Getaway Car escrita por Beauty Queen


Capítulo 1
We were jet set, Bonnie and Clyde.


Notas iniciais do capítulo

Eu não estou morta, mas queria estar. JK rs
Oi menines, tutupom com vocês? Eu espero que sim!
Eu sei que to meio sumida, mas é que muita coisa tá acontecendo.
Mas oh, essa one aqui é tão grande que se vocês dividirem em três, já vale por metade do ano rs.
Quem também gosta de Taylor bate palma, quem não gosta tudo bem. O reputation saiu faz tempooo e eu to pra postar essa one desde que ele saiu. Vem mais umas, hum... duas, inspiradas nele ♥
Enfim, espero que gostem. Até lá em baixo!



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Essa confusão toda começou quando eu descobrir que meu namorado estava me traindo. E nada de bom podia começar em um carro de fuga.

Se eu já estive fora de Nova York sozinha? Não. Se eu sabia como chegar em São Francisco? Também não. Se eu tinha certeza do que estava fazendo? Para caralho.

Eu tinha um plano. Não foi um dos melhores planos que eu já fiz na minha vida. Tinha muitas falhas e, principalmente, uma grande chance de dar tudo errado no final. Mas era isso ou não fazer nada enquanto eu destruía minha vida.

Então eu recolhi todo o meu dinheiro em uma mochila e em uma grande mala, coloquei o máximo de roupas possível. Joguei tudo na mala do meu velho carro e deixei Nova York para trás.

Eu já estava na estrada a mais de um dia – parando em um hotel algumas horas atrás apenas para dormir – e meu GPS me avisava que eu estava quase deixando o Colorado.

O Colorado era... bem, eu passei algumas horas cercada por montanhas e depois de chegar na capital, cercada de prédios e um transito infernal e depois mais montanhas. Não via um sinal de algum posto de gasolina, ou restaurante, ou hotel nas ultimas três horas. Estava praticamente sozinha na estrada, morrendo de fome e vira e volta algum louco passava muito a cima do limite de velocidade ao meu lado.

Em outras palavras, eu estava odiando o Colorado e todas as pessoas que viviam nele.

Já passara da hora do almoço e eu sentia que se não parasse, iria sufocar dentro daquele carro. Eu só queria parar e comer alguma coisa, talvez beber algo e descansar algumas horinhas.

É pedir de mais, Colorado?

Como se lesse meus pensamentos, Colorado me deu um presente de despedida.

Uma pequena construção entrou em meu campo de visão. Um bar? Um restaurante? Quem se importava? Eu precisava de contato humano e uma dose de tequila e uma boa tarde de sono.

Eu parei o carro entre duas motos e desci.

Só havia eu e mais dois homens ali. Eu devia dar a volta e procurar outro lugar, mas um cheiro de bacon com ovos me atingiu em cheio, e eu decidi que não aguentaria mais um minuto sem comer nada.

Me sentei na mesa do bar, sentindo os olhos dos homens sobre mim e toquei o sininho.

Um rapaz alto saiu pela portinha de onde o cheiro bom vinha. Ele segurava em uma das mãos os benditos ovos com bacon e na outra um x-burguer que parecia ainda mais delicioso. Ele sequer me olhou. Levantou uma portinha com os joelhos e saiu de trás do balcão, serviu os dois homens em uma mesa nos fundos, trocou algumas palavras com eles e caminhou de volta para onde eu estava. E então eu pude observa-lo.

Aparentemente, não era só os bacons e os x-burguês que eram deliciosos naquele lugar.

O rapaz tinha os cabelos negros em uma total bagunça e eu me perguntei se ele cozinhava com eles solto. Tinha os olhos verdes como o mar, calmos. Estes encontraram os meus e ele deu um sorriso simpático.

Ele passou de novo pela portinha e veio até mim.

— O que posso lhe servir?

— Ovos com bacon, um x-burguer e uma dose de tequila – Eu disse automaticamente.

Ele levantou uma sobrancelha.

— Posso ver sua identidade? – Ele perguntou.

Suspirei e procurei na bolsa.

— Você ainda não tem dezoito – Ele respondeu – Annabeth.

— Eu faço semana que vem – Justifiquei.

— Semana que vem eu lhe dou uma dose de tequila – Ele piscou um dos olhos – Que tal uma coca com limão?

Eu concordei e bufei, fazendo ele sorrir mais uma vez.

Quando ele voltou com minha comida, eu esperei que ele fosse se retirar, mas ele ficou me observando por um tempo enquanto eu devorava aquilo tudo.

— O que tem de errado? – Eu questionei e franzi os cenhos.

— Nada – Ele riu – É que você aparece aqui, nesse fim de mundo, sozinha querendo uma dose de tequila e comendo como uma desesperada. Não vejo isso acontecer muito.

— O que? Uma mulher independente querendo uma bebida e um pouco de comida boa?

— Bem, dessas eu vejo – Ele respondeu e se apoiou no balcão, perto de mim – Elas geralmente tem mais de dezoito e bebem a tequila que queriam.

Rolei meus olhos e voltei a comer.

— O que trás você ao Colorado?

— Nada – Eu neguei – Isso aqui é o fim do mundo. Eu estou indo embora.

Ele riu.

— Terei que concordar – Ele puxou uma cadeira e se sentou – E vai para onde?

— Hum, não é da sua conta – Eu levantei uma das sobrancelhas.

Ele repetiu o gesto.

— Okay, Annabeth – Ele levantou as mãos, um sinal de rendição.

Apesar de tudo, sua curiosidade despertou algo parecido em mim.

— Não é justo você saber meu nome e eu não saber o seu – Eu disse.

Ele sorriu e levou uma das mãos até a nuca.

— Perseu.

— Tipo o herói?

— Tipo o herói – Ele concordou – Mas você pode me chamar de Percy.

— Percy – Eu repeti – Eu gosto, é bonito.

Ele sorriu, agradecido.

— Annabeth também não é de todo um ruim – Seu sorriso se tornou travesso e eu tive que rolar os olhos.

— Trabalha aqui a muito tempo, Perseu? – Ele torceu o nariz ao ouvir o nome.

— Bem, sim – Ele murmurou e batucou os dedos no balcão – Minha mãe abriu o lugar, então desde que ela morreu, eu continuei tocando o ramo. Os clientes são sempre os mesmo e gostam de algo familiar. Então, bem, não é sempre que uma moça de Nova York aparece aqui.

Estava prestes a perguntar como ele sabia que ela vinha de NY e lembrou que tinha lhe dado a carteira da faculdade.

— Sinto muito pela sua mãe – Respondi – Bem, eu gostei muito da comida, estava realmente boa.

