O Funcionário do Fast-Food escrita por Ellaria M Lamora


Capítulo 15
XV — Nós vamos morrer




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XV

NÓS VAMOS MORRER


O CORPO FOI ENGOLIDO PELO ÍNDIGO quando Uzumaki Naruto aventurou-se em um mergulho pelas águas de seu mar. Era um fim de tarde caloroso; o céu era pincelado pelo laranja, rosa e o turquesa, deixando que um véu de estrelas se estende-se até a infinitude, fascinando o Uzumaki que admirava fixamente o mar desaguando na areia, permitindo que o cheiro do sal se impregnasse em seu nariz. De repente, pareceu a ele que a natureza o acolhia, o envolvendo por completo em seu seio, sussurrando segredos que os adultos não podiam compreender, revelando a criança todos os seus encantos daquela praia vazia.

Infelizmente, enfeitiçado por toda a magia, foi surpreendido quando se viu incapaz de mexer as pernas e dores fortes explodiram em suas panturrilhas de tal forma que ele acreditou que elas fossem partir-se ao meio. Desesperado, tentou voltar para a terra, sedento pela vontade de sentir a areia em seus dedos novamente, mas a dor o paralisou, enquanto o mar o puxava para longe.

Quando o sol pareceu tocar o oceano e as gaivotas voaram acima de seus cabelos dourados, o Uzumaki viu-se afundando no azul infinito. Ele gritou, tentando chamar a atenção de qualquer um que estivesse por perto, mas tudo que encontrou foi uma água, salgada e amarga, penetrando sua garganta, enchendo seus pulmões. Seu corpo debateu-se e ele pôde enxergar algo que não estava certo. Um pequeno detalhe, que até então não tinha sido processado por sua mente, como todos os outros até então vivido: mãos pequenas e gordinhas, debatendo-se desesperadamente no cerúleo.

Uma pulseira infantil, cravada com uma raposa, envolvia um de seus pulsos.

E, como se despertasse, ele soube: era um sonho, ou melhor, uma lembrança.

O medo invadiu seu coração com a revelação e ele tentou fechar os olhos, buscando acordar sua mente, tentando em sua agonia despertar. No entanto, para sua infelicidade, as pálpebras continuaram abertas e ele soube que o azul de seus olhos era mais cristalino que o mar. De alguma forma, conseguia visualizar a figura de seu corpo, pequeno e indefeso, penetrando a negritude do desconhecido que havia lá embaixo, levando-o a refletir o quão frágil era

Com esforço, tentou berrar, estapear o vazio, nadar, implorar por ajuda. As lágrimas misturaram-se na água salgada e o ar foi tomado quando ele se viu incapaz de continuar a pedir por socorro. Após algum tempo, seus movimentos pararam e ele sentiu que os membros relaxavam, impossibilidades de continuar lutando, ocupando-se unicamente em deixar o corpo ser puxado para o fundo do mar, deixando que pensamentos absurdos devorassem seus pensamento e ele perguntou-se que tipo de animais haveriam lá embaixo e se eles se atreveriam a comê-lo, rastejando por todo seu corpo, mordiscando sua pele, até que fosse completamente transfigurado em algo irreconhecível. Quem sabe jamais seria encontrado e sua alma habitaria as profundezas dos oceanos para sempre, vagando inconsciente e solitária por lá, sem ninguém para fazer companhia?

Quis chorar com a súbita tristeza que sondou seu coração, mas descobriu que não tinha mais forças e somente lhe restou afundar, contemplando a última luz que as estrelas produziam lá em cima, percebendo que ali embaixo elas eram tão fracas que as trevas as devoravam sem nenhum tipo de piedade. Solitário, permitiu que o silêncio do azul o sufocasse, sugando respiração e roubando a percepção de tudo o que acontecia ali.

