A Menina da Ilha escrita por CupCorn


Capítulo 2
O Naufrágio


Notas iniciais do capítulo

Hey olha só quem está aqui novamente!
Eu gostaria de agradecer primeiramente a Brigadeiro por ter comentado no capitulo anterior, me motivou demais a continuar escrevendo apesar das dificuldades.
Me perdoem se tiver informações erradas sobre naufrágios e tipos de barco e seus tamanhos, eu realmente não sou expert nesse assunto mas tentei ser o mais fiel possível as informações que consegui!
Sem mais delongas, aproveitem a leitura!



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Naquela manhã, quando acordei, achei que seriam as melhores férias da minha vida. Todavia, eu não poderia prever o que estava por vir.

E mesmo que pudesse, não alteraria nada.  

As dificuldades que passei daquele momento em diante fizeram com que meus problemas rotineiros anteriores, de uma pré-adolescente normal, parecessem um mero murmúrio fraco ao vento. Nada se comparava ao estrondo avassalador que aquela tempestade proporcionou.

[...]

 

Janeiro de 1972

— Lily! Vem aqui, meu amor! — minha tia Anne gritou de onde as ondas do mar alcançavam apenas seus pés. Estava na água há tanto tempo, que sentia meu cabelo pesado de sal e meus dedos enrugados. Nadei até ela de forma um pouco desengonçada, afinal tinha tido minhas primeiras aulas de natação há apenas 3 semanas. Assim que sai da água, torci meu cabelo ruivo que recentemente havia adquirido um novo corte, curto dois dedos acima dos ombros. 

— Pegue suas coisas! Consegui um par de ingressos para uma festa em um iate. O capitão é meu amigo de muito tempo — Marianne exclamou feliz da vida e, enquanto andava de volta para onde nossa toalha estava estendida, parecia que estava pulando na areia.

— Mas, tia, eu tenho que pegar o vôo das oito horas amanhã para a Califórnia. Já combinei com meu pai de passar o resto das férias com ele. — Tentei não demostrar a decepção, porém sinto que foi impossível. Eu não queria voltar para os olhares de canto que ele me mandava, para as frequentes perguntas se estava tudo bem comigo. Não queria voltar a morar com meu pai sem a minha mãe lá.

— Ah, Lily, não se preocupe. Eu sei que não quer voltar, mas eu já tive uma conversa com seu pai e ele vai melhorar. A situação está sendo tão difícil pra ele quanto para você. 

Suspirei, colocando a saída de praia e pegando minha bolsa. Não é como se não gostasse do meu pai, eu o amava mais que tudo no mundo. Porém, tudo mudou depois da morte da minha mãe, parecia que ele era outra pessoa. No momento em que mais precisava de apoio, ele não estava lá. "Desculpa Lírio, ocupado com o trabalho" era o que ele sempre dizia antes de me deixar sozinha em casa.

— Confie em mim, Lily. Você ainda vai chegar com tempo de sobra pra pegar o avião e voltar pro seu pai. — Ela passa a mão pelo meu cabelo, enrolando- o em seus dedos. Suspiro e forço um sorriso.

— Tudo bem. — Abri um sorriso para ela, colocando minha bolsa no ombro e respirando fundo. — Mas você tem certeza que essa viagem é… segura?

Não tenho muita experiência com barcos em alto mar (nenhuma, para se dizer a verdade). Era normal sentir esse formigamento na barriga quando pensava nisso… Certo?

— Querida, o que pode acontecer? Estaremos muito seguras, eu prometo a você. — Minha tia sorriu, e logo passou a me guiar em direção ao carro.

Ok, eu deveria estar exagerando. Mas minha mente estava confusa demais, não me culpo por isso, eu realmente adorava “Titanic”.

Entramos no carro e fomos em silêncio até o porto combinado. Ainda estava com a roupa de praia e não havia sentido em trocá-la, sendo que estávamos indo a uma festa em um iate. E eu esperava que voltássemos logo.

Assim que entramos no barco, minha tia foi na frente para conversar com o capitão, ela estava feliz até demais. Algumas pessoas começaram a entrar, então subi a escada para a uma espécie de "sacada" acima do barco. Olhando em volta, passei a observar alguns detalhes que não tinha visto antes.

