Através do Tempo - Entre Vidas escrita por Biax


Capítulo 24
XXIV - Rejeição




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— Por que Ethan é daquele jeito? — perguntou, com as sobrancelhas juntas. — Por que ele é distante e inabalável?

Haziel suspirou, parecendo considerar se falava ou não. — Acho que o problema é que nem ele se entende direito. Agora você está mais confortável com seus sentimentos do que ele já esteve com os dele.

— Como assim? Ele tem medo do que sente?

— Acho que essa é uma boa definição. Ethan não evoluiu como deveria nessa parte. Ele consegue enfrentar inimigos fortes, consegue fazer uma refeição impecável e viajar sozinho pelo tempo, mas não consegue enfrentar o que ele guarda no fundo de sua alma.

— Será que eu consigo ajudá-lo nisso?

— Talvez, vai depender se ele quer ser ajudado. Mas acho que, com toda essa viagem de vocês, ele não está conseguindo manter o que sente quieto. Ele é um vulcão prestes e explodir, e digamos que você é a lava.

— Quê? Por quê?

— Ora, você acabou de perceber tudo o que sente por ele e está tranquila, certo? Ele ainda não chegou nesse nível. Ele tem medo de colocar para fora e não conseguir se controlar depois.

— Mas por quê? O que ele guarda em relação a mim? É culpa? Remorso?

— Amor, Rebeca. Ele guarda amor.

Ela ficou sem palavras.

Haziel sorriu. — Tudo o que vocês passaram, todos os momentos de carinho, companheirismo, as discussões... Não foi fácil para nenhum de vocês. Digamos que você teve muitas vidas como "distração" até conseguir ter um entendimento de seus sentimentos. Ele não teve. Ele não sabe como lidar com isso. Ele te ama assim como você o ama, mas ele não entende até onde esse amor chega.

— Mas como ele poderia entender? Nem eu entendo...

— Exatamente. Como disse, ele é muito lógico. Ele precisa entender algo para conseguir lidar com aquilo. E nesse caso, ele não entende e não consegue lidar. Você aceita esse amor como algo puro e incontestável.

O coração de Rebeca estava acelerado. Estava quase pulando daquele sofá. — O que eu faço para ajudar?

Haziel levantou e foi até ela, estendendo a mão, sorrindo. — Seja você mesma.

Com um sentimento firme, Rebeca aceitou a ajuda. No segundo seguinte, eles estavam do lado de fora, rodeados pelas árvores de folhas verdes claras e marrons.

— Estamos na décima estação? — Ela perguntou, olhando ao redor.

— Sim.

— Aliás, por que as árvores mudam de cor? — Encarou Haziel.

— Elas não mudam de cor. Em cada estação, as árvores possuem cores diferentes. É assim que diferenciamos uma estação da outra.

— Ah...

— Bom, chegou seu momento. — Apontou para algo.

Rebeca olhou para onde ele apontava. Ethan estava a uns vinte passos de distância, encostado em uma árvore, de frente para os dois, distraído em pensamentos.

— Como ele não nos viu ainda?

— Eu nos deixei invisíveis. Ele só te verá quando você chegar perto.

As mãos de Rebeca começaram a ficar geladas. Tudo o que ela pensara em dizer tinha fugido de sua cabeça.

Ele estava com roupas brancas, parecida com as de Haziel, e descalço.

— Pode ir. — Haziel riu.

Engoliu seco.

Ok, vai no improviso.

Então, começou a correr em direção a ele. Quando estava a dois passos, Ethan levantou o rosto, e Rebeca se chocou com ele, o abraçando. O rapaz ficou chocado por não ter percebido a presença dela, e então viu Haziel os observando, dando um sorrisinho e desaparecendo em seguida.

— Rebeca...? — Ethan perguntou, sem saber como reagir ao abraço.

— Ethan! — Rebeca riu, tão feliz por finalmente estar perto dele de novo. Se afastou e olhou em seus olhos, sentindo algumas lágrimas escorrendo por suas bochechas.

Ethan estava petrificado, e mesmo sem querer, conseguiu saber exatamente tudo o que a garota tinha descoberto e visto. Tudo veio como uma avalanche e seus olhos se arregalaram com a força de todos aqueles sentimentos.

— Ethan... — Ela sussurrou, já sabendo que ele tinha lido sua mente.

Ele balançou a cabeça, negando, e se afastou, virando de costas.

— Ethan — chamou, pensando no que poderia falar.

— Por favor, Rebeca. — Ele pediu, sem olhá-la.

— Por quê? Eu quero entender o que você sente. Eu quero...

