Capuz Vermelho - 3ª Temporada escrita por L R Rodrigues


Capítulo 28
Alfa, Beta e Ômega (Parte 1.3)




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Birmigham - 09h40.

Caminhando pelas últimas partes da floresta que precediam um espaço de vegetação média - um campo onde boa parte da grama atinge a altura dos joelhos -, Áker seguia em frente e esbanjando toda a determinação que desenvolveu em si para colocar em prática o plano forjado em conjunto com seus aliados insurgentes. O mordomo afro-descendente com smoking ora passava pelas sombras das mais altas árvores ora pelos fachos de luz solar que irrompiam dos galhos e folhagens. Sua visão de longo alcance detectara a proximidade da fábrica. "A chaminé ainda está em pleno funcionamento. Não há tanques, nem veículos, nenhuma maquinação dos mortais. Falta pouco e pelo visto cheguei no momento exato.".

Sua audição, contudo, captara sons inquietos de passos acelerados por todos os lados. Estacando, mantivera-se seriamente alerta, preparando-se para uma suposta emboscada. "Já esperava que fossem vir.".

De um grande arbusto surgiram dois furiosos soldados de Abamanu, rosnando ao empunhando suas lanças com pontas vermelhas e correndo na direção de Áker.

Utilizando-se de sua supervelocidade, o arauto desviara antes que um deles pudesse desferir um golpe. Correra velozmente por entre os dois, tomando a lança de um deles. O primeiro novamente tentara perfura-lo, mas o arauto usara a arma roubada para golpeá-lo no queixo com a outra ponta, depois virando-a e usando a ponta vermelha para crava-la na garganta do segundo que vinha para defender seu companheiro. O segundo assecla irradiara uma luz azulada pelos olhos e boca ao morrer e cair no chão. O primeiro pegara Áker pelos ombros e o lançara contra uma árvore. Sem sentir a dor do impacto das costas contra a madeira, o arauto levantara-se rapidamente, já visando o próximo movimento.

O soldado pegara sua lança de volta, atirando um raio vermelho de sua ponta principal. Áker, por instinto, desviara para a esquerda. A árvore fora atingida pelo ataque, sendo danificada por uma pequena explosão. Novamente superveloz, Áker empurrara o soldado contra uma rocha em grande choque. Rapidamente tomara a lança e transpassara a armadura do soldado ao cravar a lança em seu peito. Ao descravar e largar a arma, percebera as abruptas presenças de mais três vindo por trás.

Ao virar-se, lançou o terceiro telecineticamente contra uma árvore, mantendo-o neutralizado e desarmado graças à sua mente. Os outros dois vieram em seguida, enfezados e rosnando feito cães sedentos por carne. Áker segurara com as duas mãos a lança do terceiro quando o mesmo veio lhe golpear, usando a outra ponta para bater contra o olho esquerdo dele, em seguida tocando na armadura do quarto, superaquecendo-a em alta velocidade. Sem forças para nem mesmo mover-se, o soldado deixou-se consumir pelas chamas que formavam-se dentro de si incinerando-o de dentro para fora. Sua boca abriu-se com um urro de dor e iluminando-se com um irradiamento azulado, além de chamas de fogo fátuo terem crescido de seus olhos durante a dolorosa morte.

Após largar sua vítima, Áker, sem perceber, fora pego de surpresa pelo quinto soldado que agarrou-o para derruba-lo contra o chão. Ambos bolaram por segundos. Contudo, o arauto ficara por baixo, sentindo o hálito frio e podre da bocarra do lobo bípede que erguia uma mão para atacar com suas garras afiadas. Rangendo os dentes, Áker conseguira mover o braço direito, antes imobilizado pelo esquerdo do soldado, sendo capaz de queima-lo com seus poderes. Também agarrara o braço direito do soldado, queimando-o em seguida. Sentindo a dor das queimaduras em grau máximo, o soldado baixara sua guarda, dando à Áker a oportunidade de virar o jogo, ficando por cima dele.

Aproveitando a deixa e a vantagem, o arauto rapidamente sacara do bolso de trás sua espada dourada, logo cravando-a na cabeça de seu oponente. A luz azul irradiada iluminara seu rosto enquanto o matava.

Enquanto tirava o sangue da lâmina, limpando-a na barra do smoking, Áker caminhara em frente, acelerando os passos até ganhar supervelocidade... e finalmente se ver diante da fachada da fábrica de concreto sujo.