A consciência começou a morrer e essa, talvez, foi a pior parte. Ele sabia que uma parte de sua mente queria berrar, vociferar e urrar por ajuda, mas um pesar em seu corpo o impelia a agir como deveria.  Os membros tornaram-se dormentes e ele soube que o mar roubava o brilho tão puro de suas órbitas, reivindicando para si a pureza daquela criança, o cristalino de sua felicidade sempre tão presente. De repente, Naruto sentiu-se muito cansado e seus olhos murcharam, deixando que uma tonalidade opaca tomasse conta deles, sua boca tornou-se apenas um traço reto, quando os lábios se apertaram e ele soube que não demoraria muito para que a sonolência lhe roubasse a vida.

Em seu último esforço. ele conseguiu erguer uma de suas mãos, tentando debilmente tocar uma estela, perguntando-se se teria o direito de virar uma delas e brilhar lá no céu, ou se seria destinado a escuridão das profundezas do oceano.

Então, uma mão forte, firme e protetora a agarrou, prendendo-se a corrente de raposa que ele carregava. Seu corpinho foi puxado com força para fora d’água e a consciência esvaiu-se quando o sol desapareceu no horizonte.

Naruto questionou-se se havia morrido e se aquilo era algum tipo de tortura que ele seria obrigado a passar. Revivendo aquelas memórias, ele não tinha um corpo, mas soube que se tivesse, fecharia os olhos e se ajoelharia, batendo em sua cabeça e se forçando a acordar, obrigando a si mesmo a reviver. Ele não podia morrer ainda. Não quando Iruka começava a avançar para o estágio intermediário do Huntington. Ele sabia que o tio não sobreviveria e iria desistir de lutar contra a doença, caso o próprio Uzumaki falecesse, então morrer não era uma opção viável no momento. Naruto precisava acordar, abandonar as memórias de sua infância e deixar o passado para trás.


 

            — Naruto!

Ele sentiu as pálpebras da criança que tinha sido abrindo, descobrindo em sua visão imagens borradas. Captou que a noite caíra e duas figuras ajoelhavam-se em sua frente, mexendo em seu corpo e conversando com angústia.  A criança não conseguia entender suas palavras — que pareciam serem atiradas ao ar com uma velocidade surpreendente — e o Uzumaki sentiu-se lento, como se o universo estivesse acelerado demasiadamente e ele estacasse.

A que estava ao seu lado direito gritou mais uma vez por ele, pronunciando seu nome com desespero. O vermelho então, escarlate e brilhante, tomou conta da confusão de cores que confundiam o Uzumaki e ele sentiu que aquela figura apertava sua mão, implorando por algo. Já o que se apresentava ao lado direito pareceu fazer algo eficiente, pois em segundos Naruto sentia-se expelindo algo por sua boca. Quando o oxigênio irrompeu por seu nariz e pulmão, uma tose amarga e dolorosa explodiu de sua garganta e ele compreendeu que vomitava água salgada, cuspindo-a para fora de seu corpo, jorrando de seus pulmões, expulsando aquilo que quase lhe matara, descobrindo novamente todos os seus sentidos, o frio que as roupas molhadas traziam, a irritação em ter os cabelos dourados pinicando sua testa e caindo por cima de seus olhos.

O mundo surgiu em sua frente quando a vida estourou no seu despertar, mas ele não soube quando dizer por quanto tempo vomitou, já que os minutos discorreram lentamente, assistindo ansiosos seu sofrimento, contemplando o corpo vibrar em dor. Entretanto, em algum momento, as figuras começaram a ganhar solidez e então ele pôde perceber que aqueles aos quais estavam ao seu lado eram...

Seus pais.

O Naruto, aquele que não era a criança, soube que — se pudesse — choraria.

Em sua frente, uma Kushina revelava-se em completo estado de caos. Os cabelos rubros caíam por toda a face do filho, pinicando seu rosto com a maciez e cheiro característico de seu shampoo, quando ela se agarrou a ele, murmurando o quanto o amava, o quanto ele tinha a assustado e que ela não suportaria jamais perdê-lo. Ao seu lado, Minato segurava a mão do menino, fitando a família com amor e carinho. A criança rendeu-se ao abraço da mãe e então chorou, desmanchando-se em lágrimas, agarrando a mão do pai, aquela mesma que tinha lhe salvado.

