Capuz Vermelho - 3ª Temporada escrita por L R Rodrigues


Capítulo 40
Conhece-te a ti mesmo (Parte 1)


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 3x11.

Boa leitura!



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"Inúmeras questões pairam na minha mente. Será que ao menos estive próximo de ser salvo? Será que eles conseguiram destruir todas as estruturas erguidas para disseminar a praga mortal? A pior dúvida é: Estão vivos? Dois anos passaram-se e nenhuma resposta, nenhuma palavra sequer foi referida à eles. Fui tolo. Eu tive a chance e me acovardei mediante à uma possibilidade real... mas a oportunidade estava lá, ainda havia tempo restante! Minha desesperança imediata acabou por custar as vidas daqueles que lutaram ao meu lado. Esta folha... apenas esta fina e frágil folha de papel deste diário pode ser a única coisa que irá restar após minha morte iminente. Ele... aquele que deseja se aproveitar da minha inclinação... talvez veja esta folha e leia estas palavras. Sei que não vai dar fim nela. Se avistar a chance de eu ser salvo, me usará e depois dará de comer aos "cães", mas deixará estas palavras intactas... talvez largadas em um dos corredores do seu palácio lá em cima... para que seja achada por um dos meus aliados. Posteriormente, sofrerão a perda. 

O fim se aproxima. Logo mais serei forçado a falar sobre tudo aquilo que mudou minha vida, todo o legado estará completamente perdido. Abamanu... a quimera divina cujo império foi o mais bem sucedido outrora... conseguirá, desmerecidamente, cruzar as fronteiras do espaço-tempo, invadindo mundos antes inalcançáveis. E os Coletores... meus terríveis inimigos continuarão ostentando as armas dos deuses. Pelo menos até o término do julgamento do meu segundo mentor... Chronos. Estou sendo inteirado apenas sobre seu julgamento. A condenação já é praticamente certa. Tudo o que foi construído pela Ordem ruirá. Todos os ensinamentos transmitidos cairão em mãos erradas. 

Este é um desabafo escrito apenas para mim mesmo. Quero acreditar que queimarei esta folha após ver a luz do dia novamente... E junto com ela as memórias deste confinamento maldito serão aniquiladas. 

Por enquanto, só me resta contemplar o passado. Escrever o que vivi nele de forma resumida não vai abrandar o desespero, mas me fará sentir mais orgulho do que um dia já fui. 

Um assíduo mago do tempo. 

                                                                                            ***
Inglaterra - 1928. 

Uma nuvem de poeira elevara-se após a abertura de um grosso livro, cujas páginas mostravam-se amareladas e envelhecidas. O conteúdo das mesmas ganhara a atenção de Charlie, em seus bem cuidados 15 anos, que fitava curioso o livro com seus brilhantes olhos verdes. O jovem ainda possuía um físico não tão esbelto quanto teria 9 anos depois, o qual fazia caber perfeitamente uma camisa bege abotoada e calças comuns marrom claro. Seu curto cabelo castanho - com uma franja diagonal na testa - era iluminado pelas lamparinas de piso da confortável biblioteca de sua casa. 

Gustaff Brienord, seu pai - com seus bem tratados 48 anos -, observava com entusiasmo o jovem estar diante de um de seus manuscritos, prestes a ter um contato ainda mais profundo com a área que ambos compartilhavam para seus crescimentos. Para Brienord, era chegada a hora perfeita de revelar o destino daquele rapaz promissor. O sábio mago do tempo vestia um terno preto elegante e possuía feições robustas no rosto relativamente barbudo, embora seu cabelo meio cinza, olhos castanhos e lábios finos denotassem uma personalidade bem-humorada. 

Charlie, ainda sem saber das reais intenções de Gustaff, virara-se com o cenho franzido. 

— Que estranho... só tem os enunciados e os cálculos estão rasurados. - afirmou ele, dando uma rápida olhada no livro. - Qual é o objetivo, afinal? 

— Um pequeno desafio. - disse ele, sem ser muito específico. Andara até o jovem, pondo-se ao seu lado. - Olhe... sei que muito repentino, não o preparei da melhor forma possível, mas... o que este livro reserva à você é o início de uma nova fase em sua vida. - olhou-o séria e fixamente. - Uma vez que imergir neste novo mundo, não será mais possível sair. Será impossível voltar atrás. Impossível negar seu destino. 

— Não entendo. - disse Charlie, ainda não convencido, olhando para o livro. - O meu destino? O que o senhor quer dizer com isso? Com certeza vem estudando isso há um bom tempo... 

