Kiku to Higanbana escrita por Tsuchimikado


Capítulo 11
Noite maldormida


Notas iniciais do capítulo

E mais um capítulo, aproveitando o ímpeto enquanto tenho tempo!

Infelizmente a novidade que viria com este capítulo ficará para semana que vem...

De qualquer forma, fiquem com mais um capítulo! Aqui está o sumário de termos:

— Baozi: É uma espécie de pão chinês, comumente recheado de carne.
— Batting center: São lugares onde se vai para treinar rebatidas de baseball, muito comuns no Japão.
— Kumichô: Sinônimo de chefão da Yakuza, a máfia japonesa.
— Oni: Espécie de demônio ogro da mitologia japonesa.
— Kanabô: Bastão de metal coberto por espinhos, normalmente utilizado por Onis.



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— Isso é um saco! – Ikari reclamou.

— Bem, não fique assim, isso acontece... – Ene o consolou, passando a mão em seu cabelo.

Ambos estavam conversando na sala de aula durante o almoço, Ikari sentado na cadeira e escorado na mesa, enquanto Ene sentava-se em uma mesa adjacente. Mesmo com sua atitude relaxada, ela escutara com atenção a história de Ikari.

— Será que eu não podia ter feito mais nada, Ene?

— Talvez sim, mas também acho que foi o bastante. Como eu já disse, ele é perigoso, e dessa vez eu não tava por perto pra te ajudar!

— Não se preocupe! – Ikari flexionou o braço e pousou uma mão sobre o bíceps – Como eu disse, eu tô treinando! Já tô me sentindo mais forte do que antes!

Ene encheu as bochechas de ar e fez um olhar zangado para Ikari, o qual apenas riu de volta.

— Não fique cheio de si, espertinho! – Ela brigou.

— Daqui a pouco vai ser você quem vai precisar de mim! – Ele riu novamente.

— Até parece!

— É verdade, pra que alguém iria precisar de você, Ikari? – Disse Shunsuke, surgindo atrás de Ikari enquanto dava um tapa em suas costas, assustando-o. – E aí, Ene!

— Oi, Shun! – Ela devolveu o cumprimento com animação.

“Que fofa!”, o recém-chegado exclamou em sua própria mente.

Shun, suado e com seu gakuran desabotoado, sentou-se na mesa atrás de Ikari. Ele parecia ainda recuperar seu fôlego enquanto abria o pacote de seu pão de yakisoba.

— Você parece... agitado... – Ikari comentou, retirando uma marmita com alguns baozi.

— A cantina é uma guerra, irmão. Nem todo mundo tem uma linda irmã para preparar comida toda manhã... E você conhece minha mãe...

— O que tem a sua mãe? – Comentou Ene, roubando um dos baozi de Ikari.

— Ei, você já almoçou! – Ikari reclamou, depois limpou a garganta e continuou – Bem, a senhora Takenaka é um pouco dura quando fica irritada...

— Um pouco dura? Ela é maligna! – Shun exclamou.

— Mas só quando você faz besteira...

— E o que você fez dessa vez? – A garota questionou.

— Ser o Shun! – Ikari afirmou entre uma mordida e outra.

— Haha, engraçadão você. Então, sobre o que estavam falando?

— Nada demais... – Ikari tentou disfarçar – Mudando de assunto, abriu um novo “batting center” perto de casa, a gente podia ir testar qualquer hora dessas, o que acha?

— É, pode ser, só que eu to bem ocupado ultimamente...

— Fazendo nada? – Ikari perguntou com um olhar entediado.

— Você realmente não bota muita fé em mim, né? Não, o velhote tá me prendendo em um treino especial ultimamente, e eu não tenho como escapar...

“Imagino o nível de ameaça pra superar a vagabundagem...”, pensou Ikari.

— Falando nisso, Ikari, eu quero que venha comigo depois da aula hoje! – Ene, que antes calmamente observava o diálogo enquanto comida, voltou a atenção para si – Quero te levar para um lugar especial hoje!

“Um encontro?!”, Ikari pensou, enrubescendo.

— Um encontro?! – Shunsuke verbalizou, assustado. Ikari lançou um olhar irritado para o amigo.

— Desculpe, Shun. Assunto particular! – Ene soltou uma risadinha, deixando o amigo com um ar chocado. Ikari apenas o observava com um olhar entediado. - Vamos, não fique assim...

— Não, está tudo bem... - Ele disse, desolado, enquanto Ene tentava consola-lo.

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— Ah, então era pra cá que você queria me trazer... - Ikari comentou, observando o enorme castelo que se dispunha no centro da Quioto de Taiyin.

