Capuz Vermelho - 3ª Temporada escrita por L R Rodrigues


Capítulo 59
A calmaria antes da tormenta (Parte 1)


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 3x15

Boa leitura!



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5 dias depois... 

Palácio Subterrâneo de Abamanu 

Uma das paredes rugosas da cela localizada na masmorra estava quase preenchida pelos traços verticais e horizontais que representavam o número de dias nos quais o mago do tempo passara trancafiado. O jovem usava uma lasca de carvão para desenhar o último traço, um horizontal que atravessava os outros quatro. Havia passado-se uma semana desde a última distorção avaliada como extrema. Largou o pedaço desgastado e voltou a sentar-se no chão nauseabundo, apoiando seus pulsos nos joelhos. "Algo que me diz que esse pesadelo vai terminar em breve. Se uma alma viva não pode ser capaz de me libertar... a morte irá.".

As chamas das tochas quase apagaram-se com um soprar gélido provocado pela aparição repentina de Abamanu. Charlie, sobressaltado, alarmou-se com o vulto troncudo e tenebroso, levantando-se depressa.

— O que você quer? - perguntou ele, rispidamente. - Não quero saber mais nada sobre o julgamento de Chronos. Exijo que minha sentença seja declarada, agora mesmo!

— Quieto, seu verme. - disse Abamanu, usando telecinesia com a mão direita para empurra-lo contra a parede e mante-lo acalmado - Farei o favor de amenizar sua ansiedade já que finalmente se deu conta de que não tem mais nada a perder. Os coletores, com muita diligência, cumpriram o dever de realocar as armas divinas em certos locais onde itens de grande valia são negociados.

A ficha para o mago do tempo caíra como balde de água fria.

— Como é?! - indagou ele, a face espantada - Não... Puseram as armas à leilão! O que diabos você pretende com isso sabendo que tem um problema bem maior à sua espera?

— Yuga pode esperar. - retrucou ele, os lupinos olhos amarelos realçados - Ele finalmente apoderou-se de Rosie Campbell como seu porto seguro. Desde o seu nascimento, ela não passou de um termômetro ou um filtro de energia pura que corria em suas veias sem que soubesse. Fiz minha parte em tentar avisar.

— Não!! - exclamou Charlie, frustrado, virando-se para a parede e socando-a fortemente com a mão direita. - Não, não, não... - lamentava ele chorosamente, o sangue começando a escorrer por entre os dedos do punho fechado - Todo esse tempo... eu sabia... senti que existia uma aura familiar em toda aquela manifestação.

— Do que está falando? - perguntou Abamanu, o tom frio.

— O que Yuga está irradiando... - disse o mago do tempo, recompondo a calma - ... é de uma proporção que nunca antes pude sentir. É novo. Assustador. Jamais senti uma distorção tão poderosa a ponto de me intimidar e me fazer temer pela minha própria vida mesmo estando tão distante... era como se a qualquer momento se aproximaria de mim e me destruiria de dentro pra fora. - olhou para o deus lunar por cima do ombro, a luz das chamas cintilando seu olhar - Significa que isso é pior do que quando você veio à Terra. Você não é um oponente páreo, mas vai ter de se render, está num beco sem saída.

— Eu? Me render? Com quem acha que está falando? - perguntou Abamanu, debochante - Eu estou só começando. Hector e sua horda de miseráveis não consegue se focar em outra coisa senão em resgatar sua cara protegida com a qual falhou indesculpavelmente. Isso me abre uma brecha. A sociedade humana não foi largamente corrompida como planejei. Agora imagine-os... - estreitou os olhos - Desiludidos. Seus egos feridos. Suas posições manchadas pela vergonha. Mas nada comparado ao desespero que vai tomar conta de suas mentes quando perceberem que suas crenças e apegos não significam absolutamente nada. Eles sentirão na pele que o poder de um deus se encontra do outro lado de uma ponte que nunca atravessarão. E se tentarem, vão cair no abismo.

