Crossing Swords With The Devil escrita por Miojo-san


Capítulo 4
Breaking the Mirror




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“Tem certeza sobre isso?!” – perguntou um incrédulo Dante, debruçado sobre sua mesa de “trabalho.”

 

“Certeza absoluta.” – replicou Trish, apoiando-se na mesa para encarar o meio demônio.

 

O escritório do filho de Sparda estava movimentado, Lady viera cobrar uma não pequena quantia que Dante devia-lhe, e no meio da cobrança fora interrompida por uma visivelmente preocupada Trish. A loira estava cheia de escoriações e outros ferimentos leves, aparentemente se envolvera em uma série de lutas.

 

“Então, titio Minos quer escapar de sua casinha. Realmente é uma pena! Papai caprichou tanto nos aposentos dele!” – ironizou Dante.

 

Trish gargalhou, acompanhada de Lady. Dante realmente não sabia levar nada à sério, mas apesar disso sempre dava conta do recado. Sentou-se no velho sofá e voltou suas atenções à outra parceira do caçador.

 

“Você está envelhecendo, logo será Granny, e não Lady.” – provocou.

 

Lady por sua vez limitou-se a sacar uma arma e disparar sobre a cabeça da loira, estragando a parede do escritório de Dante.

 

“Hey! Hey! Vamos parar com isso sim? Se quiserem brigar, podemos ir todos para o meu quarto, o que sugerem?” – insinuou um malicioso meio-demônio.

 

“Dante, cale a boca!” – berraram as duas, descarregando suas armas no pobre filho de Sparda.

 

Demorou algum tempo para o caçador se recompor, mas assim que o fez, saltou no sofá no qual Lady estava sentada e encostou sua cabeça no colo da garota, que ficou visivelmente constrangida.

 

“Bom, deixa eu ver se entendi isso direito. Minos quer escapar do Inferno, mas para isso precisa que alguém quebre os selos das nove prisões. A pergunta é, como isso é possível?” – perguntou o meio-demônio.

 

“Em tese, se algum condenado ao inferno for salvo, os selos se abrem para que esta alma escape de lá. Mas, apenas alguém com coração humano dar a Salvação a uma pessoa. É uma situação virtualmente impossível, afinal de contas, apenas demônios conseguem transitar livremente no inferno.” – explicou Trish.

 

“Ou seja, é necessário que um demônio com coração de homem salve alguém do inferno para que Minos escape.” – sintetizou Lady.

 

Dante ergueu-se bruscamente, saltou em direção às suas armas e em questão de segundos, estava pronto para a ação.

 

“Droga! Eu fiz uma grande besteira!” – reclamou Dante – “Acho que cometi o maior erro da minha vida!”

 

As duas mulheres fitaram o meio-demônio sem entender exatamente o que estava acontecendo. O caçador estava nervoso, visivelmente alterado, saiu correndo pela porta da frente de seu escritório sem dizer mais uma única palavra, deixando Trish e Lady atônitas.

 

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Os céus sulfurosos e negros do inferno relampejavam violentamente, a ordem natural dos Círculos havia sido abalada, Minos, o juiz do mundo dos mortos descera até o Rio Flegetonte. Os cabelos longos e brancos do demônio combinavam perfeitamente com seus olhos azuis e pele clara. O rosto jovial escondia os séculos de existência, que eram denunciados apenas pelas vestes antiquadas da entidade: uma longa e trabalhada túnica dourada com uma armadura prateada de inspiração romana e um manto negro, igualmente refinado, sobreposto. Portava uma longa lança negra, aparentemente feita de ossos e alguma liga metálica demoníaca.

 

“Então quer dizer que o meio-demônio o derrotou?” – perguntou o juiz a Asterion.

 

O guardião do rio vermelho jazia ferido no chão, Minos o destroçara com alguns poucos golpes de lança. Tinha um temperamento explosivo, não tolerava falhas e costumava descontar seu mau-humor nos subordinados. Passou uma mão nos cabelos, arrumando-os, antes de chutar violentamente o centauro, arremessando-o a alguns metros de distância.

 

“Você já foi melhor que isso, Asterion. Fomos eu, você e Berial que fizemos frente à Sparda quando ele se rebelou contra Lorde Mundus.” – disse Minos, envolto em reflexões – “De qualquer modo, parece que Julian já está na Floresta dos Suicidas, se ele conseguir salvar a garota, vai abrir os selos do inferno e poderei escapar daqui. Oh nossa! Parece que no final das contas, sua falta de poder serviu para alguma coisa! Preciso ir agora, meu chapa. Tenho que me preparar, a vida no Mundo dos Humanos me aguarda!” – continuou.

