tinha ignorado todos os seus amigos. As mensagens e ligações de Sakura e Itachi acumulavam-se, exigindo a confirmação de que Naruto iria mesmo para o evento e traziam todas as informações possíveis para que ele não se sentisse excluído, adicionando-o até mesmo em um grupo exclusivo. A maioria dos membros da Akatsuki tinham lhe mandado mensagens privadas, tentando convencê-lo a jogar League of Legends. Alguns colegas do serviço questionavam seu sumiço. Sai comentava sobre uma exposição nova.

Naruto não queria saber de nada disso.

Depois de tanta tensão, ele só precisava de um bom banho e descanso.

Em sua exaustão, só queria saber se Iruka estava bem e se — mesmo chegando atrasado — ainda receberia pelo dia trabalhado. Afinal, não podia perder nenhum centavo do ganhava ou passaria fome no final mês.

Com tantos problemas e infortúnios, acabou deixando passar batido as sete mensagens provindas de Uchiha Sasuke e mesmo que o Uzumaki não soubesse, seu sumiço não passou despercebido pelo universitário.

 


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Notas finais do capítulo

Vamos lá.
Esse capítulo provavelmente foi o mais difícil de produzir dessa história. Eu sofri. Muito. Espero que vocês também, auhushuashas. Tinha hora que eu precisava pausar a escrita e ir respirar, de tão louco e triste que tava isso aqui. Sério, quase passei mal e depois de mandar uns prints para um amigo, ele até falou: VOCÊ TÁ USANDO DROGAS, MENINA? QUE PORRA É ESSA?PADKOASOPDAKSDAKSD. Enfim, para quem tinha dúvidas dos porquês do nosso menino Uzumaki esconder o passado dele, aqui está a PONTINHA DO ICEBERG. SIM, MENINAXXXXXXXX, AINDA TEM MUITO MAIS COISA POR AÍ (e de verdade, me dói muito começar a explorar o que eu planejei pro naruto. sério, ele é tão bolinho, NÃO MERECE SOFRER ASSIM AAAAAAAAAAAA, socorro, escrever é mt loko, n eh msm _qq).
Então, nesse capítulo aprendemos algumas coisas, MAS A MAIS IMPORTANTE É
SE VOCÊS SUMIREM, O CRUSH VAI NOTAR
AINDA MAIS SE VOCÊ FICAR ONLINE VÁRIAS VEZES E TOCAR O FODASE PRA ELE
quem tem ctz q isso aí vai dar merda?eooooooooooooooo o////////
Enfim, brincadeiras a parte, desculpa não responder. TIPO, EU REALMENTE AMO E AGRADEÇO TODO O FEEDBACK DE VOCÊS, E AGRADEÇO O QUE ESTÃO COMIGO E NÃO ME DEIXAM NO FLOOP MESMO DEPOIS DE SUMIR POR MESES. Mas adivinha quem é a estagiária que andou trabalhando mais do que devia?????? * - *, pois é. DIFÍCIL conciliar serviço, estudo, fanfic, respostas, e vida social (error 404 not found). MAS ESTAREI ME ESFORÇANDO, CERTO? Juro que eu leio tudo e de verdade, eu amo. Não consigo descrever o quão emocionada vocês me deixam por cada feedback. PErcebo que a história é importante para muita gente e que a energia que ela transmite muda o dia de alguns. GENTE, TO QUASE CHORANDO LEMBRANDO DAS PALAVRAS CARINHOSAS DE VOCÊS AAAAAAAAAA, MUITO OBRIGADA POR TUDO ♥
enfim, espero que não desistam disso aqui, mesmo com esse plot um pouco mais QUE PORRA É ESSA
ele é necessário e vocês vão entender melhor depois
SÓ JOGUEI A BOMBA POR ENQUANTO, DESCUULPA
perdoem os erros
xoxo



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