A ideia geral do nefasto plano já tinha sido processada por Charlie.

— Enganar as pessoas... para depois vê-las sofrerem as consequências por serem curiosas. Belo trabalho você e seus novos empregados estão fazendo. A inocência dos humanos é só um estimulante para que monstros como você se vejam um passo à frente. - disse o mago do tempo, dando alguns passos em aproximação - Mas não vai ser assim por muito tempo. E me refiro ao seu plano. Yuga pode ter cessado a destruição, mas quando ele despertar sua fúria novamente essas pessoas podem ser alvos fácies e como as armas são fontes abundante de energia... ficará ainda mais forte e o mundo que você tanto quer governar será destruído. Onde seu império renovado se encaixa nesse cenário? Melhor repensar suas prioridades antes que seja tarde.

— Ouvir a sugestão de um refém será de grande ajuda. - ironizou o deus lunar, desdenhoso.

— Ouça-me - disse Charlie, veemente e aborrecido -, suas opções vão se esgotando aos poucos, as consequências desse plano serão apenas um farol para que Yuga chegue a essas pessoas que serão envolvidas nessa loucura. A saída consciente seria aceitar confronta-lo novamente.

— Nunca! - vociferou Abamanu, aproximando seu rosto às grades enferrujadas - Disse que não sou bom o bastante para enfrenta-lo, eu concordo, eu também senti a mesma coisa. Pedi para que encontrasse meu escriba e você ficou se preocupando com a ameaça que Yuga representa a este mundo decadente. À esta altura, pode estar aliado à Hector e contado sobre o Vazio e as armas necessárias para abri-lo.

Um lampejo de relembrança acometeu o mago do tempo.

— Vazio? - indagou ele, pensativo - Esse nome não soa estranho... já o ouvi em alguma sessão...

— Porque o ingrediente final para abrir o portal é o sangue de um mortal comungado com os princípios de um deus. - afirmou Abamanu, enfático - Quem será este infeliz? - deu um sorriso presunçoso mostrando suas brancas presas.

— Vá se desanimando. - disse Charlie, sorrindo levemente, o rosto meio sujo de terra - Não sou o único que selei um pacto divino. Confio nas possibilidades e Hector é inteligente o suficiente para considerar cada uma delas e chegar até o fim para conseguir Rosie de volta.

— Ah, você é o único sim. - rebateu o deus lunar, confiante - A profetisa? Ela mal conhece meu escriba, além de ser um alvo extremamente fácil. Nem mesmo Hector pode servir, não adianta ter carregado sobras do meu poder em um objeto insignificante sem ter aceitado minha proposta. Um mortal com uma ligação sólida com um deus. Você... é... o único. - afirmou, inclinando-se para o jovem expelindo um bafo gelado pelo focinho e encarando o olhar raivoso do mago do tempo. Se afastou com uma postura misteriosa - Sabe... Andei pensando no que tinha dito recentemente sobre o tempo em inatividade e o que isso provoca em um mago do tempo. Parabéns, me convenceu.

— Diga logo o que decidiu. - pediu Charlie, a expressão fortemente séria.

— Vou antecipar o grande evento. - disparou Abamanu - Depois dos leilões, você terá um reencontro bastante caloroso com os coletores. E como presume-se que Yuga esteja preparando um golpe ainda mais destrutivo com essa trégua misteriosa e você é de suma importância para o ritual para aprisiona-lo... - sorriu de forma malevolente - Vou estar ocupado demais confiando em meus novos guerreiros.

Uma faísca de revolta avassalou em Charlie, fazendo-o segurar as grades com força e encara-lo.

— Maldito, então esse é o verdadeiro plano! - acusou ele, olhando-o enraivecido - Como os deuses abdicaram temporariamente de suas armas para o julgamento de Chronos, isso possibilita elas estarem abertas ao controle de qualquer um que toca-las. Vai controla-los como suas peças!