"Uma armadilha sabiamente elaborada. Ela contou com a chance de que eu seria parado por apenas cinco daqueles. Patético engano.", pensou o arauto, observando atentamente se havia movimentações suspeitas nas proximidades. "Os infectados são os únicos guardiões que devem fazer a vigília em torno fábrica, até onde eu sei. Não parece haver nenhum, não sinto suas presenças, a menos que estejam lá dentro... Sekhmet também não está no meu radar. E só existe uma coisa que me impede de encontrar meus alvos.". Fechou os olhos por alguns segundos. Quando os abriu, os mesmos estavam completamente brancos, fitando a fachada.

Aquela outra visão aprimorada de Áker lhe conferia a capacidade de enxergar através de objetos sólidos, com uma atmosfera sombria em preto e branco. As paredes cinzentas da fábrica mostraram marcações - sigilos inibidores - tanto do lado de fora quanto no interior da estrutura, posicionados organizadamente. Nos espaçamentos entre as marcações das paredes externas estavam as do interior.

"E eis o motivo pelo qual Sekhmet fugiu de minha vista. Exatamente como temi.", pensou Áker, não muito surpreso pela medida tomada de última hora pelos soldados a mando de seu imperador. "Estão por toda parte. Eles aprenderam e melhoraram as táticas. Uma estratégia para restringir o acesso de meus aliados que estão no pelotão que invadirá esta fábrica. Quando perceberem se sentirão intimidados e obrigados a recuar, correndo risco de se revelarem para os outros ou suas cascas sendo consideradas desertores. Pelo visto, o plano consistia em me parar na floresta, e enquanto eu estivesse neutralizado, eles iriam cuidar do restante, ativando os sigilos para pegarem meus aliados, seja por fora ou por dentro. Mihos não seria afetado, pois possui uma ótima discrição e provou que sabe driblar marcações, talvez consiga até mesmo apaga-las. Sendo assim, usarei isto como vantagem mesmo não aprovando a conduta dele, será mais fácil seguir. Provavelmente ela já está aí dentro. Muito bem, é hora de agir.".

Ao escutar longínquos sons rústicos produzidos por uma imensa horda de veículos militares se aproximando da estrutura, o arauto virara-se para contempla-los. Pesados tanques verde-escuro e carros com as cores do exército Britânico se aproximavam da área aberta onde a fábrica mostrava-se exposta, coberta, em sua boa parte, por vegetações de tamanho médio e gramas consideravelmente altas. Os pneus dos veículos em alta velocidade - com metralhadoras e equipamentos tecnológicos sofisticados na parte de cima - rasgavam o solo e a grama alta ao dirigirem-se à estrutura, vez ou outra passando por poças de lamas sem atolar.

Áker os fitava seriamente, exibindo toda sua corajosa perseverança em dar início ao plano. Apenas um detalhe adicional deveria ser tomado imediatamente. O arauto pusera seu emblema na palma de sua mão esquerda, antes que o campo de visão do pelotão militar detectasse sua presença.

— Irmãos, permaneçam alertas. - avisou o mensageiro, dando constantes olhadelas rápidas para o exército da máquina automotivas que se avizinhava. - Existem marcações em todos os compartimentos, tanto externas quanto internas. Tomem cuidado. - guardara o objeto no bolso do smoking após encerrar a mensagem.

O General, junto à alguns outros soldados, se encontrava dentro do tanque de melhor blindagem, maior envergadura e potencial armamentístico, cujo peso alcançava a marca de 85,2 toneladas, além de uma oscilante torre de artilharia capaz de girar 180 graus. No banco no qual estava sentado, aguardando o início da operação, Holt mantinha-se sério e paciente, passando os dedos pelo bigode grisalho.

Mihos - falso Heller - escutara o chamado do arauto atentamente ao lado de outros dois soldados que se entreolharam preocupados. O filho do imperador solar baixara a cabeça, dando um sorriso malicioso e discreto. "A primeira vez foi divertida. A segunda, ao que parece, será memorável!", pensou o deus, mal conseguindo segurar tamanha ansiedade. Olhara de soslaio para o Holt, a face maquiavélica. "E o senhor, General... não está descartado da lista. Você é o prato principal.".

                                                                                             ***

Naquele corredor cinzento e de paredes sujas de gosma preta respingada, Sekhmet manipulava telecineticamente seu emblema de Yuga a fim de detectar marcações invisíveis gravadas previamente pelos soldados de Abamanu. O pequeno amuleto pairava no ar feito um inseto alado, irradiando uma luz amarela. O tempo máximo que levava para executar uma detecção completa era de 20 segundos. Para a tranquilidade da deusa, haviam passado-se cerca de 2 minutos.

