The Missing Piece escrita por Tris Pond


Capítulo 2
What About Now




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II

Os dias seguintes a chegada de Dominique na casa de James foram uma loucura, com Dominique e James brigando sobre a arrumação da casa e ficando até tarde acordados conversando. Mas eles estabeleceram uma rotina rapidamente, na qual James fazia o café da manhã e lavava a louça, almoçavam fora e o jantar ela fazia e lavava os pratos.

Quando terminaram as gravações, Dominique sabia que devia voltar para o pequeno apartamento que tinha no interior, perto de Londres. Mas ela não conseguia encontrar as forças necessárias para falar com James sobre isso. Não conseguia dizer a ele que ia embora, principalmente porque agora tinha a sensação que sempre tinha morado ali.

E não tinha mais o que fazer já que a gravação acabara. Saia com alguns atores de vez em quando, mas eles tinham horários ocupados. Ela ficava em casa – na casa de James, na casa dela, na casa deles— e assistia filme ruim. Mais de uma vez, James a encontrou chorando. Ele passou a chegar mais cedo em casa e a ver os filmes ruins com ela.

Um dia, ela chegou em casa após passar o dia no salão e quase chorou de felicidade ao ver o que tinha em um canto da sala. Mal cabia ali, naquele espaço pequeno, mas ainda assim o piano estava ali. Ele era preto, do jeito que ela gostava e do modelo preferido dela. Ela não tinha ideia de como James sabia disso – entretanto, ao mesmo tempo não estava surpresa, sempre souberam tudo um do outro. Em cima dele, tinha uma nota. Ele pedia que ela tocasse para ele quando ele chegasse em casa e que aproveitasse bem o presente.

E ela tocou. Tocou a música preferida dele, uma das primeiras que tinha aprendido. Ele sorriu para ela, um dos sorrisos mais bonitos que ela já tinha visto ele dar e ela sorriu de volta. James começou a cantar e ela o acompanhou. Ela estava tão feliz que sentiu as bochechas doerem de tanto rir e quando foi dormir tinha uma sensação estranha de paz.

No outro dia, ela anunciou que iria fazer alguns cursos e James só sorriu, como se esperasse isso dela. Ela chegou em casa matriculada em um curso de canto e outro de atuação.

Semanas depois, ela começou a fazer outros testes para atuar em papéis. Conseguiu um papel pequeno em um seriado um pouco conhecido. James fizera um bolo para comemorar e depois os dois saíram juntos.

Não planejavam, mas acabaram bêbados. Mas não o suficiente para que esquecessem no dia seguinte o quão perto de se beijarem tinham chegado. Com isso, surgiu a culpa – eles se conheciam a vida toda e eram primos. Isso era errado. Não deveriam nutrir sentimentos desse tipo um pelo outro, contudo quanto mais pensavam sobre isso percebiam que a relação que tinham e o que sentiam estavam longe do amor de família.

Os dois seguintes foram tensos, e a casa passou a ter um silêncio que nunca existiam quando eles tinham juntos – desde crianças. Eles falavam pouco e sobre assuntos sem importância. Pareciam que iam continuar se distanciando até que James trouxe uma namorada para casa. Dominique ficou louca de ciúmes. Ela finalmente explodiu.

Dominique tentou ignorar a outra garota e jantou com eles, em silêncio. Porém, quando fora lavar os pratos e James a seguira, tudo dera errado. Ele a perguntou o que houve. Ela o encarou incrédula. Concentrou-se em terminar de secar o prato e saiu sem olhar para a cara do amigo. Ela passou pela sala - onde a namorada de James ainda estava - e bateu a porta do quarto com força, mesmo sabendo que estava sendo infantil e egoísta.

James a seguiu e lançou um olhar arrependido para a namorada. Ele bateu na porta do quarto. Dominique recusou-se a abrir. James voltou a sala e, pedindo para a namorada retirar-se, contou que a prima não estava sentindo-se muito bem. Depois, ele voltou mais uma vez a bater na porta do quarto de Dominique. Ela não queria abrir. Ele implorou para ela. Sento-se ao lado da porta e ali ficou por mais de duas horas, falando às vezes, até que ela resolveu abrir.

Dominique não queria sair do quarto. Foi como se naquele momento a realidade abateu-se sob ela. Sempre teria que aguentar meninas como aquela saindo com James, porque ela simplesmente não podia fazer nada. O que ela sentia era errado, até ela sabia disso. Porém, ela não conseguia controlar-se. James era o mais perto de perfeição que ela poderia desejar. Ela o queria tanto.

Ela encolheu-se, aproveitando o calor da manta ao qual estava agarrada enquanto ouvia a voz de James vinda da porta. Por um momento, ela sentiu-se fascinada pelo escuro do quarto e da ideia de esquecer tudo, esquecer quem era e simplesmente dormir, esperando ser uma pessoa diferente quando acordasse. Mas ela logo abandonou esses pensamentos bobos: Nunca fora de fugir de uma luta e enfrentaria o que sentia. Faria o máximo para tornar a situação melhor.

