Um Caminho Para O Coração escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 16
Capítulo 15 — Olhe Para Ela


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!
O capítulo de hoje dedico a Call Me Queen pela linda recomendação feita por ela. Obrigada, de verdade. Eu amei demais tudo que disse.

Agradeço, também, por todos os comentários deixados no capítulo anterior. Adorei ter a participação de vocês ;)

Espero que gostem do capítulo. Desejo a todos uma boa leitura!



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Olívia mal acreditou no que os olhos viram ao entrar na cozinha pela manhã, carregando a mochila nas costas, a cara ainda amassada de sono.

O papai estava preparando o café da manhã. Na mesa, sua tigela favorita ocupava o lugar sobre o jogo americano. A colher ao lado, pronta para ser usada. Panquecas fresquinhas e um pote de mel também estavam ali.

Para ter certeza de que não estava sonhando, coçou os olhos uma vez, fechou e tornou abri-los. Era real, o papai estava mesmo esperando por ela com o café da manhã na mesa.

Emmett notou que ainda usava as tranças feitas por Rosalie na noite anterior, quando chegou do trabalho e as encontrou na sala.

— Senta lá! — Ele indicou, com um movimentar de cabeça, a cadeira onde Olívia costumava sentar durante as refeições. — Tem mingau de aveia, também.

O sono desapareceu do rosto de Olívia cedendo lugar a uma felicidade inesperada. Ela deu uma última olhada do pai para a mesa e correu para ocupar seu lugar. Segurou a colher com ansiedade. Viu, também, que na tigela ao lado tinha banana picada e morangos. Levantou a vista para olhar o pai com um sorriso no rosto. Ao provar a primeira colherada do mingau, fechou os olhos saboreando a refeição, diferente do que estava acostumada todas as manhãs. Provou da banana e dos morangos, mas, satisfação maior sentiu ao provar as panquecas com mel. Pensando que eram realmente saborosas.

Emmett prestou atenção em cada gesto e expressão em seu rosto.

— Gostoso! — Olívia soltou de repente. — Muito gostoso — disparando a comer sem intervalos. Os ombros curvados para frente, quase se debruçando sobre a tigela e o prato.

Emmett ficou de pé ao lado da ilha, comendo uma torrada que a pouco havia tirado da tostadeira. Ainda sentia o calor nos dedos ao segurá-la.

Olívia fez uma pausa, olhando para ele. Emmett viu o brilho naqueles olhos escuros, pensando como era possível alguém ficar tão contente por tão pouco.

— Você fez isso também, papai?

Emmett olhou a torrada que havia acabado de morder e então para Olívia novamente. Sem reclamar, retirou a segunda torrada do prato e levou para ela na mesa.

— Aqui, você pode comer essa. A pasta de amendoim e a geleia acabaram, mas você pode pôr o mel em cima.

— Obrigada, papai! — Ela mordeu a torrada devagarinho, e enquanto mastigava emendou: — Assim também está bom. Eu gosto mesmo.

Emmett balançou a cabeça. — Não fale de boca cheia. — lembrou, voltando para junto da ilha onde tinha deixado à xícara de café preto.

Pelos próximos minutos, continuaram apenas desfrutando do café da manhã incomum. Após o último gole de leite, Olívia levantou chegando perto do pai, passando os braços em torno das pernas dele. Emmett desviou os olhos da janela sobre a pia da cozinha no instante que sentiu o pequeno abraço a envolver suas pernas. Olhou para baixo e seus olhos encontraram com os da filha. Não soube o que fazer, nem o que realmente sentiu. Mesmo com todo descaso e indiferença todos esses anos, aquela garotinha o amava.

Gentilmente a afastou de suas pernas. Olívia juntou as mãos em frente ao corpo abaixando a vista, sem saber o que esperar.

— Vai perder o horário do ônibus senão se apressar — ele lembrou. — Se ainda não escovou os dentes, faça isso.

Olívia correu até o lavabo, quando retornou sua roupa estava molhada na altura do estômago. O papai não estava na cozinha quando entrou para pegar a mochila em cima da cadeira onde havia deixado.

