Um Caminho Para O Coração escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 39
Capítulo 38 — Um Sentimento Chamado Saudade




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Emmett despertou, ainda muito cedo, sabendo que precisava ir ao trabalho. Há dois dias não fazia isso para cuidar de Olívia em tempo integral, devido como ficou com a partida de Rosalie. Era hora de retomar a rotina. Ainda teria de voltar mais cedo para receber e ficar com Olívia depois da escola, e estava tudo bem com isso. Por outro lado, menos horas de trabalho, menos dinheiro traria para casa.

Sentiu algo se mover na altura do estômago, ao pôr a mão encontrou o pequeno pé de Olívia. Em algum momento, durante a madrugada, ela acordou e foi para sua cama. Segurando o pezinho, viu que dormia na horizontal da cama. A ovelhinha de pelúcia se encontrava de um lado e o cobertorzinho do outro. Os cabelos espalhados no lençol, e não usava o travesseiro. Cuidadosamente, se afastou deixando o pezinho descansar sobre o colchão. Passou a mão nos fios de cabelos bagunçados afastando do rosto.

— Minha garotinha — murmurou. Tocou sua testa, avaliando brevemente se estava febril. Ficou aliviado ao constatar que parecia normal. Poderia mandá-la à escola sem medo e voltar ao trabalho. Tocou na pontinha do nariz tentando acordá-la. Olívia empurrou sua mão e se virou para o outro lado.

Emmett achou graça de sua reação.

— Ei, amorzinho, precisa acordar agora.

— Não — a resposta veio com um gemido de preguiça. Os olhos fechados.

Um leve sorriso marcou os lábios de Emmett.

— Olívia — chamou seu nome. — Acorda Olívia — ele meio que cantarolou ao chamar por ela novamente. Cutucou a barriga e ela se encolheu. — Vamos, preguicinha. Precisa levantar para ir à escola.

— Escola não, papai. — Escondeu o rosto no cobertorzinho. — Escola, não.

Emmett tentou ver seu rosto pegando no cobertorzinho, mas não conseguiu.

— Escola, sim — afirmou.

— Não — ela voltou recusar, com voz de sono.

— Papai precisa trabalhar para conseguir dinheiro para que você e eu possamos ter uma vida legal. E você precisa ir à escola. — Afagou suas costas. — Aposto que Megan está sentindo sua falta na sala de aula. É a melhor amiga dela, não é?

Finalmente, conseguiu que se interessasse pelo assunto escola.

— Não acha que Megan sente sua falta?

— Uhun — concordou a menina. Em seguida, chegou mais perto abraçando o pai, cheia de preguiça. Emmett abraçou e beijou no alto de sua cabeça ruiva. Olívia esfregou o cobertorzinho na barba dele. E ele afastou o rosto fazendo graça. Olívia sorriu.

— Papai, você tinha um melhor amigo na escola quando era criança?

— Tinha, sim.

— Como ele se chamava?

— Zachary. Mas todos o chamavam por Zach. Ele era muito atrapalhado, sabia? — sorriu com a lembrança.

Olívia sorriu, voltando mexer na barba do pai.

— Papai vai te levar na escola hoje. O que você acha?

Um par de olhos escuros concentrados em seu rosto nem sequer piscou.

— É verdade, papai?

— Verdade, verdadeira.

— Não existe verdade mentirosa — ela desafiou.

Foi à vez de Emmett dar risada.

— Não existe mesmo. Você tem toda razão.

A risadinha acompanhou a sua.

— Então, vamos levantar?

— Vamos, papai. Fazer o que, né?

Emmett passou os braços dela em volta do pescoço.

— Segure — pediu. — Segurou?

— Sim.

Saiu da cama com Olívia grudada ao pescoço.

— O que minha macaquinha vai querer comer no café da manhã?

— Nada de banana — recusou a menina.

Seguiu pelo corredor, repetindo o que ela disse.