— Obrigada – Ele respondeu.

— Tem algum lugar onde eu possa dormir? Por pelo menos algumas horas?

Ela viu o rapaz pensar e depois suas bochechas ficaram coradas e ele riu, balançando a cabeça.

— Não – Ele disse por fim.

— Não era isso que você ia dizer.

— Eu ia dizer que tem a minha cama no sótão – Ele me olhou presunçoso – Mas o jeito como isso soar simplesmente não me pareceu bom.

— Definitivamente, não – Eu tive que rir de sua honestidade – Bem, Percy, então eu acho que você podia me trazer mais uma coca com limão e depois eu lhe conto como vim parar nesse fim de mundo, já que não terei como dormi.

Ele se levantou e uns minutos depois voltou com minha coca.

— Bem, Annabeth – Ele disse – Me conte porque uma moça direita de Nova York está tão longe de casa, em um bar de beira de estrada?

— Estou fugindo do meu namorado – Respondi.

Percy me olhou por um tempo e depois começou a rir.

— Você não está falando serio – Ele parou quando me encarou – Está?

Eu concordei.

— Uau – Ele me apoiou no balcão outra vez – Por quê?

— Ele descobriu que eu descobri que ele me traiu com umas... doze garotas – Eu dei de ombros – E então eu terminei com ele. E achei melhor vim morar com meu pai, na California.

— E não podia pegar um avião? Onde está sua mãe?
— Minha mãe nunca está em casa – Eu disse – E o dinheiro que eu tenho é para por meu plano em pratica.

— E qual seria ele?

— Eu vou até Las Vegas e vou apostar tudo no preto – Disse como se fosse obvio.

— É o plano mais sem noção que eu já vi – Ele balançou a cabeça varias vezes – Você pode perder tudo.

— Ou eu posso ganhar tudo – Eu disse – E não tenho nada a perder.

— Porque simplesmente não vai para casa do seu pai? Direto?

— Eu preciso fazer isso com esse dinheiro – Eu o olhei nos olhos – Eu não tenho escolha.

Percy sustentou meu olhar por mais um tempo. Ele se virou e pegou uma garrafa de tequila na estante, dois copos e os encheu. Escorregou um para mim sobre a mesa e estendeu o outro.

— Por uma boa sorte em Las Vegas – Nós brindamos e bebemos – Deus, isso é horrível.

Eu ri e joguei o copo de volta para ele

— Bem, eu preciso descansar. São oito horas até Las Vegas e eu estou morta.

— Minha cama ainda está disponível – Ele sorriu.

— Eu nem conheço você, Perseu – Eu disse e me aproximei dele sobre o balcão.

— É verdade – Ele também se dobrou sobre o balcão, até nossos rostos estarem bem próximos – Até onde você sabe, eu posso ser um serial killer que vai abusar de você e depois jogar seu corpo em alguma caverna nas montanhas.

— E você é?

— Eu acho que a resposta certa é não – Ele sorriu de lado – Mas seria exatamente o que ele diria.

— Talvez eu seja o serial killer – Eu rebati.

— Então eu definitivamente estaria com problemas, porque você é definitivamente de mais para eu lidar.

Eu dei uma risada.

— Em várias maneiras – Ele completou e sorriu de lado.

— Eu concordou – Voltei a me encostar no balcão e a nossa troca de olhares.

Ele ia dizer mais alguma coisa, quando ouvi o barulho de um carro do lado de fora. Percy olhou por cima de meus ombros e seu rosto ficou pálido.

— Annie – Eu senti meus pelos se arrepiarem ao ouvir ele me chamar assim, a voz mais grave do que antes – Que tal você aceitar o convite? Eu juro que não sou um serial killer.

Ele tirou uma chave do bolso da calça.

— É só passar por ali e subir as escadas – Ele apontou – Pode trancar se ainda não acredita em mim, certo?

Ele parecia nervoso e continuava olhando para o lado de fora. Os homens no fundo se levantaram.

— Percy... – Um deles chamou.

— Eu sei – Ele murmurou e me olhou, suplicando – Por favor.

Eu peguei a chave e fui na direção que ele mandou, mas em vez de subir as escadas, eu fiquei escutando através da porta.

Escutei o sininho da porta tocar e passos pesados

— Boa noite – Ouvi uma nova voz no recinto.

— Como posso ajuda-lo? – Tive que prender um arfar de surpresa.

Aquela era a voz de Percy? O garoto que a segundos atrás tinha feito piadas para mim?

— Bom, Jackson – A primeira voz voltou a falar – Você sabe muito bem como pode me ajudar.

— A não ser que você esteja aqui pelo bacon, infelizmente eu não faço a menor ideia do que você quer.

— Porque não começa me dizendo de quem é o carro lá na frente?

Merda

— Meu – Percy disse – Eu comprei.

— Então você tem dinheiro para comprar um carro, mas não para pagar suas dividas?

— Até onde eu me lembro, matar a minha mãe pagava a porra da nossa divida.

— Talvez eu devesse ter matado você junto – Escutei, como nos filmes, a tranca de uma arma.

— Mike – Uma voz calma chamou, talvez um dos homens que já estavam ali antes – Percy vai lhe pagar o que deve. Em breve. Ele está se recuperando da morte da mãe, não pode esperar que...

— O garoto já é bem grandinho para falar por si mesmo! – O homem gritou.

Eu queria sair dali. Queria ir até Percy. Mataram sua mãe por uma divida? Meu Deus.

— Eu vou levar aquele carro.

— Ah, mas você não vai mesmo – Vi a sombra de Percy passar pela porta – Você vai sair do meu restaurante, e vai sair agora.

Merda, Percy. O cara tem uma arma.

— Me deixa atirar nele! – Aquela voz era nova.

— Calado!

Espiei pela porta. Haviam mais três homens no lugar. Um deles parecia ter a idade de Percy, que eu deduzir ter sido o ultimo a falar. O homem na frente devia ser o que vinha falando com Percy no ultimo momento. Ele era alto e forte, carregava cicatrizes no rosto e nos braços, ele devia ser o chefe. O homem atrás dele permanecia serio e calado. E então ele me viu. Voltei a me esconder atrás da porta e tentei controlar minha respiração.

— Tem uma garota aqui – Fechei os olhos e suspirei.

Que merda, Annabeth. Que merda.

— Loira – O homem voltou a falar – Na cozinha.

— Loira, hum? – O chefe disse – Porque não vem aqui, doçura? Porque está escondendo sua namorada de nós?

Eu continuei ali, não conseguia falar ou me mexer.

E se ele atirasse em Percy por me esconder?

— Ela é só uma cliente – A voz de Percy não tinha mais aquele tom serio, decidido. Ele estava desesperado.

