Don't Remember escrita por eatalpaulaa


Capítulo 7
Se conhecendo novamente




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Atônita. Era assim que eu me sentia. Sasuke acabava de confirmar que nós tivemos algo no passado, e eu não conseguia me lembrar de nada. Absolutamente nada.

Talvez as reações causadas por sua proximidade pudessem ser por causa desse envolvimento do passado. O que eu havia sentido por ele teria sido tão forte ao ponto de me afetar até hoje?

— Já escolheram? – a atendente perguntou me tirando dos meus pensamentos.

Olhei rapidamente o cardápio e pedi qualquer coisa. Assim que a atendente saiu, Sasuke colocou os cotovelos na mesa e apoiou a cabeça nas mãos.

 - Por quanto tempo? – minha voz saiu mais baixa do que eu esperava.

— Foram quase dois anos... – arregalei os olhos surpresa e ele continuou – Começamos a namorar no segundo ano e..., terminamos um mês antes do seu acidente.

Somente a menção ao acidente causou uma forte náusea em mim, fechei os olhos com força e me apoiei na mesa.

— Sakura? – ouvi a voz de Sasuke ao meu lado.

Tentei respirar profundamente e aos poucos minha cabeça parou de girar. Abri os olhos e vi que Sasuke estava ao meu lado, uma mão em meu braço e a outra em meu rosto.

Seu toque trouxe calor ao meu corpo e me senti um pouco melhor.

— Consegue me ouvir? – balancei a cabeça em concordância – Quer que eu te leve ao hospital?

— Não precisa. – disse simplesmente – Acredito que foi por causa da menção ao acidente.

Sasuke voltou ao seu lugar e me olhava com preocupação.

— Tem certeza que não precisa de nada?

— Tenho sim...

Sorri diante sua preocupação, mas logo meu sorriso diminuiu com a lembrança de suas palavras.

Se havíamos terminado um mês antes do acidente, provavelmente Sasuke não saberia nada sobre ele... Ou saberia?

— Por que... – minha voz morreu no meio da pergunta e eu não sabia se teria coragem para completa-la.

Como ele estaria se sentindo diante de todas as minhas perguntas? Se nós havíamos terminado, mesmo eu não sabendo o motivo, pode ser que ele não nutra mais nenhum sentimento por mim, e sendo assim, estou apenas atrapalhando-o.

Mas fora ele próprio que sugeriu esse nosso encontro, então ele deveria saber que eu tenho perguntas...

Eu estava muito confusa e sem saber o que fazer. Eu queria enchê-lo de perguntas até entender tudo o que aconteceu comigo e como eu era..., mas por outro lado, eu tinha medo de assustá-lo, dele ficar desconfortável com meus questionamentos... E se ele não soubesse me responder algo? Eu estava colocando expectativa demais em uma pessoa só... Uma pessoa que não me via há dez anos. E se ele tivesse esquecido de muitas coisas que eu fazia... De como eu era... Embora ele mostrasse que ainda lembrava de alguns detalhes meus, ele saberia tudo?

— Um doce por seus pensamentos... – olhei-o e reparei que ele estava um pouco mais inclinado em minha direção – E outro para que você complete a pergunta.

Sorri sem graça e agradeci à garçonete que chegava com nossos pedidos. Coloquei açúcar em meu café e observei Sasuke tomar o dele puro.

— Café sem açúcar é horrível... – falei torcendo os lábios.

— Eu já ouvi isso antes. – ele deu um sorriso verdadeiro em minha direção e eu não tive outra reação a não ser corar – Mas você ainda não me respondeu...

— Eu... – olhei para meu café e fiquei mexendo-o – Eu estou com medo de fazer perguntas e você achar que estou sendo inconveniente ou...

— Sakura. – ele me cortou e eu o fitei – Apenas pergunte. Uma coisa de cada vez, acredito que não irá te fazer bem também, ter uma avalanche de informações, mas você pode fazer a pergunta que quiser.

— Você... – mordi meus lábios em nervosismos, porém a mão de Sasuke sobre a minha me deu um pouco de confiança para terminar a pergunta – Você disse que nós terminamos um mês antes do acidente... Por que?

Ele apertou um pouco minha mão e respirou profundamente.

— Porque ... – ele olhou para fora da janela – Porque eu era um estupido e inseguro, que estava passando por coisas demais, e isso acabava enchendo minha cabeça demais... Você fez bem em terminar comigo... Eu não estava te fazendo bem no final das contas.

Ele terminou de falar me olhando com um olhar diferente... Não soube decifrar exatamente o que era, mas parecia que ele estava arrependido pelo modo que as coisas haviam acontecido entre nós.