— Não embarque nessa, Maré de azar… Alguém gosta muito de trocadilhos por aqui. — Soltei uma risada fraca quando li o que estava escrito no casco dos outros barcos ancorados em volta.

— De acordo com o dono do porto, isso afasta os piratas. — Olhei para o lado e, parado ali, estava um cara com roupa de marinheiro azul escura. Ele me ofereceu uma salada de frutas na taça, e só então percebi que poderia ser um garçom. Eu agradeci com um aceno de cabeça e recusei a taça, sorrindo pela sua resposta.

 

(…)

 

Tudo parecia bem, saímos do porto em direção a mar aberto em poucos minutos, e minha tia voltou para me fazer companhia assim que os barcos do porto escaparam da minha visão. Mas nem tudo eram flores, pois a maré de azar apenas começou

Uma leve garoa fina se iniciou em algum ponto da viagem, e com passar de alguns minutos ela havia aumentado consideravelmente. Algumas pessoas passaram a ficar um pouco desesperadas quando o barco começou a balançar por conta da chuva no céu, mas o capitão avisou para ninguém se preocupar. O problema de verdade começou quando os garçons começaram a nós vestir com coletes salva vidas desconfortáveis, o laranja não era minha cor, definitivamente. Eu não estou muito preocupada, afinal, era apenas uma chuva. Logo iria passar.

Aquela sensação de tranquilidade logo passou e o desespero começou a tomar conta de mim quando o primeiro raio foi visto e o primeiro trovão foi ouvido a seguir. Eu não queria morrer pela água. Eu não podia morrer pela água! Quando a verdadeira tempestade começou, o barco fez movimentos bruscos de acordo com o balançar da água, como se dançasse a coreografia que nos levaria para a morte com perfeição. 

Por alguns momentos, gostaria que alguns mitos fossem verdade. Se tivéssemos sereias naquele mar, elas poderiam me ajudar a escapar. Se tivéssemos cavalos marinhos gigantes, eles me levariam a um lugar seguro. Todavia, infelizmente, nenhum deles era real naquele momento.

Minha tia segurava minha mão com força, como se não fosse soltar por nada no mundo. E eu agradecia a ela por não me soltar. Provavelmente eu seria a primeira a cair do barco se não estivesse sendo firmemente segurada. Tentamos nos proteger da chuva, meus óculos escuros estavam embaçados com os pingos e já não via nada a minha frente a alguns minutos.

— Vai ficar tudo bem, Lily. Vamos sair dessa — minha tia afirmou, me abraçando forte enquanto estávamos firmemente agarradas a uma cerca próxima do centro do barco. Já não sabia mais o que eram lágrimas e o que eram pingos de chuva.

A tempestade nos alcançou de vez com a mesma velocidade que tirou a vida da metade do navio. Inclusive a minha, apesar de ser de um modo diferente. Perdi minha tia de vista depois de mais dois trovões soarem no céu, quando ela foi pega pelo capitão e arrastada para um daqueles botes salva vidas. Não consegui me mexer, apenas gritar. Gritar para tentar fazer com que o capitão me ouvisse e me colocasse lá também.

Uma mulher esbarrou em mim, me fazendo cair no chão. Mas eu não me importei muito com a dor, pois alguns segundos depois, ela se virou. E quando achei que iria se desculpar, vi em seus lábios um sorriso, enquanto os pingos de chuva escorriam pelo seu rosto. Quando um raio iluminou o céu, chorei enquanto a via se jogar do barco. Ela havia feito uma escolha. 

Uma mão foi estendida a mim, e eu a aceitei de bom grado. Tal pessoa me segurou no colo, me jogando com força em um dos botes disponíveis. A última coisa que vi com nitidez foi o azul profundo dos olhos da pessoa que achei que estava salvando minha vida, mas que apenas me empurrou na água direto para a morte.


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Notas finais do capítulo

E aí o que acharam? Como acham que vai ser a experiência da Lily em uma ilha? Eu particularmente espero que ela não morra, ainda. rsrsrs
CAPITULO BETADO - atualização feita no dia 06/07/2018
Não se esqueçam de comentar e até o próximo capítulo