— Bem, eu quero conhece-la – O homem tornou a dizer – Venha cá. Venha cá ou eu atiro nele.

Merda.

Eu coloquei minhas mãos no batente da porta e segurei com força, tentando diminuir a tremedeira em minhas mãos. Quando eu sai por completo de meu esconderijo, eu procurei o olhar de Percy. Seu rosto estava coberto de suor, contorcido pela preocupação.

— Você é realmente um pitelzinho – Mike, o chefe, continuava com a arma apontada para a cabeça de Percy. Eu queria manda-lo tira-la dali, mas não conseguia fazer nenhum som sair de minha boca.

— Venha cá, meu bem.

— Annie, volta para o sótão – Percy disse.

— Que tal fazermos um acordo? – Mike se virou para Percy – E se nos quitarmos essa divida? Só precisa dar, para mim e meus companheiros, alguns minutinhos com a sua garota no andar de cima. E ai nós vamos embora.

Eu queria começar a chorar. Percy não me conhecia. Aqueles homens mataram sua mãe e queriam um dinheiro que ele muito possivelmente não tinha. Ele podia facilmente me entregar.

— Só por cima do meu cadáver – Percy respondeu – Se encostar um dedo nela, eu quebro a sua mão.

Um soluço de puro alivio escapou dos meus lábios, e se saíssemos vivos dali, eu prometi a mim mesma que abraçaria Percy até ele pedir chega. Mike não pareceu tão contente.

— Seu...

Tudo aconteceu rápido demais para eu processar. Percy agarrou o braço de Mike e o torceu para cima, fazendo com que ele atirasse, mas em seguida soltasse a arma. Os amigos de Mike estavam prontos para atirar, mas os amigos de Percy também estavam. O rapaz chutou Mike na barriga e o empurrou e disparou para os fundos.

— Vem – Me chamou no meio da corrida, mas eu ainda não conseguia me mexer – Annabeth.

Uma bala passou ao meu lado e acertou o armário com bebidas. Me abaixei e me encolhi completamente, encostada no balcão. Eu sentia as lagrimas escorrendo e tinha consciência de que podia ter fugido e tinha sido covarde.

Senti alguém tocar meus braços e meu primeiro instinto foi golpear a pessoa.

— Sou eu – Percy gritou por cima dos tiros.

Eu o olhei por um tempo. Os olhos escuros pela raiva, os cabelos ainda mais bagunçados do que antes, a camiseta molhada de suor. O abracei com força, sentindo seus braços me embalarem.

— Annie, precisamos sair daqui – Ele disse – Tem uma janela nos fundos. Vou lhe da cobertura e você corre até lá. Eles não vão segui-la.

— Não vou a lugar nenhum sem você – Neguei varias vezes com a cabeça – Não.

— Não seja teimosa! – Ele brigou – Acabou de me conhecer e não vou deixa-la arriscar sua vida por mim!

— Você acabou de fazer isso por mim, Perseu! – O rapaz pareceu assustado, como se eu tivesse desaparecido da sua frente.

— Corra para os fundos e me espere lá – Ele disse, ainda contrariado.

— Eu só saio daqui com você – Tornei a dizer.

— Como você pode ser...

Uma bala perfurou o balcão e eu gritei. Percy puxou uma das madeiras no chão e tirou uma caixa de lá. Dentro haviam duas armas.

— Sabe usar?
— Não – Disse exasperada.

Ele me entregou uma mesmo assim.

— Está carregada – Ele explicou e pegou a outra – Essa é a trava. Assim, você destrava. E assim – Ele se colou de pé e mirou em qualquer coisa que devia estar na sua frente, atirando, e voltou a ficar como estava – Você atira.

Eu concordei. Destrava, mira e atira.

— Vamos – Ele segurou meu pulso e me puxou se colocando na minha frente enquanto atirava, me empurrando para trás ao mesmo tempo.

Estávamos quase na porta que dava para os fundos quando eu o vi. O rapaz mais novo. Ele mirava certeiramente em Percy e o rapaz estava ocupado demais atirando em Mike para notar. Joguei a arma por cima do seu ombro e atirei. O garoto caiu no chão.

Percy me empurrou para trás e começamos a correr. Ele quebrou a janela e jogou um pano por cima. Pulou e eu o segui. Ele me agarrou pela cintura antes que eu atingisse o chão, que estava um pouco mais a baixo do que eu esperava. Eu não tive tempo para apreciar seu toque. Ele tornou a segurar minha mão e me puxar para frente.

— Chaves! – Ele gritou.

Tirei-as do meu bolso e joguei para ele, que destrancou o carro e praticamente me jogou lá dentro. Ninguém nunca tinha dirigido meu carro além do mim e meu pai, mas eu não tinha tempo para brigar com Percy por isso.

— Se abaixa – Ele mandou e deu partida no carro.

Eu ainda escutava os tiros atrás de nós, mas me encolhi o máximo que pude e tapei meus ouvidos.

Percy dirigiu pelo que pareceu serem horas, um tempo depois, ele falou:

— Está tudo bem agora.

Eu me ajeitei na cadeira e olhei para trás. Provavelmente já estamos fora do Colorado.

— Eu vou pegar pelo carro – Percy falou – Eu só preciso ir até minha antiga casa e eu deposito para você.

Só depois disso foi que eu notei os buracos no vidro de trás e no banco.

— Tem um posto mais a frente, nos podemos parar lá e eu desço. Ou podemos parar agora – Percy suspirou – Annie?

— Hum? – Eu o olhei.

— Você me ouviu?

Eu passei tudo que ele falou mais uma vez e compreendi.

— Não! – Eu segurei seus braços e balancei a cabeça – Não precisa pagar por nada...

— Não, eu vou...

— E também não vai descer, não ainda – Eu continuei – E nem voltar para lá.

— Não posso ir para outro lugar, Annie – Ele olhou para a estrada, a expressão no rosto dura.

— Pode ir comigo – Eu disse.

Ele parou. O sinal estava vermelho, mas foi bem conveniente, para que ele pudesse me olhar abismado.

— Duas coisas – Ele pontuou – 1- Seus pais criaram você? Eles disseram para nunca sair com estranhos? Annabeth, você está louca? Nunca me viu na vida. Não pode sair por ai se recusando a fugir de um tiroteio por qualquer um!

— Você não é qualquer um! – Eu rebati – Você podia muito bem ter me entregado para eles, Percy. Teria ficado livre de seja lá que divida é essa e ninguém que você conhece teria se machucado.

— Eu nunca deixaria eles fazerem nada do que eles queriam com você.

— Então eu não poderia deixa-lo lá.