— Sim! - Ene sorriu orgulhosa enquanto apoiava ambas as mãos na cintura.

Ainda com o uniforme escolar, ambos estavam em um espaçoso pátio que precedia a construção. O pátio de pedra era recortado por um sinuoso e límpido riacho, por cima do qual passavam pontes decoradas com lanternas flutuantes, agora apagadas. Seguindo em frente, passaram por uma enorme ponte que ligava a região externa aos muros. No topo destes via-se alguns onmyouji em vestes tradicionais, alguns acompanhados por animais que emitiam um leve brilho espiritual.

— Eu já vim aqui, para a cerimônia de entrada no clã... - Ikari suspirou.

— Eu sei, eu sei! Eu só tava brincando. A gente vai falar com o Kamui-san hoje. Você vai gostar, vai servir bem para provar que você tá mais forte!

"O que será que ela tá aprontando?", o rapaz pensou com receio.

Tal como em sua visita anterior, eles tiveram livre acesso pelo portão frontal. Apesar de aparentar guardado, nenhum dos onmyouji pareceu se importar em conferir quem eram. Nesse horário o castelo estava bem mais cheio, e onmyouji de todas as idades, a maioria vestindo as tradicionais túnicas de mangas largas e calças folgadas, apesar de ocasionalmente se encontrar jovens com roupas mais casuais.

Os salões e corredores pelos quais passavam eram espaçosos, com pisos e pilastras de madeira lustrada e paredes brancas. Caso se olhasse bem para os cantos de cada cômodo se poderiam observar pequenos humanoides de papel trabalhando lado a lado de tsukumogamis, passando pano no chão ou assistindo outros humanos em seus trabalhos.

Finalmente chegaram a um corredor mais estreito com uma bela porta de correr com detalhadas gravuras vermelhas expondo ao centro um samurai andarilho com uma borboleta pousando em sua mão.

— Com licença! - Ene exclamou enquanto abria a porta sem receio - Kamui-san, eu trouxe o Ikaaaaaoooooooi Doume-san, tudo bem com o senhor? Tudo de boa hoje? - Ao final de sua fala já havia totalmente mudado sua voz para um tom mais nervoso enquanto um falso sorriso se contorcia na sua boca.

Ao entrar ali via-se um arrumado escritório com uma mesa e cadeiras de madeira em estilo ocidental. Suas paredes, de madeira, estavam preenchidas por katanas com bainhas e faixas na bainha das mais diversas cores, expondo nessas inúmeras formas de animais bem trabalhadas.

Atrás da mesa se encontrava Kamui em suas roupas tradicionais de onmyouji, com a túnica azul-escura e calça roxa se destacando. Seu olhar de raposa ainda se dirigia às duas figuras que sentavam-se do lado oposto. Um deles parecia um pouco mais velho, dentro de seus quarenta anos, e trajava vestes onmyouji sem muitos detalhes, com túnica verde e calça de um roxo semelhante ao de Kamui.

O outro era, certamente, bem mais alto que um humano normal, e sua corpulência fazia seu terno negro parecer sofrido de tão colado no corpo. Era um milagre como a camisa conseguia prender a barriga sem que seus botões se desfizessem. Sua pele também tendia para o azul, e seu pouco cabelo branco ajudava a ressaltar a acentuada calvície.

— Hã? - Ikari percebeu o maior questionar com uma voz grave - Você é aquela pirralha que vive fazendo merda no meu território, não é?! O que você tá fazendo aqui?!

— I-isso são falsas acusações, nunca fiz nada para te prejudicar, Doume-san!

— Nunca fez nada?! - Doume surrou a mesa à sua frente e se levantou - Meus rapazes estavam apenas fazendo seu trabalho, quando do nada uma idiota de cabelo rosa começa a bater neles!

— Mas aquelas pobres senhoras pareciam em perigo, o que mais eu podia fazer? - Ene gesticulava de forma aleatória, tentando se explicar.

— Isso não era da sua conta! - Ele se aproximou de Ene com rapidez, bufando pelas narinas.

Ikari rapidamente pôs-se entre ambos, com as palmas à mostra na altura do rosto em sinal de trégua.

— Calma, calma sinto muito por qualquer coisa, sei que não estamos calmos, mas vamos nos acalmar antes... - Ikari frustrou-se com a frase mal-elaborada, mas não prendeu-se muito a isso. Sua atenção agora estava no único e grande olho no meio da testa de Doume.

— Ikari, não encare o olho dele... - Ene sussurrou.

— Eu não estou encarando o olho dele... - Ikari respondeu, sem sussurrar, enquanto encarava o olho.