Encaminha-se a porta da frente e, com a mão na maçaneta, olhou para os lados esperando que ele fosse aparecer para se despedir, mas não apareceu. De repente, toda alegria que sentiu com a companhia dele durante o café da manhã, começou diminuir. Ela saiu para a varanda com os ombros curvados, temendo que momentos como o que acabou de viver não voltasse acontecer.

Emmett só entrou na sala depois de ouvir a porta sendo fechada. Chegou perto da janela, espiando por entre a cortina. Olívia já estava na calçada, seguindo sozinha para o ponto de ônibus. Não demorou, o veículo amarelo passou. Ele a viu, sozinha, sentada ao lado da janela. Pela primeira vez se deu conta que a filha não tinha amigos na idade dela, que fossem reais.

Lembrou-se de Rosalie, de todas as coisas que lhe disse na noite anterior, palavra por palavra. A lembrança por pouco causou o mesmo efeito. Finalmente, se afastou da janela e voltou à cozinha para arrumar a louça antes de sair para o trabalho.

[…]

As três e quarenta e cinco, quando Olívia chegou da escola, Rosalie esperava por ela no ponto de ônibus novamente. Assim como na primeira vez, trazia uma sacola pendurada no braço. Dessa vez havia comprado livros de colorir, giz de cera, um jogo de tabuleiro e um pijama de inverno.

Recebeu Olívia ainda na porta do ônibus como havia feito no dia anterior. Caminhou com ela no colo até chegar em frente a casa de Emmett. Surpreendeu-se ao ver a Sra. Smith chegar praticamente junto com elas.

— Você outra vez?! — queixou-se a vizinha rabugenta.

— Olá, para a senhora também.

A mulher passou por elas tomando a frente sem cerimônias.

— Você não precisa vir aqui todos os dias — resmungou.

Rosalie pôs Olívia no chão, segurou sua mão fria, caminhando pelo jardim sombrio no qual evitava se concentrar toda vez que tinha de passar por ele.

— Com todo respeito, isso quem decide não é a senhora — respondeu de volta.

Olívia puxou de leve suas mãos unidas, olhando para cima, buscando o olhar de Rosalie.

— Não quero que vá embora — sussurrou para que a outra não ouvisse.

— Não se preocupe meu anjo. Não irei até seu papai chegar.

— A gente pode brincar de bonecas?

Rosalie sorriu para ela.

— Claro que sim — então se dirigiu a mulher a sua frente. — A senhora não precisa ficar com a gente. Pode só abrir a porta e voltar para sua casa. Tenho certeza que ficaremos bem.

A Sra. Smith resmungou qualquer coisa. Olívia e Rosalie olharam uma para a outra, rindo baixinho.

A Sra. Smith não se demorou ao lado delas, logo foi para a cozinha preparar o jantar.

Rosalie entregou a Olívia o que tinha na sacola, recebendo um demorado abraço em agradecimento. De todas as coisinhas que recebeu dessa vez, o que mais encantou foi o pijama kigurumi de unicórnio nas cores rosa, branco e lilás.

Outra vez, ajudou a menina com a lição de casa. Quando terminaram, Olívia subiu para buscar as bonecas e foi ao retornar que Rosalie sentiu tristeza ocupar espaço em seu coração. Não existiam bonecas; eram, na verdade, a escova de cabelos, um frasco de desodorante vazio e uma caixa de sapatos. Rosalie descobriu que a escova de cabelos era a “Barbie”, o frasco de desodorante, o “Ken” e a caixa de sapatos, o carro da Barbie. Embora tenha se sentido triste, não fez comentário algum sobre as “bonecas”. Assim como Olívia, ela usou a imaginação para fazer a brincadeira acontecer.

A certa altura, Olívia adicionou o giz de cera amarelo à brincadeira dizendo ser a filha deles. De repente, Ken frasco de desodorante correu desembestado de um lado para o outro e começou gritar com a filha dizendo que fosse para o quarto, porque não queria ver a cara dela. Rosalie capturou o significado da cena no instante em que a viu. E quando perguntou onde estava a Barbie escova de cabelos, Olívia mostrou embaixo da almofada dizendo que ela tinha morrido. Esse era o motivo do Ken frasco de desodorante estar bravo com a filha e não amá-la mais.