— Eu faria isso por qualquer pessoa, Annie.

— Eu também.

Percy me encarou por um tempo.

— Você podia ter morrido – Suas mãos foram até meu rosto – Você não tinha nada haver com isso.

— Estamos bem agora – Eu coloquei minha mão sobre a dele, aproveitando o calor e o carinho que seus dedos faziam em meu rosto.

Não lembrava qual tinha sido a ultima vez que alguém tinha me tratado com tanto carinho.

Quando eu tinha ficado tão próxima de um estranho?

Percy retirou suas mãos e voltou a coloca-las no volante. O sinal já estava aberto a certo tempo, mas não havia ninguém na estrada então não nós incomodamos em sair dali. O rapaz ao meu lado suspirou pesadamente.

— 2- Depois que você fizer seja lá o que quer fazer com seja lá quanto dinheiro você tem, vai me deixar pagar pegar pelo conserto do carro e vai prometer pra mim que vai direto para São Francisco de lá. Certo? Preciso que me prometa, Annie.

— Eu prometo – Disse.

Ele deu mais um suspiro.

E então deu partida no carro.

Pelas minhas contas, chegaríamos em Las Vegas quase a meia noite, talvez antes. Eu tinha dormido no banco do carona e me oferecido para dirigir, mas Percy não parecia nem um pouco cansado, na verdade, ele parecia alerta, como se os caras da lanchonete estivessem nos seguindo. E podiam muito bem estar. Voltei a colocar musica no rádio. Queria conversar com Percy, saber mais sobre ele, mas fiquei com medo de ser intrometida e permaneci calada.

— Posso perguntar algo? – Ele se manifestou depois de um tempo.

— Claro – Eu vi minha chance de perguntar sobre ele também.

— Seu namorado – Ele começou, delicadamente, como se fosse algo que talvez fosse difícil eu falar sobre – Ele era violento? Com você?

Olhei para o lado, sentido minhas bochechas ficarem avermelhadas.

— Não – Eu não conseguia encontrar um motivo para mentir para Percy, mas o fiz – Quer dizer, não muito. Se terminamos, é porque algo estava errado, certo? Ele não me tratava bem, mas nunca... é.

— Desculpe – Percy murmurou – Eu não devia ter perguntando. É que você está fugindo, então eu deduzi que não foi um termino muito amigável.

— É, não foi – Eu passei uma das mãos em minha cintura.

— Se você quiser, podemos voltar para New York e eu posso meter a porrada nele – O rapaz sugeriu.

Eu dei uma risada e o encarei. Embora tivesse um sorriso em seu rosto, eu conseguia dizer, por algum motivo, que se eu pedisse, ele iria.

— É melhor vocês dois não ficarem no mesmo ambiente – Eu respondi, por fim – Não com armas, pelo menos. A verdade é que eu estou fugindo porque descobri que Luke traficava drogas e roubei uma quantia muito grande do dinheiro dele.

Percy freio o carro. 

— Você fez o que?! Annabeth! – Ele brigou – Ele sabe pra onde você veio?

— Claro que não! – Eu o encarei, brava – Você acha que eu seria tão burra? Eu sei o que estou fazendo! Ele não vai me encontrar!

— Merda, Annabeth – Ele bateu no volante – Merda, merda, merda!

— Perseu!

Ele parou e me olhou assustado, como se mais uma vez eu tivesse desaparecido.

Voltei a me encostar no banco, aumentei o volume do radio e olhei para a estrada na nossa frente.

— Desculpe gritar com você – Ele disse – É que...

— Deixa pra lá, Percy – Eu murmurei e, sem o olhar, coloquei minha mão em seu joelho, e a deixei ali – Está tudo bem.

Ele não falou mais nada e nós seguimos caminho.

oOo

 Las Vegas era iluminada demais para meus olhos.

Eu sentia que sairia cega dali.

— Certo – Eu falei enquanto caminhávamos na direção do hotel – Nós vamos ficar nesse hotel chique, que tem um cassino. Depois, vamos fazer compras.

— Compras? Mas...

— Ai – Continuei – Vamos voltar para o hotel, trocar de roupa e descer para o cassino. E ai, vamos apostar tudo que tiver sobrado no preto. E podemos jogar outras coisas também, tanto faz.

— Annie...

— Hum! Depois vamos jantar! Não podemos esquecer do jantar, mesmo que seja sei lá, três da manhã quando acabarmos – Eu pontuei – No hotel. Jantar em hotel sempre é mais caro.

Percy riu e continuou a caminhar. Suas mãos estavam próximas das minhas e eu queria segura-las. Toquei a ponta de seus dedos e ele os puxou assustado.

— Desculpe – Eu desviei os olhos, o rosto corado.

Continuamos andando em silencio. Alguns segundos mais a frente, ele pegou minha mão. Ela era bem maior do que a minha, mas era quentinha e seus dedos se entrelaçaram nos meus de forma desordenada, então eu tive que solta-la e prende-la novamente, fazendo com que ele risse e corasse, e eu fiz o mesmo.

— É mais difícil do que parece – Ele se defendeu.

— Claro – Eu ri.

— Boa noite! – O moço disse quando chegamos no balcão – Como posso ajuda-los?

— Oh, eu sou a senhorita Annabeth Chase – Disse a ele apontando para mim mesma – e esse é o senhor Percy...

— Jackson – Percy completou.

Olha que bonito.

— Senhor Percy Jackson – Apontei para Percy – E nós roubamos bancos. E agora viemos roubar o seu hotel.

Percy escondeu o rosto nas mãos e o rapaz me olhou assustado.

— É brincadeira – Disse baixinho e pisquei para ele.

Ele riu, aquele riso de nervoso.

— Eu suponho que já que não vieram roubar o hotel, querem um quarto.

— Isso – Eu revirei a bolsa – O melhor. Por... hum... duas noites.

O rapaz falou varias coisas que apenas Percy prestava atenção, e eu contava o dinheiro para paga-lo.

— Uma pergunta – Eu interrompi sua falação – Onde fica a grife mais próxima?

Ele pareceu confuso com a pergunta.

— Bem... descendo a rua tem varias...

— Okay – Eu lhe entreguei o valor, assinei os papei, peguei a chave que o moço estendia e agarrei a mão de Percy – Até mais!

— Alguma bagagem?! – Ele gritou enquanto nos afastávamos.

— Deixei as minhas em New York! – Gritei de volta – E ele no Colorado!

...

— E esse? – Eu coloquei o outro vestido na frente do meu corpo.

— Eu gostei do verde – Percy repetiu pela milésima vez.

— Okay – Eu concordei – E este?

— Annie – Percy bateu os pés no chão – Porque está me perguntando se não vai usar o que eu estou sugerindo?