Empurrou a coberta e colocou os pés no chão, sentindo o frio do quarto. Respirou fundo uma última vez e colocou a mão na fechadura da porta, interrompendo o monólogo de James.

Ela desculpou-se, disse que não queria ter feito uma cena na frente da namorada dele. Em seguida contou a verdade: que tinha entrado em pânico porque percebera que estava com ciúmes dele e não sabia o quê fazer.

Ele respondeu que ela não tinha razões para ter ciúmes; ela sempre viria primeiro na vida dele. James sabia que não devia dizer esse tipo de coisa, mas o sorriso de Dominique ao ouvi-lo tinha valido a pena.

Depois desse as coisas voltaram praticamente ao normal. As únicas diferenças eram que a namorada de James não o visitava mais em casa e a tensão entre ele e Dominique estava cada vez mais impossível de ignorar.

Um dia, Dominique o convidou para ir ao bar. Ela já estava lá com os amigos e soava bastante alegre (nessa época, estava fazendo outra série). James hesitou; mas acabou indo. Não tinha nada pra fazer mesmo. E por um tempo, não se arrependeu. Os amigos de Dominique eram legais e a maioria deles gostavam dele também. James estava se divertindo bastante, ouvindo e contando histórias. Mas em um momento olhou para prima, esperando ouvir a risada dela ao reconhecer uma piada interna deles, e se desapontou. Ela não estava nem ouvindo o que ele havia falado.

Não, ela estava muito interessada no que Dean tinha a dizer. Ela segurava o braço dele enquanto ria, balançando o corpo para trás. James de repente sentiu o seu humor mudar drasticamente, ele estava com vontade de bater em alguém. Queria fazer qualquer coisa para aquela dor parar e queria mais que tudo tirar Dominique de perto desse cara aproveitador. Ela não conseguia ver em como ele só estava interessado em levá-la para cama? Ele estava tão abaixo dela. Segurou com força o celular na mão, tentando controlar o ódio irracional. James nunca tinha sentido tanto ciúme na vida.

James levantou-se impulsivamente, sem saber o que estava fazendo. Foi até Dominique e esperou com certa irritação ela olhá-lo, sem ligar para as outras pessoas que estavam presentes. Ela perguntou espantada se algo tinha acontecido (conseguia ver de longe que o primo não estava bem). Ele disse que havia uma emergência familiar e que eles precisavam ir embora agora. Dominique deu um rápido tchau para todos, prometendo falar mais tarde com Dean e seguindo James para fora do bar.

Eles andaram um pouco sem falar nada, com Dominique praticamente correndo para acompanhar James - Merlin, por que ele estava andando tão rápido? O que tinha acontecido?, ela pensava - até que ela finalmente colocou uma mão no seu ombro, o fazendo parar. Perguntou o que aconteceu.

Ele se virou para ela rapidamente e, cansado e irritado, não conseguiu se conter mais. Simplesmente a beijou ali. Ela não reagiu logo, confusa demais. Não esperava nada daquilo. Mas logo se viu correspondendo - James era tão intenso e ela queria tanto aquilo. Não foi um beijo exatamente carinhoso; tinha emoções urgentes demais naquilo para ser algo doce. Finalmente estavam liberando um pouco do desejo reprimido. James queria fazer Dominique ver como ele a queria.

Dominique estava com sérios problemas em tentar deixar sua mente funcionando. Por um lado, sabia que deveria parar aquilo por diversas razões. Mas estava cada vez mais difícil entender como algo que era tão bom podia ser tão errado. Só após alguns segundos, quando pensou colocar a mão debaixo da calça de James que conseguiu se parar. Por Merlin, aquele era James. Ela não podia fazer isso. Céus, o que ela estava fazendo?

Ela separou-se dele abruptamente e o encarou com horror. Como podia ter deixado uma coisa dessa ter acontecido? O que faria agora? Já era basicamente impossivelmente conter os pensamentos sobre James e agora que ela sabia que beijá-lo realmente era tão bom quanto sonhara…

James viu a forma com que Dominique estava o encarando e imediatamente quis se matar. Ele que causara aquela expressão de pânico. O que estava pensando quando a beijara? Ela o odiaria. Ele tinha estragado tudo. A coisa mais importante da sua vida e ele tinha arruinado porque estava com ciúmes. Merlin, ele não era mais um adolescente, mas sentia-se como um agora.

Pediu desculpas, porém sabia que não seria tão simples assim para resolver as coisas. Dominique mal o ouvira antes de aparatar, o deixando sozinho na rua escura. Ele suspirou e decidiu levar os dois carros para casa que ainda estavam estacionados perto do bar. Pelo menos assim seria útil e ajudaria Dominique a evitá-lo. Ele merecia.