— É uma pena que não verei mais essa perspicácia. - disse Abamanu, confessando admirar-se com o quanto o jovem demonstrava sua inteligência e rapidez na compreensão. - E então, Charlie? Onde está a sua genuína vontade de morrer?

O mago do tempo teve de admitir que caiu em uma armadilha. Depois de saber que o seu resgate voltara a ter algum significado, o desespero retornou com a mesma força. "Eles precisam de mim! Desgraçado, usou minha própria mentira contra mim... Ele quer utilizar pessoas inocentes que tem um poder imenso nas mãos pois confia na ideia de que a fonte do poder divino vem de seu item mais precioso e elas serão recrutadas como meros soldados numa ofensiva contra Yuga. E se Hector e os outros intervirem, serão mortos, já que Abamanu também pode usar habilidades de Mollock e obviamente vai hipnotiza-las a seguirem seus comandos. Será uma catástrofe... Não posso morrer, não quero!", penso Charlie, ajoelhado e cabisbaixo diante das grades que segurava sem nem ter percebido quando o deus lunar desapareceu dali.

O vento tornara a soprar em seu desfavor e os sussurros da morte pareciam zomba-lo.

                                                                                       ***

Por uma rua de Raizenbool, Alexia, com seu costumeiro vestido de seda púrpura com alças finas, caminhava por uma calçada carregando uma sacola de papelão com alguns legumes dentro. O sol forte da manhã penetrava em seus belos cabelos ruivos alaranjados deixando-os com um certo brilho.

Relanceou um poste de iluminação à sua esquerda pelo qual passaria ignorando... se não fosse por um diferencial. "Mas o que é isso, afinal?", pensou ela, estreitando os olhos, intrigada ao desviar do percurso e direcionar sua atenção aos dizeres no papel branco colado.

Admitiu que a imagem do tridente de Poseidon desenhado no centro do panfleto foi o elemento chamativo. Leu cada palavra do anúncio.

O trecho "Itens autênticos que farão você sentir-se como um deus" a deixou um tanto alarmada.

"Quem estaria organizando tantos leilões assim para um único dia?", pensou a vidente, desconfiada.

Num ato de impulso, arrancara-o do poste com a mão direita e guardando-o junto aos legumes que comprara. Um garoto meio sardento usando uma boina cinza e suspensório sobre uma camisa xadrez preta e branca, trazendo um volume de folhas, se aproximou dela com um sorriso gentil.

— Interessada? - perguntou ele, entregando um panfleto.

A profetisa se virou, meio surpresa.

— Ahn, err... Eu já peguei um, na verdade. Obrigada. - disse ela, sorrindo, logo dando continuidade à andança em retorno ao Casarão. O garoto não desfez da expressão educada e observou-a ir em frente.

Repentinamente, um entortamento no seu sorriso precedeu um piscada que revelou olhos completamente vermelhos como sangue.

Um homem careca, segurando um jornal aberto, encostado num poste do outro lado da esquina e com vestes negras, acenou positivamente com a cabeça para o menino... que não passava de um dos coletores muito bem disfarçados a fim de fazer parecer que crianças inocentes estavam sendo usadas para divulgar um evento não legalizado. Trabalho infantil era uma proibição rígida, mas em se tratando de uma situação com certa peculiaridade claramente seriam decretadas punições dobradas.

Aquilo era apenas parte de uma tentativa para um segundo desvio de atenções, consistindo em manter as atenções de uma revoltada população diretamente ao governo, acusado de exploração de menores a favor da visibilidade de eventos com fins lucrativos, ainda mais em plenos tempos de desespero.

                                                                                        ***

QG Alternativo do Exército Britânico 

No corredor que direcionava à sala de contenção, dois soldados que faziam guarda visualizaram com estranheza a figura que se avizinhava, não demorando a exibir incômodo compartilhado.

