Kiku to Higanbana escrita por Tsuchimikado


Capítulo 2
Sorriso nas chamas


Notas iniciais do capítulo

Aqui vem mais um capítulo, continuação direta do anterior!

Às vezes penso que tenho a tendência de jogar informação demais no começo dessa história, mas também acho que assim fica interessante!

Enfim, eis o sumário com os termos e aproveitem o capítulo!

— San: Honorífico japonês para demonstrar respeito para com quem fala.
— Kimono: Vestimenta tradicional japonesa.
— Chan: Honorífico de tratamento carinhoso, normalmente associado com diminutivo.
— Katana: Espada tradicional japonesa.
— Kyu kyu nyo ritsu ryo: "Com pressa, de acordo com a lei", é uma frase dita comumente em encantamentos por onmyouji e originada de decretos imperiais da antiga China.
— Dango: Bolinho doce japonês.



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— Você... Me conhece? – o garoto estava confuso.

— Eu tenho certeza! Você tem cabelo preto! Mas até aí tudo bem, muita gente tem cabelo preto, mas eu conheço bem essa sua cicatriz, eu lembro bem direitinho! – Ikari involuntariamente recuou quando ela mencionou sua cicatriz, mas ela continuou falando com um sorriso estampado em seu rosto – E principalmente esses seus olhos verdes!

— O que tem de tão especial neles? – perguntou o rapaz, levemente curioso e com um sorriso nervoso.

— Não são bem seus olhos, tá mais pro seu olhar... – disse a garota com um dedo no queixo e uma expressão pensativa – Quer dizer, você era bem medroso, então até que você mudou bastante, mas algo lá dentro de você, essa luz nos seus olhos, me diz que é a mesma pessoa! – concluiu confiante.

Ela lhe passava uma sensação de nostalgia fortíssima, mas ele não podia dizer que a conhecia. Esse sotaque não vinha de Quioto, talvez de algum lugar em Kyushu, mas só isso não significava muito. Talvez os longos cabelos róseos, isso sim lhe era familiar.

Pensando no que ela acabara de dizer, olhou em seus olhos com intensidade. Eram azuis-claros e profundos. Neles havia uma sincera alegria como em uma criança, e isso ele reconhecia, mas lá dentro... Algo lhe causava desconforto. Eles eram intensos, mas não de uma forma positiva, apesar de Ikari não saber explicar...

— Foi mal, eu... – e virou o rosto envergonhado – Eu não consigo me lembrar de você...

A mudança no semblante da garota era visível, era quase como se ela fosse um gatinho triste, mas sem as orelhas de animal. Logo em seguida sua boca tentou erguer-se em um sorriso um tanto forçado enquanto ela coçava a parte de trás de sua cabeça.

— É, é, bem, faz tanto tempo, né? Uns 7 anos... – ela estava envergonhada, sem conseguir olhar diretamente pro rapaz.

Ikari também estava envergonhado.

— Eu... – ele começou – É, eu sinto muito, mas as memórias da minha infância ou sumiram ou estão completamente turvas... Quer dizer que somos tipo... Amigos de infância ou algo assim?

Haviam muitas circunstâncias estranhas nesse encontro. De onde essa garota surgiu, suas vestimentas, por quê ela carrega uma lança, mas tudo isso passou batido pela mente do moreno. Puramente saber de sua conexão com a rosada parecia muito mais interessante.

— Sim, nós somos! – disse a garota com uma expressão emburrada, mas que ainda assim parecia demonstrar felicidade – Mas como você não se lembra temos de nos apresentar de novo!

— Haha, acho que você tem razão... – ela tinha uma linha de raciocínio que Ikari não entendia bem, mas tentava acompanhar ainda assim – Eu sou Oga Ikari, é um prazer conhece-la!

— Oh, agora você é Oga? – questionou ela, levantando-se de súbito – Eu sou Ene, do clã Kunie!

— “Agora você é Oga?”

— É, quando a gente se conheceu você não tinha sobrenome! Na verdade você não tinha nem nome! – comentou Ene.

“Kunie Ene...” Esse nome ecoou em sua cabeça. “Você não tinha nem nome!”, ele repetiu as palavras para si mesmo...

Como um flash, uma lembrança veio, ainda que borrada. Ele, atrás de uma pilastra, escondendo-se de alguém. Não sabia por quê, mas estava irritado, tudo parecia lhe invocar um sentimento de raiva disfarçado como medo. Cabelos róseos passaram à sua frente e uma voz com um sorriso inconfundível. Sua boca se movia e Ikari recordava de algo como “te achei!”, mas nenhum som era audível. Ele caiu para trás enquanto aqueles grandes olhos azuis o encaravam.