— Não. — Se virou e a encarou, parecendo confuso e irritado. — Para que você quer mexer com algo que está quieto? Você já sabe de tudo o que queria saber. Não tem porquê querer me ajudar. Eu não preciso de ajuda.

Rebeca apertou as mãos em punho, chateada com aquelas palavras. Seus olhos se encheram de água e se segurou para não o xingar, porque sabia que não ia adiantar. Se virou, magoada, e começou a andar sem rumo.

— Haziel? — chamou alto, enquanto as lágrimas escapavam de seus olhos. Parecia que seu coração tinha sido espetado. Doía e pesava. De novo, ela tinha sido rejeitada por ele. — Haziel?! Me tira daqui! — pediu, com a voz trêmula.

Eu quero ir para casa. Eu preciso ir. Eu preciso... Por que ele não aparece?!

Sem saber o porquê, sentiu um impulso de olhar para trás, e assim o fez. Ethan estava de costas, com as mãos na cabeça, parecendo perturbado. Ele nunca tinha ficado daquela forma antes, não na presença de Rebeca, pelo menos.

Ethan se virou, tampando o rosto com as mãos, fazendo força com os dedos. Parecia que queria arrancar sua própria pele. Rebeca não sabia o que sentir e muito menos o que pensar. Era desestabilizante vê-lo daquela forma, confuso, irritado, talvez até desprotegido. Sua máscara fria e tranquila caíra. Seu sofrimento estava à mostra, como se ele não conseguisse mais segurar.

O instinto de Rebeca dizia para ampará-lo. Cuidar dele assim como ele cuidara dela. Mas, por outro lado, ela ainda sentia a rejeição à flor da pele.

Ethan olhou em sua direção, entretanto, não pareceu vê-la. Ela olhou paras seu próprio corpo, estranhando, suspeitando estar invisível novamente.

— Tempo ao tempo, Rebeca. — Ouviu Haziel e virou-se, o vendo apoiado em uma árvore.

— Eu...

— Achou que seria fácil, não é? — Ela afirmou e ele suspirou. — É, eu imaginei que seria complicado para ele.

Rebeca voltou a observar Ethan. Agora, ele estava deitado na grama, ainda tampando o rosto com as mãos.

— Eu não entendo por que é tão difícil...

— Uma hora ele vai ter que colocar tudo aquilo para fora. Ele não vai aguentar. São sentimentos acumulados por tempo demais.

— Uma vez... ele disse que abafava o que sentia porque sentimentos atrapalhavam. Não, abafava não, ele nem se esforçava mais para isso. Seus sentimentos eram guardados automaticamente.

— Ele aprendeu a fazer isso muito bem com o passar do tempo.

— Ele realmente acha que sentimentos atrapalham?

— Acha. Ele começou a achar quando você foi para sua primeira vida humana... Ele não conseguia parar de pensar em você. Se estava bem, se ia se sair bem... Ele se incomodava com aquilo, e literalmente ia guardando tudo o que sentia. Sabe, Rebeca, não são só os humanos que têm medo do que não conhecem.

— Estou vendo...

Será que ele realmente não vai aguentar? Eu não posso deixá-lo sozinho. Apesar dele não querer minha ajuda, eu sinto que preciso ajudar. Mas como? Ele não quer me contar. Provavelmente não quer nem que eu fique perto dele. Não sei o que fazer. Eu...

Rebeca passou as mãos no rosto, secando as lágrimas que voltaram a cair.

Talvez ele não queira mesmo encarar tudo isso. Talvez prefira deixar tudo do jeito que estava antes. Nesse caso, eu não posso fazer nada. Nada do que eu disser fará ele mudar de ideia. Nós saímos nessa viagem através do tempo com um objetivo, que era recuperar o livro.

O livro não existe mais, e Mila foi pega. Não temos mais o que fazer aqui. Foi incrível? Inacreditável? Foi. Foi maravilhoso. Mas agora estava na hora de voltar.

Eu preciso achar Gabriel e dar um jeito de voltar para casa. Para a nossa casa.

Rebeca se virou, vendo Haziel no mesmo lugar. — Você pode me levar para casa?

— Posso dar um jeito nisso. Tem certeza? — questionou calmamente.

— Sim. — Começou a andar.

Antes que ela passasse por ele, Haziel tocou seu ombro, a fazendo parar. Rebeca o olhou, e ele abriu um sorriso singelo.

— Haziel! — A voz de Ethan quebrou o silêncio.

Ela se virou. Ethan tinha se sentado, com as pernas dobradas e estava com os braços apoiados nos joelhos. Seu semblante estava sério, como se tivesse recuperado sua máscara. A pontada de esperança que tinha surgido em Rebeca voltou a se apagar.

— Alguém está pronto. — Haziel comentou.


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