— E quem é você, moleque? - O ciclope questionou com um ar ameaçador.

— Nós apenas viemos para falar com o Kamui-san... Eu acho... - Ele olhou de relance para Ene, a qual concordou com a cabeça.

— Nesse caso podem esperar até terminarmos aqui, não é? - Disse o onmyouji sentado de frente para Kamui com uma voz desafinada. - Esse é um assunto urgente de segurança, Geshiki-san! As crianças podem sair da sala já.

— Não, fiquem, por favor. Estamos terminando. - Kamui disse com gentileza, sinalizando com a mão para Ikari e Ene. Em seguida, seu olhar se voltou para o onmyouji, expressando uma leve irritação - E Yokuma-dono, como já lhe pedi, refira-se a mim por Kamui.

A face de Yokuma se contorceu levemente em desgosto.

— Kamui-san... - Ele disse, ainda incomodado - Esse ser invadiu minha residência, feriu gravemente parte de meus homens, matou três deles e ainda roubou... - Ele olhou para os jovens de pé à porta e acalmou-se ao olhar novamente para Kamui novamente - Um pertence meu... O senhor sabe muito bem que o clã Hakubu é voltado principalmente ao comércio! Não temos homens o bastante para lidar com isso!

— Se estamos falando mesmo de um yato-no-kami, precisaremos de apoio do clã Abe! - Douma exigiu.

— Estou bem ciente dessa história, senhores. Não é a primeira vez que a discutimos. Muitos dos clãs combatentes estão focados em missões, então não temos um efetivo grande o bastante na capital, mas verei o que posso fazer. Boa tarde.

E com isso Kamui encerrou o assunto. Seu sorriso matreiro não permitia dúvidas de que a situação estava dentro de seu controle, logo Doume e Yokuma foram forçados a concordar. Ene e Ikari prontamente abriram espaço para que eles passassem com suas auras de descontentamento e frustração.
Assim que saíram, Ikari questionou:

— Isso parecia bem importante, está tudo bem em cortar o assunto assim?

— Sim, sim. Isso já foi discutido em outras ocasiões nessas últimas semanas. Ele fala de um Yatogami, yato-no-kami, um "deus da lâmina noturna", um tipo muito perigoso de akuma, de fato... Mas possuo minhas razões para duvidar dele: Não só eles não são vistos há séculos, como caracteristicamente eles exterminam toda e qualquer forma de vida que entrem em contato direto com eles. Eles apenas especulam isso pois o que os atacou possuía a "aura de uma serpente", mas posso pensar em uma boa quantidade de akuma que podem ser descritos assim. Mas na possibilidade de estarem certos, estaremos em grande perigo. Assim sendo, não posso negligenciar esse assunto, ainda mais pelo fato desse tal "yato-no-kami" ter roubado uma espada amaldiçoada da mansão Hakubu.

Eles o olhavam com seriedade.

— Bem, agora vamos tratar de seu assunto, não? - O mais velho os convidou. Seus olhos de raposa por trás das lentes dos óculos focou sua total atenção nos jovens. - Ene-dono, Ikari-dono, em que posso ajudá-los hoje?
Ene apoiou-se na mesa e lançou um sorriso matreiro.

— Ei, ei, não enrole a gente, Kamui-san! Queremos uma missão interessante!

— Você sabe que, normalmente, eu apenas distribuo as missões para os ramos, não sabe? - Ele sorriu de volta.

— Siiiiiim, maaaaaaaaas... - Sua boca se contorceu em um beicinho e seus olhos pareciam lacrimejar - Hijimi-san e Kusame-san estão em missão nesse momento... E eles só me deixam com missões simples, coisas pequenas, akumas da capital!

— Como Doume-dono falou, isso é porquê você não sabe se comportar. - Ele respondeu com simplicidade. - É melhor deixar ele cuidar do próprio território. Também não concordo com seus meios, mas interferir os negócios de um kumichô pode se tornar um assunto complicado...

"Oh, então ele realmente era yakuza...", Ikari pensou.

Kamui pareceu se animar depois de dizer isso. Ele sorriu de forma mais amena e abaixou-se para buscar algo nas gavetas de sua mesa. Ele pôs um pergaminho em cima da mesa, suspirou e disse à Ene:

— Estou apenas brincando, como já havíamos combinado eu os darei uma missão interessante. Caso não tenha ficado claro, isso também o envolve, Ikari-dono, mas creio que ela não te explicou direito a situação, certo?

— Ah, sim... - Ele olhou de relance para a garota, que fazia uma expressão boba com a língua para fora.