De volta ao presente se pegou com uma de suas mãos sobre o rosto, sem ocultar seus olhos vidrados. Ele virou-se para Ene, que o olhava como um felino que priorizava sua curiosidade à cautela.

“É, eu definitivamente a conheço...”, as lembranças estavam turvas, mas isso tornou-se uma certeza em sua cabeça ainda assim.

Um turbilhão de perguntas passou pela cabeça de Ikari. Como exatamente eles se conheceram, o que ela quis dizer com “Clã”, esse “cosplay” dela... Seria possível saber algo de seu irmão mais velho, por mais que não haja nenhuma ligação evidente? Ela saberia algo sobre aquele sorriso nas chamas que ainda lhe causa pesadelos?

Mas sua cabeça estava pesada demais.

— Sabe, eu senti muito a sua falta! – comentou ela enquanto observava o festival – Não entendo por que papai nunca deixou ver você...

Ele reuniu forças pra falar, mas estava difícil. Sua visão também se tornava turva conforme sua cabeça pendia para a frente.

— Pra falar a verdade, eu nem sei por que papai nunca me disse onde você foi morar!

As pétalas de cerejeira pareciam brasas de uma grande fogueira.

— Você esteve aqui em Quioto esse tempo todo? Eu só vim pra cá recentemente, sabe? Você não deve lembrar, mas eu moro lá pra perto de Fukuoka!

Seu corpo queimava e ele sentia uma dor aguda em sua cicatriz, que ardia com ainda mais intensidade que o resto.

— Ou morava né? Papai me mandou pra ficar sob a tutela do Kamui-san... Ikari! – ela exclamou quando percebeu que o rapaz havia tombado.

Ela se aproximou com seus joelhos se arrastando pela grama sem hesitar. Suas mãos alcançaram a cabeça do rapaz mas ela logo recuou, seus dedos queimaram ao entrar em contato com a testa do moreno.

Desesperada, ela olhou ao redor em busca de algo para apoia-lo, mas nada encontrou. Pensou em buscar ajuda na multidão, mas ao olhar de relance para o garoto este parecia em profundo sofrimento, ela não conseguiu se forçar a sair de seu lado. Sem saber o que fazer pôs as mãos na própria cabeça e começou a balbuciar.

— Awawawawa! E agora? Será que ele tava doente? Mas ele tava bonzinho até agora a pouco...

Ikari gemia e se contorcia, como se uma lâmina quente penetrasse por seu corpo. Com os olhos fechados em agonia e a respiração entrecortada, o rapaz de aparência febril procurou cegamente no que se agarrar quando suas mãos alcançaram as largas mangas do kimono de Ene.

Ela não sabia o que fazer exatamente, mas esse contato pareceu desperta-la de sua confusão, forçando-a a focar no garoto.

“Certo, uma coisa de cada vez!”, pensou enquanto apoiava a cabeça de Ikari em seu colo “Eu não sei nenhum encantamento de cura, então acho que isso é o máximo que eu consigo fazer por agora...”

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Imagens passavam como um turbilhão pela mente de Ikari, mais claras do que em qualquer pesadelo. O sorriso sinistro, sempre em um sádico júbilo, pertencia a um rapaz da sua idade, apesar de seu rosto ainda não estar nítido. Ele conhecia o garoto, mas não se lembrava de seu nome.

Carregando uma espada desproporcional a si ele ria em meio ao mar de chamas que se formava ao seu redor. Ikari tremia de medo, tonto por sua visão embaçada e pelo cheiro da fumaça.

Quando se deu por si, um pequeno corpo jazia aos seus pés, uma garotinha de cabelos negros em um kimono roxo. Nas suas costas uma mancha vermelha se espalhava conforme sua respiração tornava-se cada vez mais ausente. As pequenas mãos que se agarravam à borda do kimono do rapaz perderam suas forças, assim como todo o resto de seu corpo. Ela não tornara a se mover.

O desespero tomou conta de Ikari quando o outro rapaz tornou seu olhar para o moreno. E sorriu.

Ikari queria sair dali, estava com medo, um medo inexplicável, incontrolável. O outro se aproximou, balançando a espada.

— ___-chan! O que houve? Por que está tão assustado?