— É que... – Eu olhei para o vestido verde.

Era lindo. Era o único e era do meu tamanho. Mas não tinha mangas.

— Eu vou experimentar – Eu disse.

Como eu tinha previsto, eu adorei o vestido. Queria leva-lo. Queria nunca mais tira-lo do meu corpo. Eu podia consertar aquilo, da um jeito de não precisar usar mangas.

— Eu vou levar – Disse, entregando o vestido para a moça embalar e olhei para Percy, que sorria de lado para mim – Se eu passar frio, a culpa é sua.

Ele deu de ombros e sorriu ainda mais.

— Sua vez – Eu o puxei para a outra sessão apesar de seus protestos.

— Por acaso é uma despedida de solteiro? – A mulher que nos atendia perguntou.

— Na verdade – Eu disse para ela, baixo – Já estamos casados. Não é mesmo, querido?

— Claro – Percy sorriu gentil para a mulher e me olhou, sussurrando baixo – Porque não, né?

Porque não, repeti mentalmente.

— Oh! – Eu exclamei – Parece que nem vamos demorar!

Peguei o conjunto e lhe entreguei.

— Azul?

— É pra dar mais sorte ainda – Eu pisquei – Se fosse azul no lugar de preto, eu apostaria tudo no azul.

— Acho que vai ficar apertado – Ele observou o número.

— Bem – Eu o analisei – Se ele acentuar seus músculos, por mim tudo bem.

— Annie! – Ele me empurrou de leve no ombro.

Eu dei uma risada e abri caminho para ele entrar no provador. Quando ele saiu, eu comecei a me perguntar o quão errado seria agarra-lo ali mesmo.

— Bem, não ficou tãããããão colado quanto eu esperava – Eu ajeitei a cola do paletó e desci para fechar os botões de sua camisa.

— Talvez eu só esteja mais magro do que esperava – Ele se olhava no espelho enquanto eu terminava de ajeita-lo.

Levei minhas mãos até seus cabelos e os ajeitei por último. Ele me olhou daquela forma novamente e eu estava começando a me perguntar o que acionava aquilo porque eu gostava muito.

— Que tal irmos para o hotel para eu poder ver o quão bonita você vai ficar naquele vestido? – Ele sugeriu depois de me encarar pelo que, para mim, pareceu uma eternidade.

— Eu acho uma boa ideia.

Meia hora depois e uma grande quantidade de base e pó em meus braços, eu me encarei no espelho. Será que Percy notaria?

Sai ainda receosa do banheiro. O rapaz estava concentrado em fechar os botões da manga do paletó e quando sua atenção se voltou para mim, todo o receio se foi.

— Uau – Ele disse baixo – Bem, não está tão colado quanto eu tinha imaginado, mas...

Eu ri e caminhei até ele. Peguei sua mão e abotoei sua manga. Com a mão livre, ele tirou algo de meu rosto.

— Faz um desejo – Eu disse ao o ver segurar o cílio.

— Acho que vou ter que pedir para não me apaixonar por você até o fim da noite.

Eu senti minhas bochechas queimarem.

— Primeiro pegamos o dinheiro, querido – Eu peguei sua mão que segurava os cílios – Podemos nos apaixonar depois.

— Você fez de novo – Ele disse e sorriu.

— Eu tenho frases para a noite toda – Pisquei para ele e soprei o cílio de sua mão.

...

O cassino não estava muito lotado, o que me surpreendeu, então eu e Percy caminhávamos tranquilamente de braços dado por entre todos aquelas opções de jogos. Eu não jogaria em nada que não conhecia.

— Eu tenho dez mil – Eu disse para ele.

— Dez mil? – Ele sussurrou – Mesmo depois das compras e do hotel?

— Eu roubei quinze mil – Expliquei.

Percy ainda não estava feliz com aquela ideia de eu ter roubado do meu namorado traficante.

— Olha – Eu o chamei – Meu pai é policial. Luke não sabe onde ele mora, mas ele sabe que ele é policial. Não vai vim atrás de mim. Eu tomei providencias. Eu sou uma moça esperta, Percy.

E vou fazer a mesma coisa por você.

— Certo – Ele disse.

— Eu tenho um plano de como vamos apostar, certo? – Eu disse.

— Certo – Repetiu.

— Primeiro, vamos trocar esse dinheiro e depois vamos para os caças-niques.

— Espera, mas e a roleta?

— Não – Eu disse – Calma.

Percy não falou mais na e apenas me acompanhou.

Depois de trocarmos o dinheiro por fichas, eu peguei umas margaridas no caminho e fomos na direção das maquinas. 

— Vamos transformar esses dez mil em quinze mil de novo – Expliquei – Ou seja...

— Precisamos de cinco mil nos caças-niques – Ele completou.

— Isso – Eu disse e continuei observando as maquinas e as pessoas jogando – Vamos jogar no máximo duas vezes em cada maquina, se acharmos um em que alguém acabou de perde é bom e só vamos jogar se o número do lado da maquina tiver um 6 ou um 33.

— O que isso quer dizer?

— São meus números da sorte – Expliquei – Quais os seus?

— Hum – Ele pensou – 3?

— Okay – Eu confirmei – 6, 3 e 33. Achei.

Me sentei na cadeira em frente a maquina.

— Você sabe que é tudo pura sorte, né? – Ele disse, bem próximo do meu ouvido.

— O que eu mais tenho nesse mundo é sorte – Sussurrei, sem saber muito bem se ele tinha ouvido.

— Quanto vai por?

—Mil.

— Certo – Ele murmurou.

Puxei a alavanca e imediatamente procurei a mão de Percy. Ele a agarrou e eu fechei os olhos.

— Sete – Ele murmurou.

Ai meu Deus.

— Sete – Ele repetiu.

Ai meu Jesus.

— Sete! – Percy gritou – Annie! São três setes!

— Ai meu pai - eu ri – Eu disse que eu tinha sorte!

Era um jogo acumulativo, então ganhamos tudo que outras pessoas tinham perdido. Geralmente, ninguém apostava valores muito altos naquilo, esse era o sentido, apostar pouco e por pura sorte ganhar tudo que os outros tinham perdido. Ou então, podia apostar varias vezes, perder tudo e não sair com nada dali.

Conseguimos seis mil.

Aquilo era suficiente para a segunda parte do plano, mas o rapaz ao meu lado estava muito animado por termos ganhado tanto dinheiro logo de primeira. Percy fazia uma dancinha que consistia em balançar o indicador para cima e para baixo, o que era muito engraçado.

— De novo! – Ele falou – Posso escolher?

Eu ri.