Kamui continuou.

— Bem... Só porque não o faço normalmente, não significa que eu não o possa. Tenho uma missão interessante para ambos, uma que seria até desafiante, mas creio em sua capacidade. De toda forma, essa é uma situação especial, então preferiria que não espalhassem isso por aí. - Ele concluiu, sinalizando o sigilo com o indicador em frente aos lábios.

— Valeu! - Ene instantaneamente pegou o pergaminho e se dirigiu para a saída - Pode deixar com a gente, Kamui-san!

Ikari se despediu e logo partiu para a saída junto de Ene, mas antes virou-se para o homem mais uma vez e lhe perguntou:

— Kamui-san... Por quê esse tratamento especial?

O rapaz pensou que ele iria negar ou desviar-se do assunto, mas ele apenas fechou os olhos, inclinou-se na cadeira e devolveu um sorriso.

— Porque eu sinto algo de especial em você, Ikari-dono, e eu gosto de cultivar talentos especiais. Aqueles que se destacam quase sempre possuem uma figura que as dê apoio, e esta sou eu.

Ikari não estava satisfeito com a resposta, mas decidiu aceita-la mesmo assim. Ele olhou mais uma vez para as katanas que enfeitavam a parede e seus olhos se focaram em uma que encontrava-se separada das outras, quase como que em um altar. Sua bainha era rósea e possuía gravuras de borboletas, como a guarda da espada. Na ponta do cabo, onde haviam cabeças de animais ou algo que os representassem em todas as outras espadas, esta possuía, também, a asa de uma borboleta.

— É uma bela espada... - Ele comentou.

— A mais bela de todas... - Kamui concordou, e havia pesar em sua voz. - Ikari-dono, estou torcendo para que faça um bom progresso com essa missão.

Ikari não teceu mais comentários ou questionou o que ele quis dizer, apenas disse com educação antes de sair:

— Com licença...

 

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"O que diabos ele quis dizer com isso", Ikari se questionou, escorando-se na janela do trem.

Ele olhou para a palma de sua mão, a fechou com força e mais um pensamento veio à mente:

"Ikkateiru Ryu..."

Perdido em seus pensamentos ele via a paisagem que rapidamente mudou da floresta para uma vila rural, cujos campos verdes se expandiam por quilômetros.

Ele se vestia de forma casual, mas não tão usual para si, com calças jeans, tênis vermelhos e uma camisa branca simples, a qual exibia em letras flamejantes a frase "espírito de luta!", sob uma blusa vermelha quadriculada. Era estranhamente desconfortável para si se vestir assim, por mais que não fosse nada de especial.

— Tá tentando parecer maneiro pra quem, Ikari? - Ene se questionou, à sua frente, também escorada na janela.

— Hã? Pra ninguém! - Ele corou ao perceber que a garota o observava com um ar brincalhão. - Eu não to tentando parecer maneiro!

— Tá sim! Isso é tipo aquelas coisas de protagonista de mangá! - Ela brincou, logo fazendo uma expressão séria enquanto encarava a própria mão. Franziu suas sobrancelhas e continuou com uma voz grave - Eu preciso ficar mais forte! Ou algo assim, né?

A garota, por sua vez, trajava uma saia branca e uma blusa azul com uma enorme estampa de pata de gato.

"Será que posso pensar nisso como um encontro?", questionou-se o rapaz.

— Enfim! Você só me disse para te encontrar sábado à tarde na estação com malas para o fim de semana e acabei embarcando nesse trem sem saber de nada... - Ikari reclamou.

— Que irresponsável, Ikari! Você devia ao menos ter lido o pergaminho da missão!

— É, o pergaminho que ficou com você...

— Opa, vamos relevar isso! - Ela soltou um sorriso nervoso - Bem, não tem problema, eu te conto! Basicamente temos um problema com Onis.

— Hm, tipo aqueles grandões, com chifres, que usam um kanabô?

— É, mais ou menos isso! Aparentemente ao sul de Quioto tem alguns Onis ameaçando a população youkai da região. O problema é que esses akuma são perigosos, um grupo de onmyouji foi encontrado morto nas redondezas da vila há quatro dias, isso sem contar outros youkai e os humanos que viraram comida... Essa provavelmente é uma missão que seria dada pra alguém experiente...

Ela parecia preocupada, mas percebendo o mesmo de Ikari logo se retratou:

— Mas não se preocupe! Eu sei que somos mais do que capazes disso! Vamos sair ilesos!

Ikari sorriu de volta.

— É mesmo? Não passou tanta confiança assim...