— Nada de banana. O que, então, minha macaquinha vai querer?

— Mel.

— Então você é uma abelhinha?

— Um bebê urso.

— Se você é um bebê urso, o papai é…

— O papai urso — respondeu em voz alta, desperta e risonha.

[…]

Olívia cantou com o pai algumas músicas infantis por todo o caminho até a escola. Ainda cantavam quando parou o veículo na área destinada à entrada de alunos que chegavam de carros.

— Chegamos! — disse. — Pronta para reencontrar seus colegas?

— Sim! — respondeu Olívia, animada.

Emmett saiu do carro e foi ajudar ela sair da cadeira.

Bem agasalhada, cabelos presos numa trança lateral, Olívia ficou ao lado do carro enquanto o pai pegava mochila e lancheira. Ele pôs a mochila em suas costas e permaneceu com a lancheira. Fechou a porta do carro, segurou sua mão pequena e a levou até a porta da escola. Olívia estava saltitante. A todo tempo erguia a cabeça para olhar em seu rosto. Antes de ela entrar, se abaixou para falar com ela:

— Você vai voltar no ônibus escolar, mas o papai vai estar te esperando quando chegar ao ponto.

Olívia meneou a cabeça. Emmett lhe entregou a lancheira, por fim.

— Seu lanche — disse.

Braços miúdos envolveram seu pescoço.

— Te amo, papai.

Quando ele voltou ficar de pé, encontrou Alice, olhando os dois, a poucos metros de onde estavam.

— Tchau, amorzinho. Tenha um bom dia. Papai te ama muito.

Olívia caminhou para junto de Alice, que afagou seus cabelos. Emmett acenou para a filha e ela acenou de volta. Então, voltou para o carro e partiu.

Olívia seguiu em direção à biblioteca, imaginando que pudesse encontrar Rosalie por lá. Rachel a recebeu com um sorriso amigável.

Esperançosa, Olívia verificou todos os corredores confirmando a ausência de Rosalie.

Rachel se aproximou.

— Posso te ajudar?

Olívia olhou para ela, e outra vez o fim do corredor.

— Não está — contou.

— Quem ou o quê está procurando, querida? Se me disser o que procura, talvez eu possa ajudar encontrar.

— Minha mamãe Rose.

— Ah, ela não está aqui.

— Então está mesmo em Atlanta — concluiu Olívia, com saudades.

Megan entrou na biblioteca, chamando em voz alta:

— Olívia! Olívia!

Rachel se virou, levando o dedo à boca indicando que fizesse silêncio.

— Sem barulho aqui dentro, mocinha — advertiu.

— Desculpe — sussurrou a menina. Mas, gritou logo depois. — Olívia.

Rachel balançou a cabeça.

As duas crianças deram-se as mãos e saíram da biblioteca com rostinhos felizes.

— Tia Alice disse que você estava aqui.

Uma terceira menininha, Stacy, que participou da festa do pijama na casa de Megan, encontrou ambas no caminho indo juntas para a sala de aula.

A senhorita Hannah estava na porta recebendo as crianças, cada uma com a saudação de sua preferência. Megan se posicionou atrás do garotinho de cabelos escuros, que escolheu o high five, tocando suas mãos no alto. Megan e a professora fizeram uma dancinha. Stacy escolheu aperto de mão. E Olívia, abraçou a professora.

Hannah sussurrou para ela:

— Bem-vinda de volta, querida.

[…]

— Vai retornar ao museu agora? — Isabella questionou ao saírem do restaurante no início da tarde, após almoçaram juntas.

Rosalie verificou o horário no visor do celular.

— Ainda não.

— Vem comigo? Preciso que me ajude escolher o presente de aniversário da mãe de Edward. Ela faz aniversário em dois dias e eu não sei ainda o que comprar.

Rosalie parou ao lado do carro da amiga. Visto que Isabella a pegou no museu e prometeu levá-la de volta.

