Don't Remember escrita por eatalpaulaa


Capítulo 2
A primeira dor de cabeça




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É hoje!

Hoje eu finalmente serei livre!

Não pense mal de mim, claro que morar com os pais não é algo tão ruim assim, mas eu tenho 27 anos! Já passou da hora de sair de debaixo da saia de dona Mebuki.

Desci as escadas com um animo que há muito não tinha. Sentados à mesa meus pais ofereciam uma cara de desgosto para mim.

— Precisa ficar tão feliz assim por abandonar seus velhos pais? – Kizashi ralhou.

 - Não fiquem assim. – dei um beijo na cabeça de ambos antes de me sentar também – Não é como se eu fosse morar tão longe assim, a não ser é claro, que você tenha que se mudar de novo pai. E além do mais, vocês não são velhos, aposto que vão aproveitar muito quando tiverem a casa só para vocês.

Minha mãe deu um breve riso enquanto meu pai limpava a garganta.

 - Eu ainda não entendo essa sua insistência em sair daqui, não era necessário.

Revirei os olhos enquanto me servia do último café da manhã que estaria prontinho para mim após acordar.

 - Já falei muitas vezes pai, eu tenho 27 anos, é normal querer independência sabia?

Ele resmungou alguma coisa, mas eu já não estava mais prestando atenção.

Meus pais são ótimos, mas já fazem 10 anos que a superproteção é exagerada para cima de mim. No começo eu entendia, até porque eu precisava muito deles, afinal, eu não sabia de nada que estava acontecendo na minha vida.

Mas agora eu não sou uma desmemoriada que passou em medicina e nem sabia porque havia escolhido esse curso. Sério, eu ainda não consigo entender como a “Sakura do ensino médio” tomou essa decisão.

Minha cabeça começou a doer levemente como em todas as vezes que eu penso sobre a “Sakura do ensino médio”. Intitulo ela assim pois foi exatamente o ensino médio inteiro que eu esqueci.

Meu pai é um arquiteto de renome do Japão. Diversas empresas brigam para consegui-lo, mas a verdade é que quando ele acha que realiza “o projeto que mudou a cara da cidade”, ele resolve se mudar.

Minha vida inteira foi assim, nós nos mudamos quando eu entrei no ensino médio, e nos mudamos novamente após o acidente, embora eu ache que eles queriam me distanciar daquela cidade. Ficamos três anos numa cidade minúscula, depois nos mudamos novamente para a cidade onde cursei Farmácia – porque eu faria medicina sem saber o motivo, certo? – e após me formar viemos para Konoha.

Moramos aqui há apenas dois anos, mas não tenho dúvidas de que essa é a cidade onde quero ficar. Não é uma cidade gigante, e não é tão pequena para alguém conhecer todos os habitantes. Tem o tamanho ideal para suprir minhas necessidades, e ainda consegui um trabalho muito bom.

 - Fica sempre tão perdida em pensamentos que parece que está apaixonada. -  minha mãe me olhava com uma carranca.

Se há uma coisa que eu não entendo nesses 10 anos, é a aversão que meus pais têm com a possibilidade de eu estar em um relacionamento.

 - Estou apaixonada sim. – ambos arregalaram os olhos em minha direção – Estou apaixonada por meu novo apartamento, e não vejo a hora de começar essa mudança!

Após o café, fui conferir todas as minhas caixas. Felizmente não havia muita coisa, uma vez que os moveis eu comprei todos novos.

.

Como eu havia planejado, na metade da tarde todas as minhas coisas que estavam arrumadas em meu novo apartamento. O ponto mais difícil foi convencer meus pais a me deixarem sozinha e voltarem para casa.

Assim que os dispensei e me joguei no sofá, a campainha tocou.

Bufei e revirei os olhos, pensando que seria realmente difícil fazer com que eles saíssem do meu pé. Porém, ao abrir a porta só pude avistar uma cabeleira loira antes de ser agarrada num forte abraço.

— Testudaaaa!

— Oi Porca.

Ela me largou e foi correndo avaliar como havia ficado meu apartamento. Me joguei no sofá novamente esperando ela terminar sua avaliação.

Ino foi a primeira amiga que eu havia feito em Konoha, e apesar de ser uma louca de primeira, era uma das melhores pessoas que eu havia conhecido em toda minha vida – ao menos na parte de que eu me lembro.

No começo nós duas se víamos como rivais, uma vez que achávamos que Tsunade não teria motivo para manter duas farmacêuticas em sua pequena empresa, porém ela deixou bem claro que precisava de nós duas, e então começamos a nos conhecer melhor.

