Casamentos, perfumes e doses de tequila escrita por letgo94


Capítulo 4
A Lembrança


Notas iniciais do capítulo

Olá galera!
Agora vamos começar com os flashbacks. Vamos tentar entender o que aconteceu três anos antes da história e ver um pouco do passado do Laina (apelido carinhoso do Reiner)
Boa leitura a todos!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/758311/chapter/4

Julho de 2014.

O som das ondas do mar preenchia o silêncio do quarto. O ventilador de teto estava ligado, porém não surtiu efeito algum nos hóspedes. Enquanto o moreno que dormia na cama mais próxima da porta suava bastante, o loiro, que estava deitado mais perto da janela, desistiu de dormir após ter acordado de um pesadelo.

Alguns raios de sol tentavam ultrapassar as cortinas brancas da longa janela que ficava de frente para o armário embutido do quarto. A luz era bem fraca e sutil, indicando o início da manhã. Reiner, virou-se para o lado da porta para tentar se livrar um pouco da iluminação.

Na cama ao lado, Bertholdt dormia. Geralmente, ele era capaz de dormir em posições mais complexas que, segundo Jean. eram capazes de prever o tempo. Porém, naquela manhã, o moreno dormia de lado, virado para a janela, respirando tranquilamente. Seu companheiro de quarto se perguntava com o que ele deveria estar sonhando, e concluiu que, os sonhos do amigo deveriam ser mais tranquilos que os dele.

Sonhara com o pai naquela noite, uma pessoa totalmente desagradável que não merecia tal título. O homem saía do trabalho e ia direto para o bar, voltando enquanto Reiner dormia. Aqueles foram os melhores anos. Tudo piorou quando ele passou a ficar em casa o dia inteiro depois de perder o emprego.

O senhor Braun sempre teve problemas de alcoolismo e um comportamento abusivo. Tinha o hábito de bater na esposa, na frente do próprio filho, que também apanhava de vez em quando. Seu pai alegava que batia para corrigir o mau comportamento dos dois, que não passavam de lixo e sem ele os dois não sobreviveriam.

Outro fato peculiar no seu pai, era a sua desaprovação na amizade de Reiner com Bertholdt por acha-los "próximos demais" e que se tivesse um filho gay, iria bater nele até corrigi-lo.

Alguns anos depois isso realmente aconteceu. Tudo por causa de um mau entendido: alguém tirou uma foto dele beijando Porco no jogo da garrafa. A imagem se tornou viral e a vida de garoto se tornou um inferno. Como mal dava para ver o rosto de Galliard, ele saiu impune, mas Reiner, foi julgado e excluído pelos seus supostos amigos. Porém, o que mais o feriu naquela situação foi ver Bertholdt também sofrendo bullying por ser amigo dele. Por mais que o amigo tentasse se conter, era nítida a sua dificuldade em lidar com tantas palavras negativas e tentativas de agressão. Como ele não tinha coragem de revidar e quando alguém o defendia, as brincadeiras se tornavam piores.

E como Reiner se culpava por ver o amigo sofrendo. Sim, ele se importava bastante com a opinião dos outros a seu respeito, mas era doloroso demais ver uma pessoa inocente sofrendo por sua causa.

O pior estava por vir: quando o senhor Braun soube dos boatos a respeito do filho, ficou furioso, que bateu no garoto enquanto a mãe estava no trabalho. Ele apanhou tanto, que chegou a parar no hospital.

Depois daquele dia, seu pai foi preso e sua mãe pediu o divórcio. As feridas do seu corpo se curaram e o bullying foi trocado por olhares de pena, juntamente com atitudes hipócritas das pessoas que antes o condenavam por causa de uma foto mal interpretada.

Abafando suas lembranças, decidiu sair da cama. Bertholdt murmurou alguma palavra sem sentido no meio do sono e virou seu corpo de barriga para cima. Reiner não pode deixar de sorrir enquanto via o amigo dormindo de forma tão serena.

Pelo menos alguém está tendo um sonho bom nesse quarto.

A casa de veraneio onde estava hospedado era semelhante a um bangalô com apenas um andar. Nos fundos da casa, onde dava para ver o mar, havia um deque feito de madeira com duas cadeiras de praia repousando no local. Fora do deque, existia uma extensa piscina e um bar, ambos cercados por um gramado. O ambiente era perfeito para dar uma festa, e o anfitrião da casa, um rapaz chamado Eren, concordava com isso.

Faltavam dois dias para o fim da viagem e, para torná-la mais especial, foi planejada a realização de uma festa memorável. Todos da casa estavam empolgados e trabalhavam ativamente com os preparativos.

