Psicologia Sincera com Impmon escrita por L R Rodrigues


Capítulo 2
2ª Sessão: Ser legal não é o mesmo que ser confiável


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Pontualmente no horário, Lucas entrara no consultório se deparando com um Impmon um tanto quanto preguiçoso... mais do que o normal. O psicólogo-mor estava encostado na sua cadeira com os pés sobre a mesa. 

— Me contaram que era metido a folgado. - disse ele, sentando-se na cadeira - Não eram só boatos. 

— Você acredita em tudo lê e ouve não é? - perguntou Impmon, portando-se corretamente. - A primeira impressão que tive ao seu respeito foi de um nerd lerdo e tímido que sempre cai na conversa alheia e se ferra. 

— Eu sou difícil de convencer, pode crer. - disse Lucas, esbanjando tranquilidade na postura. - O irônico é que tenho um problema para convencer. Em outras palavras, geralmente minha voz não tem poder e a minha voz é uma merda. Não é irritante... 

— Irritante não é. - disse Impmon, interrompendo-o - Digamos que.. vazia. Não emociona, não contagia e nem desperta interesse. 

— Obrigado, precisava ouvir isso. - falou Lucas, franzindo o cenho. 

— Não tem de quê. A parte interessante dessa sessão é que você não está reagindo com fúria, desespero ou tristeza como as sensíveis que passaram aqui. O seu coração é feito de gelo sólido e duro, por acaso? Não vou te criticar se for a verdade. Afinal, verdade é o que eu mais prezo aqui. O Dr. Impmon estimula honestidade. - disse ele, levantando o queixo em sinal de superioridade. 

— O meu coração é puro, o problema é que ninguém acredita em mim. Tipo, alguém me pede uma informação, eu dou de bom grado e depois vejo a pessoa perguntar pra outra ou quando é no telefone eu digo o que ela quer saber e ela pede para chamar outra pessoa só pra confirmar. 

— Todo mundo precisa de uma segunda opinião. 

— Não é bem assim. A sensação que isso traz é de desconfiança. Faz me sentir um mentiroso. Eu sou verdadeiro quando se trata responder perguntas. Não dá pra entender. 

— Talvez o modo como você fala não transmite verdade. Ou o problema simplesmente é você. - disse Impmon, roçando um palito nos dentes. - Você é um cara certinho, bacana, de boa, sempre disposto a ajudar quando pode, mas para essas pessoas nunca é o bastante. Ser legal não adianta. 

— O que eu devia fazer? - perguntou Lucas, dando uma olhada rápida no relógio de parede que possuía formato inspirado na cabeça do Dr. Impmon. 

— Torne a sua voz mais ativa ou morra tentando. Não são todos com essa personalidade introvertida que conseguem. A cura não cai do céu. De qualquer forma, não importa o que faça ou como faça, as pessoas só enxergam o que convém à elas. Provar uma coisa a alguém é uma questão a ser decidida por você. E o meu conselho é: Não prove. O resto é por sua conta. Continue sendo o meio-termo que eles fingem não odiar ou persista na sua busca por valor reconhecido que não garante sucesso em nenhuma das tentativas. 

— Você me acha confiável, pelo menos? - perguntou Lucas, meio entristecido. 

Os lábios de Impmon ficaram trêmulos até formar sorriso fechado e largo numa expressão de riso prendido. Segundos depois, o psicólogo-mor soltou uma risada alta e maldosa. 

— Qual é a graça? Ah, vai à merda... - Lucas esboçava sinais de impaciência quase considerando sair dali direto para cancelar o acordo, mas resistiu firmemente. 

— Confiável? Você? Olha pro seu rosto! Você nunca vai inspirar confiança de todas as pessoas com essa cara de vilão de novela mexicana! Hahahahah! 

— Se bem que já comentaram sobre eu ter cara de psicopata. Até hoje isso me ofende. E então? Vai me sugerir o quê? Plástica? 

— Não, sem chance de resolver. - Impmon continuava rindo mas voltava aos poucos a se comportar como "profissional" - Me leva a mal não, mas te digo uma coisa: A sua aparência influencia fortemente no tratamento que te dão. Se te acham suspeito por ser tímido, isso é um problema deles não seu. Eu me sentia um estranho na minha época de delinquente, que por sinal eu tenho uma certa saudade, e depois chutei o pau da barraca e falei pra mim "Dane-se, esses gatos pingados nunca vão me conhecer de verdade, jamais irão me entender". É assim que funciona. E cansa falar disso porque é tão relativo essa coisa de interesse, aparência, primeiras impressões e blábláblá...

— Agradeço. - disse Lucas, levantando-se. 

— Ué? Já acabamos? - perguntou Impmon, virando o rosto para o relógio.

— Tô sentindo que você está gostando de mim. Ou tô delirando? 

— Ninguém gosta de introvertidos. Sabe que sou Impmon e minha natureza demanda que eu faça pelo dinheiro. Não se engane tão fácil. O digimon aqui sabe ajudar, mas nunca sem nada em troca. Agora vaza. Uma mulher chamada Elisa vai vir chorar suas pitangas com suas historinhas chatas de desilusão amorosa daqui à dez minutos. - ele rosnou imaginando como é lidar com a paciente - Acredita que ela escuta música sertaneja pra curar a dor de corno? Hoje vou dizer umas boas verdades à ela, bem na cara dela pra deixar de ser trouxa. Que essa tal de Marília Manguaça não é remédio pra chifragem aguda. 

— Boa sorte. Vai precisar, eu acho. Um paciente a menos na sua lista, provavelmente. - disse Lucas, andando para sair. Porém, ele parou para tirar só mais uma dúvida - Me diz uma coisa, Impmon...

— É Doutor Impmon pra você, seu arrombado! 

— Está bem... Dr. Impmon. Você, quer dizer... o senhor realmente já confiou nos humanos uma vez antes de fundar esse lugar? 

Impmon manteve-se sério e calado. Mas como não se livraria rápido de Lucas caso não falasse, ele cedeu. 

— Isso faz muito tempo. Foi só um sopro, já passou. Devia me esquecer. 

— Não tá pegando leve comigo né? 

— Você ainda não viu nada. - disse Impmon sorrindo, logo olhando para a "câmera" - Doa o quanto doer, a verdade o libertará. 


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