 

“Você sabe demais, Minos, o quê você tem haver com ele?!” – perguntou o guardião do rio, visivelmente nervoso.

 

“Eu sei que ele até agora cumpriu esplendidamente seu papel. Ou você acha que o deixei sem julgamento por desleixo? Eu sabia de suas intenções, desde antes dele morrer, ou devo dizer, desde antes dele tornar-se um meio-demônio.” – explicou o juiz – “Aliás, talvez seja correto dizer que eu o guiei.” – acrescentou, com um sorriso.

 

O juiz deu as costas a Asterion e fechou os olhos. Logo, quatro enormes asas negras abriam-se em suas costas, uma visão de terror e beleza sem igual, Minos era, afinal, o demônio mais poderoso no inferno naquele momento. No passado, fora um dos maiores generais de Mundus, mas acabou derrotado por Sparda, que o aprisionou no Segundo Círculo do Inferno. Com a morte do Cavaleiro Negro e as recentes tribulações no mundo demoníaco, Minos livrou-se de seus grilhões e passou a transitar livremente, sem poder, no entanto, ir fisicamente à Terra. Mas isso iria mudar, ou assim ele pensava.

 

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Julian estava novamente no hospital no qual Emily falecera, a única diferença é que não havia uma única pessoa no hospital, estava totalmente deserto. Estranhou a fragilidade humana em que se encontrava, mas não pôde divagar por muito tempo, precisava encontrar logo sua esposa e romper o ciclo de suicídio, ou ficaria preso lá também. O ex-professor primeiro tentou chamar um elevador, mas aparentemente nada que fosse elétrico funcionava, então disparou escadaria acima. O quarto de Emily ficava no último dos oito andares do hospital, logo havia muitos degraus a serem galgados. O coração de Julian batia mais rápido a cada lance de escadas vencido, e logo estava no oitavo andar, em frente à porta do quarto 804 da ala de psiquiatria.

 

Agora era o momento, o ex-professor entrou pela porta do quarto, seus olhos devoraram aquele ambiente em um misto de desespero e esperança. Conhecia bem aquele aposento, a cama branca, o cheiro de lavanda proveniente do perfume de Emily, o som dos ventos acariciando a janela, que estava aberta. Avistou Emily sentada à janela do quarto, sua pele levemente morena e cabelos negros contrastando com o curto vestido branco e sandálias da mesma cor, os olhos azuis da garota perdidos, fitando o vazio. Ela não notara a presença de Julian, ou melhor, ela não era capaz de percebê-lo.

 

“Emily! Vou salvá-la...” – disse o ex-professor, apesar de saber que ela não o ouviria.

 

Julian caminhou na direção da jovem, e então notou algo que as câmeras de segurança do hospital não podiam captar, Emily murmurava algumas palavras ininteligíveis, como se conversasse baixinho, e sua mão estendida janela afora tocava um rosto espectral, feito de névoa e sombras. O rosto, o acadêmico já vira estampado em inúmeros livros de ocultismo e religião, era o rosto do juiz dos mortos, Minos.

 

“Venha, minha criança, vou te levar até seu filho...” – dizia o juiz, em uma voz dócil.

 

O vulto envolveu Emily, como se fosse levá-la, e a garota logo em seguida saltou para a morte, em transe. Julian correu em sua direção e sem pensar duas vezes, saltou também, envolvendo-a com seus braços. Os dois caíam rapidamente, o meio-demônio estava desesperado, precisava despertar Emily, mas como? O chão se aproximava, e por um breve momento, Julian vislumbrou todos os momentos que passou junto de sua noiva. Lembrou-se da primeira vez que a vira, em uma cafeteria em Londres na qual a garota trabalhava como garçonete, lembrou-se de como ela fora aventureira ao ignorar o chefe e sentar-se em sua mesa.

 

“Emily, vamos sair daqui...” – sussurrou Julian no ouvido da garota, repetindo as palavras que proferira no que pareciam ter sido séculos atrás.

 

Os olhos da jovem abriram-se lentamente, recuperando o brilho e a energia. Ela fitou o ex-professor e então aquele mundo congelou, instantes antes do casal atingir o chão. Os dois ficaram estáticos no ar, e tudo ao redor trincou, como se fosse feito de vidro, e se despedaçou, revelando uma imensidão de luz branca. Emily nada disse, limitou-se a abraçar Julian com força, deixando escapar lágrimas no processo. O turbilhão branco deu lugar às sombras da Floresta dos Suicidas, e logo estavam em pé em frente à árvore que servira de prisão à jovem. O ex-professor recuperara suas asas e Gae Bolg, e um raio branco perfurou as nuvens negras, atingindo com força a árvore negra, incinerando-a. A luz expandiu-se, envolvendo o casal em uma agradável sensação de calor.