Ino nasceu e cresceu aqui em Konoha, e era apaixonada por esse lugar. Havia feito faculdade em outra cidade, mas voltou correndo para cá assim que conseguiu seu diploma.

Ao contrário de mim, que sou mais reservada, ela é um livro aberto. Você pode chegar e perguntar sobre a vida inteira dela, e ela lhe dirá. Não tem vergonha de fazer nada, e nem se arrepende de nada também.

Desde que ficamos amigas, ela tenta me levar para suas loucuras, e até conseguiu algumas vezes. Meus pais a achavam uma péssima companhia, até o dia em que eles a conheceram e ela conseguiu dobrá-los direitinho. Por isso quando falei que me mudaria para um apartamento no mesmo prédio que Ino, eles não implicaram “tanto” assim.

— Olha, você não tem senso nenhum de design! – ela voltou e se sentou comigo no sofá, pegando uma almofada rosa e fazendo cara de desgosto. - Já não basta o cabelo, algumas roupas, o armário e até as almofadas tem que ser dessa cor sem graça?

Peguei a almofada de sua mão e coloquei no meu colo.

— Se ficar reclamando do meu apartamento não vou te convidar para vir aqui nunca mais.

Ela fez um biquinho e se deitou no meu colo, acima da almofada.

— Não seja assim, sua vida é extremamente sem graça sem mim. – revirei os olhos e ela me deu um cutucão – Sabia que você não é a única se mudando pra cá hoje?

— Você não deixa escapar nada não é mesmo?

Ela se levantou e jogou o cabelo para o lado.

— Sou Ino Yamanaka meu amor, tudo que acontece nesse prédio chega aos meus ouvidos.

Ela se levantou e estendeu a mão para mim.

— Ah não. Não, não, não e não. Eu vou aproveitar meu dia fazendo absolutamente nada no meu apartamento novo.

Ino revirou os olhos, pegou a almofada do meu colo e bateu em mim com ela.

— Não, não, não e não. Nós vamos no meu apartamento, tentar ouvir algo sobre o novo morador. – ela sorriu – Isso mesmo, morador. E depois vamos nos preparar para sair a noite, comemorar seu novo apartamento!

Ao terminar de falar, ela já estava indo em direção à porta. Sabendo que seria pior resistir, me levantei do sofá e a segui sem vontade.

Ino morava um andar acima do meu, e aparentemente o novo morador seria seu vizinho. Assim que entramos em seu corredor, vimos os responsáveis pela mudança saindo do apartamento, enquanto um loiro de olhos azuis os agradecia.

— Aff, não gosto de loiros, pode pegar Testuda. – Ino resmungou baixinho e eu balancei a cabeça em negativa para ela.

Assim que nos avistou o loiro acenou e veio sorrindo em nossa direção.

 - Olá! Me chamo Naruto Uzumaki e sou o novo morador daqui dattebayo!

Mal chegou e já quer fazer novos amigos? Tudo que esse prédio precisava era a versão masculina da Ino, falando frases sem sentido.

— Olá Naruto, me chamo Ino Yamanaka e sou sua vizinha, moro logo ali. – ela apontou para seu apartamento e antes que eu pudesse falar algo, ela mesma me apresentou – E essa é a Sakura Haruno, ela mora no andar de baixo.

— Seja bem-vindo Naruto. – cumprimentei educadamente.

— Obrigado, eu não conheço praticamente ninguém aqui, vim para trabalhar com meu tio.

— Quem é ele? – quase bati na Ino por ser intrometida, mas Naruto pareceu não se importar.

— É o Jiraya, dono do bar/restaurante Rasengan. Vocês o conhecem?

Ino começou a rir e eu tive que lhe acompanhar, enquanto o pobre Naruto nos olhava sem entender.

— Ah, conhecemos sim. Ele vive indo no nosso trabalho, atrás da nossa chefe.

Naruto riu também e coçou a nuca num ato descontraído.

— Aquele velho não tem jeito mesmo.

— Ele é muito gentil conosco, mesmo levando vários foras de Tsunade. Ino e eu frequentávamos muito o Rasengan, mas ultimamente a comida não está muito boa...

Mordi minha língua ao perceber o que havia falado e meu rosto deve ter ficado mais vermelho que um pimentão. Naruto começou a rir e Ino me olhou como que dizendo “fala de mim, mas faz pior”.

— Não se preocupe, é por isso que eu estou aqui. – ambas olhamos com curiosidade para ele – Eu vim para ser o novo Chef do restaurante.  Inclusive, se quiserem, eu posso fazer algo para nós hoje, para ver se vocês me aprovam ou não para o cargo.

— É claro que aceitamos!

Ino como sempre foi mais rápida que eu, e antes que eu pudesse falar que tinha compromisso, o loiro já complementou.