Rosalie sentiu as lágrimas brotarem em seus olhos. Não resistiu ao impulso de colocar a criança no colo e abraçá-la. Disse para ela que o Ken frasco de desodorante não estava bravo e que amava sim a filha.

Olívia piscou e uma lágrima escorreu rapidamente em sua bochecha.

— Meu papai me ama?

— É claro que ele te ama, meu anjinho.

— Ele fez mingau hoje. E panquecas deliciosas. E tinha mel.

— Sim, ele fez.

Olívia tinha contado a ela a respeito do café da manhã, quando Rosalie foi à escola levar sua lancheira.

Ela beijou na bochecha de Olívia bem onde a lágrima escorreu.

— Que tal se a gente ouvisse um pouco de música?

A menina concordou com um movimentar de cabeça, saltando do colo dela em seguida. Rosalie levantou também. Ligou o aparelho de som ao lado da televisão, ignorando o pó acumulado em algumas das entradas. Buscou uma estação que tocasse músicas alegres. Segurou nas mãos de Olívia e juntas começaram a dançar, sem seguir nenhuma coreografia, apenas dançar por dançar, aproveitando todo o espaço da sala.

A música levou a Sra. Smith verificar o que acontecia. Ao encontrá-las se divertindo, não se importou em desligar a música.

Rosalie e Olívia pararam de dançar quase que imediatamente, olhando uma para a outra, sem entender porque a música tinha parado de repente.

— A música está proibida nessa casa — a vizinha se queixou.

As duas olharam para ela.

— Como assim, proibida? — Rosalie pediu.

— Proibida, ora essa — resmungou a Sra. Smith, se virando de costas, pronta para voltar à cozinha. — Não volte a ligar esse rádio ou ele vai ficar furioso.

— Não pode? — Rosalie perguntou a Olívia.

— Não pode — a menina confirmou com semblante triste.

— Tudo bem. — Rosalie acariciou as costas dela. — A gente pode brincar de outra coisa. A música pode ficar para outro momento.

Elas então pegaram o jogo de tabuleiro e puseram em cima da mesinha de centro, onde antes esteve o material escolar, os livros de colorir e o giz de cera. Acabaram jogando duas partidas, antes de Rosalie decidir que era hora de levá-la para o banho.

Mais tarde, Olívia desceu a escada de mãos dadas com ela, usando seu novo e bonito pijama kigurumi de unicórnio. Por vezes, admirando e acariciando o tecido macio e aconchegante que abraçava seu corpo miúdo.

Antes que alcançassem o último degrau, a Sra. Smith já estava reclamando.

— Essa menina já deveria ter jantado. Daqui a pouco o pai dela está aí.

— Ótimo! — Rosalie declarou, dando a volta em torno do sofá para poder sentar.

Olívia soltou sua mão indo buscar o controle da televisão.

— Hoje ela vai esperar o papai acordada, não é querida? — Rosalie comunicou. A menina sentou ao seu lado no sofá. Ela começou mexer nos cabelos de Olívia, fazendo uma única trança.

— Olha Rose! — Olívia mostrou na tela da televisão onde passava o desenho da Vampirina. — Você gosta desse desenho?

— Sim. Mas você pode escolher outro se não quiser ver esse agora. — Ela prendeu a ponta da trança de Olívia com o elástico que tinha no bolso. A menina segurou a ponta da trança reparando no elástico de cabelo assim que terminou.

— Esse é seu?

— Eu o empresto pra você. — Rosalie recebeu um sorrio, antes de ela voltar à atenção para a tela da televisão. Passou a mão na testa da menina, afastando alguns fios que ficaram soltos no rosto. Olívia se aconchegou ao lado esquerdo de seu corpo, segurou sua mão e ficou mexendo em seus dedos, com os olhos atentos a tela da televisão.