— O que faz aqui, senhor Crannon? - perguntou um deles, rude - Esqueceu que o General rasgou seu contrato por deserção? - fez uma pausa, segurando firmemente o fuzil e cogitando mira-lo no caçador  - Se der mais um passo, seremos obrigados a prende-lo. Se reagir, atiraremos.

— Tenho um assunto importante a tratar com o General. - justificou Hector, sem intimidação - Não vim implorar por readmissão, muito menos limpar minha imagem com explicações inúteis.

— O General não quer nada com você. Vá embora, caçador medíocre.

O outro soldado chamara a atenção de seu parceiro com um toque no braço e falou em seu ouvido.

— Óbvio que ele veio ver a antiga companheira dele.

— Não diria companheira. - retrucou Hector, franzindo o cenho com um sorriso leve, chegando mais perto.

— Não quis dizer nesse sentido. - respondeu o soldado, soando ríspido - Queremos saber: Como passou pela segurança?

— Não tenho de dar satisfações, fiquem cientes de que não sairei de mãos vazias. - disse o caçador, a expressão séria, ficando bem mais próximo dos fardados que exalavam altivez. - Posso ter cortado relações com o Exército, mas quando se trata de alguém com quem me importo e que causou prejuízos às pessoas que tanto querem proteger... não me sinto no direito de ficar em silêncio ou estagnado. - fez uma pausa, olhando-os por um instante com bastante seriedade - Então, se tiverem a gentileza de chama-lo...

— Não precisa. - disse a voz áspera de Holt, que abrira a porta de entrada da sala com surpresa - Tem minha permissão concedida. - olhou para ambos os soldados - Os coloquei aí somente por precaução, com registradores de EMF ocultados para no caso de ainda haver certos infiltrados. Sabe como é... Confiar se tornou perigoso ultimamente.

— Mas a leitura não funciona apenas quando há manifestação sendo irradiada? - questionou Hector, provando que tinha jogado fora o conhecimento que obteve durante seu período como aliado. 

Holt demonstrou sua costumeira apatia, a escuridão da sala atrás dele fazendo-se atrativa.

— Eu mandei fabricarem novos e avançados. - declarou ele, virando-se para o interior do recinto em seguida - Venha. Já imagino o que deseja me contar.

— Então é assim? - indagou Hector, mergulhando na escuridão que envolvia boa parte da sala - As mágoas foram sanadas? - fechara a porta.

— Não confunda as coisas, senhor Crannon. - disse Holt, puxando a corda da longa persiana que protegia a vidraça, deixando um pouco de iluminação chegar ao piso de granito cinza - Meu coração ainda sangra... por ter me arrependido de acreditar na sua diligência. Sabia no que estava se metendo e resolveu brincar com minha boa vontade quando decidiu fugir sem prestar nenhuma justificativa. - virou-se para o caçador, sisudo - Foi por medo? Vergonha de si mesmo por não se encaixar?

— Olha, General... - disse Hector, sentindo-se pouco à vontade e um tanto ansioso - Prefiro que nos foquemos apenas no atual problema. Seria melhor... que enterrássemos nossas divergências passadas, absolutamente tudo que levou ao meu banimento da aliança. Minha fuga, as omissões, as evidências que colheu do assassinato...

— Espere, que assassinato? - perguntou Holt, olhando-o com súbita desconfiança - Não sei do que está falando. Se refere à morte do soldado Heller? Ah sim, acabo de lembrar que nesse período ainda estava dado como fugitivo e não estava a par de nada. Então, que evidências são essas?

A garganta de Hector secou repentinamente. Não fazia sentido nenhum ver o General aparentemente não se recordar de ter reunido provas cabais que aproximavam o caçador de sua incriminação como autor do assassinato brutal que cometera aos indefesos tios e primos de Edgar.