"Como imaginei. Jamais mentiriam para alguém com alto poder de persuasão e ameaça como eu.", pensou ela, deliciando-se com a ausência de marcações no corredor. Aquele fora o único ponto deixado "em branco" pelos asseclas de Abamanu, após terem sido coagidos por Sekhmet a deixarem aquele espaço reservado para que a deusa pudesse manifestar sua presença livremente, atraindo os aliados de Áker e o próprio até lá, instigando-os a invadirem o local mesmo que soubessem que as marcações externas impediriam-os de passaram das diversas entradas. Por fim, a teoria do arauto provara-se verdadeira. Rosie seria a única a entrar na fábrica, junto dos soldados do Exército Britânico sob seu comando - ao menos aqueles que não estiverem possuídos por soldados de Yuga e insurgentes aos ideais de Sekhmet, que certamente seriam neutralizados ao perceberem as marcações, sendo obrigados a ficarem do lado de fora e, consequentemente, levantando suspeitas dos demais.

Graças ao convencimento de última hora, Sekhmet teria tempo de sobra para pôr em prática seu ardiloso plano contra Rosie, sem intervenções, enquanto que Áker e seus aliados ficariam de mãos atadas esperando por más notícias no mais tardar. Por sorte, a deusa conseguira incutir seu instinto selvagem e ameaçador sobre os lobos, chegando a tempo antes que gravassem as últimas marcações.

A esposa de Yuga desativara a função do emblema, abrindo sua mão esquerda sem ergue-la, atraindo o objeto com telecinesia de volta ao seu poder.

— Resta-me esperar. - disse ela.

Antes que se virasse, escutara uma conhecida voz por trás de si.

— Muito bem, Sekhmet, já estou aqui. Vamos terminar logo com isso de uma vez.

Ao se virar, a deusa deixou formar um sorriso pretensioso e um olhar de ambição ao se deparar com Rosie em postura corajosa, se mostrando disposta a enfrenta-la ali mesmo.

— Ora, veja só. - animou-se a deusa. - Mais rápido do que presumi. Posso saber como soube que eu estava aqui?

— Isso não importa agora. - disse a jovem, sacando uma adaga e posicionando-se para lutar. - É bom que esteja pronta, mesmo que não seja do tipo que sabe perder. - dera um sorriso misterioso, realçado pelo seu olhar penetrante.

— Eu poderia estar rindo dessa sua atitude patética ante à mim, mas pretendo economizar energia. - disse ela, logo erguendo a mão direita ao esticar o braço. - Andei pensando bem sobre a maneira adequada para mata-la. - da palma de sua mão esquerda saíra uma pequena cruz de Ansata dourada, parecendo estar fixa nela. - Meu brasão finamente foi recarregado, posso drenar o poder de meu amado dentro de seu corpo sem a necessidade de mata-la antes.

— Como conseguiu sem que Yuga soubesse? - perguntou a jovem, adquirindo seriedade na face.

— Isso não importa agora. - retrucou ela, levantando uma sobrancelha com um cínico sorriso. - E é estranho que esteja curiosa. Percebo que se entregou ao seu destino. Ser massacrada por mim. Mas não se desespere, eu tenho certeza, eu posso lhe garantir que quando a energia residual for retirada... a ponta da minha espada mal causará dor à você, embora eu preferisse que seu grito fosse ouvido pelos hereges lá fora e sentissem o luto consumir seus corações até que enlouquecessem de desespero.

— Eu também andei pensando muito bem sobre minhas prioridades. - redarguiu Rosie, sorrindo com confiança na expressão. - Assumi que o que não me mata só me torna mais forte. Eu simplesmente amo esse poder. - fechara os olhos, lambendo os lábios em uma demonstração de prazer pela sensação que a energia lhe oferecia. - É a melhor coisa que já me aconteceu. O melhor presente que já me foi entregue. - abrira-os, fitando Sekhmet com um olhar provocativo. - Vou destruir Abamanu com seu marido em controle do meu corpo. Esse é o único jeito desta guerra terminar sem vítimas fatais.

— Não diga mais nenhuma palavra! - disse a deusa, revoltando-se e andando para um lado, mantendo o braço esticado e a palma da mão com o Ankh à mostra. Logo sacara sua faca dourada com a mão direita, tirando-a de um bolso de trás do sobretudo cinza.  - Cada infâmia criada por sua mente imperfeita e despejada da sua boca imunda serão cortes profundos na sua carne até que ela afunde em seu sangue.

Rosie dera uma risadinha zombeteira, excitando-se para o confronto, a adaga em posição de ataque.

— Então lhe darei o privilégio de atacar primeiro. - disse ela, sem medo. - Pode vir com tudo, sua deusa de merda.


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