— Não, Charlie, ouça bem. - disse ele, interrompendo-o, erguendo levemente uma mão para aquieta-lo. - Necessariamente, isto não será uma aula comum. É o seguinte - apontou para o livro. -, ocultei os cálculos para que você os resolvesse... - folheou com a mão direita para as páginas finais - ... nestas páginas que deixei em branco especialmente para este desafio. Além disso... - andou pela sala, fazendo mistério. 

Charlie concentrava-se no que estava prestes a ouvir, desconfiante do que o pai estava escondendo. 

— Não estou gostando nada disso. - afirmou ele, recuando uns dois passos. - Pelo que vejo, o conteúdo desse livro... é... é completamente além do meu alcance, impossível eu resolver numa só noite. O que está havendo, pai? Por que todo esse suspense?

— É que eu estive ciente de que meu tempo para pensar numa maneira melhor de lhe contar seria curto. - confessou Gustaff, nitidamente inseguro, mantendo-se de costas. 

— Me contar... o quê exatamente? - quis saber Charlie, já impaciente, olhando-o intrigado. - Por que justo hoje uma nova fase vai se iniciar na minha vida?

— É por que você... é parte de um legado. - revelara ele, virando-se para Charlie, a face mais  confiante. - Uma fraternidade de seres humanos agraciados com o saber dos deuses. - disse, logo depois pigarreando, meio sem jeito, parecendo não ter falado da forma como esperava. - Err... me desculpe, eu não fui... Ahn... Acabei sendo direto demais. Você olhou as páginas... percebe que o pus para lidar com algo mais complexo do que atualmente está aprendendo na escola. Esse é o começo, Charlie. - andou alguns passos até ele. - Sua mãe jamais soube... e permanecerá não sabendo. 

— Guardou um segredo por todos esses anos de nós dois?! - disse Charlie, parecendo surpreso. - Porque só agora? 

— Por que é como funciona. - justificou Gustaff, sem dar maiores explicações. - Eu sou parte desta irmandade já há 35 anos. A Ordem dos Magos do Tempo. - falou, de modo solene. 

Uma torrente confusa de sensações abateu-se sobre o jovem ainda despreparado para seu verdadeiro destino. "Um legado!? Saber dos deuses!? O que deu nele?", pensou Charlie, estremecido desnorteadamente. Balançando a cabeça em negação, o jovem se manteve incrédulo. 

Esboçando um sorriso forçado de ceticismo, Charlie exigiu mais explicações. 

— Com todo o respeito, mas... o senhor bebeu? - perguntou ele, sem medo. 

Gustaff rira descontraidamente. 

— Estou plenamente sóbrio. - afirmou ele, sorridente. - Eu espero que viva o suficiente para terminar o que comecei. 

O tom daquela enrolação toda não gerava efeitos positivos no jovem desentendido. 

— Mas... por que? - insistiu Charlie, aumentando o tom de voz e demonstrando sua impaciência. - O senhor está hesitando demais... Eu achava que o senhor fazia parte de um clube comum, conversando sobre coisas comuns. 

— Tornou-se comum para mim no decorrer do tempo. - retrucou Gustaff, recobrando a seriedade, andando para um lado da sala. - Geralmente, minhas desculpas surtem o efeito esperado, por isso consigo ficar até mais tarde da noite. 

Charlie baixara a cabeça, pensando no que diria a seguir, cerrando os punhos suados.

— O que mais... o senhor faz naquele lugar? - perguntou ele, olhando-o com suspicácia. - São esses tais magos do tempo, amigos do senhor, que frequentam o clube para reuniões secretas? Não é?

— Esperava que matasse a charada. - brincou Gustaff , sorrindo e pegando uma garrafa de uísque e um copo de vidro postos numa mesinha. - Depois da meia-noite... - serviu-se com a bebida. - ... fico sentado, traduzindo manuscritos cuja linguagem é totalmente desconhecida e incompreensível para pessoas comuns. Pessoas como sua mãe, por exemplo. Jorge V... - olhou-o com tom brincalhão novamente. - ... ninguém mais além dos magos do tempo possui esse conhecimento. 

— Olha... - disse Charlie, virando o rosto para os dois lados - a porta da biblioteca e a mesa onde o livro estava - rapidamente, tornando-se cada vez mais inquieto. - Dá para ser mais claro? Eu quero saber. - aproximou-se a passos nervosos, o olhar empolgado. - O que está havendo? 