Rosalie percebeu a Sra. Smith olhando para elas de esguelha. Teve a impressão de a mulher estar enciumada com a proximidade das duas. Não entendeu o motivo, se queria o carinho de Olívia porque a tratava tão mal.

— A senhora pode ir embora se quiser. Talvez esteja cansada. Eu fico com Olívia e assumo qualquer responsabilidade.

— Você bem que queria ficar sozinha com a menina, para ficar ouvindo aquelas músicas alegres e mexendo nas coisas alheias.

— Ah, por favor — Rosalie respondeu devagar.

— Não pense... — A Sra. Smith dizia, quando a porta da frente foi aberta e Emmett passou por ela, trazendo apenas as chaves na mão. Nada de bebida alcoólica, reconheceu grata pela ausência do álcool ao menos por aquela noite.

Ele retirou o casaco, deixando no gancho ao lado da porta.

Como na noite anterior, Olívia saltou do sofá para recebê-lo.

— Papai, papai.

Rosalie observou ela correr para o pai, toda contente, usando o pijaminha novo e quentinho, pronta para mostrar a ele o novo penteado. Então pensou, “por favor, dê atenção a ela. Não a ignore dessa vez”.

— Olha papai! — como previu, Olívia mostrou o pijama e o penteado. Chegou mais perto e ele recuou. — Você gostou do meu pijama bonito e do meu cabelo? — pediu esperançosa.

O olhar de Rosalie cruzou com o dele. Ela aproveitou a chance, movendo os lábios pedindo, por favor. Ele não pareceu muito contente, mas acatou o pedido. Tocou de leve nos cabelos da filha se esforçando em dizer o que esperava ser dito.

— Bonita — falou de maneira desconfortável. — O pijama também é muito bonito — o contato não levou mais que alguns segundos, mas foi suficiente para trazer alegria aos olhos daquela criança. Aos olhos do pai, reconhecimento e saudade. Ele apertou os olhos ao afastar a mão dos cabelos da filha. Naquele momento, Rosalie soube que pensava na esposa falecida.

Olívia saltitou para junto dela, alheia aos pensamentos do pai.

— O papai gostou — comentou alegre.

A Sra. Smith achou que tinha o direito de interferir.

— A menina ainda não jantou — para o desespero dela, Rosalie a interrompeu.

— Olívia esperou para jantar com você.

— Ela sempre janta antes, quando estou trabalhando.

— Então hoje será um jantar especial.

Olívia olhou de um para o outro, gostando que estivessem falando sem brigar.

Emmett olhou para a filha, reconheceu que estava diferente com o pijama novo e os cabelos arrumados. Viu expectativa no rostinho dela e também amor. O amor que tinha por ele, puro e incondicional.

A Sra. Smith ficou de pé.

— Agora que você chegou, posso ir embora.

— Obrigado! — ele disse a ela. E seu olhar foi outra vez direcionado a Rosalie, aguardando. Ela entendeu o gesto, se pondo de pé em seguida.

— Eu também já vou indo, Ollie.

Olívia se agarrou a ela, pedindo:

— Não vá. Fique para jantar com a gente.

Rosalie lançou o olhar de soslaio ao pai da menina. Emmett continuava com a mesma expressão de desconforto.

— É melhor eu ir, Ollie.

Olívia buscou o olhar do pai.

— Por favor, papai, deixe Rose ficar.

Ele parecia pouco a vontade, mas acabou cedendo.

— Ela pode ficar só mais um pouco. Assim não vai sair por aí dizendo que neguei um prato de comida. — resmungou, virando as costas, seguindo o caminho da cozinha.

— Obrigada — Rosalie murmurou para a menina.

A voz de Emmett a surpreendeu vindo do outro cômodo.

— Quem sabe depois desse jantar não mude de ideia sobre voltar a esta casa.

Ela ignorou seu comentário, segurando na mão de Olívia.

— Venha querida, eu vou pôr o seu jantar.

A menina desligou a televisão. Ao vê-las chegando, Emmett resmungou:

— Não pense que vou pôr a mesa, nem mesmo me sentar com você. — ele tinha um prato na mão, posicionado de pé a alguns passos do fogão.

