5 ANOS DEPOIS...

Estava em meu quarto reorganizando os livros que ganhei durante os anos em que passei com Verônica e Patrick, seu marido. Ambos conseguiram me adotar e hoje meu irmão chegaria.

Uma parte de mim temia ser deixado de lado por eles finalmente terem conseguido ter o próprio filho e organizar meus livros de certa forma me acalmava.

— Adrian? — a voz de Amélia, minha babá, se fez presente, pude ver seu rosto um pouco enrugado pela fresta na porta, sorri indo até ela arrumando minha camisa social.

Estava ansioso, durante todos esses anos meus pais me fizeram, pela primeira vez, me sentir amado e desejado e mesmo depois de ouvir o que eles disseram durante toda a gravidez de Verônica, o medo de ser rejeitado ainda dominava uma parte de mim.

Respirei fundo descendo as escadas para a sala ao lado de Amélia. Eu gostava da forma como ela cuidava de mim e fazia questão de sempre me ver sorrindo, será que ela me deixaria de lado?

Sacudi a cabeça, tirando os pensamentos bobos da mente, sentei-me em um dos sofás, minhas penas balançando em nervosismo. Foram minutos eternos para mim até que a porta fosse aberta, Patrick foi o primeiro a entrar, carregava as bolsas que minha mãe levou para o hospital, ele sorria grande tudo nele parecia brilhar, até mesmo sua careca.

Verônica entrou com um sorriso talvez maior que o seu, segurava meu irmão em seus braços e foi a primeira a me ver. Eu não sabia o que fazer. Me levantei, a saudade falando mais alto.

— Este é Liam — Verônica ainda sorria, baixando-se um pouco para me mostrar meu novo irmão. Senti a garganta secar e minhas mãos suarem ao ver o rosto gorducho. Estava com os olhos fechados e um bico nos lábios. Liam era... adorável.

Liam estava completando um mês e eu me apeguei à ele, era estranho, ele era molengo e chorava, Verônica me deixava cuidar dele com ajuda de Amélia, ela já havia voltado a trabalhar no hospital, mas ainda sim conseguia se dedicar tanto a mim quanto a Liam.

Agora eu estava em meu quarto e ele em seu berço branco, eu lia Coraline pela... Décima vez? Não lembro, mas podia considerá-lo meu livro favorito e talvez isso pudesse estimular Liam.

Antes de concluir a leitura olhei para meu irmão, ele já dormia com um dedo em sua boca. Era curioso, há cinco anos eu não me imaginava sem minha antiga família e cá estou eu, chamando Verônica e Patrick de pais e Liam de irmão.

Quando li Coraline pela primeira vez fiquei em dúvida de com qual família eu estaria vivendo. Essas dúvidas ainda me corroíam durante a noite e os pesadelos se tornavam cada vez mais presente.

Mas eu precisava ser forte, porque agora tínhamos Liam.

Eu corriam, minhas pernas curtas já não aguentavam mais e os pingos das chuvas se misturavam ao meu suor e lágrimas. Meu coração estava cada vez mais acelerado e ouvir os passos atrás de mim me assustavam ainda mais.

Quando vi aquele beco escuro não perdi tempo, corri e me agachei, segurando o choro e ficando quieto, sabendo que com a má iluminação seria quase impossível me ver. Assim esperava.

Os passos voltaram a ficarem próximos, mas logo se afastaram, esperei alguns minutos antes de respirar um pouco aliviado, desabando em seguida.

Acordei com a respiração ofegante e um grito em minha garganta, o quarto estava escuro, o suor se concentrava em minha testa, grudando meus fios encaracolados e meus olhos ardiam, prendendo o choro.

Respirei fundo algumas vezes, saindo da cama e indo até o berço de Liam, ele dormia de forma tranquila e eu invejava aquilo, assim como inveja o fato dele ter Verônica e Patrick como pais biológicos.

Ele saberia valorizar isso?