— Eu tive muito medo de morrer. — A voz infantil, tão fraca e abalada, desabafou.

— Não se preocupe, meu amor, a mamãe está aqui agora. Vai ficar tudo bem. — Kushina o acalmou com as palavras dóceis, trazendo-o para mais perto — Só não mais invente algo assim! É por isso que eu sempre digo para somente entrar na água se estivermos por perto...

— Você teve sorte que percebi sua ausência logo, filho.

As lágrimas jorraram com mais força e a criança implorou pelo perdão dos dois.

— Está tudo bem, Naru. Ei, não chore! Olha só, ao menos descobrimos que seu pai é um herói, não é? Olha só, ele não é um banana como o tio Iruka insiste em afirmar, mas sim um verdadeiro herói!

— Como o Homem de Ferro? — Grunhiu a pergunta, tentando limpar as lágrimas que teimavam em não cessar.

— Só não sou rico, mas de resto, é exatamente como ele.

— Mentiroso! — Mãe e filho dispararam em uníssono e um sorriso iluminou o rosto do homem, quando ele tomou o menino nos braços e deixou que as mãos o envolvessem, deixando que a criança sentisse o calor de seu corpo e sua respiração forte. Minato ergueu o filho no ar e o anil de suas órbitas encaram da criança, perdendo-se em cada detalhe de seu rosto, admirando aquele menino que representava o mundo para si.

— Você é uma caixinha de surpresas e um dia ainda vai matar sua mãe e eu do coração, sabia disso, rapazinho?  — Indagou e o Uzumaki mirim abaixou a cabeça, constrangido e debilitado demais para lamentar sua encrenca — Eu te amo, filho. — Minato declarou, o abraçando com força.

— Eu também te amo, pai.

— Desculpe por não ter chegado antes, não consigo imaginar o quanto deve ter ficado assustado. — Sussurrou baixinho para ele — Prometo que nunca mais vou te abandonar, está bem? Vou estar sempre aqui, Naruto.

Afastando-o um pouco, o pai da criança a fitou com firmeza, para mostrar a seriedade da sua promessa, de modo que restou à criança somente anuir, emocionada com a importância daquelas palavras.

— Ei, estou ficando com ciúmes desses segredos. Quero participar também! — Kushina exclamou, lançando-se em cima dos dois, que deixaram-na participar do abraço coletivo.

— Essa não, Naru! Não podemos deixar sua mãe saber que, após te levarmos no médico, eu tinha pensado em irmos até aquele restaurante perto do hotel que ela tanto quer ir...

A criança Uzumaki riu pelo jeito constrangido que a mãe ficou.

— Você mente muito mal, Minato!

— Posso mentir, mas se você quer recusar um jantar tão bom...

— Me dê o Naru, pegue nossas coisas e vamos. Já aviso que hoje você vai sair sem nenhum yen no bolso!

Uzumaki Naruto gargalhou novamente, apreciando a paz serena que havia se estabelecido após o momento conturbado e deixou-se ser carregado por Kushina, debaixo da noite em que as estrelas brilhavam majestosas no céu. Ao seu lado, Minato deixou que os dedos se entrelaçassem com os da mulher, carregando todas as coisas deles e Naruto pôde perceber que o pai os observava, deixando o amor transbordar por seus olhos.

— Eu amo vocês. — O homem sussurrou.

— Eu amo vocês. — Kushina repetiu

— Eu amo...

A fala não foi completada.

O cenário suave, com cheiro de sal e a brisa do mar desmancharam-se na frente do Uzumaki. As cores escorreram, como se tintas fossem atiradas furiosamente em um quadro branco e as figuras de Minato e Kushina desapareçam na confusão de cores. A voz de Naruto perdeu-se no vazio, quando ele ergueu as mãos, em uma tentativa inútil de salvá-los e ele viu-se diante da solidão de um cadavérico vácuo alabastrino.