— Não estava esperando por isso. — Rosalie foi até os armários pegar a louça e levar para a mesa. — Vem, Ollie, senta aqui. — Ajudou a menina sentar à mesa. Em seguida, respondeu a Emmett: — Não esperava nada diferente vindo de você.

Ele sentou na banqueta diante a ilha. Ignorando a presença de Rosalie, começou comer seu jantar.

Rosalie serviu seu prato e o da menina. Diferente de Emmett, as duas comeram sentadas à mesa. Vez por outra, olhava na direção de onde ele estava, mas ele estava empenhado em fingir que ela não estava ali.

A comida não era muito boa, mas não iria fazer desfeita com Olívia. Nem seria isso a fazê-la desistir de voltar a casa deles. Em certo momento, notou o olhar de Olívia para o pai, sabia o quanto queria estar pertinho dele. Eram tão poucos os momentos que tinham juntos. Esse também tinha sido o motivo de insistir que esperasse por ele acordada.

— Quer sentar perto do papai, Ollie? — A menina assentiu com um leve movimentar de cabeça. Rosalie não hesitou em levantar, pegar o pratinho dela e levá-la para sentar na banqueta ao lado pai.

Emmett a encarou quando deixou o prato ao seu lado.

— Olívia esperou para jantar com o pai, não comigo. — Acomodou a menina ao lado dele sem se importar com a cara emburrada. — Vou voltar pro meu lugar à mesa, fique tranquilo.

Olívia aguardou, olhando o pai com uma expressão de ansiedade e medo.

— Come aí — ele murmurou, voltando a comer. Olívia procurou por Rosalie com o olhar. De onde ela estava, piscou um olho para a menina.

De tempos em tempos, Rosalie a via levantar o rosto e olhar para o pai. Embora ele estivesse concentrado na própria comida, Olívia parecia satisfeita.

Quando terminou, levou Olívia para escovar os dentes. Emmett ficou limpando a louça. Depois levou o lixo para fora.

Rosalie a pôs na cama e leu um pouco para ela antes de dormir. Deu um beijo de boa-noite e a deixou com seus maiores tesouros, o cobertorzinho e a ovelha de pelúcia.

Entrou na cozinha no momento exato que Emmett retornava, depois de deixar o lixo do lado de fora.

— Não precisa me expulsar. Eu já estou indo embora, só queria dizer que eu sei que hoje deu o café da manhã para ela. Olívia me contou. Foi um bom começo.

Ele se aproximou da pia, abrindo a torneira para lavar as mãos.

— Não pense que vai ficar me dizendo o que fazer.

— Não faço isso para te irritar. Faço para ver Olívia feliz.

Emmett se virou de frente para ela.

— Por quê?

— Porque eu gosto da Ollie. Tenho um carinho muito grande por sua filha e ela por mim. Gostamos da companhia uma da outra.

— Você não é mãe dela.

— Não, eu não sou. Mas você não pode achar ruim, não tem sido um pai de verdade para ela. Se tivesse, Olívia não teria buscado carinho e afeto em mim.

— Por que você?

— Eu não sei.

— Por que veio para cá? Quero dizer, para Edenton? Este não me parece o lugar que uma mulher como você escolheria para viver. — Ele a olhou dos pés a cabeça, reparando bem nas roupas que vestia. Rosalie sentiu o corpo aquecer sob o olhar avaliador dele.

— Não vou falar com você sobre isso, a menos que esteja realmente interessado em saber.

Emmett meneou a cabeça.

— Olhe ao redor. Está acostumada a coisas boas. Como aguenta estar aqui?

— Isso realmente não importa para mim. Meus pais têm muito dinheiro? Sim. Eu cresci rodeada de luxo? Sim. Mas e daí? São minhas atitudes que dizem quem sou não o dinheiro de minha família.

— Certo. — Ele se afastou, andou de um lado para o outro, por fim, saiu da cozinha. Quando voltou, trazia consigo o aspirador de pó.

— O que vai fazer? — Rosalie pediu.

— Aspirar ao chão da cozinha, não parece obvio para você?