Com certeza ele falava com Ikari, mas que nome era aquele? Ele não compreendia...

Ikari deu um passo para trás e tropeçou. O fato de cair sentado não o incomodou, mas seu rosto ardia...

Lentamente levou seus dedos para abaixo de seus olhos... Sangue...

Sangue escorria de um corte abaixo da linha de seus olhos... Ele gritou e o outro riu.

— Você é um fraco, ___-chan, e um covarde! Mas tudo bem, não é como se eu esperasse mais do que isso de alguém como você!

A voz de Ikari não saía e sua garganta parecia presa. Lágrimas se misturavam com sangue pelo seu rosto. Seus braços completamente sem força e rígidos não o permitiam se mover.

“Qualquer lugar...”, pensou, “Qualquer lugar menos aqui, por favor...”

— Não precisa se preocupar, ___-chan, eu não vou te matar! – disse o outro passando sobre o cadáver da garotinha e se agachando na frente do moreno – Afinal, você é meu amigo!

A consciência de Ikari sumia na mesma proporção em que o mundo se tornava negro.

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Os ouvidos de Ene se contraíram ao ouvir passos se aproximando, mas o que realmente a incomodou foi um arrepio intenso em sua espinha. Com um movimento ágil ela acabou deixando a cabeça de Ikari cair e virou-se, com a lança em mãos, para a fonte do som.

Quando a cabeça de Ikari bateu na grama macia ele despertou ainda grogue. O mundo parecia girar conforme ele recuperava os sentidos, mas ao menos ele se sentia melhor do que antes, ou mais leve, no mínimo.

— Você... – inquiriu Ene com uma voz fria, ainda que trêmula – Quem é você?

Ikari a observou. Com uma postura baixa e uma lança de lâmina larga em punho, a rosada parecia pronta para lutar contra alguém. Seus olhos azuis se mostravam por trás da máscara de tigre com uma frieza que o fazia duvidar que se tratava da mesma pessoa. Apesar de sua postura, para Ikari suas pernas pareciam tremer.

O moreno virou-se para ver o que estava ocorrendo e seus olhos se arregalaram. Ele não sabia o que sentir nesse momento, talvez surpresa, um pouco de raiva, medo...

Com um sorriso amigável um rapaz ruivo o observava próximo a eles na colina. Ele vestia-se com um sobretudo marrom sobre roupas casuais e de sua cintura pendia uma katana ainda em sua bainha. Seus cabelos vermelhos desgrenhados brilhavam como fogo.

— Há quanto tempo, Shidou-chan! – disse ele com um sorriso enquanto acenava com leveza – Surpreso em me ver?

Ele conhecia essa pessoa. Ele conhecia esse sorriso. Conforme ele desembainhava a espada, seus olhos se focaram nela, em sua lâmina branca, ele também a conhecia. Um nome surgiu em sua mente.

— Sakurane... – murmurou – Yuuki...

— Sim, eu mesmo! – respondeu o ruivo com um sorriso. – Faz tanto tempo que não nos vemos! Mais ou menos uns sete ou oito anos, né?

— O q-quê você quer? – perguntou Ene, travando em meio a fala.

O olhar de Yuuki se tornou afiado e seu sorriso se desfez por um instante, retornando ainda maior logo em seguida.

— Calada, sua imunda! – seu tom de voz estava alterado – Isso não é da sua conta!

Buscando em um bolso atrás de sua roupa ela retirou rapidamente uma tira de papel entre dois dedos. O papel branco tinha inscrições negras em um dos lados, ilegíveis para Ikari.

— Você acha que isso... – começou Yuuki.

Da leve brisa à catástrofe dos furacões — entoou com velocidade – Seja ferido pelos ventos divinos! Kyu-kyu nyo ritsu ryo!

Ela avançou sem pensar duas vezes conforme sua bela lança cheia de figuras em baixo-relevo parecia mudar a sua forma com um brilho branco. A transformação, porém, parou na metade quando ela se aproximou do rapaz. Não só isso, ela sequer conseguia fazer seu corpo se mover, estava paralisada de medo.

— ... Vai adiantar contra mim? – exclamou o ruivo, cortando-lhe de cima para baixo.

Em um movimento desesperado Ene aparara o golpe com o cabo de sua lança, mas ela não havia se preparado e caíra no chão quase que instantaneamente. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, o ruivo pisara em sua cabeça, esmagando-a contra o chão.