Recuperando seu corpo, foi ao chão. Os joelhos tocaram o nada e os punhos socaram o vazio. Ele gritou, sem ligar para as lágrimas que jorravam de novo por sua face. A saudade dos pais cresceu e devorou seu coração e ele arfou, triste e infeliz, quando percebeu que as palavras de Minato haviam sido mentiras cantadas para a criança inocente. Eles não estariam ao lado de Naruto no futuro. O menino sorridente iria jazer solitário, sem aqueles dois.



 



Naruto.

Dessa vez, ao abrir os olhos, uma luz pálida o cegou.

Em sua frente, um homem tinha em seus cabelos castanhos o caos. Os olhos abrigavam bolsas pesadas, denunciando que ele não tinha dormido e o cansaço rasgava sua face, apontando que ele estava ali há muito tempo. As lágrimas vieram quando o Uzumaki direcionou o olhar para ele e Iruka abraçou o sobrinho, molhando-o com sua dor.

— Ele me pegou, né? — O jovem sussurrou, fitando um teto branco.

Em choque pelo sonho e ainda recobrando a consciência, Naruto tentava entender o que seria de sua vida se o Huntington tivesse lhe escolhido como mais um de seus portadores. Ele sabia que precisaria trabalhar mais ainda, antes que o Huntington começasse a agir, acumulando o máximo possível de dinheiro, para continuar a pagar Kakashi. Iruka não poderia ficar sem cuidados médicos nos próximos meses, quando a doença começaria a alastrar-se mais ainda pelo tio. Seria uma fase importante e ele precisaria de acompanhamento.

Exausto, Naruto não conseguiu sorrir para o homem de cabelos castanhos quando este se afastou. Inebriado pelo cheiro característico daquele hospital, não foi preciso Iruka pronunciar as palavras para ele saber que ostentava uma expressão de morte em seu rosto. Sim, ele sabia muito bem como era, afinal a tinha visto anos atrás, no auge dos seus 12 anos, quando era apenas uma criança, numa época em que não conseguia compreender a gravidade da situação. No entanto, se lembrava do médico de jaleco pálido, com uma prancheta em mãos, não conseguindo disfarçar o horror e piedade ao sussurrar as palavras cruéis para Minato, que jazia deitado na maca, com as roupas desbotadas do hospital. Ele recordava que Kushina, sempre tão alegre e valente, tinha o afastado o máximo possível, esforçando-se para que o filho não ouvisse o discurso do homem, enquanto chorava copiosamente em seu ombro, abraçando-o com força e desespero e, mesmo assim, mesmo que não os ouvisse, Naruto conseguira enxergar a expressão do pai, que fitava o médico sem nunca desviar o olhar. Jamais iria se esquecer de seu olhar.

O azul sempre tão vivo parecia fosco, como se as nuvens cinzentas do inverno houvessem roubado a alegria de seu olhar. Suas sobrancelhas estavam franzidas tão severamente que pareceram a criança que o pai jamais voltaria a erguê-las e pelo estado murcho de sua boca, ele pensou que Minato nunca mais iria sorrir. Era como a vida não existisse mais nele, como se o pai de Uzumaki Naruto tivesse ido embora e outra pessoa tivesse assumido seu lugar. Ele tinha o rosto, o cabelo e o corpo de Minato, mas não agia como o tal e o jovem lembrou-se de como isso o assustara ao ponto de que ele fechara os olhos, desejando que tudo fosse um sonho.

Agora, ali estava ele, aguardando o tio confirmar seu pesadelo com a mesma expressão que o pai carregara naquele tempo. Todavia, naquela época, Uzumaki Naruto não conseguia compreender a proporção do Huntington. Infelizmente, no presente, ele e a doença já tinham convivido mais do que deveriam para que o Uzumaki não a temesse. Na verdade, o Huntington o deixava aterrorizado. O medo que causava nele o deixava sem respirar, como estava naquele momento, temendo que — ao inspirar o ar com cheiro de doença — iria descobrir que seus pulmões não queriam mais funcionar e que, ao tentar implorar por ajuda, sua voz não sairia. Os membros iriam permanecer imobilizados e ele morreria sem que ninguém percebesse, preso no próprio corpo. Igualzinho ao seu avô.