— Pode – Eu disse e sorri para ele.

Aha, ai estava aquele olhar. Mas as coisas não faziam sentido. O que eu fazia para receber aquilo?

Ele escolheu uma maquina um pouco mais a frente.

— 333 – Ele disse e sorriu para mim – Parece bom.

— Parece ótimo – Dessa vez ele se sentou na frente da maquina.

— Não aposte nada muito alto – Ele disse – Não tenho sorte que nem você.

— Hum – Eu disse – Dois mil.

— Annie! A definição de...

— Se falar mais alguma coisa eu vou colocar todos os seis mil e vamos voltar a estaca zero – Levantei o indicador e ele se calou.

Puxou a alavanca e segurou minha mão, dessa vez, nenhum de nos dois fechou os olhos.

— Sete – Percy falou – Ai meu Deus do céu.

— Outro sete – Eu bati em seu ombro.

Percy bebeu todo o conteúdo de seu copo em um único gole, a tempo de ver o outro sete surgir na tela.

— Puta merda, eu não acredito – Ele riu e eu beijei sua bochecha.

— Quem é mesmo que não tem sorte?

— O Percy do Colorado – Ele falou recolhendo as fichas que saiam da maquina. Era menos agora, quatro mil e duzentos, o que queria dizer que tínhamos dobrado o valor que demos, mas não tanto quanto na primeira vez – O Percy de terno, marido da moça de vestido verde bonita, passando o fim de semana em Las Vegas, tem muita sorte pra caralho.

Eu ri mais uma vez e peguei sua mão, lhe puxando a caminho da segunda fase do plano.

Bom, a esposa do moço de terno azul marinho muito bonito para caralho, também tem muita sorte.

— Certo – Eu disse enquanto caminhávamos para a roleta – Temos dezessete mil e duzentos agora. Vamos apostar dez mil no preto.

— Certo – Percy concordou, pelo seu olhar ele estava perdido nas contas matemáticas – E os sete mil e duzentos?

— Reserve, caso as coisas deem muito errado – Expliquei.

Percy concordou.

— Bem pensado – Ele balançou a cabeça varias vezes – Muito bem pensado.

— Vamos dobrar os dez mil.

— Vinte mil.

— Isso – Eu disse – Se conseguirmos, vamos para uma outra mesa de apostas maiores. Se não...

— Voltamos para os caças-niques com os sete mil e duzentos e tentamos duplicar de novo.

— Isso mesmo – Segurei sua mão com mais força – Vamos conseguir.

Percy pós as fichas sobre a mesa.

— Dez mil no preto – O senhor atrás da mesa disse e rodou a roleta em cima da mesa – Nenhuma outra aposta.

Quando ele soltou a bolinha, eu tinha certeza de que ela cairia no preto, mas fechei os olhos de qualquer maneira.

— Parabéns – O senhor disse e eu abri meus olhos, ele sorria para nós – Preto!

Ele colocou o dobro de fichas ao lado das que Percy tinha posto.

— Eu estou começando a me assustar.

— De novo – Eu disse para o senhor.

— Eu vou ter que pedir...

— Queremos ficar nessa mesa – Eu falei – Por favor.

O senhor chamou um segurança e trocou algumas palavras com ele. O homem concordou e se prostrou ao lado do senhor.

— Vinte mil no preto – Ele anunciou.

O senhor rolou a roleta.

— Nenhuma outra aposta – E então jogou a bolinha.

— Parabéns – Aquilo era musica para os meus ouvidos.

Dei uma gargalhada alta e sacodi o braço de Percy.

— Você consegue acreditar?!

— Quarenta mil – Ele colocou mais duas pilhas.

— Podemos tirar uma quantia? – Perguntei.

— Claro – Ele indicou as pilhas.

— Tira dez – Percy fez o que eu pedi e colocou as fichas na minha mão – De novo!

— Trinta mil no preto – Anunciou.

— Annie, está começando a ficar arriscado demais, talvez...

Ouvimos a roleta ser girada.

— Nenhuma outra aposta – E a bolinha já estava nela.

— Tarde de mais – Eu disse enquanto observava a bolinha girar e aterrissar mais uma vez no preto.

— PERCY! – Eu talvez tenha gritado alto demais pois varias pessoas olharam para onde estávamos, mas eu não me importava.

Percy ria como se aquilo tudo não fosse verdade. E não parecia!

— Uma ultima vez – Eu disse, colocando os dez mil junto com as outras seis pilhas na mesa.

— Annie – Percy parou de sorrir – Talvez...

— Setenta mil no preto – Eu mesma fiz o anuncio.

O senhor sorria impressionado.

— É um baita de uma namorada que você tem, senhor – Ele disse enquanto girava a roleta.

— Na verdade ela é minha esposa – Percy me olhou de canto de olho, um sorriso, uma sobrancelha franzida de preocupação.

— Nenhuma outra aposta.

Eu segurei o braço de Percy com tanta força, que quando ele gritou, eu achei que fosse por conta da dor.

— Cento e quarenta mil! Parabéns! – O senhor anunciou.

Eu dei pulinhos e me virei para Percy. Ele agarrou meu rosto e eu achei que seria ali e agora que ele me beijaria. Mas ele permaneceu ali, nossos rostos próximos, nossas respirações se cortando uma na outra. Ele me olhou e eu o olhei.

— Estamos ricos – Eu murmurei, segurando seu rosto também.

Você está rica – Ele sorriu, seus lábios roçaram nos meus quando o fez.

— Depois – Eu sussurrei e beijei sua bochecha por um longo tempo, sabendo que ele sabia o que aquilo significava.

...

— Cento e quarenta e sete mil e duzentos dólares – A mulher nos entregou o pacote – Parabéns, senhor e senhora!

— Obrigada – Eu peguei o pacote e sorri para ela.

Eram três da manhã, mas eu sentia como se ainda fossem três da tarde e eu estivesse com a corda toda para que a noite chegasse logo.

Acabamos indo comer fora do hotel, em um restaurante que Percy disse ter ouvido falar em um jornal. O melhor da área, aparentemente.

A comida era ótima e eu podia observar toda a movimentação da cidade pelas paredes de vidro, mas minha atenção estava toda em Percy. No seu modo tranquilo de comer, metódico. Ele repousava o garfo e a faca com perfeita harmonia na borda o prato, ajeitava o frasco de pimenta e voltava a pegar os talheres. Varias e varias vezes. Ele notou que eu o observava e levou seus olhos até meu rosto. Sorriu.

— Seus olhos são uma das coisas mais bonitas que eu já vi – Ele falou – Quero dizer isso desde que vi você comendo como uma desesperada aquele hambúrguer.