— Você é muito indecisa. Ainda preciso voltar…

— Relaxa — Isabella desativou o alarme do veículo. — Não vou demorar nada. — Rosalie a olhou, desconfiada. — Eu prometo — garantiu Isabella. — Você me deve essa, me largou sozinha aqui por um bom tempo.

[…]

Na loja de departamentos, Isabella avaliou a bolsa que Rosalie sugeriu.

— É linda. Tenho certeza que a mãe dele iria gostar muito. Mas tem um erro gravíssimo aqui — pontuou Isabella.

Rosalie chegou mais perto, avaliando outra vez a bolsa.

— Onde? — pediu pelo erro ao qual a amiga se referia.

— Na etiqueta.

— Não tem nada de errado com a etiqueta.

— Amiga, como não há nada errado. Você já viu o preço disso? Não vou gastar tanto assim com um presente. Me recuso.

Rosalie deu risada.

— Certo! Vamos achar algo mais barato.

Enquanto Rosalie se virava para continuar olhando as coisas, Isabella esclareceu:

— Não sou herdeira de coisa alguma.

— E eu sou?

— Quer mesmo que eu responda?

— Não acha que sua adorável sogra merece uma bolsa como essa? — brincou.

— De verdade?

Rosalie balançou a cabeça, com um sorriso surgindo nos lábios.

— Amiga, eu sou plebeia. Não posso gastar tanto assim.

Depois de muito avaliar as possibilidades, Isabella encontrou, com ajuda de Rosalie, o presente da mãe de Edward por um preço que julgou justo.

Presente finalmente escolhido, as duas foram à seção de roupas. Cada uma foi para um lado. Rosalie acabou na seção infantil, com o pensamento em Olívia. Uma única peça de roupa para si mesma, pendurada no braço. As cores alegres e as estampas de unicórnios lembrava muito Olívia. Mas, as saias de tule, foram o ponto forte. Olívia tinha algumas saias naquele modelo, e ela adorava.

— Que saudade do meu anjinho — se pegou falando sozinha. No instante seguinte, uma das saias estava em suas mãos. A pequena peça de roupa branca com estrelinhas prateadas trazia boas lembranças.

Em um relancear de olhos, notou no final do corredor, onde ficava as roupas para bebês, a presença de outra mulher de cabelos louros. Ela estava de costas, havia algo familiar em seus movimentos e no porte físico. No ângulo que seu rosto estava agora, reconheceu Irina. A barriga bem aparente. Achou a irmã ainda mais bonita com a barriga de grávida. Lembranças da gestação que não conseguiu levar até o fim, trouxe uma pontada de tristeza e até ciúmes.

Observou de longe, desejando muito se aproximar.

Irina escolheu alguns kits de bodies para recém-nascidos em cores que poderiam ser tanto para meninas quanto para meninos. Quando se virou em sua direção, imediatamente disfarçou que a observava.

Estranhou a irmã estar usando óculos escuros enquanto escolhia roupas para o bebê. Olhou de novo para ter certeza. Foi aí que Irina notou sua presença, e não se importou em disfarçar o desconforto por encontrá-la.

— Rose — o tom de voz demostrou não acreditar que a irmã estivesse de volta.

— Oi — Rosalie não pôde evitar olhar sua barriga.

Irina pareceu se incomodar ao encobrir a barriga com os braços usando também às roupinhas como um escudo.

Rosalie olhou no rosto da irmã outra vez, desconfortável com a reação de Irina ao tentar esconder a barriga.

— Como você está? — se viu perguntando de repente.

— Não finja que se importa — rebateu Irina, quase que atropelando as palavras da irmã com as suas. E, com passos largos, passou por ela.

— Espere! — tentou Rosalie, estendendo a mão para tocar seu braço. Um body se soltou do kit e ficou no chão.