— Naruto — Iruka pronunciou, afagando as mechas douradas com carinho —, você parece tanto ele. — Expôs e o Uzumaki soube que o tio se referia ao pai. As lágrimas vieram aos olhos do jovem e ele fechou os olhos — Vai ficar tudo bem, filho.

O funcionário do fast-food negou com a cabeça.

— Fui pego, tio. — Sussurrou, a voz fraca e doente.

— Não, não foi. — Declarou e louro lhe destinou um olhar estupefato — Você está seguro, confie em mim.

— Então, o que aconteceu?

Iruka respirou fundo e sua voz tornou-se séria.

— Você está quase num quadro sério de anemia, Naruto. Os médicos me contaram que faltou muito pouco para que chegasse lá, tem noção disso? É por isso que sempre digo para se alimentar e dormir direito!  Não estou sendo chato, mas a família da sua mãe sempre foi propensa a desenvolver anemia, então ela sempre foi rígida quando sua alimentação e saúde, para que não acabasse assim. Você sabe disso tudo e mesmo assim não se cuida direito!

— Ela sempre foi dramática, todos sabemos disso.

— Não fale assim da Kushina, ela se preocupava com você! — Exclamou, furioso — E eu sinto muito por não ser ela, Naruto. Sei que você evita me contar tudo, por não querer que o Huntington piore, mas você precisa se cuidar!  Não é justo que aguente esse fardo em silêncio, que me afaste e afaste todos os seus amigos.

— Não meta meus amigos nessa! Eu sei o que é melhor.

— É? Então me explica o porquê o Sasuke apareceu de madrugada, bêbado e quase chorando lá em casa!

— Isso não importa, Iruka! Quer saber, acho melhor você ir dar uma volta.

— Não vou sair daqui, enquanto não conversarmos. O Sai me contou que você se afastou dele, da Temari, do Gaara e do Shikamaru. Do Shikamaru, Naruto! Ele sempre esteve com você, desde tudo... E o Sasuke? Você tinha que ver, ele se recusou a sair do meu lado e mesmo sem saber de nada, ficou de olho em mim, pronto pra me ajudar caso eu tivesse algum ataque. Ele se preocupou de verdade com você, sabia disso? Ele que te salvou, quando você desmaiou.

O Uzumaki viu-se incapaz de dar uma resposta, tamanha foi sua surpresa.

— Sei que acha que não merece ninguém, filho. — Iruka sussurrou, dessa vez mais calmo — Mas eles são seus amigos, Naru. Eles estão aqui porque se importam com você.

— E de que adianta, tio? — Questionou e a dor foi exposta em sua voz — No final, todos vão embora. Você sabe disso, afinal todos abandonaram o papai... E todos te abandonaram também, né? Ninguém fica por perto quando o Huntington começava a se revelar. As pessoas começam a ter vergonha quando você se atrapalha pra comer, ou quando tropeça e se machuca, eles ficam constrangidos quando a fala embola, quando a memória falha, quando você apresenta dificuldades para fazer o mínimo. Eu sei disso, vi todo mundo começar a ignorar meu pai, vejo como te tratam... Eu não quero que o mesmo aconteça comigo. Não quero que meus amigos fiquem com pena de mim quando o Huntington vier.

O homem respirou fundo e o olhou com compaixão, o abraçando.

— E daí, Naruto? Sua mãe sempre te dizia: você não precisa ter muitos amigos, apenas os melhores, aqueles que vão permanecer ao seu lado. E falo com convicção que todos os que estão te esperando lá fora, jamais te deixarão. Eles estão com tanto medo quanto você, mas afirmo que estarão com você não importa o que aconteça.

