It's cold outside escrita por Jubileep


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ♥



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“Eu realmente não posso ficar (Amor, está frio lá fora)
Eu tenho que ir embora (Amor, lá está frio)
Essa tarde foi... (Eu tenho esperado você aparecer)
… Tão agradável (Eu vou segurar suas mãos, elas estão geladas)”

(Baby, It’s Cold Outside)

*

Aquele era o primeiro Natal que Barry passaria sozinho. Bom, não inteiramente sozinho, mas sem a usual presença de uma Iris e um Joe entusiasmado posicionando presentes sob a árvore a todo vapor. Sim, era Natal, e dessa vez ele tinha prioridades – ajudar Caitlin Snow.

A cientista estava contando com os projetos quase bem sucedidos de Cisco para sobreviver o dia, acessórios como pulseiras e colares que tinham o intuito de neutralizar os efeitos que sua alter ego do mal provocava nela. Odiava que Nevasca estivesse tão internalizada, odiava que não podia arrancá-la de si – remove-la como um órgão sem muita utilidade. Nevasca não era um apêndice, e mesmo achando os adereços de Cisco simplesmente brilhantes eles dependiam de baterias – e a cientista odiaria passar o resto de sua vida sentindo-se como um maldito celular.

Uma vez que Cisco estava passando o primeiro Natal sem Dante com sua família e Jesse, Harrison e Wally também comemoravam a data com os West só restavam duas figuras no laboratório cinzento e gélido onde conviviam em escalas diárias.

Milagres haviam sido realizados naquele lugar, mas ainda assim Caitilin Snow estava hesitante, sentindo que cada ideia próspera que brotava em sua mente estava fadada ao fracasso. Não negava sua genialidade, mas quem sabe livrar-se de seu demônio era uma ideia apenas... Ambiciosa demais.

Bufou, quando mais uma tentativa tornou-se uma derrota.

— Desculpe... Por manter você aqui em pleno Natal, Barry. – Disse, fitando o rapaz com aquele olhar frustrado e prestes a ceder às fraquezas. Quem sabe ir pra casa assistir um filme na Netflix fosse algo muito mais produtivo do que insistir em seus erros. – Você deveria ir...

— Quantas vezes você me salvou da morte, Caitlin Snow? – Barry sorriu de modo genuíno, lhe fitando do outro lado do cômodo. Ambos, então, foram inundados de lembranças onde a voz de Caitlin em seu ouvido, presa num dispositivo em seu traje, lhe salvou de algum problema. Ou quando voltava fisicamente desestruturado de uma alguma batalha e a médica lhe consertava novamente.

— Nunca no Natal. – Ponderou. – Desculpe por fazer você perder a cerimônia… Sei que é tradição... os Natais dos West.

Ele engoliu em seco.

— Não tem problema. – Repetiu, pela décima vez naquela hora.

— Como estão as coisas com Iris?

— Não estão. E é melhor assim… – Ele suspirou, sentindo a honestidade deslizar pelos seus lábios, conforme as palavras eram ditas. – Um dia acordamos e percebemos que não conseguiríamos ser mais do que amigos. Fomos criados assim e, é melhor continuar desse jeito.

— Bom… Se você está feliz, eu estou feliz.

— Eu estou, Cait. Eu estou. – Allen parecia aliviado, como se um peso saísse das suas costas. – Acho que confundi as coisas por tanto tempo que – ele olhou diretamente para a mulher – perdi outras chances e outras possibilidades. – E voltou sua atenção para as fórmulas matemáticas e contas quase indecifráveis no quadro.

— É… – Ela suspirou. –… E eu acho que… Acho que não vamos chegar a lugar algum hoje. Meu cérebro está exausto, não consigo pensar em mais nada... – Confessou e ele deu aquela gargalhada que só Barry Allen dava, harmoniosa e cheia de vida.

O rapaz foi aos poucos interrompendo o ato de escrever no quadro até virar-se para fitar o fundo dos olhos da doutora, como se quisesse adentrar em seus pensamentos; como se isso fosse fazê-lo lhe conhecer melhor.

— Seja otimista, sta. Snow! Seja otimista. – E então ele voltou a atenção às anotações, lhes observando e implorando mentalmente que uma resposta surgisse feito mágica. Ele queria ajudá-la, ele queria ver aquele sorriso encantador e sincero de Caitlin de volta em seu rosto.

O mundo sempre fora injusto demais com a doutora. Primeiro Ronnie, depois Jay... E agora, Nevasca.

— Um dia você mesma disse: somos um time e tanto... Apenas seja otimista.

— Estou sendo otimista demais. – Bufou. – Mas olha pelo lado bom, se correr pode chegar antes da ceia de Natal começar. E você sabe correr. – Ela riu, rumou em direção a própria cadeira e depois de alcançar o cachecol amarelo o envolveu ao redor do pescoço. – Acho que vou indo, é sério. Você também deveria... Até amanhã, Barry.

Allen estremeceu; largou a caneta e virou para a mulher de forma desconcertada, mexendo no cabelo copiosamente e quase tropeçando no próprio passo.

Por que soava sempre tão difícil? Falar com mulheres atraentes por quem ele tinha uma queda sempre parecia a mais árdua das tarefas – e ele havia literalmente derrotado todo tipo de gênio do mal, além de salvar a cidade em escalas, no mínimo, semanais. Por que falar algumas palavrinhas galanteadoras era milhões de vezes mais difícil?

Passara tempo demais idolatrando Iris para ter aprendido a não ficar trêmulo e cheio de inseguranças em relação a qualquer outra garota. Soava mais difícil ainda quando a garota em questão limitou-se sempre a lhe enxergar como um ótimo amigo e um super-herói incrível.