— Não se aproxime de mim — havia agressividade no tom de voz de Irina, o que obrigou Rosalie recuar. — Eu sei que me odeia. E odeia também o bebê que estou esperando.

Rosalie balançou a cabeça, sentida pelo peso das palavras usadas pela irmã.

— Mágoa difere de ódio — murmurou. — Quanto ao bebê… eu jamais… — Voltou olhar a barriga da irmã.

— Não quero que olhe — Irina exigiu.

Rosalie voltou balançar a cabeça, ressentida.

Irina continuou:

— Seu olhar faz mal ao meu bebê.

— Por que está dizendo isso?

— Porque deseja que meu bebê morra como o seu morreu. Então se sentirá vingada. E feliz.

— Está sendo cruel, Irina. E injusta.

— Não quero você perto de mim, nem do meu filho. Por que não volta para o lugar onde estava se escondendo? É tão fraca que preferiu fugir.

As palavras magoaram Rosalie profundamente.

Irina deu as costas e saiu andando. Rosalie se abaixou para pegar a roupinha que ficou no chão. E ao se levantar, estava chorando. Mesmo as lágrimas atrapalhando a visão conseguiu ler o que estava escrito na parte da frente da roupinha: “Bebê da mamãe”.

Isabella chegou à seção infantil vindo em sua direção. Tinha algumas peças de roupas penduradas no braço.

— Acabei de trombar com Irina. — Olhou brevemente o caminho por onde acabou de passar. — Ela é tão abusada que mandou que eu saísse do caminho. Não revidei somente pelo bebê que está esperando. E porque não quero sair daqui direto para a prisão, claro. — Só depois disso, percebeu Rosalie chorando. — Droga — resmungou, chegando perto da amiga, descansando a mão em seu braço. — O que a megera disse para você?

— Ela foi cruel — contou Rosalie. — Não precisava disso… Não precisava nada disso.

Isabella pegou a roupinha que a amiga segurava.

— Sabe o que fazer — disse. — Não tome para si nada do que a megera tenha dito. — Deixou a roupinha em um lugar qualquer. Voltou e segurou no braço de Rosalie, levando-a pelo corredor. — É a melhor pessoa que conheço. Posso afirmar que não sou a única a pensar assim — reparou na saia de tule que Rosalie carregava com ela. — Que lindeza! Aposto que é para sua garotinha.

Rosalie sorriu em meio às lágrimas, porque Isabella fez lembrar que escolheu a saia de tule para Olívia.

— É a cara dela.

Isabella sabia que mencionar Olívia a faria bem.

— Tem uma menininha linda. Não a conheço pessoalmente, mas, com base em tudo que me contou e nas fotos que eu vi, são como mãe e filha. E você pode tentar engravidar de novo. Com todo respeito, o bonitão de Edenton é muito melhor que Royce. Sabe que sempre achei Royce fraquinho no que diz respeito à beleza. Agora, sim, tem um homem a sua altura.

Rosalie conseguiu sorrir, enxugando as lágrimas no rosto.

— Olívia vai adorar essa saia — Isabella lembrou. — Se eu fosse uma garotinha que gosta de unicórnios e arco-íris sem dúvida iria querer uma saia dessas para mim.

— Você é a melhor, sabia?

— Sempre soube. — Ambas riram. — Senti sua falta — disse Isabella. — Mas, você tem que estar onde é feliz. E esse lugar não é em Atlanta.

— Não — Rosalie concordou. — Não é.

[…]

Isabella parou o carro a poucos metros do museu.

— Me diz que não estou maluca, que também notou? — retomou Rosalie a conversa que tiveram no trajeto até ali.

— Rose, não pira. De repente, Irina estava de óculos escuros por opção. Não acredito que estivesse escondendo qualquer hematoma. Esquece isso. Esquece Irina. Eu sei que é difícil por ser sua irmã, mas ela já deixou claro que não se importa com o que você sente.

— Tem razão. — Com isso, Rosalie saiu do carro.