Brienord o estudou por vários segundos, com certo orgulho e um sorriso leve enquanto segurava o copo cheio. 

— Por favor, me fale. - implorou Charlie. 

— Pensei muito bem antes de chama-lo até aqui. - disse Gustaff, em seguida tomando um gole. - Achei que... não estava tão preparado quanto eu pensaria que estivesse. - tocou-o no ombro esquerdo. - A irmandade atravessou gerações. Seu tataravô, bisavô e avô... já vestiram o manto... que foi passado à mim há exatos 35 anos. Tudo começou há 200 anos. A fundação da Ordem tinha o objetivo de reunir todo e qualquer conhecimento sobre o impossível. 

— O sobrenatural? - indagou Charlie, ainda desconfiado. 

— Exato. - disse Gustaff, assentindo e sorrindo. - Eu e meus irmãos de fraternidade, graças a Chronos, temos acesso à coisas que o resto da humanidade sequer imagina. 

Charlie estremecera, engolindo a saliva ao olhar para Gustaff de modo surpreso. 

— Espere um minuto... Chonos, o deus do tempo da mitologia? 

— É. - confirmou Gustaff, assentindo com bom humor. 

— Tiveram contato... com uma divindade grega?! - interrogou Charlie, permanecendo cético, a face confusa. - Mas isso é completamente... 

— Sei o que está pensando. - disparou Gustaff, olhando-o. - É o que a maioria das pessoas pensaria. Indagações e questionamentos, mas nenhuma satisfação pela ausência de uma prova concreta. Vai mudar a sua mente. A maneira como enxerga o mundo. De uma forma benéfica, garanto. 

Ainda aturdido com a revelação, Charlie tentava processar do modo mais aceitável possível. 

— Eu não sei o que pensar. 

— Eu entendo. - aquiesceu Gustaff, tomando mais um gole em seguida. - Tive a mesma reação quando seu avô me contou sobre o que ele andava aprontando secretamente. Eu falei: "Engraçado, me chamou até aqui somente para me dizer que faz parte de uma sociedade secreta que faz sabe-se lá o quê!". - falou, de modo engraçado. - Infelizmente, ele não era tão flexível quanto eu e... me deixou de castigo. No mesmo dia, ele teve uma discussão terrível com sua avó. Então... ele se foi. Me deixou uma carta onde me dava instruções detalhadas, mais precisamente sobre uma localização secreta de um bunker abandonado pelo Exército na Primeira Grande Guerra. Disse que era lá onde eu encontraria as respostas. - fez uma pausa, colocando o copo sobre a mesa. - No entanto, eu soube de sua trágica e misteriosa morte. 

— E o senhor não perguntou nada a quem fez a investigação? - quis saber Charlie. 

— Não. - afirmou Gustaff, sério. - Por que não houve. 

— Ser mago do tempo pelo visto tem o seu preço. - disse o jovem, fitando um canto da biblioteca, reflexivo. 

— Ah, esta é a pior parte. - declarou Gustaff, arqueando as sobrancelhas. 

— Por isso disse que devo viver o bastante... - disse Charlie, inseguro. 

— Não, não, espere, não interprete mal. - acalmou Gustaff, erguendo de leve as duas mãos. - Abraçar o destino de mago do tempo não é sinônimo de se direcionar para uma morte rápida, não é abrir da própria vida e arrisca-la em vão. Toda sociedade secreta possui inimigos. E, devo confessar, sei muito bem quem são os meus. 

— Eu procuraria exílio se os conhecesse, vendo o modo como o senhor fala. - afirmou Charlie, mantendo-se curioso quanto ao "trabalho" secreto de seu pai. 

— E o mais interessante: Eles não me conhecem. - disse Gustaff, seguro de si. 

— De quem está falando? - perguntou Charlie. 

— Eu não os considero como rivais, mas... estou confiando nos boatos. - disse ele, dando de ombros. 

— E quem consegue as informações? - perguntou Charlie, ainda mais compenetrado. 

— Um amigo. - disse Gustaff, secamente, como se não quisesse revelar além do necessário. 

— O senhor tem vários amigos. - retrucou Charlie, não convencido. 

— Um amigo que integra o clube. - declarou o pai, dando um sorrisinho sacana, ainda evasivo. 

— Que estranho. - disse Charlie, virando-se ao dar as costas para Gustaff, fitando um canto. - Por que será que me vem à mente você me mandando ir subir para o meu quarto sempre que a campainha tocava às nove da noite, sempre as quartas-feitas? 

Gustaff rira novamente. 