— Vai acordar a Ollie se fizer isso. Não pode deixar para aspirar outra hora?

— Eu trabalho o dia inteiro. Ela não vai acordar, já está acostumada.

— Quer ajuda, então?

— Pensei ter ouvido você dizer que estava de saída.

Rosalie olhou em volta e então no rosto dele.

— Tem razão.

— É claro que tenho.

Ela se encaminhou para fora da cozinha, parando um instante para falar:

— Obrigada pelo jantar.

— De nada.

Momentos depois, ao ouvir a porta da frente fechar, ele ligou o aspirador de pó. Enquanto limpava o chão da cozinha, pensou apenas que queria acabar logo com aquilo, então tomar um banho e se deitar no sofá.

Mais tarde, enquanto subia a escada, pensou em Rosalie e Olívia. Como pareciam gostar uma a da outra. Em tão pouco tempo tinham criado um forte laço de carinho e afeto. De repente, ficou curioso sobre quem era Rosalie Hale de verdade. Os motivos que a levaram a Edenton.

Era evidente que Olívia a adorava e a queria por perto. Mas, e quanto a ele, a queria por perto também?

[…]

No dia seguinte, Rosalie esperou por Olívia no ponto de ônibus mais uma vez. Como tinha acontecido nas outras vezes, tinha uma sacola pendurada no braço com presentes para a menina. Sacola essa que passou despercebida, para Olívia o melhor presente era sua companhia. O sorriso no rosto e o brilho nos olhos diziam mais que palavras.

Rosalie perguntou sobre seu dia. Enquanto caminhavam de mãos dadas, Olívia lhe contou tudo o que tinha feito na escola.

Sentaram nas cadeiras de vime na varanda, aguardando a Sra. Smith aparecer e abrir a casa.

— Ollie — Rosalie mostrou a sacola para ela —, trouxe umas coisas para você.

— Mas você já me deu um presente no outro dia. Por que está me dando outro? Assim vai gastar todo o seu dinheiro. Eu não quero que fique brava.

— Não se preocupe, não vou gastar todo o meu dinheiro. E eu nunca ficaria brava com você.

— Você é rica?

— Meus pais são. Eu tenho um bom emprego e tenho um dinheirinho guardado, também. — Ela colocou a sacola no colo de Olívia. — Abre meu amor, você vai gostar.

Olívia olhou da sacola para Rosalie e novamente para a sacola. Rosalie moveu a cabeça indicando que abrisse. Olívia deu uma risadinha, e devagar colocou a mão dentro da sacola. Ela foi tirando o presente aos poucos e quando percebeu que eram duas bonecas, seus olhos se arregalaram.

— São bonecas de verdade — declarou surpresa. Os olhos se encheram de lágrimas. — Duas lindas Barbies — continuou.

Rosalie teve uma breve lembrança da noite anterior, quando brincaram com a escova de cabelos e o frasco de desodorante fingindo serem bonecas.

— Você gosta muito da Barbie, não gosta?

— Ahã. — Ela olhou nas bonecas que segurava, sem acreditar. Quando olhou novamente para Rosalie, tinha lágrimas na bochecha. — Abre pra mim? — ofereceu a caixa a Rosalie.

— Abro, sim. — Cuidadosamente desprendeu ambas as bonecas dos ganchinhos e tirou de suas respectivas caixas. — Na loja que fui o Ken estava em falta, mas assim que encontrar pego ele para você — se explicou. — Ah, e o carro também.

Olívia encostou as bonecas ao peito, fechando os olhos por um momento.

Rosalie não conseguiu conter a emoção de vê-la satisfeita com o presente. Quando decidiu comprar as bonecas, não imaginou o quanto seu gesto fosse significativo.

— Obrigada, Rose — Olívia murmurou estendendo o braço para envolvê-la. — Obrigada. — Olhou as bonecas presas ao outro braço. — São tão lindas. Até parece que tô sonhando. Arco-íris vai gostar que agora tenho bonecas de verdade, e foi você quem deu elas pra mim. Poxa vida! Elas são mesmo muito lindas. Uau!

Rosalie afagou o rosto dela, limpando o caminho de lágrima.