"Mas o que... Ele não lembra da conversa que tivemos, do interrogatório com toda aquela pressão para me fazer confessar? Calma, devo ser cuidadoso... De fato, ele realmente expressa não saber de nada a respeito disso. Consigo ver, está sendo completamente honesto pelas suas feições. Talvez seja... Sim, é plausível, não tenho dúvidas. Áker mencionou o General na nossa reunião da semana passada com Údon, dando a entender que o visitou em algum momento após o ataque de Yuga em Liverpool. Também falou sobre o plano de limpar as mentes das testemunhas... Já se passaram dois dias desde que os danos foram reparados, então o deletamento já deve estar acontecendo ou ocorrendo em horas alternadas. Áker fez isso primeiro no General, mas, de alguma forma, pôde selecionar as memórias relacionadas ao meu crime? Ele limpou minha bagunça e nem sequer quis falar sobre isso. Vou tratar de agradece-lo depois, agora quero ir direto ao assunto...", pensou Hector.

— Ahn... Desculpe, ainda estou... um pouco perturbado com tudo que aconteceu entre nós, com Rosie, que acabo soltando coisas que não tem nada a ver. - disse o caçador, tentando parecer natural - A propósito, é sobre ela que vim falar. Você se encontrou com Áker, não foi? O arauto de Yuga.

— O que se disse ex-subordinado de Sekhmet e usa um mordomo negro como recipiente? - indagou o General, andando alguns passos até Hector - Sim, ele veio. E arauto de quem? - franziu o cenho - Yura... desculpe, não entendi bem.

— Yuga, uma divindade... - disse o caçador, fechando os olhos por um só segundo e passando rápido a língua entre os lábios, tentando manter-se tranquilo - Eu poderia resumir para o senhor entender melhor, mas acontece que o tempo é curto. Vocês não prenderam Rosie. Na verdade, o motivo pelo qual vim foi em virtude do quão estranha foi essa rendição. - pausou, desviando o olhar para a cela de contenção - Posso ver? Onde está?

— Lá embaixo. - disse Holt, caminhando até a vidraça para observar ao lado do caçador - O que quis dizer com não termos a prendido? - a ficha caíra como um raio, fazendo-o virar o rosto para ele com estupefação - Não me diga que isso...

— Sim, que bom que entendeu. - disse Hector, olhando para o corpo de Rosie, alguns metros abaixo deles na alta cela, em posição meditativa e emanando uma luz amarela em torno dele - Há quanto tempo está assim? - perguntou, sentindo o coração entrar em palpitações.

— Desde a captura. - respondeu o General, secamente, mantendo os olhos intrigados fixos no deus solar - Não disse um pio até agora. Parece ter mergulhado num estado de meditação impossível de romper. - virou o rosto para Hector - Aquela vadia arrogante me alertou sobre Campbell ser uma ameaça adormecida para que eu concordasse que somente ela é quem faria as regras desse joguinho sádico ou seja lá o quê que ela estava elaborando para salvar seu império.

— Sim, e ela se divertiu levando seu olho esquerdo como prêmio pelo pacto. - disse Hector, não prevendo a reação imediatamente espantada de Holt.

— Vo-Você sabia!? - quis saber ele, enfezando-se - Como?

— Depois que me libertaram, Rosie passou um tempo sendo treinada e orientada enquanto eu permaneci sem dar notícias até nos reencontrarmos naquela missão avaliativa no bunker. - disse Hector, sem deixar de olhar para Rosie flutuando no ar envolta daquela densa energia - Na conversa que tivemos até chegar à base dos miméticos disfarçados de sobreviventes, ela me mostrou a cópia de uma ficha completa de Betsy Rossman que surrupiou, confirmando que Sekhmet estava entre o Exército e presumimos que ela mirasse no senhor a fim de um acordo que favorecesse seu plano para mata-la.

A cabeça do General girava a ponto de uma latente dor brotar.

— Não escondo o fato de que estou bravo. Mas vou relevar, já que estamos diante de uma causa que exige nossas atenções redobradas e total apoio mútuo e você e Campbell não nos devem mais nada. Se tem algo a acrescentar sobre essa revelação assustadora, então fale.