Eu sorri de volta para ele e peguei sua mão por cima da mesa.

— Mal posso esperar para o depois chegar – Ele murmurou.

— Não vai demorar muito mais – Eu falei – Só precisamos pedir a conta.

— Bem... – Percy levantou um dos dedos, chamando o garçom – Então vamos logo com isso.

Quando chegamos no hotel, disse para que ele entrasse no banheiro primeiro, enquanto eu verificava se minha mãe já estava dando por falta de mim.

A resposta era não.

Quando ele saiu, usava as roupas que estava usando quando chegamos. Os cabelos estavam molhados e as bochechas coradas pelo frio que entrava pelas janelas abertas.

— Acho que vou pedir um café – Ele murmurou e se sentou na cama – Posso?

Confirmei.

— Também quero um – Murmurei de volta – Preto. Sem açúcar.

Coloquei um pijama depois que sai do banho e encontrei Percy sentado no chão próximo a janela.

— O que acha que contarmos o dinheiro que sobrou e dividir?

— Já disse que não quero o dinheiro, Annie – Percy negou com a cabeça varias vezes.

— Bem, mas você vai pegar – Eu me sentei ao seu lado e arrastei a bolsa até onde estávamos – Pelo menos um quarto, pode ser?

— Ainda é muito – Ele negou.

Eu suspirei e comecei a montar pilhas de dois mil dólares que formaram um circulo ao nosso redor.

— Bem – Eu disse quando acabei – Essa pilha aqui tem só mil e duzentos. É a sua.

— Ainda tem muito.

Eu o olhei para ver se ele estava brincando, mas nem para o dinheiro ele olhava.

— Cem dólares então.

— É muito – Ele voltou a dizer e me olhou – O uber daqui para o colorado é setenta dólares. E eu vou devolver.

— Percy...

— Annie...

Ficamos em silêncio.

— Não acho que teria ganhado se você não estivesse aqui comigo – Eu murmurei e procurei sua mão, mas elas já estavam ocupadas puxando meu rosto para lhe olhar.

— Teria sim – A convicção em seus olhos era clara e havia algo mais – Depois já é agora?

Eu ri e me apoiei em meus joelhos, colocando as mãos em seu pescoço.

— Acho que sim.

Os lábios de Percy eram salgados. Suas mãos faziam o caminho de meu rosto até o meu cabelo com uma delicadeza que eu nunca tinha experimentado antes. Passei uma de minhas pernas por cima de se corpo, batendo em uma dúzia de pilhas e espalhando notas para todos os lados. Me sentei em seu colo, sem interromper o beijo. O rapaz levou suas mãos de meu rosto até minha cintura. Afastei-me rápido demais.

— O que? – Percy tirou suas mãos de minha cintura – Eu machuquei você?

Eu o olhei pela milésima vez naquela noite. Ali, tão próximo, eu podia contar os fios de sua barba rala, podia ver aqueles olhos verdes cheios de preocupação, as pupilas dilatadas.

— Annie? Me desculpe, eu...

— Acho que você não poderia me machucar nem se quisesse – Eu trouxe suas mãos de volta até minha cintura.

Ele franziu as sombrancelhas e eu sorri.

— Você fica tão fofo quando faz isso – Eu murmurei e toquei seu rosto e ele me olhou daquele jeito – Eu conto pra você uma coisa importante, se você me contar algo também.

— O que quer saber?

— O que eu faço para você me olhar esse jeito? – Questionei, ele pareceu confuso – Quando eu chamo você pelo seu nome de verdade, ou quando toco seus cabelos ou pontuo alguma característica sua que ninguém percebe, como o fato de você comer com um padrão de movimentos.

Ele deu uma risada, as bochechas coradas de vergonha.

— Bem, considerando a posição em que estamos – Ele olho para minhas pernas trançadas em seus quadril – Vai ser um pouco estranho.

— Você quer que eu saia?

— Definitivamente, não.

Eu ri e coloquei minhas mãos em seus ombros e ele colocou as suas em volta de meu corpo, em um abraço.

— Você podia ir primeiro.

— Certo – Senti minhas bochechas ficarem vermelhas – Eu acho que vou ter que sair, de qualquer maneira.

Sai de seu colo e voltei a ficar de joelhos, ele permaneceu sentado encostado na cama o olhar ainda preocupado.

— Eu menti para você – Murmurei – Eu... Luke... Ele... Bem, então, ele meio... hum...

— Ele batia em você?

Confirmei.

— Muito – Completei. Abaixei minha cabeça – Ele saia, transava com todas as garotas da escola local e também com as da faculdade. E quando algo não saia do jeito que ele queria com elas ou com seu negocio, ele descontava em mim. Tudo que ele não podia fazer com elas, ele fazia comigo. E eu sempre acreditei que era tudo minha culpa, que eu estava fazendo algo errado e que eu merecia.

Deixei o primeiro soluço escapar.

— Mas não era! – Eu neguei – Eu não merecia nada daquilo e eu não ia esperar até ele usar a arma que ele tinha embaixo do colchão em mim. Não ia! Eu não podia continuar lá, Percy. Eu queria deixa-lo, só precisava de um motivo! E então ele me traiu com Piper e eu...

Percy me puxou de volta para perto dele e me abraçou.

— Não era minha culpa – Eu continuei murmurando – Não. Eu não fiz nada de errado.

— Não fez – Percy acariciou meus cabelos e murmurou varias coisas que eu não conseguia entender, mas agradecia por ter seus braços ao meu redor e seus lábios próximos ao meu ouvido.

Eu enxuguei meu rosto e o encarei. Estava de volta em seu colo. Ele sorriu e beijou minha bochecha. Sorriu de volta para ele e encostei minha cabeça em seu ombro.

— Você me lembra a minha mãe – Ele disse depois de um tempo – Ela era bonita, teimosa, impulsiva e observadora que nem você. Ela sabia todas as minhas manias e ela amava todas. E eu sinto falta dela todos os dias.

Eu suspirei e o abracei com força.

— Vai sentir minha falta?

— Vou – Ele confirmou, beijando minha testa – Todos os dias.

Puxei seu rosto para o meu e o beijei novamente. Me levantei e o puxei junto, ainda o beijando. Tropeçamos em pilhas e pilhas de dinheiro e Percy sorria enquanto me encaminhava para a cama. Ele me colocou com todo o cuidado na cama e se pôs sobre mim, suas mãos indo de minha cintura para a minha perna e de volta para meu rosto.

— Percy – Eu chamei quando ele tocou  aponta da minha blusa -  Não é bonito.

— Eu não estava esperando que fosse – Negou, beijando meus lábios.

Eu o ajudei a tirar minha camiseta e fechei meus olhos, minha respiração estava descompaçada.