Ene lutava para sair dali, mas sua força era inútil contra a do rapaz. Seus olhos, frios até então, transbordavam medo conforme ela encarava as pupilas brancas de Yuuki.

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— Hmm, pra onde será que foi o Ikari-chan? – se perguntou Lin enquanto o procurava onde o havia deixado.

A mulher de longos cabelos cor-de-noite em seu vestido chinês parecia preocupada em meio à multidão enquanto segurava uma lata em cada mão. De repente ela sentiu como uma pontada na nuca e, por instinto, virou-se para a colina, observando então três figuras. Uma delas era Ikari, outra um rapaz ruivo e aos seus pés uma garota de cabelos róseos.

— O quê... É isso? – se perguntou assustada com as latas escapando de suas mãos.

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— V-você... – disse Ikari ao se levantar.

— Shidou-chan, fico tão feliz de termos nos reencontrado! Eu passei tanto tempo procurando por ti! Quem diria que você estaria em Quioto? Bem, talvez fosse óbvio, afinal aqui deve ser um dos lugares mais seguro em termos espirituais, né?

— Saia de cima dela... – disse Ikari, sua voz arranhando na garganta.

Yuuki apenas o olhou com um sorriso fraco, triste.

— Venha comigo, eu quero te mostrar algo.

— Saia de cima dela. – ordenou Ikari. Suas pupilas pareciam arder de tão intenso seu olhar.

Ikari se sentia mais forte repentinamente. Ele não sabia de onde vinha essa energia, mas também não se importava, a situação nesse dia já era louca demais para que ele se importasse com qualquer outra coisa.

Com um suspiro, a mão livre de Yuuki ardeu em chamas rubras e brancas.

— Venha... – pediu ele.

— Saia de cima dela! – exclamou o moreno correndo na direção do ruivo enquanto o mundo ao seu redor parecia sumir em uma explosão branca.

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— Que merda foi essa... – comentou Shun.

Sentado em um banco e vestido com roupas tradicionais japonesas, o rapaz deixou um palito de dango cair de sua boca quando observou chamas brancas surgirem em uma explosão na colina para desaparecerem logo em seguida.

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— Ikari... chan... – soltou Lin, aterrorizada com o que acabara de ver.

Todo os outros passantes pareceram sequer se importar, como se aquilo nunca tivesse acontecido.

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 Inconscientemente Ikari tinha coberto seu rosto com o antebraço, tamanha a intensidade da luz. Quando abriu seus olhos novamente ele já estava em outro lugar.

À primeira vista parecia muito com o templo no qual se encontravam, mas tudo estava... branco. Alguns ocasionais tons de vermelho surgiam para dar contraste, mas em geral o branco dominava a visão.

Não havia uma pessoa sequer, as barracas haviam desaparecido, assim como o barulho. Ele olhou para seus pés e a grama também era vermelha. O cenário tinha de tudo para parecer bonito. O templo, o solo, as árvores, não tinham sinal algum de desgaste.

— E então, não é lindo? – comentou Yuuki ao seu lado, e por um momento a raiva de Ikari parecia ter sumido.

Palavras não saíam de sua boca. Uma estranha paz invadiu sua mente, e mesmo que ele tentasse se lembrar do porquê sentir tanta raiva há pouco, não conseguia.

— Sim, é bonito...

Yuuki parecia esperar que ele dissesse mais.

— Mas ainda assim é vazio...

Não era isso o que ele esperava. Seu sorriso amigável tremeu e transformou-se em um sorriso forçado.

— Claro, ele ainda está incompleto, mas esse é um esboço do mundo que eu estou tentando criar! Eu queria te mostrar porquê tinha esperança de que você me ajudasse, afinal você é meu amigo, não é? Esse mundo puro... Um dia eu o tornarei realidade...

A combinação de vermelho com branco lembravam a muito Ikari daquele dia. Daquelas chamas.

— Você matou todas aquelas pessoas... – Ikari cerrou os punhos.

— Foi por uma causa maior que elas. – comentou Yuuki sem se incomodar.

— Você tentou me matar...

— Eu estava descontrolado naquele dia, não sabia usar os poderes que recebi... Mas mesmo assim eu falei que não ia te matar...

— Você matou uma garotinha! – exclamou Ikari, fervilhando de ódio.

— Não tenho culpa, ela se jogou na sua frente. – continuou ele despreocupado.

No canto de seu olhar, Ene se contorcia no chão, gemendo baixinho.

— Você machucou... A Ene... – Ikari comentou baixinho, mas ainda de forma audível.