— Mais uma vez provou-se astuto. - disse ele, orgulhoso. - Ele se chama Isaac. Está encarregado de repassar informações dadas por membros ocultos. Informações relacionadas à uma suposta irmandade de homens vestidos de mantos vermelhos, conhecidos como Red Wolfs. - fez uma pausa, caminhando até Charlie. - Mas fique tranquilo. As testemunhas que contratamos possuem truques de disfarces que espero jamais caírem nas mãos de criminosos. 

Charlie virara-se para ele, com preocupação no semblante. 

— E como o senhor espera sair dessa investigação da mesma forma que entrou? - questionou. 

Com um suspiro pesado, Gustaff ficara pensativo. 

— Há poucas semanas - começou Brienord, mais sério do que nunca. -, eu e mais três membros, não são magos do tempo, passamos a compartilhar uma suspeita. Um Judas entre nós. Ou talvez até mais. Hoje o clube possui mais de 20 membros. 

— Magos do tempo também podem participar desse grupo de... investigadores, caçadores de conspirações? - perguntou Charlie, sentindo-se cada vez mais preso à trama secreta. 

— Bem, nenhum dos meus irmãos da Ordem tem algum interesse em participar, já os convidei, mas preferiram recusar. Você, obviamente, está se perguntando: "Se toda sociedade secreta tem inimigos, então quais seriam os dos magos do tempo?". A verdade é que... nossos inimigos são a maior parte da população. 

— Por uma boa razão, creio. - disse o jovem, concordante. 

— Exato! - disse Gustaff, animado. - Só imagine... Pense no quão devastador seria caso a massa alienada e, sobretudo, a mais religiosamente conservadora, obtivesse acesso a todo o conhecimento adquirido pelos magos do tempo em décadas e fosse disseminado em poucas semanas. Todo o saber dos deuses. A linguagem, os costumes, as histórias ricas em detalhes que nenhum livro de história contém. - andou alguns passos á frente, sorrindo de leve para seu filho. - O mundo não está preparado para esse saber. Mas acredito... que chegará o dia em que a verdade virá à tona. 

— Por isso traduz manuscritos de forma secreta... como método de estudo e aprofundamento. - arriscou Charlie, especulativo. 

— No caso desses estudos... - disse Gustaff, o olhar evasivo. - ... não estão relacionados à Ordem. Eu diria que uma pequena parte está sim. Lembra-se do leilão que eu disse à sua mãe que iria? Há exatamente 1 ano? Pois é. Meu lance foi o último e decisivo. Um livro, cuja datação por carbono definiu que ele remete aos tempos da antiguidade. Ainda estou traduzindo-o... - ela sorrira abertamente. - ... e começo a imaginar que ele possui total relação com os Red Wolfs. Brevemente mostrarei minhas traduções aos meus amigos do clube, bem como minhas conclusões. O dialeto dos deuses, filho. 

O jovem ficara lívido após aquela fala. 

— Uma linguagem universal dos deuses?! Isso é... - disse Charlie, sorrindo fracamente, claramente nervoso. - ... incrível. Ainda não consigo acreditar. 

— Vai acreditar. - assegurou Gustaff, condescendente. - Quando ouvir aquela voz majestosa e contagiante... tenho certeza de que finalmente sentirá ter encontrado seu lugar no mundo. 

— O apoio que você, mamãe e os professores tem me dado me fez acreditar que meu verdadeiro lugar no mundo seria em Oxford. - declarou Charlie, com firmeza e mais segurança no tom, não deixando de dar rápidas olhadelas para o livro aberto na mesa. - Não sei se devo tentar. - afirmara, balançando a cabeça em negação. 

Gustaff, por sua vez, respirara fundo. 

— Já imaginava que... seria árduo convencê-lo. - falou o experiente mago do tempo, parecendo mais rendido à relutância do filho. - Mas esta é uma oportunidade única. Diferente de qualquer outra que já teve e muito mais vantajosa. - andou alguns passos adiante, olhando para Charlie fixamente. - Eu não quero força-lo de modo insistente, mas... Você não abandonará sua mãe, seus amigos, aquela garota ruiva da qual você tem um certo interesse... 

— Oh, por favor, isso não. - disse Charlie, virando o rosto e sorrindo de modo acanhado. - Alexia e eu somos apenas amigos. 

— Também não vai largar o colégio, nem a universidade... continuará vivendo sua vida, da maneira como sempre quis e sonhou, mas com este diferencial, que, obviamente, eu sei, fará muita, mas muita diferença. - fez uma pausa. - Poderá utilizar o conhecimento ganho nas sessões da Ordem e alia-los aos que já domina.