E para Reiner, não era diferente, mas sua empolgação tinha outro motivo: Annie e Bertholdt estavam passando muito tempo juntos, e a festa seria a chance perfeita para os dois. Ymir e Krista também estavam determinadas a ajudar, o que deveria deixá-lo empolgado, mas tudo o que sentia era um gosto amargo na boca.

Sentou-se na areia da praia e ficou encarando o mar, deixando sua mente vagar: depois do acidente, as pessoas que antes o tratavam mal passaram perguntar se ele precisava de ajuda. Seu colégio até colocou anúncios a respeito de bullying e homofobia como forma de tentar remediar algo que já estava além da salvação. Onde os superiores da escola estiveram quando ele era cercado por vários caras do seu tamanho com a finalidade de bater nele? Onde eles estiveram quando escreveram na carteira de Bert a palavra "Bicha" e jogaram todo seu material pela janela? E quando espalharam panfletos com fotos dele e do Bert com frases de ódio estampadas? Melhor nem mencionar quando seu amigo passou dias sem ir a escola e o professor só percebeu porque Annie questionou?

Toda aquela situação durante o ensino médio o abalou profundamente. Não queria passar por aquele inferno, e muito menos levar seus amigos juntos ou trazer mais desespero para a sua mãe. Por isso, precisava se encaixar de todas as maneiras possíveis. Até namorou Krista durante um tempo, para o desespero de Ymir, sua atual namorada.

Desviou seu olhar do mar e notou uma silhueta feminina correndo em sua direção. Reconheceu Annie, vestindo apenas um top preto e um short de ginástica. Invejava a disposição da garota para acordar cedo e se exercitar seis vezes por semana desde o ensino médio. Ela se aproximou e se sentou ao seu lado:

— Não dormiu hoje? – perguntou Annie colocando uma mecha do seu cabelo atrás de sua orelha.

— Quase nada. – respondeu Reiner - Fiquei até às duas da manhã ajudando a arrumar a bagunça que fizeram na cozinha.

— Fiquei sabendo – Annie abraçou seus joelhos – Parece que o Jean tentou fazer algodão doce no liquidificador e esqueceu de colocar a tampa.

— Sim, que idiota.

— Ainda bem que fui dormir cedo me safei desse inconveniente.

— Não foi o que Sasha comentou.

O corpo de Annie ficou um pouco tenso:

— Como assim? – ela perguntou

— Ela estava preocupada porque você disse que ia na cafeteria do outro lado da rua por volta das dez e não voltou. Era por volta das dez e meia.

— Como ela é dramática – a loira esticou suas pernas torneadas enquanto falava – O livro que eu li era tão bom que nem vi o tempo passar.

— Depois que Sasha comentou isso, vi Bert saindo pelos fundos discretamente – Reiner jogou a cabeça para trás – Ele nunca mais voltou naquele dia. Só por volta das três da manhã.

— Aí você ligou os pontos e achou que estávamos juntos – disse Annie com seu tom de voz indiferente – Parabéns Reiner, se dependêssemos do seu raciocínio dedutivo muitos assassinos estariam a solta. – ela continuou – E eu mandei uma mensagem para a Sasha a meia noite avisando que estava bem e voltava em meia hora.

— Então por que diabos, às três da manhã, eu escutei na porta do meu quarto uma risada abafada e o som de suas pessoas se beijando? Depois disso, só lembro o Bert entrando no quarto. Na verdade, não é a primeira vez que acordo com esses sons durante a minha estadia.

— Era o Armin. – disse Annie dando sua cartada final.

— Realmente, de todas as pessoas da casa – pensou Braun – Você e o Armin são os candidatos mais prováveis, já que ele também tem cabelos claros e não namora – suspirou – Muito esperto da sua parte, Annie, mas sabemos que nosso amigo gosta de garotas.

Apesar de envergonhada por ter sido descoberta, Annie estreitou os olhos e encarou Reiner de forma enigmática devido a sua última afirmação:

— Estamos falando da mesma pessoa? – ela questionou, em um sussurro.

Antes que pudesse questionar algo, ouviu Eren e Jean discutindo sobre algo enquanto Marco e Armin tentavam separá-los. Bertholdt os seguia, apenas observando a discussão. O loiro não pode deixar de enrubescer ao olhar para ele depois do que Annie lhe disse. Quando olhou para o lado, viu que a amiga também estava corada e evitava olhar para o moreno.

O grupo se aproximou do casal de amigos e estendeu uma toalha perto dos dois. Reiner, que não era bobo, decidiu provocar os amigos:

— Ei, Bertholdt! – disse Reiner acenando para o moreno, que enrubesceu ao notar Annie, que estava de costas para ele – Senta aqui, do lado da Annie.