 

“Oh Julian, me desculpe, me desculpe!” – balbuciou Emily, ainda abraçando o ex-professor.

 

“Calma, calma, está tudo bem, agora vamos sair deste lugar.” – respondeu Julian, acariciando os cabelos de sua noiva.

 

“Ao me salvar, você rompeu os selos dos círculos do inferno. Era isso que ele queria!” – exclamou Emily, aflita.

 

“Ele queria? De quem você está falando?!” – inquiriu o rapaz.

 

Emily não teve tempo de responder, uma forte ventania os atingiu, e Minos subitamente surgiu ao lado de Julian. O juiz sorria de maneira sádica, e sem dizer uma única palavra, golpeou o ex-professor violentamente com o cabo de sua lança, atirando-o a metros de distância. A garota exclamou assustada, mas o demônio apenas tocou-lhe a face, fazendo-a desmaiar. Minos segurou-a com a mão livre enquanto apontava a lança na direção de Julian.

 

“Sabe, eu devo tudo isso a você.” – disse o juiz.

 

Julian se recompôs, e encarou Minos com um ódio que antes imaginara-se incapaz de sentir.

 

“Você! Foi você que levou Emily a cometer suicídio! Você é Minos, não é?!” – bradou o ex-professor.

 

O juiz sorriu e assoviou surpreso. Jogou a garota inconsciente em cima do ombro e analisou o oponente em potencial.

 

“Quem diria que você teria tanto conhecimento! Mas seu raciocínio foi limitado, eu não apenas induzi Emily a se matar, como também tornei sua idéia insana de salvá-la possível. Fui EU quem desenvolveu o ritual que você fez, fui EU quem permitiu que os registros de Arkham fossem parar na biblioteca em Fortune Island. Sempre soube de seu potencial, então o utilizei a meu favor.” – explicou o demônio, triunfante.

 

O ex-professor saltou na direção de Minos, tentando atingi-lo com Gae Bolg, mas o juiz esquivou-se com habilidade.

 

“Não tenho tempo para perder com você, preciso ir agora!” – disse Minos, antes de alçar vôo dentro da área luminosa.

 

“Você não vai a lugar algum!” – berrou Julian, abrindo suas asas para perseguir o juiz e Emily.

 

Os dois voaram pelas nuvens negras, atravessando as cúpulas de metal negro que separam um círculo do inferno de outro, mas Julian não era capaz de alcançar Minos, que por ser um demônio completo e ter mais asas, voava mais rapidamente. Como se isso não bastasse, numerosos monstros alados tentavam atacar o ex-professor, que contra-atacava violentamente com sua espada. A distância entre os dois aumentava, e Julian começou a ter dificuldades para enxergar Minos e Emily dentro do feixe de luz que ligava as prisões. Mais criaturas, semelhantes a enormes morcegos com cabeça de águia e cauda de serpente, feitos de sangue, voaram na direção do ex-professor, tentando feri-lo com suas garras. O meio-demônio reagiu, atirando-lhes Gae Bolg, e a espada voltou à sua mão segundos depois.

 

“Droga! Vou perdê-los desse jeito!” – reclamou Julian.

 

Minos considerava-se vencedor da disputa quando viu um vulto vermelho vindo na direção oposta. O vulto atingiu-lhe violentamente com uma voadora, arremessando-o contra o chão da primeira prisão, o limbo. O estranho também pegou Emily no ar e pousou com força a alguns metros de distância do juiz. O limbo era um nada desolado, com montanhas rochosas e fortes ventos. O céu era uma abóboda de pedra, com uma única abertura no centro, a saída do inferno. O juiz ergueu-se, irritado, para encarar o tolo que ousara atacá-lo, e não se surpreendeu ao ver que se tratava de um dos filhos de Sparda, Dante. O caçador deixou Emily encostada em uma rocha e depois caminhou na direção de Minos, com as mãos na cintura.

 

“Cara, esse portal que vocês abriram é bem grandinho ein! Abriu uma cratera no meio da minha cidade!” – exclamou Dante.

 

“Eu preciso causar alguma impressão, seu irmão ergueu o Temen-Ni-Gru e Lorde Mundus tinha Mallet Island.” – justificou-se o juiz, com um sorriso amarelo.

 

“De qualquer jeito, não posso deixar você sair daqui, tio, tenho que acabar o serviço que papai começou. Showtime!” – bradou Dante ao apontar Ebony e Ivory na direção de Minos.


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