— Aposto que sim. Arco-íris é uma boa amiga.

As duas se abraçaram novamente. Rosalie a colocou sentada no colo fez coquinhas na barriga dela, até que acabaram rindo juntas. Aos poucos as cocegas e as risadinhas foram parando.

Elas brincaram com as bonecas. Quarenta minutos mais tarde, nada da Sra. Smith aparecer. Todo aquele tempo do lado de fora estava preocupando Rosalie. A brisa fria soprava constantemente, de tempos em tempos Olívia se aconchegava a ela buscando seu calor.

— Ollie, que tal se a gente for à casa da senhora Smith pegar a chave da casa? — Lançou um olhar preocupado na direção da porta ao sugerir que fossem atrás da chave. — Ela está demorando muito hoje, não é?

— Eu tenho medo — murmurou Olívia, de cabeça baixa. Em momento algum havia largado a boneca. — Ela não gosta que chame na casa dela. Ela briga comigo se eu faço isso.

— Eu vou estar com você. Não permitirei que seja malvada. Vamos? — Rosalie se levantou, pegando a mochila e a lancheira. Deixando Olívia apenas com as bonecas.

Caminharam ao lado uma da outra, passando em frente algumas casas até finalmente chegar à casa da Sra. Smith. Nesse momento, Rosalie sentiu a mão de Olívia, de mansinho, envolver a sua. O olhar assustado. Quando tocou a campainha, a menina se escondeu atrás de suas pernas, em momento algum soltou sua mão.

Rosalie aguardou um instante para tocar uma segunda vez, e então uma terceira.

— Senhora Smith, a senhora está aí? — não houve resposta. — Senhora Smith? — mais uma vez ninguém respondeu. Tocou uma última vez antes de seu olhar encontrar o olhar assustado da menininha atrás de suas costas. — Acho que não tem ninguém em casa — comentou com a menina.

— O que nós vamos fazer? — perguntou Olívia.

— Vem, vamos embora daqui.

— Para onde a gente vai, Rose?

— Vou levar você comigo para casa de meu avô.

— O seu avozinho?

— Isso.

— E se ele não gostar de mim?

— Tenho certeza que ele vai adorar conhecer você.

— Ele é bonzinho? — pediu sem esconder a preocupação que sentia em ser aceita pela família de Rosalie.

— Não se preocupe Ollie. Vai ficar tudo bem, você vai ver.

— E o papai?

— A gente volta mais tarde. Assim seu papai já terá chagado em casa.

— Nós vamos de carro?

— Isso. Meu carro está estacionado perto da casa do seu papai, no outro lado da rua.

— É longe? — Olívia pediu enquanto faziam o percurso de volta, em direção à casa de Emmett.

— A casa do meu avô?

Olívia olhou para cima.

— Uhum.

— Não. Rapidinho a gente chega.

Olívia deu dois pulinhos ao lado dela, de repente parecendo ansiosa.

— Você quer correr?

A menina sacudiu a cabeça de forma positiva.

— No três, ok? — Rosalie continuou. Ela notou Olívia ficar ainda mais agitada. — Um, dois, três... — as duas dispararam pela rua, sem largar a mão uma da outra. Vez por outra, se ouvia uma risadinha.

Alcançaram o carro estacionado, ofegantes. Mas a expressão de contentamento não saiu do rosto de nenhuma das duas.

— Cansou meu amor? — Rosalie pediu.

— Foi divertido. — Olívia garantiu, esbanjando sorrisos.

Rosalie pegou a chave do carro. Acomodou Olívia no banco de trás ajustando o cinto ao corpo dela o melhor que conseguiu. Uma vez sentada ao volante, olhou para trás.

— Partiu casa do vovô?

— Partiu! — Olívia confirmou. Jogando a cabeça para o lado, começou cantar a música do desenho animado Puppy Dog Pals.

— Ah, mas eu não sei cantar essa música — Rosalie lembrou. — Você tem de me ensinar.

Assim, Olívia cantarolou pausadamente cada frase para que Rosalie conseguisse acompanhá-la na canção.

 


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