Se um olhar fosse capaz de matar uma pessoa, Braun estaria enterrado sete palmos embaixo da Terra por causa da forma que a amiga (com o rosto bem vermelho, diga-se de passagem) o olhou. Bertholdt, que não era uma das pessoas mais discretas do mundo, tropeçou com os próprios pés e caiu de cara na areia. Todos, menos Annie, contiveram um riso daquela cena.

Bert se recompôs e sentou-se entre seus dois amigos. Sua pele estava praticamente colada na de Annie. Seu rosto ficou em chamas quando notou gotas de suor passeando pelo colo da loira, em direção ao seu top. Reiner deveria estar se divertindo com isso, mas estava desconfortável demais com aquela proximidade do amigo, a ponto de sentir calor:

— Bert, você está suando muito – perguntou Eren preocupado – Tá tudo bem?

— Você está certo – respondeu o moreno dando uma risada forçada– Vou entrar na água e já volto.

Bertholdt correu em direção à água, como se fosse Satanás fugindo da cruz. Annie saiu alegando que precisava tomar banho. O rosto de Reiner também estava vermelho:

— Está tudo bem? – perguntou Marco

— Sim, claro – disse Reiner dando um sorriso amarelo – Só esta calor demais.

Por volta do horário de almoço, uma Mercedes vermelha estacionou na garagem do bangalô. Do lado do motorista, havia um homem na casa dos trinta com barba e cabelos loiros e um par de óculos redondos. Como um cavaleiro, ele abriu a porta do banco de passageiro para uma mulher bem mais jovem do que ele, com longos cabelos pretos e pele clara:

— Obrigada, Zeke – disse a mulher enquanto saia do carro.

— Disponha, Pieck – respondeu o homem loiro

— É incrível como o Jaeger é um cavaleiro – comentou sarcasticamente um rapaz da mesma idade da Pieck, de cabelos claros e penteados para trás enquanto abria a porta traseira da Mercedes.

— Porco... – repreendeu um rapaz muito parecido com o primeiro, com exceção dos cabelos, que eram mais escuros.

— O que foi Marcel? – respondeu Porco com certa irritação – Não estou falando a verdade? Foi muito gentil da parte dele.

— Com seu tom de voz sarcástico? – revidou Marcel – Parece que alguém está com ciúmes, irmãozinho.

— REPETE DE NOVO PARA VER SE VOCÊ VAI SAIR VIVO!

Antes que os dois irmãos iniciassem a briga, Eren apareceu junto com Armin e Mikasa para dar boas-vindas aos convidados.

Zeke era irmão por parte de pai de Eren. Embora tivessem uma grande diferença de idade, os dois eram bem próximos. Passaram um tempo conversando, até os outros hóspedes da casa se aproximarem para saudarem os visitantes.

A conversa se manteve animada por um tempo (apesar de Porco querer arrancar os olhos de Zeke por algum estranho motivo), até que a chegada de um camaro prateado os interromper, trazendo um silêncio fúnebre ao cômodo.

Quando um homem baixo, de cabelos pretos e um olhar intimidador saiu do carro pelo lado do motorista, ninguém respirou, porém, a pessoa mais assustada do recinto era o de Zeke. Jamais se esqueceria da surra que levou daquele homem por causa de uma garota:

— Zeke – disse o homem baixo em um tom monótono

— Levi – respondeu o homem com a voz um pouco trêmula

A tensão foi quebrada por mulher de cabelos castanhos e óculos acompanhada chamada Hanji, uma amiga de Levi. Atrás dela havia um homem muito bonito: alto, loiro, de azuis e sobrancelhas grossas. Quando Pieck o notou, não se conteve e suspirou:

— Ih, irmãozinho, parece que a concorrência vai aumentar– cochichou Marcel no ouvido do irmão.

—VAI A MERDA! – gritou Porco tentando dar um soco no irmão, que conseguiu desviar no último segundo.

Infelizmente ele acabou acertando o nariz do pobre Reiner, que estava logo atrás.

Uma pequena comoção se formou: Marcel não parava de se desculpar com Reiner e de repreender o irmão ao mesmo tempo. Krista se ofereceu para ajuda-lo, mas Bertholdt se opôs rapidamente, alegando que realizaria os primeiros socorros no amigo.

Os dois se dirigiram até um dos banheiros. O cômodo era um pouco apertado para os dois, por isso, a proximidade era inevitável, deixando o loiro um pouco desconfortável. Bertholdt colocou as duas mãos no rosto do amigo e inclinou a cabeça dele um pouco para frente:

— Isso, assim está bom assim – disse o moreno em um tom de voz mais rouco antes de abrir a gaveta para pegar um pedaço de algodão.

