Meus olhos nada viam além da escuridão do beco onde estava. Meu corpo pequeno encolhia-se na chuva, tentando em vão se proteger e minha mente infantil amedrontava-me com as sombras que eram projetadas nas paredes.

Fechei meus olhos com força, na esperança que o medo diminuísse, mas não pude segurar o soluço que rompeu minha garganta ao ouvir o som de um motor de carro. Abri meus olhos ao notar que o barulho continuava, agora um pouco mais baixo, porém a luz forte dos faróis quase me cegaram, forçando-me a fechá-los novamente.

— É uma criança, Patrick! — a voz feminina me chamou atenção, fazendo meu corpo retrair, o medo de tudo voltar a acontecer me aterrorizava.

O som de saltos tornou-se mais alto, a chuva ainda me molhava e eu me negava a abrir os olhos e vê-la.

— Querido? Tudo bem? — a pergunta me pareceu tola, mesmo tendo apenas sete anos saberia que a situação em que me encontrava não era a melhor. Culpando o medo, permite-me não responder.

Logo outro som de passos se fez presente e uma mão pesada pousou-se em meu ombro, fazendo-me encolher ainda mais. Estava com medo e tremia, um misto de frio e pavor. Ainda sim consegui levantar minha cabeça, abrindo meus olhos com certa dificuldade e encarei aquelas duas pessoas a minha frente, a mulher era diferente dela, tinha os cabelos curtos e pretos e olhos verdes preocupados, o homem ao contrario não possuía mais cabelo, porém não parecia velho, assim como a mulher tinha os olhos escuros tão preocupados quanto.

— Onde estão seus pais? — a pergunta doeu por que eu não sabia a resposta, meus olhos queimaram enquanto neguei com a cabeça, a guarda dessa vez mais baixa. — Quem abandonaria uma criança assim? — a voz sussurrava, olhando desta vez para o homem ao seu lado, que nada dizia, apenas parecia me analisar.

Sentia-me cansado, havia saído tão cedo de casa, andado tanto sendo arrastado pelos braços, ainda era visível a marca roxa em meus braços finos. Meus olhos pesaram e senti meu corpo amolecer, mas antes de desabar para o lado senti mãos envolverem meu corpo pequeno e então me entreguei à escuridão a qual tanto lutei contra.

[...]

Acordei sentindo minhas costas doerem, porém o que estava abaixo de mim era macio e confortável, talvez estivesse desacostumado demais com tal conforto.

Demorei em abrir meus olhos e me acostumar com a claridade, mas assim que o fiz pude ver novamente a mulher que me encontrou, os olhos verdes tremiam ao me observar e os lábios finos sorriram, levantou-se da poltrona e veio até mim, sua mão tocou minha testa, respirando aliviada ao constar alguma coisa.

Sorri, ou tentei, me sentando na cama e meus olhos curiosos logo começaram a olhar em volta. Era um quarto, inteiramente branco, sem nenhum indicio de que alguém dormiria ali.

— Poderia dizer seu nome? — a pergunta me trouxe de volta a realidade, pensei um pouco, porém a pouca idade me fez responder.

— Adrian — e só naquele momento percebi que minha garganta estava extremamente seca, tossi um pouco e logo estava com um copo d’água em mãos, o olhar preocupado voltou, ou será que nunca foi embora?

— Belo nome, me chamo Verônica. Está com fome? — sempre fui elogiado pelo meu raciocínio rápido, não por ela, mas minhas professoras sempre fizeram questão de elogiar as qualidades em seus alunos, aquelas lembranças, que pareciam tão distante agora fizeram meu coração apertar e os olhos arderem. — Ei, calma, está tudo bem agora e eu nunca vou deixar nada ruim voltar a te acontecer. É uma promessa.

E eu me agarrei àquelas palavras como se fossem oxigênio, porque eu sabia que não daria para viver sem elas.