Quando chegou em casa, tudo estava silencioso. Sabia que a prima não estava dormindo, porém não se atreveu a bater na porta trancada do quarto. Esperaria até a manhã. Talvez as coisas parecessem melhor no outro dia.

Não teve essa sorte. Dominique já saíra quando ele “acordara” (na verdade, quando decidira que tinha que encarar a realidade, porque ele não tinha conseguido dormir nada). Havia uma nota com a letra apressada da prima:

James, eu sinto muito. Mas o que nós fizemos ontem não é certo e eu não posso continuar com isso, nem fingir que nada aconteceu. Não mais. E não se culpe, você não é o único errado nessa história. Não ache que eu estou te punindo ou algo assim, mas eu preciso sair daqui. Não vou conseguir continuar a morar com você. Não sou tão forte assim. Vou passar um tempo com uma amiga, não se preocupe. Eu vou ficar bem. Espero que você fique também. Eu sinto muito de verdade. Queria fazer as coisas de outros jeito, mas essa é a única solução que  encontrei. Eu vou sentir tanto a sua falta. Desculpe. Com amor, Dominique.

James sentiu-se vazio. Sentia-se como se uma parte sua tivesse ido embora e era verdade, de uma maneira. Nunca passara muito tempo sem Dominique, a mera noção de viver distante dela era ridícula, era como imaginar ter nascido em outra família. Simplesmente não seria a mesma pessoa.

A casa parecia tão imensa sem a presença da prima. Ele olhou de forma melancólica para as coisas dela, espalhadas pela sala. Ela deveria estar com uma pressa imensa para abandonar os seus objetos. James pegou um porta-retrato no qual havia uma foto dos dois e a encarou por um bom tempo, sentindo uma tristeza profunda. Não queria aceitar que ela fora embora. Mas foi ver o piano ali, abandonado, que realmente quebrou o seu coração.

James saiu de casa sem olhar para trás.

Dominique também não estava sentindo-se nada bem. Odiava ter deixado James, odiava ter o abandonado só com um bilhete. Contudo, sabia que só de olhar para ele mudaria de ideia. Iria decidir ficar e passaria os próximos dias em um agonia imensa, tentando se controlar para não ficar com ele e esquecer o que aconteceu. Ela quase não conseguiu ir embora.

Uma amiga tinha sido gentil o suficiente para deixá-la ficar na sua casa por algumas semanas quando a loira contou que havia brigado com James. Dominique tentou conter a culpa enquanto concordava em como era difícil lidar com a família às vezes. Família. Ela e James eram família. Não importava que se entendessem muito melhor que qualquer outra pessoa ou que não houvesse nada normal na maneira com que se sentiam.

Os dias seguintes passaram de maneira dolorosamente lenta. James terminou com a namorada, sem dar um real motivo. Mal pensou nela. Só lembrava de Dominique.

Ele e a Delacour sentiam tanto a falta um do outro que era enlouquecedor. Qualquer coisa os lembravam do outro. Parecia que a cidade estava preenchida com fantasmas, lembranças de momentos que passaram juntos. Dos planos que fizeram.

James encarou o cartaz da peça A Loucura do Rei. Dominique o fizera prometer que eles viriam juntos, havia uma atriz que ela estava louca para ver em ação novamente. Ele tinha revirado os olhos, mas mesmo antes de dizer algo, ambos sabiam que viriam. Não havia nada que James não fizesse quando ela pedia.

Agora, parecia estranho que a peça ainda fosse acontecer com Dominique distante da sua vida. Qual era o ponto da apresentação se a pessoa mais importante do mundo não veria? James encarou o cartaz irritado. Porém, sem saber o que estava fazendo, aproximou-se da bilheteria e comprou dois ingressos. Era estúpido. Mas isso o fez sentir próximo da prima por alguns instantes.

Dominique encarou o livro de Química aberto na mesa. A sua amiga o tinha deixado ali quando fora embora apressadamente para uma reunião. Não conseguia entender uma palavra do que tinha ali, mas ainda assim as formas estranhas eram familiares para ela. Quantas vezes já tinha visto James estudando elas? Por que se sentia tão mal com uma coisa simples assim?

Um mês tinha se passado depois da noite que Dominique fora embora. James passou odiar ficar em casa. Toda vez que entrava por aquela porta, sentia cada vez mais a ausência dela. Já não bastava as coisas nas ruas; a casa deles parecia mais dela do que sua. Era tão estranho que ela não estivesse mais ali. Era errado.

Por que deveriam estar separados se ambos queriam ficar juntos? Por que estavam causando tanta dor desnecessária?

Encarando o piano, James tomou uma decisão. Isso já tinha durado tempo demais. Não ligava para que o mundo pensasse. Iria atrás de Dominique.


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Notas finais do capítulo

O próximo (e último) capítulo já está agendado.



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