Não sabia o porquê, mas mencionar esse fato quase fez o coração de Ikari saltar pela boca de raiva. Talvez eles fossem amigos de infância, mas ele sequer se lembrava dela. O que ela realmente significava para ele?

— Essa imunda não merece existir no mundo que meu mestre deseja! – disse Yuuki de uma maneira triunfante.

Ele pôs as mãos no ombro de Ikari, que virou-se com um olhar de puro ódio. A expressão de Yuuki se suavizou.

— E nem você, mas eu sei que posso dar um jeito nisso, é só confiar em mim...

Foi involuntário, mas Ikari girou e lançou-lhe um soco no rosto, facilmente aparado pelo outro.

— Você ainda é fraco, Shidou-chan... Mas eu posso lhe dar poder... – disse o outro rindo.

Mais uma vez aquela cena veio à sua mente. “Você é fraco”, essas palavras lhe espetavam o coração. Há anos elas lhe atormentam, por anos ele treinou, fugindo delas...

— Se você faz o que faz para ter poder, eu jamais o aceitaria! – disse com um olhar decidido.

E chamas se aglomeraram ao seu redor, mas não as mesmas chamas que Yuuki usavam. As dele eram vermelhas e translúcidas, e reuniam-se ao seu redor como se ele estivesse dentro de uma fogueira.

O ruivo não se espantou, mas afastou-se alguns passos.

— Você... Eu te odeio... – disse Ikari. Talvez as suas poucas memórias da infância lhe dissessem isso, talvez algo mais profundo, mas isso era uma certeza.

Aproveitando uma brecha, um lampejo branco passou por ambos, forçando Yuuki a desviar. Ene saltara entre eles, com a lança em punho, e tentara cortá-lo. Apesar do ruivo ter se surpreendido, não apresentou problemas para desviar o golpe com sua espada.

— Ikari, para trás, ele é perigoso! – exclamou a rosada.

Suas pernas tremiam, algo ao qual ela não estava acostumada, mas ela sentia que era necessário lutar. Não era de sua natureza apenas permitir que os outros lhe vencessem assim.

— Eu tam...

— Não, se afaste! – exclamou Ene, interrompendo Ikari.

— Não se intrometa, sua vagabunda impura! – exclamou Yuuki, perdendo o controle. Seus olhos vidrados de raiva estavam dirigidos para Ene.

Com um movimento repentino sua mão livre se encheu de chamas, as quais cresciam mais e mais de forma esférica. Elas não tinham nenhum tom de branco, e entre o rubro era quase que possível observar rostos humanos em agonia.

Ene não permitiria que ele atacasse, então ela partiu para cima antes, brandindo sua lança com ferocidade. Ela fazia de tudo para flanqueá-lo, mas ele não facilitava, forçando um combate direto. Aproveitando-se do alcance de sua arma a garota tentava estoca-lo, corta-lo e até mesmo bater nele com o cabo da arma, mas nada disso parecia surtir efeito. Ocasionalmente pequenos cortes surgiam em sua pele branca sob o kimono conforme o combate se prolongava.

Ikari estava espantado. Ele, pessoalmente, considerava-se rápido nos combates, mas jamais presenciara uma luta em tamanha velocidade. Por mais que quisesse entrar e ajudar, algo lhe dizia que seria impossível.

Por um movimento descuidado, Yuuki conseguira empurrar Ene longe o bastante. Ele riu, triunfante.

— E assim a história se repete, mais uma vez as chamas são o seu fim! – ele disse.

Não houve tempo para pensar, Ikari correu na direção da garota. Ela olhava imóvel conforme uma torrente de chamas rubras se formava em sua direção. O mundo parecia em câmera lenta e as chamas rápidas demais.

“Não, não outra vez...”, o pensamento lhe atingiu, vindo do nada.

Seu corpo se encheu de força, parecia tão leve que era assustador. Ele correu cada vez mais rápido e a alcançou. Olhando para o lado a torrente se encontrava logo ali, não haveria tempo.

Ikari a empurrou.

E nesse instante Ene só conseguiu ver Ikari ser engolido pelas chamas. Ela soltou um grito silencioso.


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Notas finais do capítulo

Um cliffhanger...
No capítulo 2, pois é! Será que funcionou?
Ao menos o capítulo 3 não irá tardar para chegar!

Espero que tenham gostado. Quaisquer comentários ou sugestões, sou todo ouvidos!



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