O resgate do tigre escrita por Anaruaa


Capítulo 23
A casa das cabaças




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Estava muito escuro e eu precisei pegar as lanternas para enxergamos o interior da árvore. Havia um outro tronco dentro daquele, e uma escada em espiral entre eles. A escada era muito longa e larga. Segurei a mão de Kelsey e começamos a subir, ao lado um do outro.

Depois de várias horas subindo, encontramos uma porta. Antes de abri-la, Kelsey pegou o arco e se colocou em posição para usá-lo. Eu agarrei o Chakram enquanto abria a porta.

Entramos na sala, mas não havia ninguém lá dentro, só cabaças, de todos os tipos e tamanhos. Eu estiquei a mão para pegar uma delas quando Kelsey me alertou:

— Espere! Não toque em nada ainda. Esta é uma das provas. Precisamos descobrir o que fazer. Espere um segundo enquanto consulto as anotações do Sr. Kadam.

Kelsey pegou as anotações de Kadam e nos sentamos no piso de madeira para lê-las.

— Aqui tem muita coisa sobre onde certas cabaças se originaram e fatos sobre como marinheiros procuravam sementes de determinadas espécies para cultivá-las. Existe uma narrativa mitológica sobre barcos feitos de cabaças. Também não acredito que se trate disso.

Eu ri, enquanto lia sobre um outro mito, e falei brincando:

— E o que me diz desta aqui? Sobre cabaças e fertilidade? Quer experimentar, Kells? Estou disposto a fazer o sacrifício, se você estiver.

Ela leu e me olhou carrancuda:

— Nos seus sonhos. Essa decididamente eu passo. — Virou a página. — Aqui diz que atirar uma cabaça na água evoca monstros e serpentes marinhos. Hum, não precisamos de nenhum desses.

— E quanto a este mito chinês aqui? Diz que um garoto se aproximando da idade adulta devia escolher a cabaça que guiaria sua vida. Cada uma delas continha algo diferente. Algumas eram perigosas; outras, não. Uma inclusive guardava o elixir da juventude eterna. Pode ser que tenhamos sorte. Talvez seja melhor escolher logo uma.

— Acho que escolher uma provavelmente é a coisa certa a fazer, mas como saber qual delas?

— Não sei. Precisamos tentar. Eu começo. Mantenha a mira no que quer que saia dela.

Eu peguei uma das cabaças, mas não sabia o que fazer com ela. Eu sacudi, joguei para o alto, bati levemente na parede, mas nada aconteceu.

— Vou tentar quebrá-la.

Eu a joguei no chão e ela se quebrou, revelando uma pêra suculenta. Eu a peguei e comi, enquanto Kelsey me repreendia. Eu disse a ela que a fruta estava boa, e quando terminei de comer, a cabaça quebrada desapareceu.

— Ok, minha vez.

Kelsey pegou uma cabaça com desenhos de flores e a quebrou. De dentro dela saiu uma serpente negra, que enroscou-se para dar o bote em Kelsey, mas eu estava preparado e a ataquei com o chakram rapidamente, decepando imediatamente sua cabeça. A cobra e a cabaça desapareceram.

— Sua vez. Talvez seja uma boa ideia nos ater às cabaças não decoradas.

Escolhi uma com um formato curioso. Parecia uma garrafa. Dentro dela havia um liquido branco como leite. Resolvemos não beber o líquido, que poderia ser venenoso. Kelsey escolheu outra cabaça e a lançou contra o chão. Ela não se quebrou. Tentamos mais algumas vezes em vão. Pegamos outras cabaças, mas nenhuma se partiu

Percebemos que se eu não tomasse a bebida, não conseguiríamos quebrar as outras. Então eu bebi o líquido, que parecia ser leite mesmo. A cabaça desapareceu e Kelsey conseguiu quebrar a próxima.

Depois de quebrarmos várias cabaças e nada útil ou perigoso sair delas, Kelsey escolheu uma em forma de colher e a quebrou. Uma névoa saiu dela e foi em sua direção. Kelsey tentou fugir, mas foi alcançada. A fumaça escura penetrou por sua boca e pelo nariz. Ela começou a tossir e cambaleou para trás. Eu a alcancei rapidamente e a segurei.

