Quando eu era pequena, minha mãe sempre me avisou sobre os perigos que enfrentaria na vida. Porém, ela morreu, os avisos se foram com ela. E passei a simplesmente não ligar para os que poderia enfrentar daquele momento em diante.

Agora provavelmente está achando que vivo minha vida adoidada, provando o gosto de uma aventura.

Não.

Na verdade, nunca entrei em uma aventura maior que a de sair de casa para ir à escola no primeiro dia de aula. Meu pai possuía um trauma por conta da minha mãe, e não me deixava fazer nada sozinha, o que acabou prejudicando tudo até meus dezoito anos... Não que eu tivesse chegado a essa idade.

Todavia, no momento, nada importa, a não ser a história de como eu vivi a minha primeira aventura, e de como eu quase morri por ela.

[...]

Janeiro de 1972

O dia amanheceu como qualquer outro na casa de praia. Uma garotinha ruiva de apenas doze anos passara a noite escrevendo em seu caderno particular, reservado para as mais loucas histórias que um dia sonhou. A inspiração vinha de formas diferentes para todos, principalmente para Lilian Evans.

Sua tia, Marianne Polasky, entrara discretamente pela porta, tentando não atrapalhar o processo criativo de sua sobrinha, que sofreu um enorme bloqueio desde a morte de sua mãe, 8 meses e 14 dias atrás, de acordo com a própria garota.

Ela deixou o café da manhã de Lily em seu criado mudo e, sorrindo, saiu do quarto, deixando a porta encostada. Mais do que nunca, ficara extremamente feliz pela garota ruiva, e sabia como melhorar ainda mais seu dia.

Duas horas depois, quando Lily desceu as escadas e caminhou em direção à cozinha com a bandeja de seu café, sua tia estava arrumando uma bolsa térmica em cima da bancada.

— O que você está fazendo, tia Anne? — indagou Lily, deixando as louças na pia e se aproximando da mulher.

— Lily, minha querida! Em comemoração a volta da sua criatividade, vamos fazer um pequeno passeio hoje. Quem sabe você não ache algo pelo qual valha a pena escrever. — Marianne abraçou Lily de lado. A senhora de 34 anos era extremamente positiva e feliz até demais em alguns momentos. Por isso, era uma das pessoas favoritas da menina no mundo.

A garota já sabia qual era o destino. Conhecendo a tia como ela conhecia, Marianne a levaria para seu lugar favorito, a praia. O mar, a areia, os peixes e até mesmo as iguanas que apareciam às vezes por ali, tudo contribuía para que Lily esquecesse brevemente da morte de sua mãe e vivesse um pouco.

Todavia, foi naquele fatídico dia em que Lily Evans desejou nunca ter saído de casa.

Quando as duas chegaram à praia, que estava parcialmente vazia no momento, e as poucas pessoas existentes ali ficaram apenas na areia, Lilian já deveria ter notado que algo estava errado.

Naquela manhã em especial, ela aproveitou muito a praia. Fez alguns castelos e entrou a água muitas vezes para brincar com os peixes que por ali passavam. Mas quando sua tia a chamou para fazer um passeio em um iate, ela nunca deveria ter aceitado.

Nada poderia prever que uma tempestade aconteceria, nem que sua tia seria separada dela, muito menos que o barco afundaria na tempestade, ninguém poderia antecipar que ela seria colocada em um bote salva vidas e, quando o restante das crianças iriam entrar, as cordas seriam cortadas e ela cairia no mar. Nada poderia prever que Lily Evans seria deixada sozinha em uma tempestade que a levou cada vez mais longe do iate, de sua família e de sua antiga vida.