— Nossa...

Olhei para nossas mãos juntas, sem entender como aquilo parecia ser tão certo. Se eu havia terminado com ele... Será que ele ainda gostava de mim?

— Posso... – ele mordeu o lábio antes de completar – Posso fazer uma pergunta?

— Claro! – me repreendi mentalmente por responder rápido demais, e ele sorriu torto – Não é justo apenas eu te encher de perguntas...

Foquei em tentar comer alguma coisa, embora o meu estômago fosse totalmente contra isso. Quando eu estava com ele meu corpo tinha reações inesperadas e inexplicáveis. O que isso significava? Será que no fundo, a “Sakura do ensino médio” ainda era apaixonada por ele?

— Por que você não cursou medicina? – ele disse com o olhar fixo em mim.

Coloquei o cabelo atrás da orelha e percebi que ele acompanhava meus movimentos.

— Bom... – pensei em como explicar como foi após acordar do acidente e estar sem memória – Eu não sabia o motivo de ter escolhido aquele curso. Sem falar em toda a confusão que estava a minha cabeça. Foi tudo muito confuso, num momento eu acordei, achando que vivíamos em outra cidade, e eu tinha outra idade, e no outro momento meus pais brigavam comigo por minha irresponsabilidade e por várias coisas que eu não entendia. Eles demoraram a entender que eu havia perdido a memória, assim como eu. Quando eu sai do hospital, os acontecimentos continuavam acontecendo rápido demais... Nós nos mudamos, me informaram que eu havia me inscrito para medicina e perguntaram se eu cursaria... Eu nem ao menos fazia ideia do motivo de ter escolhido esse curso! E ainda tinham as terapias, que me causavam muita dor. Por fim, decidi não cursar, e esperar para escolher o que eu gostaria de fazer.

— Deve ter sido muito difícil para você. – Sasuke disse sinceramente enquanto me olhava.

Soltei uma lufada de ar e em seguida balancei a cabeça para me livrar daqueles pensamentos. Aquele foi um período muito difícil, em que o apoio dos meus pais era pequeno demais, comparado a minha necessidade. Eles haviam se afastado de mim por algo que eu nem lembrava. Por muito tempo eu me julguei culpada sem saber o motivo. Somente quando entrei na faculdade e me ocupei, foi que eu percebi que não deveria ficar sofrendo por isso.

— Desculpe, não queria tocar num assunto delicado.

Olhei para Sasuke e vi que ele se importava verdadeiramente comigo, e algo em mim me dizia que isso sempre foi assim.

— Não se preocupe, você não tem nada a ver com isso...

Vi que ele travou no lugar e apertou a mão em punho. Franzi o cenho estranhando sua reação, e vi em seu olhar uma grande tristeza.

— Eu não estaria tão certo disso...

Meu coração deu um pulo no peito enorme. Várias teorias começavam a rondar minha mente. Teria ele tido algum envolvimento no meu acidente? Ele saberia de algo?

— Como...

Minha voz saiu rouca, e eu limpei-a para continuar, mas ele foi mais rápido.

— A escolha de fazer medicina... – ele deu um sorriso triste em minha direção – Foi uma escolha que fizemos juntos.

Eu não sabia se ficava aliviada ou não com essa informação. Sempre que eu achava que entenderia um pouco mais sobre o que aconteceu comigo, eu estava enganada.

— Sakura.

Meu corpo respondeu-o mais rápido do que minha mente pudesse processar algo. Sua voz pronunciando meu nome era algo conhecido, algo reconfortante, e extremamente agradável. Meus olhos eram atraídos para ele imediatamente, e toda a confusão que era a minha cabeça desde que comecei a relembrar tudo, era apagada com um sopro.

Eu gostaria, mas não conseguia entender como ele tinha tamanho poder sobre mim, mesmo eu não me lembrando de tudo que havíamos passados juntos.

Nunca fui de ter crenças, então não acreditava em almas gêmeas, cara metade ou algo do tipo, mas nós parecíamos ter uma conexão forte, como uma corrente de aço. Meus pensamentos eram atraídos por ele, e ele, egoísta, não os abandonava mais.

— Eu espero que você não me odeie...

— Não! De jeito nenhum. Eu queria muito lembrar de tudo... Mas com certeza você não precisa ficar se sentindo culpado por nada. – disse sorrindo em sua direção.

Ele virou o rosto rapidamente e chamou uma atendente. Pagou por nossa refeição e olhou o relógio com impaciência.

— Eu realmente gostaria de passar mais tempo com você Sakura, mas eu tenho um compromisso ainda hoje... Vou precisar voltar para casa.