— Isso não adianta... — A voz falhou, quando percebeu que começaria a chorar — Nada disso adiantará, quando eu os abandonar.

— Que história é essa? — Iruka afastou-se e a preocupação transbordava em cada gesto de seu corpo.

— Tio, nós vamos morrer. — Naruto revelou, o fitando com intensidade e as lágrimas vieram quando ele se lembrou das promessas de Minato em seu sonho, afirmando que estaria sempre ali — Não adianta eu manter meus amigos aqui comigo, se morrerei logo. Isso só vai trazer dor e tristeza para todo mundo.

— O que você está falan...

— O papai sempre me prometeu que nunca iria me deixar. Ele afirmou que ficaria comigo, até mesmo quando a doença veio. Ele prometeu que lutaria, mas... você sabe, nossa família tem um grau de desenvolvimento muito mais rápido que o comum. A maioria das pessoas conseguem chegar até os 50 anos, mas o papai não passou dos 35... Foi um desenvolvimento anormal, tio. Eu tenho medo que isso aconteça com você, que aconteça comigo. Não quero que meus amigos fiquem traumatizados quando isso acontecer. Você sabe que o Huntington deixa marcas e traumas. Eu não quero que eles passem por isso. Ninguém mere...

O som de um estalo impossibilitou o Uzumaki de continuar sua fala, quando a mão de Iruka acertou seu rosto. A dor explodiu em seu rosto, quando o tio se afastou, o olhando horrorizado e Naruto desviou os olhos para as próprias mãos, exausto e triste demais para ficar com raiva daquele homem.

— O Minato se sentiria envergonhado se pudesse ver o filho dele falando assim!

— Acompanhei meu pai até o fim, sei que ele concordaria comigo.

— Você era só uma criança quando ele morreu, Naruto! Pode apostar, você não sabe o que meu irmão pensava e está me ofendendo se supõe que ele pensava isso! Minato lutou até o fim com bravura, sem jamais ajoelhar-se para o Huntington. Ele nunca desistiu. Nunca!

— Diga isso para quando o médico deu a notícia! Ele parecia um homem morto.

— Ele ficou em estado de choque e tinha esse direito! Mas lutou contra a doença a cada segundo que ficou vivo, jamais querendo te abandonar ou abandonar a Kushina. Ele sempre me dizia que tinha esperanças de melhorar e nunca afastou ninguém por um motivo estúpidos desse que você tem, Naruto! — Cuspiu, sentando-se na cadeira ao lado da cama e respirando com dificuldades — Quando ele morreu, morreu com orgulho de quem fez o melhor que pôde e é claro que todos nós ficamos tristes, mas eu tive orgulho do meu irmão. Acima da tristeza e da dor, ele foi uma inspiração para todo mundo, uma faísca para que nós continuássemos a viver, não importando as armadilhas da vida. — Afirmou com firmeza, expondo em sua voz todos os sentimentos que carregava por Minato — É por causa dele que eu levanto todos os dias, Naruto. O Minato me inspirou, me deu forças para encarar o Huntington nos olhos, quando todos abaixam a cabeça e tem medo dele.  Eu o aceitei, mas se ele pensa que pode me derrotar facilmente, está enganado.

O silêncio caiu pesado, sendo interrompido apenas pela respiração alta de Iruka, que tentava se acalmar. Naruto permaneceu quieto, incapaz de encará-lo, envergonhado por tudo o que tinha falado. No entanto, o que podia fazer se tinha medo? Ele podia enfrentar tudo, os drogados que tentavam machucar Gaara, as pessoas que não gostavam de Shikamaru, a raiva de Temari por achar que ele tinha sido uma influência pro irmão, a irritação de Sai quando não compreendia suas artes e a fúria de Sasuke quando ele se esquivava do Uchiha... Agora, enfrentar o demônio que tinha destruído sua família, era um caso diferente. O Huntington o deixava sem ar, tamanho o horror que causava no Uzumaki. A doença o lembrava de tudo que tinha sido arrancado, da felicidade que fora roubada e destroçada diante de seus olhos, da solidão que ela trazia, do terror nas noites que Minato se engasgava e Kushina berrava desesperada pelo filho, implorando para que ele a ajudasse. Ou então do constrangimento de Minato, quando quebrava os pratos sem querer, derramando toda a comida no chão, por não ter força suficiente para segurá-los, ou por acabar esbarrando ao não ter o controle do próprio corpo. Era cruel. Naruto via o quanto o pai sentia-se miserável naqueles dias e odiava não poder fazer nada por ele.