Isabella apertou a buzina ao retomar ao trânsito. Rosalie entrou no museu, pensando em telefonar para o pai.

[…]

Emmett saiu do trabalho mais cedo para receber Olívia depois do horário letivo. Por isso, quando a menina desceu do ônibus escolar, aguardava por ela no ponto. Pegou ela ainda nos degraus, na porta aberta do veículo escolar.

— Você teve um bom dia na escola hoje? — pediu. O ônibus se afastou.

— Sim. E você, papai, teve um bom dia no trabalho?

Emmett sorriu.

— Papai teve um bom dia, sim. — Beijou seu rosto. A colocou no chão, ao sinal que queria caminhar. A mão pequena buscou a sua.

— Será que Rose também teve um bom dia, papai?

— Acredito que sim.

Olívia pulou sobre uma folha seca que o vento trouxe aos seus pés.

— Podemos visitar o vovô Norman?

— Agora?

— Sim, papai, por favor.

— Tudo bem. Mas não podemos demorar.

Chegaram ao jardim. A caminhonete de Emmett estava estacionada na entrada de veículos. Olívia esperou até o pai abrir a porta traseira. Emmett retirou a mochila de suas costas e aguardou entrar e ocupar a cadeirinha.

Deixou a mochila junto à lancheira no banco.

— Por que quer visitar o vovô Norman agora? — perguntou quando já estava sentado atrás do volante, pronto para pôr o motor do carro para funcionar.

— Ele também sente falta de Rose.

Emmett se virou, olhando entre os bancos, seu rostinho.

— Você tem razão. Norman também sente falta dela.

[…]

Norman estava na frente da casa, juntando as folhas remanescentes com ajuda do ancinho. Emmett estacionou a caminhonete na frente da casa. Norman olhou naquela direção bem quando ajudava Olívia sair do carro. Parou com o ancinho, esperando. Um sorriso cresceu em seu rosto ao ver Olívia indo na sua direção.

— Vovô — chamou a menina.

Norman soltou o ancinho para abraçá-la.

— Abobrinha.

— Pedi ao papai para me trazer aqui. — Segurou na mão dele. — Eu queria te ver, vovô.

— Fez muito bem, Abobrinha.

Emmett se aproximou, observando os dois.

— Vovô, eu posso te ajudar juntar as folhas?             

— Pode, sim. Mas, você e o seu papai, não querem entrar para comer um lanche? Aposto que chegou da escola agora. Deve estar com fome. Que tal um chocolate quente para você e um café para o seu papai?

— Obrigado, Norman — Emmett agradeceu.

— Eu que agradeço por trazer Olívia para me ver. Há muito tempo vivi sozinho, mas a chegada de minha neta mudou muita coisa. Sei que não sou o único que espera ansioso por seu retorno. Venham! Vamos entrar um pouco.

Olívia pegou na mão do pai, ambos seguiram Norman pelo jardim até estarem do lado de dentro da casa.

[…]

Olívia terminou o chocolate quente e foi deixar a caneca na pia da cozinha.

— Papai, eu posso brincar um pouco lá fora?

— Está frio — respondeu.

— Por favor, papai. Só um pouquinho.

— Está bem, um pouco apenas.

Olívia deu um pulinho e saiu da cozinha correndo. Emmett e Norman foram logo atrás. Ela ficou impaciente aguardando que abrissem a porta da frente.

— Não vamos demorar — lembrou Emmett, assim que Olívia saiu para a varanda, seguida por ele e Norman.

Norman sorriu vendo a menina se jogando no montinho de folhas secas.

— Rose e ela adoravam brincar juntas nos montes de folhas secas — comentou, com a lembrança das duas no jardim enquanto brincavam. — Sente-se um pouco — convidou, mostrando o banco na varanda. — Ela voltou ter febre? — Mostrou Olívia ao fazer a pergunta.

— Falar com Rose a noite acalma o coraçãozinho dela.