Com muito cuidado, Bert limpou o sangue que se espalhou pelo rosto de Reiner. Embora seu nariz estivesse ferido, conseguiu sentir o cheiro do perfume de erva cidreira.

Não podia negar, aquele cheiro era muito bom:

— Está tudo bem? – perguntou Bert com o rosto bem próximo do de Reiner– Nunca te vi tão calado.

— Não é nada – Reiner não conseguia olhar para Bertholdt de tanta vergonha – Acho ainda estou em choque por causa do impacto.

— Mas você sempre apanha do Porco. – respondeu o moreno enquanto jogava o algodão fora.

— E sempre parece que é a primeira vez.

Os dois riram daquele comentário bobo e seguiram para a praia, onde caminharam despreocupadamente enquanto conversavam sobre vários assuntos até Reiner jogar um pouco de água no amigo como uma forma de provocação. Bertholdt revidou.

Iniciou-se uma longa batalha de água. Nenhum dos dois estava disposto a se render. Inesperadamente Reiner se jogou em cima de Bertholdt, o derrubando no chão e prendendo seus pulsos:

— Ok, você venceu – disse Bertholdt entre risadas – Eu me rendo! Pode me soltar.

— Peça por favor. – Provocou o loiro enquanto fazia cócegas no amigo

— Está bem, está bem! – Exclamou entre risadas – Por favor, me solte.

— Seu desejo é uma ordem – disse Reiner se levantando e ajudando o amigo a se levantar.

Aquela era a hora perfeita para Reiner questionar algo que o incomodava desde a manhã?

— Ontem a noite, na frente do nosso quarto – começou o loiro – eu escutei duas pessoas rindo e se beijando.

— Existe som de beijo?

— Era bem nítido. E olha que eu durmo longe da porta.

A expressão de Bertholdt ficou séria e ele começou a suar, mas Reiner ignorou:

— Isso durou alguns minutos e bem no momento em que parou, você entrou no quarto.

— Tá bom, eu admito que era eu! – gritou Bertholdt, que logo em seguida tapou a boca completamente envergonhado – Por isso que algumas noites eu voltava tarde da noite.

— Espera, ontem não foi a primeira vez que você e a Annie ficaram?

— Oh, não – Bertholdt parecia um pouco envergonhado – Na verdade isso já tem um tempinho, não começou aqui. – ele deu um riso nervoso – Mas no momento não é nada sério.

Reiner sentiu algo semelhante a um pedregulho em cima do seu peito ao ouvir aquilo:

— E por que você não me contou nada? – questionou Reiner muito ressentido.

— Eu não sei – respondeu envergonhado – Por mais que eu goste muito dela, achei melhor não te contar para não ter muitas expectativas. – o rosto dele enrubesceu – E tem outra coisa.

— O que?

— Ontem a noite, na porta do quarto, não era a Annie. – disse – Bem, eu a vi antes, mas isso não vem ao caso. Tivemos uma pequena discussão.

— Não vai me dizer que era a Mikasa? A menos que você tenha sido estúpido de se envolver com a Sasha ou a Krista. – Reiner colocou a mão nos ombros do amigo enquanto falava – Me diz que você não se envolveu com garotas comprometidas!

— Claro que não! – exclamou Bertholdt – Não era nenhuma das garotas.

— Então quem foi? Alguma desconhecida?

— Quem disse que era uma garota?

"Estamos falando da mesma pessoa?" foi a frase que invadiu a mente de Reiner naquele momento. Um sentimento de mágoa o invadiu: por que ele nunca contou algo tão importante? Não eram melhores amigos? Principalmente depois do que eles passaram juntos no ensino médio.

Contudo, sua maior irritação era por estar sentindo esperança, algo que nem deveria se dar ao luxo de sentir. Não desejava reviver aquele pesadelo novamente. Seria pior do que lidar com um bando de adolescentes mimados:

— Fico feliz que esses dezenove anos foram tão significativos para você – Reiner não pode deixar de soltar o veneno, mas logo se arrependeu ao ver a expressão triste do amigo – Mas enfim, quem era?

— O Marco.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Que tiro foi esse minha gente? Eu tô é no chão!
O que acharam? Não precisam ser tímidos, eu não mordo :P
Logo mais, eu posto o penúltimo capítulo e aviso: se vocês acharam que nesse teve tiro, então nem queiram imaginar como vai ser o próximo.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Casamentos, perfumes e doses de tequila" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.