Aqui jaz Alicia de Souza Monteiro, e embora agora seu corpo sufoque dentro de uma caixa abaixo da terra, posso fazer dela viva, ao menos por um último segundo, em minhas palavras. O sorriso dela permanece vivo, preso a minha parede, porque não fui capaz de jogar nossa última foto fora, mas o resto de Alicia parece se anuviar e, pouco a pouco, sumir de todos.

Alicia brilhava, não como o Sol, que talvez esteja cegando todos nós um pouco mais a cada segundo, mas ela brilhava. Muito. Mais do que qualquer outra pessoa que eu já tenha conhecido. E aquele brilho, aquela luz que pertencia unicamente a Alicia, parecia contagiar todos que estavam a sua volta. Ela era paz em momentos de guerra, ânimo em meio ao estresse e, usando de sua frase favorita, ela era luz em meio à escuridão.

Porém, seus últimos dias não foram tão claros, nem os meus se puder ser sincero, ainda que me arrependa amargamente de minha decisão. Alicia tinha o mundo, com sua risada esquisita e seus olhos que pareciam sempre incrivelmente radiantes, mas ela conhecia unicamente os dias de Sol. Não vivia em tempestades, nunca estivera a ponto de se afogar, desconhecia as trevas e até mesmo os dias ruins. E eu não pensei que ela precisaria de mim quando os dias escuros finalmente a alcançassem, talvez tenha pensado, mas achei que também não seria capaz de viver com aquilo, da mesma forma que Alicia não foi.

E foi assim que o câncer a levou.