— Naruto. — Iruka o chamou, tentando disfarçar o quão zangado estava — Você sempre foi forte... Eu sei que aqueles anos com o Gaara fizeram você vivenciar coisas horríveis e isso te mudou, mexeu com algo aí dentro. Mas não se esqueça de quem você é, filho. Não deixe que a criança teimosa, corajosa e obstinada que sempre foi morra. Eu sei que ela está aí, louca para sair e, se pudesse, bateria em você até seus olhos ficarem roxos.

O jovem sorriu com a comparação.

— Você sempre sobreviveu a tudo e isso é algo a se orgulhar, está bem? Você caiu, vivenciou a morte do pai, da mãe, viu quando meu destino foi traçado para o mesmo caminho, afundou na escuridão das drogas e, por deus, você tinha tudo para morrer. Mas levantou-se. Ergueu-se da escuridão, trilhou seus passos para a luz, filho. Compreendo os seus medos, seus temores e horrores, mas lembre-se: você é filho de Uzumaki Kushina e Namikaze Minato. Eles foram as pessoas mais inteligentes, inspiradoras, bondosas, fortes e corajosas que pude conhecer. Então você não precisa ter medo de nada. Por favor, deixe que tenham orgulho de você, Naruto.


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Notas finais do capítulo

ma pequena observação: vocês podem ter encontrado um pouco de confusão para entender a primeira parte do capítulo. Isso não foi um furo, mas sim proposital, pois nosso bebê Uzumaki estava sonhando, ou melhor, relembrando o passado. A narração não pôde ser de toda coesa nesses techos, pois era necessário que ele também sentisse um pouco a confusão, compreendem? Afinal, os sonhos não seguem uma linha muito tênue de firmeza, ainda mais quando ele se via como criança, mas tinha a perspectiva de um jovem-adulto. AI QUE PESADO, VER OS PAIS DEPOIS DE TANTO TEMPO, EU ESTARIA CHORANDO ATÉ AGORA DE SDDS.
bom, ele não tem A MALDIÇÃO DO H.
até agora, rs.
foi só um susto, tá tudo bem.
e até agora a gente viu todo mundo supondo o que o Naruto sentia, relatando e tentando ajudar. MAS ACHO QUE É MT MAIS EFICAZ QUANDO SEU TIO-PAI PEGA E TE DÁ UM TAPÃO, NÉ? "aLOOOOO ACORDA PRA VIDA KRL, VC PODE N VIVER MT E VAI APROVEITAR SUA POUCA POSSÍVEL VIDA SE LAMENTANDO? QUER SABER, VSF, ACORDA E VAI APROVEITAR, KRL!!" - resumo das palavras do iruka em linguagem informal opsdkaposkdasd.
Acho que isso vai ser muito mais eficaz pro Naruto, pq é diferente quando alguém senta e CONVERSA DE VERDADE COM VOCÊ. Não fica só supondo (como nosso bebê Uchiha, COITADO, TAMBÉM TÁ TODO PERDIDO NESSA HISTÓRIA SOS, TADINHO). Enfim, achei importante também destacar como, apesar do Hun ser um cruel, eles tratam de uma maneira normal, já que é a realidade deles, né? É um Tabu para o Naruto, mas o Iruka toca o foda-se kkjj. 'TENHO O HUN MEMO, FODASE, VO MORRER, MAS VOU APROVEITAR, VLWFLW'



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