Adotada! escrita por ArnaldoBBMarques


Capítulo 12
Cai o pano




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Ao aproximar-se da casa, Bia já escutou os gemidos de sexo ardente. Deixou-se ficar paralisada e olhos arregalados contemplando André na cama com aquela desconhecida. O que faria? Um escândalo ali, agora? Só conseguia ficar muda e estatelada, ainda mais surpresa ao constatar que eles já a haviam visto e não esboçavam nenhuma reação.

 Sem pressa nenhuma, o casal transou de todas as formas imagináveis, entre gemidos e palavrões. Bia não pôde deixar de reparar que a desconhecida era muito mais fogosa na cama do que ela, e André parecia bem mais satisfeito. Quando por fim deu-se por saciado, André sentou-se na cama e dignou-se a dirigir-lhe a palavra.

 — Essa é a Edilene!

A outra não a cumprimentou, nem olhou para ela. Bia continuava muda. Após dizer mais algumas coisas para André naquele linguagem cifrada de marginais que Bia mal entendia, Edilene ganhou a rua. André continuou comportando-se com toda a naturalidade, como se não lhe devesse explicação alguma, e aquela atitude deixava Bia tão desconcertada que ela ficava sem reação. Naquela noite André não quis sexo, saciado que estava.

Na manhã seguinte, Bia tinha a impressão de que não dissera uma única palavra desde que chegara em casa no dia anterior. Acompanhou André mecanicamente em direção à boca de fumo, enquanto procurava colocar os pensamentos em ordem. O modo de vida ali era aquele, então. As leis ali eram diferentes, e os costumes também. Ela tinha que se acostumar.

— Esse é o Walter!

André apresentou-a aquele rapaz alto e magro, de rosto escalavrado e cabelo Bombril, escopeta em punho e cara de mau. Bia entendeu que ele era seu novo chefe ali. Dedicou-se a preparar as trouxinhas como de costume, sem saber o que pensar. Mas a insistência do olhar de Walter já começava a incomoda-la. Ao final do dia, André surgiu com uma sacola.

— Aqui estão suas coisas para você levar, assim não precisa passar lá em casa!

A cabeça de Bia girou. Então ali era assim, quando se mudava de chefe, tinha-se também que compartilhar a cama com ele! Ninguém em volta pareceu surpreso, nem olhares de apoio, nem risadinhas. O próprio Walter parecia impassível, mas a escopeta continuava bem à vista. André saiu sem olhar para trás.

Walter bebeu bastante na birosca com outros comparsas armados antes de ir com ela rumo ao barraco na parte mais alta do morro. Bia estava paralisada. Ele a jogou na cama e fez sexo de uma maneira ainda mais bruta do que André. Bia mal podia acreditar que era capaz de suportar figura tão repugnante, só queria que ele terminasse. Felizmente o álcool fez que ele dormisse logo, ressonando como um animal. Sem fazer ruído, Bia saiu pela janela.

Procurando não entrar em pânico, Bia tentou achar o caminho em meio àquelas vielas escuras por onde nunca havia passado. Por vezes tinha a impressão de estar perdida, mas não ousava falar com ninguém, tinha que encontrar a saída por ela própria. A escuridão a protegia, felizmente. Os guardas armados não repararam nela, estavam mais atentos a quem entrava do que quem saía, devem ter julgado que ela era mais uma freguesa da boca. Bia não tinha palavras para descrever o alívio que sentiu ao cruzar os limites da favela. Andando pelas ruas escuras, pensou rápido aonde poderia ir. A prima Beth morava ali perto, e ela não hesitou.

Ao defrontar-se com a prima, caiu em lágrimas. Os pais dela, que já estavam dormindo, vieram ver, assustados, mas Beth fez o sinal de que ela ia se encarregar do assunto. Levou Bia para a sala, deu-lhe algo para beber, e esperou que ela se acalmasse.

— Agora me conta tudinho!

Sem omitir nada, Bia contou tudo o que se passara desde que fugira de casa, esperando que a prima se enfurecesse, mas ela tudo escutava impassível. Ao final, caiu novamente em lágrimas.

— Não tem perdão para o que eu fiz!

— Todo pecador arrependido merece perdão! A igreja está aí para nos ajudar!


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