— Uau! — Emily exclamou encantada observando cada canto do ambiente pequeno, simples e aconchegante. — Isso aqui é lindo.

— É, eu sei. — Spencer sorriu e conduziu a namorada para uma mesa. — Não consigo imaginar outro lugar melhor pra um primeiro encontro.

— Como você descobriu esse restaurante? — Perguntou ainda analisando a decoração ao redor.

— Minha família não é bem o que as pessoas costumam chamar de “agradável” de se conviver, então, de vez em quando, eu fugia. — Baixou o olhar um instante antes de continuar. — Na maioria das vezes eu só precisava tomar um ar, não ia muito longe. Mas teve um dia... Nossa, eu tava com tanta raiva que simplesmente saí correndo por aí. Achei uma trilha antiga na floresta e segui por ela. Ainda hoje não sei por quanto tempo corri até conseguir achar esse lugar, mas já estava de noite. A dona daqui é uma pessoa maravilhosa. Eu não tinha nem um centavo no bolso e ela me deu uma refeição e emprestou dinheiro pra passar uma noite na pousada onde vamos fazer a reunião amanhã. No dia seguinte, o filho dela me deu uma carona de volta a Rosewood. Depois, sempre que eu precisava fugir, vinha pra cá e eles me acolheram como se fosse do mesmo sangue. Esse é meu lar muito mais do que a Mansão Hastings.

Emily alcançou as mãos de Spencer com as suas por cima da mesa e fitou-a no fundo dos olhos. — Fico feliz que se sinta a vontade pra dividir isso comigo.

— Estou feliz de ter alguém pra compartilhar uma parte tão importante de quem sou realmente. — Respondeu com um sorriso. — E tá tudo bem. Eu conheci você porque morava com os Hastings em Rosewood e achei a minha família de verdade pela biológica estar cheia de cretinos exibidos.

— AVIEEEEEEEEEEE! — O grito espalhafatoso de um garoto afeminado interrompeu a conversa tocante. — Quanto tempo, gata!

— Kurt! Minha boneca linda de porcelana! — Spencer levantou para abraça-lo com a mesma empolgação que ele exalava. — Nem faz tanto tempo assim, mas eu tava morrendo de saudade, bicha.

— Ai minha Santa Florence! Eu interrompi o papo de vocês, desculpa. — Kurt disse á Emily ao perceber que ela estava ali. — É que quando essa rebelde decide voltar ao lar, é tanta emoção que não vejo mais nada.

Rindo, ela respondeu. — De boa, eu entendo.

— Ah. Que cabeça a minha. — Spencer deu um tapinha na própria testa. — Emily, esse aqui é Kurt Hudson-Hummel, meu irmãozinho de outro sangue. E Kurt... — Antes de terminar a frase, achou mais prudente afastar um passinho para o lado. — Essa é Emily Fields, minha namorada. — E, como o previsto, Kurt deu um gritinho escandaloso chamando a atenção de todos os clientes do restaurante. — Segura essa franga, Porcelana.

— Desculpa. — Sussurrou e riu acompanhando a irmã. — É que eu acabei de ganhar cinquenta dólares. Desde que vi a Avie pela primeira vez, o meu gaydar gritou que ela tinha ao menos um pezinho na pocinha colorida e o Finn ficava insistindo que isso era coisa da minha cabeça. Mais uma vez estou certo. Um unicórnio sente o cheiro de outro de longe, meu amor. É um prazer te conhecer, Emily.

— É um prazer conhecê-lo também, Kurt. — Respondeu ao conseguir parar de rir.

— Melhor a gente deixar a colocação de novidade em dia pra depois que eu já vi que isso é um encontro. — Kurt arrumou o cabelo delicadamente e pegou o bloquinho do bolso do colete do seu uniforme. — Deixe-me anotar o pedido de vocês.

Emily aceitou as recomendações de Spencer que dizia conhecer quais os pratos mais deliciosos feitos por Carole Hudson-Hummel dos almoços de família aos domingos. A senhora fez questão de servir ela mesma aquela mesa para ver sua tão amada filhinha de outro sangue.

E há vários quilômetros de distância dali, Toby pegou seu balde médio de pipoca para acompanhar o segundo filme, porém ao se virar olhando para o celular se chocou contra uma garota tão distraída quanto ele, derrubando tudo o que carregavam.

— Ai, caraca! Desculpa. — Toby abaixou de imediato para ajudar a recolher os finis e chocolates, sem querer tocou a mão da loira e uma estranha sensação elétrica passou por seu corpo, fazendo-o erguer o olhar e encontrar íris de um lindo tom de azul lhe esquadrinhando.

— Não tem problema. — Ela respondeu sorrindo um sorriso envergonhado — Meio que tive culpa também. Er... Impressão minha ou te conheço de algum lugar?

— Tenho essa mesma sensação sobre você. — Levantando-se estendeu os doces para a garota. — Me chamo Toby. Toby Cavanaugh.