 “Ela não vai notar, Barry. Ela te vê como um irmão.”

“Você não é o tipo dela, Allen. Supera.”

“Caitlin nem vai perceber.”

Sua mente não conseguia deixar de lhe sabotar.

— Mas ainda está cedo.

— Preciso descansar.

Droga!

Como ela conseguia ser tão brilhante e bonita e engraçada e interessante? Como ele não percebera o quão incrível aquela mulher era antes de permitir que ela lhe visse apenas como o cara que ela ajudava a salvar o mundo?

Tudo que ela fazia, os pequenos detalhes, as pequenas maniazinhas que ela nem percebia ter, tudo parecia o suficiente para lhe deixar meio maluco.

Era fascinante, como se suas ações fossem aquela parte em slowmotion do filme onde seu ápice ocorre e tudo se encaixa. Agora mesmo ela mordia o lábio inferior e lhe encarava de modo que o canto de seus olhos franzissem – e era uma visão tão agradável que Barry podia lhe admirar por horas a fio.

“Você é tão idiota, Barry Allen.”

— Acho melhor você não ir. – Continuou.

— Barry, eu tenho coisas pra fazer.

— Mas já está de noite, é perigoso.

— Eu sei me cuidar.

— Acho que nós deveríamos adiantar aquelas papeladas sobre os meta-humanos que prendemos nos últimos tempos. – Tentou.

— Podemos fazer isso amanhã.              

O garoto, então, desapareceu num flash e voltou no instante seguinte.

— Acabei de checar, e está frio demais lá fora. Você tem casacos suficientes? – Um riso contido brotou no canto de seus lábios pintados de um batom vermelho tão bonito quanto a doutora em si.

— Sim. E eu acho que sei lidar bem com o frio. – Ela sorriu ao perceber o trocadilho desagradável, não sabia que estava pronta para fazer piadinhas com a própria desgraça, mas havia acabado de descobrir que estava. Talvez fosse melhor rir do que chorar em cada canto que pudesse encontrar.

— Como Nevasca. Mas não como Caitlin.

— Barry, eu realmente apreciei essa noite, mas não chegamos a lugar nenhum…

— Mas podemos chegar. – Disse quase no instante seguinte, e ela engoliu em seco. Barry soava desesperado, e cheio de ânimo; parecia um adolescente prestes a convidar uma garota para o baile de formatura, mas sem as espinhas, sem aparelho, sem o suor em abundância e sem as esquisitices que apenas a puberdade consegue trazer.

Snow suspirou.

— Eu tenho casacos.

— O suficiente? – Ele arqueou as sobrancelhas e ela riu.

— Barry!

— O que foi? Só estou preocupado com sua saúde, Snow. Ou você quer pegar um resfriado? Uma pneumonia? Eu não seria nada se você morresse por pneumonia!.

— Pare de ser assim. — Ela pediu, entre gargalhadas.

— Assim como?

— Insistente. Como se quisesse que eu ficasse aqui…

Eu quero! — Barry gelou, os olhos se arregalaram no mesmo segundo. –… Pela sua saúde.

— Barry…

Ele rumou até ela, pegou sua mão que antes estava dentro do bolso de seu sobretudo preto e  balançou a cabeça com desaprovação, enquanto tudo nele parecia querer falhar e uma risada zombeteira era contida com muito esforço.

— Geladas! Feito gelo.

— E? É inverno.

— Vai pegar um resfriado.

— Você é idiota, Barry Allen. Por que gosto tanto de você?

Coração acelerado.

Pulmões não armazenando o ar necessário para conseguir respirar.

— Porque… Eu me preocupo com sua saúde? Digo – ele tentava não gaguejar –, é melhor você não ir.

— Hm? Sério, Barry? – Caitlin debochou; contraiu os lábios enquanto seu olhar sorria e ela ia em direção à porta, com o homem mais rápido vivo em seu encalço.

— As ruas estão perigosas. Você pode sofrer um acidente.

— Eu sou uma ótima motorista.

— Você nem vai conseguir dirigir, deve haver uma pilha de neve bloqueando o caminho. – Ele deu ombros, fingindo não se importar. – Mas sabe, depois não diga que não avisei.

Caitlin cruzou os braços, parou em sua frente e tentou parecer durona – mas falhou miseravelmente, como o previsto.

— Vai precisar de motivos melhores para eu largar minha Netflix e minha cama nesse Natal, sr. Allen.

E o homem mais lento vivo quando se tratava de romance lhe beijou, finalmente. Segurou seus ombros, inclinou a cabeça e selou seus lábios. Será que aquilo seria um motivo bom o suficiente para ela ficar mais um pouco?

Ele, por uma fração de segundo, achou que não. Caitlin estava imóvel, paralisada, congelada. Começou a praguejar contra si mesmo, abraçando a certeza de que havia arruinado tudo.

“Imbecil. O que você fez?”

Tudo pareceu se alinhar quando Caitlin Snow deixou de ficar em sua espécie de transe. Ao contrário do que Barry temia, ela não lhe empurrou e estapeou seu rosto. Ela lhe beijou de volta. Um beijo calmo, sutil – não hesitante, apenas… Despreocupado, e seguro.

Um beijo capaz de espantar qualquer resquício de inverno.

— Eu preciso ir. – Ela disse assim que se separaram.

— Mas…

— Mas eu acho que está frio demais lá fora pra eu conseguir ir, então… Talvez… Você pudesse me levar.

Barry concordou, surtando internamente e tentando não sorrir feito um tolo.

Sobre a cabeça dos dois, no exato local onde se beijaram, um ramo de visco pendurado aleatoriamente no teto do laboratório balançava com leveza.


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Notas finais do capítulo

Aaaaaa é isto. Obrigada se você leu até aqui ♥



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