O caçador suspirou pesadamente, voltando-se para Holt.

— Rosie foi uma vítima fatal nessa história. Existia sim algo extraordinário dentro dela. Jurei à mim mesmo protege-la desde o dia em que nos vimos pela primeira vez e meus esforços foram em vão. Mas serei direto pra não acabar falando sobre meus sentimentos em relação a esse pesadelo. - fez uma pausa, baixando uma cabeça, em seguida reerguendo-a lentamente - O ser abominável que assumiu seu corpo e mente... pode ter visto uma vantagem na prisão. Também não estranhou?

— Ainda pensava que era Rosie Campbell completamente insana com seus poderes então adormecidos. - disse o General, levantando uma sobrancelha - Seu amigo sobrenatural se recusou a entrar em detalhes porque talvez acha que faço parte da grande parcela de mortais a não endoidecerem com essa verdade alucinante. Ele até fez parecer o contrário, mas a mim ninguém engana.

"Na verdade, houve uma fase de loucura nela, mas acho que farei como Áker", pensou Hector, contendo-se para não dizer mais do que deveria.

— Rosie foi possuída pouco antes dos primeiros assassinatos de criminosos estamparem as primeiras páginas dos jornais. O que quer que sejam as intenções de Yuga com esse silêncio, essa complacência na hora de ser abordado por simples humanos... eu sugiro que tomem providências rápido. Como sugestão, acho que devem abandonar o QG.

— De jeito nenhum. - retrucou Holt, incomodado.

— Pense bem: Sem nenhuma visualização que lhe mostrasse uma conveniência, ele já os teria matado antes que apontassem as armas. - argumentou Hector - Está bem óbvio que isso muda tudo agora que a verdade está à tona. E então, General? A decisão final está em suas mãos. Está mantendo encarcerada uma bomba-relógio capaz de causar estragos imensuráveis.

— Não quero ouvir mais nada. - decretou o General, mostrando-se aborrecidamente cansado pela fala e postura - Pela primeira vez em muitos anos tenho um prisioneiro que pode cooperar com obtenção de informações e não vou perder essa chance. Nada que bajulações e alguns falsos juramentos de servidão não resolvam. Ele não sairá desta sala, a menos que eu permita. - determinou ele, veemente na expressão, dando olhadelas constantes para o ponto baixo da sala de contenção.

Hector fechou os olhos por um segundo, passando uma mão no rosto em preocupação pela decisão do chefe militar que lhe pareceu absurda.

— General, por favor, compreenda. - insistiu o caçador, tentando convence-lo - Por quanto tempo Yuga permanecerá preso não depende das suas ordens. Ele nem mesmo é mais um deus, se transformou numa criatura totalmente repugnante, embora muito poderosa...

— Já chega! - disse Holt, enfurecido - Já pode ir embora pois ouvi o que foi necessário. A decisão final é minha, como bem disse, e pretendo testar minhas opções, eu abri minha mente para esse mundo novo me imbuindo com uma noção clara de contingência. - fez uma pausa, afastando-se alguns passos - Ou, se quiser, pode continuar assistindo a essa sessão de meditação zen. Mas fique tranquilo: Seu segredo está seguro comigo, senhor Crannon. - falou, com certo amargor no tom - Afinal, somos parte da minoria dos que estão prontos.

Rendendo-se à irrevogável escolha do General, Hector o viu, com olhar lamentoso, fechar a porta da sala de controle com força.

O caçador logo voltou, com certa fervorosidade na expressão, a visualizar Yuga alguns metros abaixo na prisão específica para sobrenaturais, apoiando suas mãos na massa de concreto abaixo da larga vidraça como um espectador.

— Não vai se sobressair tão fácil, Yuga. Eu juro. Você sucumbirá... e vou resgatar Rosie, nem que pra isso eu deva morrer.

CONTINUA... 


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