Norman olhou em seu rosto.

— E o seu coração como está?

— Com saudade. E com um pouco de medo, também.

Norman aguardou que continuasse.

— Tenho me esforçado, mas é difícil não sentir o que estou sentindo. Em Atlanta está todo o passado de Rose. Tudo o que ela conquistou. Mesmo sentindo verdade quando diz que nos ama e que vai voltar, tenho medo que mude de ideia. Não sou um homem de posses, não poderei oferecer a ela a vida que está acostumada.

Norman balançou a cabeça.

— O dinheiro ou mesmo a falta dele, não impediu de viver o amor uma vez. Não pense dessa forma. Você e Olívia entregaram a minha neta o que mais desejava e sentia falta. Rose cresceu em um ambiente onde sempre teve o que o dinheiro pode comprar, no entanto, não foi feliz. Encontrou amor e felicidade aqui com você e Olívia. — Olhou a menina, que jogou folhas secas no alto. — Conheço minha neta. Ela valoriza o simples. O sentimento verdadeiro. — Tocou o joelho de Emmett brevemente. — Ela vai voltar, acalme seu coração. Rose ama você e a Abobrinha.

— Rose mudou nossas vidas — afirmou Emmett. — Ensinou Olívia sorrir — mencionou, vendo a filha sorrir enquanto brincava com as folhas. — O sorriso de Olívia me resgatou. Afastou a escuridão que estava minha alma.

— Me enche de orgulho saber que foi assim — pontuou Norman. — Rose sempre foi generosa. Dona de um coração maravilhoso. Irina se assemelha mais a Dorothy, muito ligada ao bem material. Desde criança implicou muito com Rose. Por Rose ser tão diferente das duas, Dorothy nunca conseguiu esconder o favoritismo por Irina. Amo as minhas netas, mas Rose sempre foi mais apegada a mim e a avó. Esse foi um dos motivos de ter vindo para cá quando precisou de colo.

Emmett tomou a palavra:

— Tenho sorte que o porto seguro de Rose seja você, Norman. Porque foi por buscar seu apoio que nos encontrou.

— Você e a Abobrinha são para ela parte desse porto seguro.

A voz de Olívia chamou atenção dos dois para o jardim.

— Olha papai! — Ela segurava uma folha seca com uma incrível gradação de cores vermelho, amarelo, laranja e marrom. Veio correndo até a varanda, e subiu os degraus. — Olha como é linda, papai.

Emmett e Norman avaliaram a folha em sua mão pequena.

— Realmente é muito bonita, Abobrinha.

— É perfeita — Emmett sorriu para a filha, que sorriu de volta.

— Vou guardar dentro de um livro, igualzinho Rose me ensinou. Quando voltar, darei para ela. — Sentou no colo do pai, sempre cuidadosa ao segurar a folha. Inclinou a cabeça olhando no rosto dele. Emmett beijou a ponta de seu pequeno nariz salpicado de sardas.

— Vamos para casa? — sugeriu. — Você ainda não fez a lição — lembrou. Olívia gemeu, demonstrando desinteresse em fazer a lição. — Vamos! Se despeça do vovô Norman. Agradeça pelo lanche.

Olívia saiu do colo.

— Tchau, vovô! Obrigada pelo chocolate quente e também os biscoitos. Estava uma delícia.

Norman beijou seu rosto.

— Tem que fazer a lição de casa — disse ele. — Nada de preguiça, Abobrinha.

Uma risadinha antecedeu as palavras:

— Uma preguicinha de nada.

Norman sorriu.

Olívia segurou na mão do pai quando ele se levantou. Caminharam juntos até onde estava estacionada a velha caminhonete de Emmett.

[…]

Era noite quando Rosalie voltou à casa dos pais para recuperar documentos relacionados ao trabalho no museu que precisam ser apresentados na manhã seguinte.