— Kelsey! Você está pálida! Como se sente?

— Nada bem. Acho que o conteúdo dessa era doença.

— Aqui. Deite-se e descanse. Talvez eu consiga encontrar uma cura.

Comecei a quebrar várias cabaças. Sempre que encontrava um líquido eu o oferecia a ela, na esperança de ser um remédio, mas não encontrei nada.

Em uma das cabaças encontrei um rubi e o guardei no bolso. Em outra encontrei um anel, que coloquei no dedo para que ela desaparecesse. Encontrei uma pílula, que não fez com que Kelsey melhorasse. Depois encontrei um líquido branco e leitoso. Tive medo de ser veneno, mas Kelsey estava piorando. Ela tinha febre e suava muito, estava fraca e seu coração disparado. Temíamos que se não a curássemos logo ela pudesse morrer. Então ela resolveu tomar o líquido.

Eu a ajudei a se erguer e coloquei a cabaça em seus lábios, enquanto firmava sua cabeça. A bebida pareceu lhe fortalecer e ela foi capaz de pegar a cabaça e segurá-la sozinha, enquanto bebia.

— Você parece bem melhor, Kells. Como está se sentindo?

Ela levantou-se revitalizada.

— Estou me sentindo ótima! Forte. Invencível até.

Fiquei aliviado.

Ela começou a olhar ao redor da sala, enquanto eu me preparava pra recomeçar a quebrar as incontáveis cabaças, sem saber o que estávamos de fato procurando.

— Ei. O que é aquilo? — Perguntou Kelsey enquanto caminhava em direção a uma cabaça, chutando as que estavam em seu caminho.

Ela agarrou a alça de uma cabaça grande e a puxou para si.

— Tem um tigre entalhado no lado externo. Tente esta, Kishan.

Fiquei impressionado por ela ter percebido aquela cabaça, àquela distância e a peguei de sua mão, lançando-a ao chão. Havia um papel dobrado, que eu peguei e desdobrei.

— É como um biscoito da sorte! O que ele diz?

— Diz: O recipiente oculto mostra o caminho.

— O recipiente oculto? Talvez se refira a uma cabaça oculta.

— É muito fácil ocultar uma cabaça numa sala cheia de cabaças, Kells.

— É mesmo. Vamos procurar cabaças que estejam fora do caminho, no fundo da sala ou enfiadas nos cantos.

Pegamos algumas cabaças e começamos a quebrá-las. Uma delas não tinha nada dentro, mas ela desapareceu depois de alguns segundos, o que significava que algo havia acontecido.

— Será só isso? Está vendo alguma coisa?

— Não. Espere. Estou ouvindo algo— Eu disse

Ficamos em silêncio por algum tempo, até que Kelsey ficou impaciente:

— E então? O que é?

— Tem alguma coisa diferente nesta sala, mas não sei dizer o que é. Espere. O ar! Ele está se movendo. Consegue sentir?

— Não.

— Espere um instante.

Eu comecei a percorrer a sala lentamente. Percebi uma parede por onde o ar parecia estar entrando.

— Tem ar entrando por aqui. Acho que é uma porta. Me ajude a remover estas cabaças.

Empurramos todas as cabaças, deixando aquelas prateleiras vazias. 

— Não consigo mover esta aqui. Está presa. — Disse Kelsey enquanto tentava empurrar uma cabaça pequena que parecia crescer na parede.

Eu me afastei para ter uma visão do todo, e comecei a rir quando percebi do que se tratava.

— O que foi? Por que você está rindo? — Kelsey perguntou irritada enquanto tentava puxar a cabaça.

— Afaste-se um segundo, Kells.

Ela se afastou enquanto eu me aproximava. Coloquei minha mão sobre a cabaça.

— Não sei o que você está tentando provar. Ela não se mexe.

— É uma maçaneta, Kelsey.

Eu girei a maçaneta e empurrei a porta, que se abriu.

Do outro lado, encontramos mais degraus que levavam a um nível mais alto no interior da árvore. Estendi minha mão para ela e a chamei para continuarmos.


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