— Ei, eu estou tentando te confortar!

Com isso eles conseguiram evitar o clima sombrio que quase se formou. Mais algumas horas se passaram e o sol já se punha sob as montanhas quando chegaram à estação, uma parada aparentemente abandonada. Assim que pegaram suas mochilas, desceram e saltaram nas sombras para Taiyin, revelando um animado distrito comercial recheado de youkais e humanos.

Apesar de bem iluminado e das faces sorridentes, o ambiente estava pesado, como se o temor escondido pudesse transbordar de cada um ali.

— Anda, vem comigo! - Ene puxou Ikari pela mão - Precisamos de um bom descanso!

E correndo por entre a multidão, Ikari seguiu a liderança da outra até uma confortável estalajem. A construção de dois andares de madeira seguia o mesmo estilo das tradicionais pousadas com fontes termais.

— "Folha da Kappa", é aqui que vamos passar a noite! Já tenho as reservas! Vem!

E antes que Ikari pudesse dizer qualquer coisa, entraram.

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"A gente vai dividir um quarto...", repetiu Ikari para si mesmo após chegar do banho, mas fez o possível para não demonstrar nervosismo. Quando viu que não era possível, estapeou-se com ambas as mãos para mudar seu foco.

Vestido com o kimono azul da estalagem e com o cabelo solto, ele ainda sentia o calor das termas. Para ajudar a se refrescar abriu a janela e sentou-se no chão com a luz do quarto apagada. Sem pretensões, ele focava na enorme lua que brilhava bem ao centro de sua visão.

— Ikari, sai de perto da janela que eu vou entrar! - Uma voz feminina soou do andar inferior.

— Pera, que? - Ele se perguntou se ouvira certo.

— Opa! - Disse Ene, saltando com leveza para dentro do quarto através da janela. Apesar da velocidade com a qual chegou, ela pousou com toda a graça possível, também com o kimono fornecido pela estalagem e o cabelo solto à frente. - Ainda bem que você me ouviu?

— Pra que...

— Ah, era mais fácil entrar pela janela! - Ela sorriu enquanto sentava-se na beirada. - Esse lugar é ótimo, não acha?

Ikari não respondeu, ele estava hipnotizado pelo que via. Com a lua atrás de si, Ene irradiava um brilho sobrenatural difícil de descrever e seus olhos pareciam diferentes... Mais sombrios... Talvez fosse pelas luzes estarem apagadas, mas ele podia jurar que o cabelo da jovem se mesclava à escuridão, e seu sorriso distorcia-se em uma expressão de superioridade.

— Ikari? - Ene insistiu, e ele logo despertou de seu transe, a observando como a Ene de sempre, com seus olhos azuis-claros, cabelo róseo e expressão alegre.

— Ah, sim, foi mal... Acho que to um pouco cansado, talvez eu devesse dormir um pouco...

— Não, tudo bem, mas não era por isso... Você tava brilhando agora há pouco?

— Hã? - Ele questionou de volta, mas não obteve resposta. Após um silêncio constrangedor, foi a vez de Ene fazer uma expressão cansada.

— É, você deve ter razão, pode ser o cansaço ou essas termas... Melhor dormir um pouco...

Ambos haviam esquecido completamente o nervosismo, até mesmo Ene que, para o desconhecimento de Ikari, se esforçava com tudo o que tinha para não demonstrar. Rapidamente pegaram seus futons e, em cantos opostos do quarto por um acordo silencioso, puseram-se a dormir.

 

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A noite progredia tranquila conforme os habitantes de pouco em pouco fechavam suas lojas e recolhiam-se para o conforto de seu lar. Apesar disso, Ikari não conseguiu dormir nem um pouco, tanto pela consciência de estar com uma garota no quarto como por sua mente, por algum motivo, mantê-lo irritado com algo.

Cansado de ficar deitado, ele sentou-se, espreguiçou-se e dirigiu-se à janela para pegar um pouco de ar fresco. Ainda cansado, ele esfregava os olhos enquanto lentamente se encaminhava para a beirada, até que, ao recuperar a visão, parou de repente.

— Que porra é essa? - Ele soltou.

Um enorme olho o observava do lado de fora da janela. E ele piscou.


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Notas finais do capítulo

E aqui finalizo mais um capítulo, dessa vez com continuação! Prometo que no próximo trarei o que planejava trazer aqui, desculpem pelo aviso falso!

O que acharam? Talvez finalmente tenha um pouco de ação no próximo, não é mesmo?

De toda forma, espero que tenham gostado, e eu ficaria muito feliz caso possam deixar suas opiniões nos comentários!



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