De súbito uma tristeza se apossou de mim. É claro que eu sabia que ele não morava aqui, e que eventualmente voltaria para casa. Mas eu queria mais... Fazer mais perguntas, receber muitas mais respostas...

Embora ele já tivesse me dado muitas coisas para pensar, sua presença era agradável. E eu nem ao menos o conhecia direito... E eu queria conhecer.

— Tudo bem, vamos voltar então? – falei sem muito animo na voz.

Nossa volta para casa foi muito parecida com a ida, no mais puro silêncio. Mas agora meus pensamentos fervilhavam com as novas informações que ele havia me contado.

Uma coisa em particular grudou em minha cabeça e ao chegarmos ao prédio eu não me contive e perguntei a Sasuke.

— Você disse que nós namoramos por quase dois anos... – ele me olhou com o cenho franzido aguardando minha fala – Você conheceu meus pais?

Ele engoliu em seco e fechou os olhos por alguns instantes.

— Eles não mencionaram nada sobre mim, não é mesmo? – ele perguntou com a voz baixa, mas não senti tristeza em sua voz, apenas aceitação.

— Eles nunca falaram muita coisa...

— Bom, não me surpreende. – ele soltou o ar e fechou os olhos por um breve momento – Eles não gostavam muito de mim... – de repente ele deu um pequeno sorriso torto – Acho que eles não gostaram muito da ideia da filha ficar trancada no quarto com o namorado – meu rosto corou instantaneamente e eu olhei para baixo ouvindo um pequeno riso vindo de Sasuke -  Mas não os culpe, como nós já havíamos terminado, e você estava com amnesia, eles devem ter preferido não encher ainda mais sua cabeça de informações...

— Não sei...

Ele pegou uma mecha de cabeço e repetiu meu movimento de coloca-la atrás da orelha.

— Senti saudades de vocês isso.

Eu sentia seu perfume invadindo minhas narinas, como quase tudo nele, era um cheiro conhecido.

— Bom, eu realmente preciso ir... – ele passou as mãos pelos cabelos e olhou para cima – Eu não sei quando nos encontraremos novamente, mas... Você tem meu número. Se quiser ligar para conversar... Ou para fazer mais alguma pergunta que surgir... Por favor, não hesite em ligar.

Ele se aproximou e me deu um abraço forte. Meus braços rodearam sua cintura de maneira incerta, enquanto ele me apertava ainda mais em seus braços. Percebi ele inspirar perto de meu cabelo, e logo em seguida depositar um beijo demorado ali.

Com medo de que fosse um abraço de despedida, também o apertei mais forte. Sentindo seu corpo se encaixando ao meu, como se ali fosse o meu lugar desde sempre, inspirei fundo seu cheiro e me acomodei mais em seus braços.

— Eu senti sua falta.

Sua voz baixa e sincera em meu ouvido causou um arrepio por todo meu corpo, mas antes que eu pudesse responder algo ele seguiu em direção ao seu carro e saiu do estacionamento.

Subi para meu apartamento com um sentimento estranho rondando meu peito, porém, assim que fechei a porta, novamente o medo tomou conta de mim.

O medo de tudo que eu havia passado, de tudo que havia tido com Sasuke... Por que eu não conseguia lembrar? Eu queria tanto! Por que minha mente tinha que bloquear tudo de mim? Por que eu não poderia ser uma pessoa normal, que lembra de tudo que aconteceu em sua vida?

E ainda havia o Sasuke... E todos os sentimentos que ele me causava, por que? Como ele tinha tanto poder sobre mim, sobre meus pensamentos, mesmo que eu não me lembrasse de quase nada que passamos juntos?

Como eu poderia sentir que era certo a nossa proximidade, quando eu mesma havia terminado tudo com ele?

Sem que eu percebesse, eu estava na minha cama e passava as mãos por meu rosto e cabelos.

Eu estava cansada. Eu só queria entender tudo de uma vez... Entender tudo e parar de ter esse medo do desconhecido. Queria enfrentar o meu passado, embora eu não tivesse certeza que aguentaria tudo que ficou guardado à sete chaves em minha mente...

Eu só não aguentava mais a confusão que estava a minha cabeça...

Meu celular vibrou e o peguei sem vontade alguma.

E assim como a sua presença me acalmava, bastou apenas uma mensagem para que minha cabeça ficasse livre de toda a confusão.

“Eu realmente falei sério, você pode falar comigo quando quiser.
Espero conseguir ser seu amigo novamente.
Antigamente foi você que se esforçou para que isso acontecesse,
acho que agora é minha vez.
E sinceramente eu estou ansioso para te conhecer novamente.
— Sasuke Uchiha”


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