— Ah. Você é amigo de umas amigas minhas. — Constatou lembrando-se exatamente de onde o conhecia. — Nunca chegamos a realmente nos falar, mas já te vi pelas festas. E tava no aeroporto naquele dia. Sou Samara Cook.

Por um instante Toby permaneceu calado apenas admirando-a até que percebeu que provavelmente estava parecendo um esquisitão, então pigarreou e disse. — Então... Que filme veio assistir?

— Vai parecer estranho pra uma garota. — Respondeu sentindo um leve calor tomar suas bochechas que assumiram um tom rosado.

— Nem. Diz aí. — Sorriu encorajando-a.

— Velozes e Furiosos.

— Legal, eu também. Realmente nunca conheci uma garota que gostasse de Velozes e Furiosos. — Comentou olhando para o relógio um instante. — Eita, começa em cinco minutos e eu ainda tenho que comprar pipoca de novo.

— Pipoca! Eu tava indo comprar agora. — Samara arregalou os olhos ao lembrar.

— Ah, sendo assim vamos juntos. Eu pago. — Toby ofereceu com um sorriso educado.

— Não precisa. Aliás, eu derrubei a sua, então podexar, a conta é minha. — Constatou sorrindo de volta.

— Sério? — Perguntou franzindo o cenho.

— Sério.

— Tudo bem. — Murmurou dando de ombros.

— Já ganhou pontos comigo por não tentar dar uma de macho alfa.

Toby riu e deixou que Samara comprasse os baldes de pipoca, um médio e um grande. Em seguida, correram para pegar o filme desde o começo. Quando comprou o ingresso, Toby teve que ficar com a poltrona sete da fileira F porque a oito já estava ocupada e descobrir por quem foi uma surpresa bem agradável. A loira comentou baixinho as cenas mais marcantes com tanta paixão quanto ele próprio tinha pela sequência Velozes e Furiosos.

— Nossa, esse filme foi... uau. — Samara declarou assim que os créditos começaram a subir na grande tela.

— Eu sei! Cara, a cada novo Velozes e Furiosos que lançam, fica ainda mais complicado de decidir qual é o melhor. — Toby sorriu e levantou no mesmo instante em que seu celular vibrou no bolso.

“MDS! Eu meio que me perdi na hora. Vamos correr com a sobremesa e voltar. Acho que chego na metade se você começar a assistir outro filme.” – S

— Entendo exatamente o que você quer dizer. — Cook quase saltitava de animação.

— Olha, ainda são oito e meia, tá cedo. Mais um filme, você topa? — Toby propôs com seu melhor sorriso charmoso.

— Em boa companhia? Com certeza. Até porque, com a adrenalina que eu to agora, não ia conseguir dormir mesmo. — Respondeu enfatizando a última palavra.

Sorrindo ainda mais, o carpinteiro digitou e enviou. “Para de ser besta, é seu primeiro encontro com a crush. Demore o quanto quiser”.

 — Dessa vez, eu pago a pipoca. Se você ainda aguentar.

“Crush não, namorada. Ela me pediu oficialmente. Foi lindo” – S

— Senhor Cavanaugh, com o tempo você vai perceber que o meu estômago é um poço sem fundo.

“Opa! Quero relatório completo assim que voltar.” – T

Dos dois filmes disponíveis àquele horário, escolheram o de terror enquanto Emily e Spencer estavam no maior clima de romance.

A senhora Carole conversou por menos de três minutos com sua nova nora e já foi o suficiente para se adorarem, o que deixou Spencer ainda mais feliz, se é que isso era possível.

Depois de terminar a sobremesa, as garotas andaram o mais devagar possível até seus carros para aproveitar ao máximo a companhia uma da outra enquanto conversavam.

— Então... Avie, né? — Emily questionou finalmente.

— Diminutivo de Avery. — Spencer sorriu. — Meio que me sinto uma pessoa diferente aqui, então não fazia lá muito sentido usar o mesmo nome. Começou com eles me chamando pelo nome do meio, depois veio esse apelido carinhoso.

— E quem é Finn?

O sorriso que já era radiante ficou ainda maior. — É o grandalhão do meu outro irmão. Você tem que conhecer. Alias, não só ele, meu pai também. Os dois vão te adorar.

— Espero que sim porque, só de ver como eles te fazer bem, eu já os adoro.

Chegando ao carro de Emily, se encararam por um instante até que Spencer dissesse. — Bom, está entregue.

— Você quer entrar um pouco? — Fields apontou para o veículo atrás de si.

— Impressão minha ou sua voz teve um tom de malícia? — Hastings sorriu.

— Teve. É claro que teve. Não sei quando teremos um momento a sós de novo, então é melhor aproveitar ao máximo. — Sorriu de volta tentando evitar a tristeza por esse fato.

— Sendo assim, eu topo.

Emily destravou o carro e as duas entraram no banco de trás. A ideia inicial eram cinco ou dez minutos, porém vinte passaram em um piscar de olhos e as garotas só pararam porque se não acabariam passando dos amassos e precisavam mesmo voltar para Rosewood.