— Não vou decepcioná-las dattebayo! Por favor senhoritas, às sete em meu apartamento. Agora se me dão licença, eu vou começar o preparativo da melhor refeição da vida de vocês.

Assim que Naruto fechou a porta de seu apartamento, me virei com a cara emburrada para Ino.

— Ah, nem vem Sakura. – ela já ia em direção a seu apartamento – Ele foi muito gentil de nos oferecer um jantar, e você nem queria sair mesmo, então vamos ficar no prédio!

Como a única coisa que eu queria hoje era descansar, me joguei em seu sofá pegando sua almofada verde e colocando no colo.

— Fico feliz que você tenha comprado uma almofada que combine com meus olhos Porca.

Ino estava na cozinha e pude vê-la me fuzilando com o olhar.

— Meus olhos são verdes!

— Pois eu acho que são azuis...

— Azuis uma ova! São verdes como a grama.

Não tive como não rir de sua revolta. ela tinha olhos verdes claros, que facilmente eram confundidos com azuis, mas ela não perdoava esse erro de maneira alguma. E assim como se comportou agora, ficava irada com a duvida sobre a cor de seus olhos.

A maluca me deixou em paz por algum tempo, enquanto fazia sua hidratação no cabelo e não sei mais o que. Consegui ate mesmo tirar um cochilo em seu sofá. Cochilo esse que foi interrompido com ela gritando em meu ouvido de que eu precisava ir para casa ficar um pouco mais apresentável.

Fui para casa, tomei banho e me vesti em tempo recorde, mesmo assim a Ino ficou me mandando mensagens dizendo para se apressar.

As sete horas nós apertamos a campainha de Naruto e ele nos recebeu vestido com um dólmã laranja com detalhes em preto. Super discreto.

— Sejam bem-vindas! Espero que gostem de rāmen, pois irão provar o melhor de suas vidas.

Realmente o cheiro que preenchia o apartamento era maravilhoso, o que já havia aberto meu apetite.

Naruto nos indicou para a mesa enquanto terminava de servir os pratos.

Enquanto comíamos, e devo admitir que foi realmente o melhor rāmen que já experimentei, fomos nos conhecendo melhor. Não havia duvidas de que ele adorava o que fazia e assim como Ino, era um livro aberto.

Ino contou praticamente sua vida inteira, e ele riu e rapidamente concordou comigo falando que ela era louca. Como sempre falei pouco sobre mim, uma vez que esse realmente não era meu assunto favorito. O que não foi um problema, uma vez que Ino e Naruto competiam para ver quem falava mais.

O loiro contou sobre sua infância, sobre o amor por cozinhar desde que era pequeno e fazia seus próprios sanduiches, como se fossem verdadeiras delicias.

— Sabem, foi difícil tomar a decisão de vir para cá, mas a cidade já está me conquistando! Pelo que vi o Rasengan não tem muita concorrência, o lugar é realmente bom para se viver, já conheci ótimas amigas.

Ele deu um sorriso grande para nós e eu retribui verdadeiramente. Ele era daquelas pessoas que você gosta logo de cara, que têm seus quase 30, mas que parece um adolescente falando, com suas manias de linguagem e o jeito brincalhão.

— Uma coisa que me deixou muito triste, foi a minha namorada não ter vindo comigo. – ele fez um biquinho e olhou para baixo – Mas eu ainda vou convencer a Hinata a vir morar aqui comigo, vou sim, dattebayo!

Imediatamente senti uma pontada na cabeça seguida de uma forte vertigem e um zumbido no ouvido. Parecia que Ino e Naruto tentavam me chamar, mas eu não conseguia focar em suas vozes.
Meu corpo perdeu a força e minha vista escureceu. Eu sentia a consciência indo embora, mas antes disso acontecer, uma lembrança meio embaçada apareceu em minha mente.

“Eu estava no corredor do colégio, era o primeiro dia de aula e eu ia em direção ao que deveria ser meu armário. Ao meu redor as pessoas se cumprimentavam, perguntavam como foram as férias e namorados matavam as saudades. Mais uma vez eu era a novata do colégio, que tinha que fazer os amigos novamente, para depois se mudar e perder o contato com todos. Perdida em pensamentos acabei esbarrando em alguém.            

— Me desculpe! – falei rapidamente.

A menina a minha frente pegou um livro no chão e sorriu para mim.

— Tudo bem. Você é nova aqui certo?

Me aprecei em oferecer minha mão e ela aceitou prontamente.

— Sou Sakura Haruno.

— Prazer Sakura, me chamo Hinata Hyuga.”

E rápida como veio, a lembrança se foi. A única coisa que me restou, foi a escuridão.


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