Segurando a chave na mão, olhou a casa, criando coragem em sair do carro. Avaliou a movimentação alguns minutos antes de se decidir sair do veículo. Ficou aliviada por não encontrar ninguém quando abriu a porta. Apressou-se na direção da escada, imaginando poder pegar o que precisava e ir embora sem esbarrar em ninguém.

Geoffrey apareceu com um livro na mão, vestido de roupão sobre as roupas de dormir. Retirou os óculos de leitura ao chamar por ela:

— Rose.

Rosalie voltou um degrau, sem tirar a mão do guarda-corpo.

— Papai. Preciso recuperar alguns papeis no meu quarto — se explicou, olhando brevemente o alto da escada.

— Não precisa se explicar. Esta ainda é sua casa.

Rosalie desceu os degraus que havia subido indo cumprimentar o pai.

— Como você está?

— Estou bem — respondeu. — E você?

— Ansiosa — admitiu, chegando um passo para trás. Olhou em volta como quisesse ter certeza que eram os únicos ali. — E a mamãe?

Geoffrey olhou no alto da escada como Rosalie havia feito antes.

— Lá em cima, no nosso quarto.

Notou Rosalie aflita com a confirmação que a mãe estava em casa. E tentou tranquilizá-la.

— Não se preocupe com sua mãe. Pegue o que precisa com calma. Dorothy tomou remédio para dormir só deve acordar amanhã.

— Ela está bem?

— Você sabe, não gosta quando passam por cima do que ela determina.

— No caso, eu — Rosalie lembrou. — Falou com ela a respeito de minha decisão de não permanecer em Atlanta?

— Isso é você quem vai contar. Não cabe a mim essa conversa.

— Não vai ser fácil — lamentou Rosalie.

— Não — concordou Geoffrey. — Mas você é forte. Conseguiu impor sua vontade até aqui. Vai passar por isso da melhor maneira.

Rosalie balançou a cabeça.

— Terá meu apoio, no que decidi.

Um leve sorriso curvou seus lábios.

— Obrigada, papai. — Após um minuto em silêncio, voltou a falar: — Descobriu alguma coisa sobre o que te falei de Irina por telefone?

— Estive na casa deles depois que me ligou, mas não encontrei ninguém — a expressão preocupada de Rosalie o fez dizer: — Vou ficar atento. Não contarei nada a sua mãe até ter certeza. Não vamos dar mais motivos para Dorothy ficar nervosa.

Rosalie anuiu.

— Voltar para casa e sair novamente como você saiu, mexeu com sua mãe. E ela ainda não sabe que vai voltar para Edenton.

— Agora sim, passarei longe do favoritismo dela — ironizou.

— Não foi fácil ser criança tendo Dorothy como mãe — comentou o pai. — Eu também errei muito. Não tenho orgulho disso.

— Está tudo bem — Rosalie tentou amenizar a culpa que o pai sentia.

— Tentarei ser melhor. Dou minha palavra.

— Já está sendo.

— Não quero tomar seu tempo. — Sinalizou a escada indicando que fosse pegar o que precisava. — Antes de ir embora passe no escritório. Estarei te esperando.

Rosalie anuiu, em seguida, se afastou tornando subir a escada.

[…]

Pegou tudo o que precisava no quarto. Antes de sair parou para olhar a fotografia em cima da mesinha de cabeceira. Irina e ela quando crianças, os rostos juntinhos. Uma das poucas vezes que a irmã não implicou com Rosalie, ambas sorrindo. Segurou um instante na mão o porta-retratos, pensou em levar a fotografia, mas optou por deixar onde estava.

Quando já estava no corredor, chegou perto da porta do quarto dos pais. Imaginou Dorothy lá dentro, deitada na cama, dormindo sob o efeito de calmantes, supostamente, após tê-la culpado por qualquer coisa. Afastou-se da porta. Não permitiria que voltasse controlar sua vida. A partir de agora, decidiria seu próprio destino.

 


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