— Essa aqui é mais recente – Ele tocou com a ponta dos dedos em minha cintura.

— É – Eu abri meus olhos e levei seus dedos até o inicio de minhas costelas – Essa foi a primeira.

— Você sabe a ordem de todas? – Ele perguntou. Confirmei – Mostra mim.

Toda vez que eu levava seus dedos até alguma parte de meu corpo, ele as beijava. Quando ele chegou até minha cintura, eu soltei uma risada.

— Cocegas – Eu empurrei seus ombros quando ele tentou me beijar de novo – Percy, não!

Mas ele já tinha me puxado pelas pernas de volta para seu colo e começado a beijar meu rosto.

— Hum – Eu murmurei – Eu acho que alguma vez ele machucou minha boca. Mas já deve ter sumido.

Percy riu e beijou meus lábios.

— Bom, a gente tem a noite toda pra eu beijar cada parte do seu corpo, certo? E eu acho que devo ter uma ou outra você também.

— Bem, então é melhor começarmos logo.

...

Eu perdi a noção de a quanto tempo eu vinha observando Percy. Ele dormia tranquilamente, seu peito subindo e descendo e eu podia ouvir as batidas de seu coração, tamanho era o silencio no lugar.

Soltei um longo suspiro e prendi a vontade que eu sentia de chorar. Livrei-me de seus braços com cuidado. Já amanhecia e eu tinha varias coisas para fazer.

Comecei a recolher o dinheiro do chão e o coloquei dentro da mochila, deixando uma pequena quantia de fora. Esta, coloquei na minha mala de roupas. Peguei uma saia e a blusa social que Percy usava ontem e fui para o banheiro. Quando sai, já vestida, ele ainda dormia e não parecia que iria acordar tão cedo. Mesmo assim, eu precisava ser rápida.

Puxei um bloquinho de notas que o hotel oferecia e comecei a escrever.

Sr. Percy Jackson.

Bem, era de se esperar que eu fizesse algo do tipo, considerando o lugar em que nos conhecemos.

Eu sinto muito que esteja fazendo isso por uma carta, mas eu não sou boa com despedidas. Pelo menos não quando se trata de algo bom.

Não vou deixar que me pague e vou deixar cem mil para você. Eu quero que você ajeite o restaurante da sua mãe, quero que contrate alguém para trabalhar lá, quero que volte a fazer faculdade como conversamos ontem a noite, quero que pague Mike ou então que vá a policia, mas fique vivo. E quando tudo estiver em seu lugar, quero que vá me visitar em São Francisco. Quero que pague pelo conserto do meu carro e um jantar em um restaurante chique de lá. E quero que me conte tudo sobre a faculdade e tudo sobre a firma que vamos abrir quando ambos estivermos formados, casados de verdade. E então podemos voltar em Las Vegas e apostar tudo no preto.

Quero que seja feliz e que se lembre de mim todos os dias. Pois eu me lembrarei de você todos os dias. E se por algum motivo não nós encontrarmos de novo, vou lembrar de você e nossas aventuras em nosso carro de fuga, até o dia em que eu morrer.

Foi a melhor noite da minha vida e o melhor dos crimes.

Você vai aceitar o dinheiro ou eu ficarei muito magoada.

Adeus, Percy.

Sra. Annabeth Jackson

Ps: Eu realmente espero que vá me visitar em São Francisco.

Ps2: Vou dar o numero de celular da minha assistente e ela só vai dizer onde eu moro quando você estiver matriculado na faculdade. Ela se chama Thalia.

Dobrei o papel e coloquei sobre a mochila. Caminhei até a cama e beijei seu rosto. Ele se remexeu, mas não acordou. Toquei seus cabelos uma ultima vez e então sair do quarto.

Estava quase chegando em meu carro no estacionamento quando senti uma mão agarrar meu braço e segundos depois alguém me beijou.

Era um beijo urgente. Os lábios de Percy estavam ainda mais salgados e eu sabia que era por conta das minhas lagrimas.

— Ah, mas você não ia embora sem me beijar uma ultima vez – Ele murmurou quando nos soltamos.

— Você não leu a carta.

— Não li.

— Eu preciso ir, Percy – Solucei e segurei seu rosto com mais força.

— Eu sei que precisa – Ele me beijou mais uma vez.

— Você vai fazer tudo que eu escrevi na carta.

— Eu vou pensar – Ele respondeu.

— Vai fazer!

— Okay, vou fazer – Ele concordou e me beijou mais uma vez.

Ele caminhou comigo até o carro e abriu a porta para mim. Se apoiou na janela e eu o beijei mais uma vez.

— Não chore – Ele pediu e limpou meu rosto – Vai ficar tudo bem.

— Eu sei.

Eu o olhei. O rapaz que tinha um restaurante na beira da estrada. Que sabia que usar uma arma e que iria para New York só para bater no meu ex namorado. Que tinha ido até Las Vegas comigo, meu amuleto da sorte. Cheio de padrões e cheio de mistérios que eu ainda queria descobrir.

Que tinha os lábios salgados e quentes mesmo que não estavam molhados pelas minhas lagrimas.

O beijei mais uma vez.

— Adeus, Percy.

— Adeus, Annie.

Liguei o carro e comecei a sair do estacionamento. Olhei pelo retrovisor e vi Percy acenando para mim, aquele sorriso simples e acolhedor que tinha me dado quando perguntou o que eu gostaria de almoçar. E eu sorri de volta, mesmo que ele não pudesse me ver. Pelo menos não agora, porque sabia que nos veríamos de novo, e eu poderia apreciar seus diferentes sorrisos e lhe retribuir com os meus.

Dirigir sem olhar novamente para trás.


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Notas finais do capítulo

Fazer as contas matematicas dessa one já foi minha revisão para as provas da semana que vem.
Eu espero que vocês tenham gostado porque eu adoreiii escrever ela. De verdade. Foi uma das ones mais quentinhas de escrever.
Oh, qual a faixa do reputation favorita de vocês? A minha é essa e Gorgeous. E tem Dress que eu acho (eu tenho certeza) que foi escrita pro Ed rsrsrs. Se vocês não gostam de Taylor, qual os artista pop que vocês gostam?
Eu queria desejar uma Pascoa abençoada e topson pra vocêssss. E um bom feriado também. Vão viajar? Se aqui em Bellondon não estivesse chuvendo 24/7 seria melhor, mas fazer o que. Vou ficar em casa, vou pra cantata, vou botar minhas series e meus animes em dia e responder muitos templates no insta rs
Beijão, menines. Amo vocês e até a proxima (que eu espero não demorar muito!) ♥ ♥
Maah.