— Então espera que isso facilite minha estrada como universitário? - perguntou Charlie, desconfiado.

— E como físico brilhante que está destinado a se tornar. - complementou Gustaff, o sorriso entusiasmante. 

— Não, pai. Me desculpe. - disse o jovem, afastando-se da mesa em lentos passos. - Eu... - pôs uma mão na cabeça, os olhos fechados. - Eu ainda estou tentando aceitar essa nova realidade. 

— Será ainda mais difícil quando estiver no local secreto, Mas sei que vai se acostumar. - assegurou Gustaff, visivelmente nervoso em dispersar mais tentativas de convencimento ao filho. - Você é forte e facilmente adaptável, jamais dispensaria um desafio que beneficiasse seu intelecto. 

— Talvez não tão forte o bastante para absorver todo um conhecimento que minha mente mal consegue imaginar. - retrucou Charlie, já exaltado com a insistência de Gustaff. - E quanto ao senhor? Você não mencionou a si mesmo quando falou sobre não abandonar o que é mais importante para mim. 

— Por que... - Gustaff pausara de repente, baixando um pouco a cabeça, as mãos juntas para frente. Reerguera-a, desta vez com a face dotada de uma seriedade nunca antes vista pelo jovem. - A verdade é que... Como o legado é passado de pai para filho... você só poderá assumir o manto quando eu morrer. Por isso resolvi avisa-lo só agora, não queria que dependesse dos meus arquivos para mergulhar nesse mundo estranho e extraordinário, isto só tornaria a descoberta mais perturbadora e difícil de aceitar. 

— E onde estão esses arquivos? - perguntou Charlie, curioso e temeroso ao mesmo tempo. 

— No porão. Mas seria melhor que não colocasse os olhos naqueles papéis agora. - avisou Gustaff, voltando-se para a mesa onde estava a garrafa de uísque e o copo. - É cedo demais. Enquanto o dia da minha morte não chega... - pegara a garrafa e colocara mais uma quantidade de bebida no copo. - ... deve ceder ao desafio que está bem aí na sua frente. Resolva os cálculos, mas guarde para si mesmo, não é necessário que me mostre. - bebera um longo gole. - É o preparo mais eficaz que encontrei para fazê-lo se sentir mais seguro com esse novo mundo que seus olhos vão enxergar no futuro. 

— Espero que não tão cedo. - disse Charlie, ainda mais temente, olhando-o com certa preocupação. 

— Eu também espero. - disse Gustaff. - Quando Chronos lhe ensinar tudo o que deve saber e você sentir a grandeza do alto conhecimento ... tenho certeza de que sua mente vai revisitar esta noite e fará você desejar ter aceitado a proposta desde o início. Bem, só espero que não fique frustrado por ter hesitado tanto. 

— Gus! - chamara uma voz feminina que ressoara pela biblioteca e o corredor que dava acesso à ela. 

Gustaff, rapidamente, largara o copo e andou até a porta com certa pressa. 

— Sua mãe está me chamando... Por favor, faça o que lhe mandei. Estou confiante... - tocara a maçaneta, logo girando-a. - ... de que vai se sair muito bem... - abrira a porta, pondo-se para fora. - ... e, com muita sorte, vai me superar como mago do tempo. Eu acredito em você. - por fim, fechara-a.

O rapaz se viu sozinho e estagnado no ambiente silencioso da biblioteca. Apenas alguns insetos pequenos com seus zunidos quase inaudíveis dançavam nas luzes alaranjadas proporcionadas pelas duas luminárias de piso. 

Charlie virou-se para o livro aberto na mesa, engolindo em seco tudo o que o pai dissera-lhe sobre seu real e irrecusável destino. 

Sem mais perder nenhum segundo, puxara uma cadeira e sentou-se, logo aproximando uma pequena luminária, pegando o lápis e focando toda sua atenção naquele livro, sobretudo naquele conteúdo de resolução complexa. Para tornar o trabalho mais rápido e prático, arrancara as folhas - quatro de uma só vez - deixadas em branco e separou-as ao lado do livro, não demorando a ler o primeiro enunciado. 

As últimas palavras de Gustaff, antes de sair da sala, gravaram-se em seu subconsciente, encorajando-o de uma maneira que não pedia por explicações tamanho era o efeito gerado. 

Os minutos passavam... e Charlie resolvia os cálculos com um brilhantismo e dedicação únicos.

CONTINUA...


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